novembro 2019

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

#ForSama


Sama é uma criança, igual a tantas outras, mas com uma história de início de vida absolutamente aterradora, que facilmente poderia ter terminado ali, no meio de um dos infernos que um punhado de vermes decidiu criar à face da Terra. Como terminou a de demasiadas outras que não tiveram a sua sorte.




Sama, o pequeno anjo que se vê na imagem, é uma criança como eu fui, como as minhas e as vossas - já criadas, nascidas ou ainda por nascer - foram, são ou serão, mas veio ao mundo por entre bombardeamentos, dor, sofrimento, terror e morte. Nasceu em Aleppo, cidade-mártir síria, onde civis inocentes são vítimas do seu próprio regime, dos jogos de poder e da indiferença de todos os demais, que podiam e deviam interceder em seu nome.

Aconteceu em Aleppo e em muitos outros lugares, em muitos outros tempos, e continua a acontecer seguramente neste momento em que escrevo e no momento em que cada um ler este texto. Acontece. Continuam a sofrer e a morrer milhares de crianças, homens e mulheres inocentes, vítimas da loucura de alguns e do desinteresse de muitos mais. 

É a história do mundo, pensarão alguns. De facto, é também disto que é feita a nossa improvável História. Todavia, temos de acreditar que a passagem do Tempo nos faz evoluir e melhorar enquanto espécie e, como tal, não podemos simplesmente ignorar e aceitar que terá de ser sempre assim.

Não tenho, não temos o poder para acabar com isto de imediato - muito provavelmente, nem a disposição de sair das nossas bolhas de felicidade e tentar - mas temos todos a obrigação de ver e de sentir, de princípio a fim, este testemunho que a mãe de Sama filmou durante mais de cinco anos e especialmente durante o cerco de 2016, para que um dia a sua filha pudesse saber de onde veio e porquê.

Não há moral nesta estória, há apenas a vida que fazemos, à rebelia das de encantar. O Homem, capaz do melhor e do pior - e de ambos em cada momento. Não há um final feliz, há sobrevivência e coragem. Já assistir ao documentário não é coragem, não se enganem, é apenas necessidade e agradecimento, pago em uma hora e pico de inquietação e angústia, intercalados com alguns sorrisos de esperança. Uma gota insignificante comparado com o que esta gente experimentou.

Ver #ForSama não vai devolver às mães vazias os filhos que lhes foram roubados, pode até não salvar ninguém, mas é uma obrigação que todos nós temos. Ver, indignar, sentir náuseas, chorar, chorar muito ou simplesmente ver. Obrigar o subconsciente a tornar-se consciente - e sentir aquilo que diariamente sabemos que acontece mas que, por mecanismos de auto-defesa, nos forçamos a ignorar.

Como de forma muito bela se pode ler no site oficial, For Sama é uma carta de amor de uma jovem mãe à sua filha recém-nascida. Vejam, pela vossa humanidade. Vejam #ForSama e passem a palavra, por amor aos nossos filhos.


Lápis



sábado, 2 de novembro de 2019

Não Te Fines, @CoachConceicao


Este é um momento da vida do Clube especialmente cansativo para o Portista sofredor e desinteressado de outra coisa que não seja o seu sucesso desportivo e a sua viabilidade futura.




Cansa assistir passivamente ao delapidar de uma obra ímpar por parte de uma direção virada para si mesma e capturada por parasitas. Cansa ver a equipa principal de futebol jogar sem eira nem beira, sem se descortinar um plano de jogo minimamente eficaz e em que os jogadores acreditem e pelo qual deixem a pele em campo. Cansa ainda ler e ouvir imbecis de toda a espécie a debitar cartilhas várias, frustrações e ignorância sob a capa da liberdade de opinião. 

Quem duvidar da minha gratidão e apreço pelo nosso treinador Sérgio Conceição, só tem de visitar ou revisitar boa parte dos últimos dez textos deste blogue. Para mim, Conceição será para sempre um dos heróis deste extraordinário clube a que o mais iluminado de todos teve o bom gosto de apelidar de Futebol Clube do Porto. Do meu Porto. Conceição, praticamente sozinho, pegou num grupo descrente de acomodados e proscritos e fez-se campeão, evitando o objectivo máximo da corja vigarista sem-vergonha, o penta que é só nosso.

