Era uma vez um guarda-redes de futebol que não gostava de futebol. Apesar de ter algum jeito para a coisa, não gostava de o ser.
Talvez gostasse daquilo que ser jogador de futebol lhe proporcionava, talvez sorrisse sempre que se cruzava com um colega da primária que agora era licenciado mas recebia pouco mais do que o salário mínimo, várias vezes menos do que ele.
Não Sr. Engº, não é o Eddie Murphy |
Talvez se vangloriasse quando ouvia falar de outros colegas desse tempo, que eram agora trolhas, varredores, operadores de call-center ou de caixas de supermercado, com contratos precários e sem regalias, mesmo trabalhando muito mais horas por dia do que ele. E recebendo muito, muito menos.
Mas nem percebendo a sorte que tinha, percebia que a sua postura punha em causa o próprio futebol que lhe havia proporcionado tal sorte.
Talvez por isso, entrava em campo concentrado em evitar ao máximo que se jogasse futebol. Desde o primeiro apito do árbitro que se aproveitava da flacidez das leis de jogo no que toca à posição específica do guarda-redes, que determinam que o jogo não pode prosseguir sem que este esteja em condições físicas para jogar.
Não havendo nenhuma solução expressamente prevista na lei nem sequer jurisprudência que o impeça, o ludibriador sabia que podia usar e abusar do expediente de se fingir lesionado, obrigando a que a sua equipa médica entrasse em campo para o assistir e, com isso, que o jogo não se jogasse. E fazia-o consecutivamente, sem que o árbitro se atrevesse a fazer mais do que fingir dar-lhe uma reprimenda e, no limite, um único cartão amarelo.
Como se apenas isso não fosse suficiente, havia uma outra coincidência. Esse guarda-redes batoteiro, por mero acaso, exibiu toda a sua artimanha contra o clube rival do seu - de formação e de coração, quando ambos os clubes disputavam o título nacional palmo a palmo.
No rescaldo desse triste episódio, apesar da dominância do panorama mediático por parte do clube do batoteiro, houve uma crítica mais ou menos generalizada àquela actuação do guarda-redes burlão.
Contra a corrente, de forma completamente surpreendente e irresponsável, o engenheiro comendador selecionador nacional achou por bem premiar esse intolerável comportamento com uma chamada de última hora à Seleção do país.
Como se não lhe coubesse, acima de muitos outros, dar o exemplo e passar as mensagens correctas nos momentos apropriados, defendendo o jogo limpo e o próprio futebol que tudo lhe deu na vida.
Sabendo-se da devoção mariana e fortitude de carácter desse engenheiro selecionador, é impensável admitir que o fez alheando-se do comportamento do bandalho guarda-redes um par de dias antes dessa chamada. Caso contrário, a devoção teria de ser classificada de beatice. E a fortitude substituída por subserviência.
Não, não é possível. O engenheiro só pode ser distraído. Fico a aguardar o indispensável acto de contrição.
Lápis Azul e Branco,
"Fico a aguardar o indispensável acto de contrição"...
ResponderEliminarLeva um banquinho bem confortavel e já agora...víveres e ração de combate porque a espera vai ser looonga.
Saludos
Já encomendei o livro do Bear Grylls :-)
EliminarUltimate Survival versão Vaticano L0L
EliminarAtão mas se o moço não viu o jogo. A Bolha só lhe ligou a dizer o resultado. Aposto que se tivesse ido ver o jogo, não convocava o Murphy, uma vez que o tipo NÃO jogou. Olha, aconteceu ao Silva um azar desses. Nem foi ao Europeu nem nada...
ResponderEliminarDeve ter sido para protegê o minimo... ai não, isso era o outro. Pois, não há justificação possível.
EliminarUm grande abraço para si também, Silva.
EliminarE o outro GR suplente, quem é? Ah pois é! Afinal há coerência.
ResponderEliminarDe facto, só o Patrício destoa. My bad...
EliminarFernando Santos, é como treinador, o expoente máximo do anti-jogo. Logo...
ResponderEliminarÉ medricas? É. Mas isto é diferente, é ser contra o futebol.
EliminarMelhor é ignorar! Ignorar e ganhar o próximo jogo!!
ResponderEliminarClaro que sim, mas isto não tem a ver com o campeonato nacional. E é por ter o Engº em consideração que fico chocado com esta atitude.
EliminarRecordo que o Marafona já era o 3º guarda-redes da lista. Acho que não devemos ser tão radicais assim. Percebo a frustração do empate, mas se o Fernando Santos fosse por aí, havia poucos convocados. Aliás, ele teve o acto misericordioso de reabilitar o Ricardo Carvalho por algo bem mais grave e também o Bosingwa. E acho que fez bem. Não convocar um jogador, porque faz muito anti-jogo seria um precedente único no futebol mundial.
ResponderEliminarNão concordo. O Burlão Varela ainda é novo, deveria ter recebido uma mensagem clara por parte do selecionador nacional. Uma mensagem pública, que servisse de exemplo para todos. E sim, o trafulha do Marafona deveria ter igualmente recebido uma reprimenda pública.
EliminarBosingwa e Carvalho tiveram problemas com alguém problemático, é difícil saber até que ponto vai a culpa de cada um.
Já mandámos regressar o Mikel e o Zé Manel? Não? Porra, não sabemos lidar com a frustração... ;)
EliminarCaro Lápis,
ResponderEliminarPor este e outros episódios do género ou mais gravosos até, alguns em tempo em que o meu Caro ainda por cá não andava, é que para mim, a dita selecção não me diz nada. A nível desportivo, o meu patriotismo está confinado ao nosso FC Porto. Lamento mas "ensinaram-me" a ser assim.
Um grande abraço e...
FC PORTO SEMPRE
Pois, eu entendo o sentimento.
EliminarUm abraço