Vislumbre dum Futebol de Outros Tempos

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Vislumbre dum Futebol de Outros Tempos


Bons tempos, diga-se. Em que o jogo se jogava ainda quase somente pelo prazer de jogar, pelo amor à camisola e para gáudio de todos os que assistiam, ali, à volta daquele rectângulo mágico.

Foto Catarina Morais/Kapta+ / Edição DPcA

Os bravos do Rio Ave FC acharam por bem vir ao Dragão presentear quem tem saudades desse futebol, mesmo (ou sobretudo) os que nunca o chegaram a conhecer. O flamboyant Miguel Cardoso jura ser fiel a essa maneira romântica de ver o futebol e ontem mostrou ser homem de palavra.

Bola sempre no pé, venha quem vier na pressão. Porque haverá sempre alguém a quem passar a bola, redondinha (só que não...). Defesa subida, winbgacks abertos - porque era nisso que se transformavam, com o recuo de Pelé e/ou Tarantini para junto dos dois centrais - e bola para a frente, sempre de pé para pé, rumo ao el dorado.

E de prenda em prenda, os moços de Vila do Conde acabaram por exagerar um bocadinho, oferecendo-nos o primeiro golo numa bandeja reluzente. Quem agradeceu foi Tiquinho Soares, que assim se redimiu do que lhe acontecera minutos antes: desperdiçar um golo aparentemente impossível de falhar. 

Quem antecipou magistralmente a postura do Rio Ave foi o nosso homem do leme, Sérgio Conceição, que ordenou uma pressão altíssima, logo na primeira saída de bola. Pressionados, surgiram os erros e as tais perdas de bola em zonas proibidas que nos souberam como prendinhas antecipadas da quadra.

Tudo somado, a primeira parte resultou em quarenta e cinco minutos de futebol como já não tinha memória. Se ao intervalo o resultado era um normal 2-0, tal ficou-se a dever exclusivamente à nossa terrível timidez em aceitar as oferendas adversárias... e dos companheiros de equipa. Soares, Marega, Brahimi, Herrera, todos se mostraram demasiado agradecidos e deslumbrados, acabando por errar na hora da decisão final. Caso contrário, o resultado poderia ser um histórico 5-0 ou 6-0 em apenas meio jogo. Ou vá, 6-1, para sermos justos. 

Tanto romantismo terá acabado por "enjoar" o treinador vila-condense, que no balneário rectificou posicionamentos e sobretudo as formas de sair a jogar, optando por um conservadorismo menos vistoso mas bem mais seguro. Do nosso lado, tirando o desperdício na reabertura (de novo por Tiquinho), houve também menos entusiasmo e mais gestão, feita uns metros mais atrás. 

Não foi a acção ideal, porque 2-0 é um resultado que não garante coisa nenhuma, mas o jogo lá se foi passando. Chegou então o tempo das substituições - as do costume, give or take - e consequente redução da "ligação" colectiva. Foi já a acabar que Abou picou o ponto, convertendo de forma algo displicente uma grande penalidade cometida sobre o próprio.

Pese o menor fulgor do segundo tempo, é um jogo que perdurará na (minha) memória, pela "pureza" dos primeiros 45 minutos. Uma bela prenda natalícia dos nossos amigos das Caxinas e arredores; Bom Natal para vocês também!




Notas DPcA 


Dia de jogo: 21/12/2017, 21h15, Estádio do Dragão, FC Porto - Rio Ave FC (3-0)


Nota (7): Telles, Ricardo, Herrera, Brahimi (<70'), Marega

Nota (6): Iker, Felipe, Marcano, Corona (<80'), Aboubakar (>63')

Nota (5): Layún (> 80'), André André (>70')

80' Danilo (4): Estava a fazer um jogo positivo, mesmo sem ser exuberante, mas perdeu a cabeça sem que (aparentemente) nada o justificasse. Não que tenha agredido alguém ou sequer dirigido um insulto, mas o gesto foi interpretado como desrespeitoso e eu aceito a decisão. A rever, para não mais repetir.