Nunca me esquecerei das condições em que chegou, mais um numa extensa lista de tentativas falhadas, para reabilitar por artes mágicas aquilo que a direção indecorosamente paga foi sendo incapaz de fazer: lutar pelo Clube. Nem dentro, pela incapacidade de reassumir o sucesso como o objectivo primeiro (já nem peço único), cedendo a interesses que nada interessam ao FC Porto. Nem fora, pela demissão do inadiável e inevitável combate à podridão que o polvo sujo instalou no desporto nacional. Virados para dentro, para a perpetuação do poder pelo poder, até ao dia em que, enfim, quando o Presidente já não puder, sejam obrigados a desaparecer na mediocridade ou a mendigar por novas alianças, provavelmente ainda mais medíocres.

Para mim, @CoachConceicao significa resistência, resiliência e coragem. O que fez garantiu o seu lugar ao sol na nossa história, nem que seja apenas por uma época. Provavelmente, apenas por uma época. E esse é o drama que nos atormenta hoje, pelo menos aos que de nós não padecem nem de irremediável optimismo nem de incurável cegueira voluntária. 

Conquistado o campeonato 17/18, o seu percurso tem sido quase sempre a descer. Digo-o consciente da muito boa campanha na Champions que liderou na época passada. Globalmente, soube a pouco, tendo em conta o campeonato e as taças que tão mal perdidos foram. Mas mesmo a própria campanha europeia foi, a meus olhos, muito feliz na forma como decorreu. Na fase de grupos, várias foram as vitórias que facilmente poderiam não o ter sido, tivesse o adversário um bocadinho mais de acerto. Contra a Roma, até o VAR foi amigo... Não retiro uma grama ao mérito do que se conseguiu, apenas sinto que veio aos ombros de muita felicidade em momentos-chave dos jogos. Mais isso que qualidade e segurança de jogo. No entanto, muito positivo, até por se tratar da prova mais importante.

Com isto pretendo ilustrar que aquilo que “pedi” ao treinador na ressaca dos festejos do título e não se concretizou: que o treinador tivesse consciência das suas limitações e conseguisse evoluir (depressa) enquanto... treinador. Nunca tive ilusões (nem seria justo) que Sérgio refinasse a sua personalidade - é a dele, para o bem e para o mal, e faz parte do pacote. Esperava sim - exigia, enquanto adepto - que não se cristalizasse naquela forma “única” de jogar, assente num modelo bruto-dependente que resultou pela surpresa e incapacidade de a “acomodar” em tempo útil por parte dos adversários na primeira temporada (em especial na primeira volta), mas que facilmente se deduzia que mais cedo do que tarde seria neutralizada. Ainda mais porque os próprios intérpretes acabariam por descer do “sobre-rendimento” de 18/19 para a sua normalidade, e disto Marega é sem dúvida o exemplo maior e pior também.

Mesmo assim, mesmo após o autêntico descalabro de resultados desportivos que foi a sua segunda época à frente da equipa, defendi a sua continuidade. Primeiro, porque acreditava que tinha finalmente todas as condições para fazer uma boa equipa assente em novas/diferentes e boas ideias de jogo. Segundo, porque confio mais nele para defender os interesses do Clube do que em qualquer outra pessoa que por lá anda actualmente. E não, não estou a exagerar, é mesmo o que sinto. Se para o lugar dele viesse um “boneco” qualquer, sobretudo para dizer “ámen” a todos os disparates lesa-Clube no mercado de transferências, ficaríamos seguramente num lugar pior do que aquele onde estamos hoje. Disso não tenho dúvidas.

No entanto, estando nós já em Novembro, sem Champions e tremidos na Europa, com 5 pontos já desperdiçados no campeonato e a dois pontos do primeiro, apesar de termos ganho em sua casa, e sobretudo - mais que tudo - pelo terrível futebol que a equipa vai apresentando como regra e não como excepção, começa a ser difícil sobrepor o feito heróico à crueza da realidade pós-título. Objectivamente, a equipa rende pouco e joga ainda menos do que rende. E pior, dá sinais de pouco acreditar na proposta de jogo do seu líder.

