Não é o resultado que está em causa. Nem o reconhecimento das dificuldades de Peseiro para montar a equipa.
O que está em causa é este típico miserabilismo luso, esta comiseração que nos consome a ambição.
Coitadinhos de nós, que não temos defesas, vamos lá tentar não levar muitos como no ano passado. O quê? O Dortmund não vale nem metade desse Bayern? Isso dizem vocês, eu cá tenho muito medo de ser trucidado, ai de mim que sou pequenino! E nem adianta o que me dizem que está a acontecer durante o jogo, que comprova que eles são perfeitamente permeáveis e que perder não é o nosso fado. É sim senhor, só espero que seja por poucos. Ai de mim...
Nao sei se foi assim que Peseiro abordou o jogo, mas pelo menos é assim que eu imagino a abordagem, face ao que assisti. Passar grande parte do encontro atrás, compactos e solidários, parece-me acertado. Não ter ambição para sair em velocidade e de quando em vez, organizados, é que não posso aceitar. O Porto não pode aceitar. Já fomos assim, há muito tempo atrás. Hoje não. Temos pergaminhos na Europa do futebol que nos obrigam a dar-nos ao respeito. Podemos não ganhar e até ser goleados (como qualquer equipa), mas não podemos nem sequer tentar.
Muito mau.
Notas DPcA:
Dia de jogo: 18/Fev/2016, 18h00, Signal Iduna Park. BVB Dortmund - FC Porto (2-0).
Casillas (6): Jogo com menos trabalho do que seria de esperar. Nas poucas solicitações efectivas esteve bem, ainda que por vezes apenas à segunda tentativa.
Varela (6): Reagiu bem à saída da sua zona de conforto e nem mesmo as naturais dificuldades de adaptação iniciais retiram mérito amuam exibição positiva.
Ángel (6): Como dele espero sempre um desastre, acabei aliviado com a sua exibição. Nada de excepcional mas já lhe vi fazer bem pior. Bem pior.
Layún (6): Mais uma posição na defesa, só lhe falta calçar as luvas e defender entre os postes. Cumpriu razoavelmente considerando todo o contexto.
Martins Indi (7): Foi o melhor defesa, o que aliás seria de esperar por jogar na sua posição, mas foi mais do que isso. Exibiu-se em bom nível e liderou o plano defensivo. E segundo consta, jogou uma grande parte do tempo limitado fisicamente, o que só acrescenta valor a tudo o que fez.
Rúben Neves (4): Uma noite terrível, de enorme desacerto, que chegou a ser confrangedor de assistir. A insondável razão por que continuou em jogo até final, ao passo que Sérgio foi substituído, só Peseiro poderá explicar. Mas duvido que consiga.
<-76' Sérgio Oliveira (7): O início tremido não deixou antever a muito boa exibição que conseguiu realizar. Foi para mim o melhor da equipa, sobretudo pela enorme segurança e confiança com que segurou a bola e a entregou com clarividência aos companheiros. Precisa, merece mais oportunidades. Já no domingo, de preferência.
Herrera (7): Bom jogo do mexicano, mesmo considerando a habitual meia-dúzia de passes obtusos. Esteve em muitos espaços do campo, tentou pressionar alto e ganhou bolas. E até se comportou como um verdadeiro capitão junto do árbitro, pela primeira vez...
Marega (6): A sua presença física marcou pontos e foi importante a espaços, mas um jogador do Porto não pode jogar de olhos no chão, sem identificar onde estão os companheiros. Marega ainda joga assim é isso custou-nos uma não-oportunidade que seria meio golo, uma vez que André ficaria totalmente isolado frente a Burki.
<-59' Brahimi (5): Saiu cedo do jogo e merecidamente. No momento fiquei dividido entre a justeza da saída e o empobrecimento criativo da equipa, mas agora a frio acho que foi uma decisão correcta. Não basta ter talento, é preciso querer pô-lo ao serviço da equipa.
<-88' Aboubakar (5): Num jogo que seria sempre de sacrifício, não conseguiu levar a cabo a sua missão principal. É mesmo sem oportunidades para marcar, teve uma de ouro para assistir - outra vez André, tal como Marega - mas não se apercebeu que o poveiro estava isolado nas suas costas.
->59' André (5): Notou-se que não estava a 100%, optando por se resguardar sempre que possível. Nunca virou costas ao jogo, mas também não conseguiu acrescentar nada de novo. Se não estava em condições para alinhar de início, qual a lógica de o lançar aos '59?
->76' Evandro (5): Supostamente, teria entrado para dar maior projecção ofensiva à equipa na busca do tão decisivo golo fora. Supostamente. Porque na realidade entrou para não mudar nada. Seja ainda pela lopeteguização a que foi sujeito ou por instruções de Peseiro, a verdade é que não deu o que era preciso.
->88' Suk (6): Normalmente apenas 7 minutos em campo não justifica atribuição de nota, mas não quis deixar de salientar a garra com que entrou e o inconformismo que demonstrou, em oposição com boa parte dos outros jogadores e sobretudo do treinador. Até do amarelo gostei.
Peseiro (3): Sou o primeiro a entender as grandes dores de cabeça que teve para construir o onze. E sim, as responsabilidades moram mais acima. Mas neste jogo não foi isso que esteve em causa. As declarações pré-jogo já deixavam antever esta triste figura que resultou do facto de se ter mais medo de perder por muitos do que vontade de passar a eliminatória. Aceito a postura inicial mas recuso liminarmente que não a tenha alterado com o evoluir do jogo. Tínhamos que ter pelo menos tentado chegar ao empate ou - mínimo dos mínimos - fazer um golo fora. Meu caro Peseiro, no Porto ninguém te perdoa jogar sem ambição de vencer. E de nada valem as palavras se os actos não lhes derem cobertura. Espero que tenha sido uma aprendizagem, para nunca mais se repetir. Muito mau.
Outros intervenientes:
É muito interessante ver jogar ao vivo este Borussia Dortmund. Não sei se na TV se consegue descortinar, mas no estádio observa-se uma equipa que joga sem ponta de lança mas com um avançado móvel ladeado por dois "médios", ligeiramente atrasados (sempre a procurar estar entre o nosso meio campo e a nossa defesa) a formar um triângulo muito difícil de marcar, sobretudo dada a presença dos dois alas bem abertos em cada um dos flancos. Desenham um claro 4-1-4-1 sobre o relvado em que se nota uma equipa partida ao meio quando tem a bola. Esses dois "médios" tanto se encostam aos centrais como descem para tabelar e fazer a bola chegar a uma das alas ou criar espaços para progredir pelo meio. Com isto quero reforçar as dificuldades com que os nossos se debateram hoje, para não parecer que estou a desvalorizar a qualidade do adversário. Além de ter Reus, Mhkitaryan e Aubameyang, tem uma bela e eficaz forma de jogar.
Mas que não é impermeável. Bem pelo contrário. Toda a projeção ofensiva tende a abrir grandes brechas para o contra-ataque adversário. Haja determinação para os fazer.
Já o árbitro optou por um critério largo que me agrada de sobremaneira, tendo apenas falhado quando decidiu começar a distribuir cartões usando de dois critérios distintos, com prejuízo para o Porto. Fiquei com dúvidas em alguns fora-de-jogo, incluindo o primeiro golo, mas creio que foi ilusão de perspectiva. Seguramente não foi pela arbitragem.
E assim se abdica de uma eliminatória logo na primeira mão. Evidentemente não é missão impossível, mas muito, muito complicada. Ninguém de bom senso exigiria a conquista desta competição nem sequer a passagem da eliminatória, mas sim a ultrapassar.
Domingo regressa o campeonato, que é o nosso primeiro e último objectivo. E entretanto espero eu regressar a casa...
Do Porto com Amor
Discordo. Na verdade, é mentira. Mas estou farto de concordar consigo. Raisparta!
ResponderEliminarAté eu começo a estar cansado de concordar comigo...
EliminarDesta vez até sobre Brahimi concordo consigo. Esteve uma m****, mas substituindo-o, perde-se a esperança de qualquer golpe para mudar o rumo dos acontecimentos. A minha má vontade mantém-se, jogar com Ruben Neves, André André e este Aboubakar, é mesmo querer ver a casa a arder. Não consigo entender como Ruben Neves joga até ao final. Foi mau de mais.
ResponderEliminarTirando o André, é isso tudo. E reforçando a mensagem das substituições, não percebo como Suk demorou tanto a entrar num jogo que até seria mais apropriado para as suas características.
EliminarA marcação com os olhos de André André a Reus no 2º golo que arruma a eliminatória é de sua responsabilidade. Digo eu, que não aprecio nada do que faz em campo.
EliminarEu realmente discordo. E muito simples dizer que se vai jogar para ganhar ou que se "altere a postura com o decorrer do jogo. So que faltam duas coisas para isso ser simples na pratica:
ResponderEliminar1. Que o adversario deixe (seja por postura deles ou por capacidade fisica e/ou tecnica) - este Dortmund e um adversario muito forte. muito bons jogadores e um excelente treinador. Nao chega "querer".
2. Que os nossos jogadores implementem o plano. O Lapis acha que foi o treinador que estabeleceu que nos deviamos jogar atras e nao fazer contra-ataques, etc. Eu argumento que os contra-ataques (e ate ataque continuado) estiveram la, mas passes transviados estragaram a maioria das jogadas - ora isso para mim nao se deve ao treinador.
Que jogamos mais defensivamente que o normal? Concordo. Mas isso deve ser o normal quando se defronta um adversario mais forte na casa deles na primeira mao de uma eliminatoria.
Que nao criamos suficientes oportunidades? Tambem concordo. Mas dai a se falar em postura vai muito. Quantas bolas perdemos no ultimo terco devido a passes falhados e a jogadores aos quais a bola queima nos pes? O que e que isso tem a ver com postura?
O que se estaria aqui a dizer se o Suk tivesse chutado aquela bola no final 5cm mais acima?
E eu ainda tenho esperanca que, com Maxi, Danilo e Marcano, assim como Evandro (ja deve aguentar 90 min ou perto) vamos dar muito mais luta e talvez ate uma reviravolta.
Tenha um bom regresso para continuarmos estas saudaveis discussoes!
Caro pancas, nada é simples de se conseguir, menos ainda para o treinador do Porto.
EliminarNeste caso, começamos a perder o jogo nas declarações de antevisão de Peseiro, ao dizer que "íamos defender mais do que o habitualmente". Quem diz isto em público passa uma mensagem inequívoca ao grupo que lidera e nada positiva. Passa medo ou no mínimo resignação.
Não sou especialista em psicologia, mas sei que os jogos se começam a ganhar muito antes de começarem, na preparação. Com o que se treina, com o que se diz e com os jogadores que se escolhe. E nada do que se diga depois consegue sobrepor-se ou apagar - fica tatuado na mentalidade dos jogadores.
A minha crítica, a maior crítica, é essa.
E se não foi Peseiro a preparar mal os jogadores (e eu acho que foi), então falhou na preparação mental e táctica do jogo. E dos vários momentos do jogo.
Acho avisado entrar com cautelas, já o disse. Não acho é saudável não alertar e preparar os jogadores para outro momento do jogo, em que estaríamos a perder e teríamos obrigatoriamente de marcar. É sim, este Dortmund é forte; mas não, não é uma grande equipa porque defende mal.
Poderíamos até ter marcado, mas teria sido por sorte. E já a tínhamos tido no jogo anterior. Não é razoável esperar ter sorte muitas vezes. Por uma questão de probabilidades.
Já cá estou são e salvo, ainda que cheio de sono.
Abraço portista