<63' Soares (7): Muito bom regresso em pleno à titularidade, demonstrando de novo aquela garra e fome de bola que o faz correr quilómetros atrás dela. É certo que depois paga a factura, perdendo frescura e com isso, discernimento. Mas dá gosto vê-lo morder os calcanhares aos adversários e - mais importante - resultou muito bem para o que a equipa pretendia. Só pecou mesmo foi no tremendo desperdício, mas, enfim, o jogo deu para acomodar tudo e mais alguma coisa...


Sérgio Conceição (8): Muito boa leitura de como o jogo haveria de ser, apanhando o adversário completamente desprevenido e retirando-lhe o discernimento durante quase todo o primeiro tempo. Como se não bastasse, assumiu finalmente que esta competição é para ganhar e depois traduziu as palavras em actos. Há dias em que tudo parece correr de feição, mas convém fazer por isso. Bravo, Sérgio, bravo.


Outros Intervenientes:



Agradeço com sinceridade a Miguel Cardoso por ter ajudado decisivamente a que aquela primeira parte fosse possível. A sério, do fundo do coração. Como alguém escreveu ontem, se se conseguir manter fiel a esta forma de jogar, pode ser um caso sério num grande... se lá chegar.

Quanto a jogadores, é difícil destacar uns sobre outros porque o jogo não saiu bem à equipa, mas talvez Geraldes, Novais, e Rúben Ribeiro merecem receber um pouco mais da luz dos holofotes sobre si, tal a qualidade do futebol que lhes está na cabeça e não raras vezes lhes sai dos pés.




Mais do que outra coisa, Nuno Ferrari demonstrou que é muito, muito fraco árbitro. As decisões despropositadas, a cada passo, só para demonstrar algo que não se percebe bem o quê, são a sua imagem de marca. 

Li o que se escreveu hoje no Tribunal d'O Jogo mas não sou tão peremptório a acusar nos lances mais críticos. Sim, seria penálti mas admito que o árbitro não tenha visto ou tendo, tenha julgado como inevitável o toque na bola. Não me apercebi do lance da expulsão de Rúben Ribeiro, pelo que não posso comentar. E sobre a expulsão de Danilo, aceito. Cartão amarelo para aquela atitude está no espírito da lei - sendo o segundo, out. Um bom árbitro talvez contemporizasse precisamente por ser o segundo, mas hey, não é de um que se trata neste caso.


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Segue-se pausa natalícia e depois o último jogo do ano, para selar o nosso apuramento para a final four da Taça CTT. Assim o espero, pelo menos. 

Até lá, desejo-lhe a si, caro leitor, um Natal com saúde, paz de espírito e rodeado dos que lhes são mais importantes. Se, por força das circunstâncias, isso não for possível este ano, aqui fica o meu forte abraço solidário e a esperança de que para o ano possa ser melhor.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



6 comentários:

  1. Uma boa análise ao jogo, no entanto, tenho que dizer que houve um lance em que o Soares varreu por completo um jogador do Rio Ave. Fosse um árbitro mais "polvista", tenho a certeza que o Soares levaria vermelho directo.

    Quanto ao Danilo, achei exagerada a expulsão, mas lá está, com uma mão acaba por se lavar a outra.

    Fora isso, quem ontem foi ao Dragão ver o jogo, realmente terá dado o seu dinheiro como muito bem gasto. Talvez um 6-2 ou 7-3 fosse um resultado mais adequado ao futebol que as duas equipas jogaram.

    Retribuo os votos de um Bom Natal e uma belissima entrada num ano de 2018; que espero que, a todos os títulos, seja bom para si e para todos. :)

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    1. A mim pareceu-me ajustado o amarelo a Soares, porque apesar das ganas não atingiu o adversário de forma violenta ou sequer por forma a causar-lhe dano. Danilo aceito, repetindo que um bom árbitro não o expulsaria.

      "A todos os TÍTULOS" parece-me muito bem :-)

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  2. Boas festas caro Lápis! Abraço Dragoniano.

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