Acresce (ou resulta deste estado de coisas) o descontrolo emocional de Sérgio Conceição, já descontado o seu feitio "volátil". Não é aceitável que o treinador do FC Porto diga o que ele disse após mais um jogo paupérrimo na Madeira. Podemos pintar da cor que quisermos, mas não é aceitável. Que posteriormente se tenha desculpado em certa medida, é apenas o mínimo exigível e não apaga o que foi dito.

Até porque fica a sensação de que a “coragem” que lhe sobra para “atacar” uma parte mais fraca e sem capacidade de “defesa” - o tal adepto que o critica, que suspeita, em diferentes momentos, mais ou menos, somos todos nós...- é a mesma que lhe tem faltado para atacar com mais vigor e frequência quem mina e põe em causa o seu trabalho. Árbitros, dirigentes, instituições e adversários manhosos e aparentemente seduzidos pelo lado negro do “jogar para perder” são demasiadas vezes perdoados ou esquecidos por quem tem o palco e a obrigação de exigir que a sua equipa tenha as mesmas condições que os outros na disputa das competições internas. Sim, que não competiria ao treinador esse papel num clube normal, mas... Que quem dirige o Clube já há muito desistiu, todos sabemos e ninguém se parece importar muito com isso; que o nosso aguerrido treinador se esqueça também, faz confusão.

Em jeito de conclusão, renovo o meu apelo ao meu treinador: foco total no que é importante, isto é, no aperfeiçoamento das suas competências técnicas e na denúncia intransigente dos vilipêndios de que vamos sendo alvo, semana sim, semana não.

 - Não vás na onda da época @CoachConceicao, não te deixes finar perdido neste turbilhão em que pareces estar submergido. Pára, respira fundo, reflecte e volta ao trabalho, mas com outros trunfos na manga. Sabes que, na grande maioria, estaremos contigo até ao fim (da época), mesmo que cada jogo seja um bocejo sobressaltado à luz dos nossos leigos olhos. Vai que nós vamos atrás.

Abraço mister.


Por fim, os "imbecis". Aos que nos querem mal, retiro as aspas e nem perco tempo. Têm agenda e já está. Tudo o que lhes possa acontecer de mau será um prazer assistir e nem me importo de contribuir. Preocupo-me sim com os Portistas, que se parecem "cismar" entre os que apoiam incondicionalmente e os que pedem a cabeça do treinador/direcção/qualquercoisaserveparadiscutir, exigindo que todos os demais tomem igualmente partido. Connosco ou contra nós.

Pois permitam que vos diga, meus caros extremistas, estão a ser uns perfeitos idiotas. Nem o mundo é azul ou branco, nem os outros são obrigados a sujeitar-se à vossa postura inquisitorial. Sim, é possível apoiar de forma crítica, nunca incondicional; sim, é possível estar com o treinador e simultaneamente fazer-lhe reparos sempre que se justifica; sim, é saudável duvidar e questionar. E não, não é produtivo estar sempre à espera de um mau resultado para atacar quem não se gosta; não, discordar de quem nos dirige (seja a que nível for) não dá direito a insultar quem pensa diferente; não, não sou obrigado a adoptar nenhum dos extremos só porque vos apetece. Penso, logo decido por mim, a cada momento. Sou do Porto, não sou do Sérgio, nem do Jorge Nuno e ainda menos sou do que quer que seja que vocês queiram que eu seja. Apoio durante, critico se achar que devo antes e depois dos jogos. Vou aos estádios se puder e me apetecer e ninguém tem nada a ver com isso e nunca tal servirá de medida do meu "Portismo" ou de quem quer que seja. 

Não pretendo educar ninguém para além dos meus, mas fica escrito porque desconfio me será muito útil sempre que uma discussão deste género vier ter comigo. Daqui em diante... vão ler se quiserem. Não há paciência. Já cansa.




Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco