No Tempo dos Empatas

terça-feira, 18 de setembro de 2018

No Tempo dos Empatas


Schalke 04 e Chaves, dois jogos, dois empates. Mudou radicalmente o contexto, manteve-se a confrangedora incapacidade da equipa para jogar futebol (com o mínimo) de qualidade. Quo Vadis, Porto de Conceição?




Começo pelo fim. O campeão português estreou-se hoje na mais importante prova futebolística de clubes do planeta, a Champions League, com um empate fora, na inesquecível Arena Auf Schalke.

Quem não tenha visto o jogo, dirá com grande probabilidade que não é um mau resultado tendo a qualificação em vista. E não é. A não ser que o Schalke venha a perder os seus restantes dois jogos caseiros, é um desfecho que em nada compromete as nossas aspirações. Começamos portanto sem atrasar nem adiantar.

O problema, o grande problema, é que voltamos a não jogar um caracol. Vindos de um intragável empate com o Chaves no Dragão (que também não comprometeu em nada a nossa continuação na Taça da Liga), voltamos a demonstrar uma intranquilidade e um desnorte difíceis de entender. É normal o nervoso miudinho a cada estreia na prova milionária, mas isso é algo passageiro, que desaparece após uns minutos de jogo.

A inultrapassável dificuldade para construir jogo e ligar sectores a propósito é que já não se percebe. E ainda menos a intranquilidade em momentos de pouca pressão, como quando na circulação da bola pela defesa e meio-campo recuado. Ou as incontáveis atrapalhações de quase todos os jogadores, desde as precipitações de Iker ao chuto na atmosfera de Herrera, com dezenas de outros pequenos erros não forçados pelo meio que, todos somados, resultam numa fragilidade excessiva e difícil de entender.

Não vale ainda a pena recapitular a paupérrima pré-época no que toca ao reforço do plantel, mas é preciso recuar até aí para tentar deslindar o que se passa com o grupo e, em particular, com Sérgio Conceição. A expulsão no último jogo ao intervalo é apenas o culminar lógico da sua atitude no banco, também já com alguns salpicos nas conferências de imprensa. 

Aos meus olhos, Conceição é neste momento um treinador que se sente desconfortável no seu papel de treinador do Porto. Tendo ele o feitio emotivo que todos lhe reconhecem, não consegue (ou não quer) sequer disfarçar. O pior deste estado de coisas é que aparentemente lhe acaba por tolher o raciocínio e o leva a tomar decisões durante o jogo menos do que óptimas, para ser suave. E, provavelmente, passa para os jogadores - os seus jogadores, que justamente o reconhecem como o seu líder - esse seu desconforto e intranquilidade.




Sendo claro, esta equipa alemã foi hoje uma equipa pouco mais do que vulgar, que teria muitas dificuldades em manter-se na primeira liga alemã se entretanto não melhorar muito (e certamente o fará). Um Porto próximo do que foi o ano passado teria vencido este jogo com alguma facilidade. Começando pelo aproveitamento dos lances de bola parada, com destaque óbvio para a penalidade falhada por Telles. O Porto actual não mereceu mais e teve até alguma felicidade em apanhar um árbitro que não quis saber do ambiente caseiro para nada e marcou (bem) o que viu.

Se alguma melhoria se viu hoje, foi a capacidade de luta que individualmente já se viu em muitos jogadores, tanto nos lances corridos como de bola parada. Temo é que seja ainda apenas um boost decorrente de estar a jogar na Champions, mas pode ser que não. Já veremos no Bonfim como vai ser.

É difícil de entender os motivos que levam a que quase toda a equipa (titulares e quem entrou) se apresentem abaixo do seu normal (já nem sequer falo em boa forma). Um ou outro é o habitual em qualquer equipa; quase todos já dá que pensar.

Deixando Iker de fora disto (apesar das tais precipitações incompreensíveis), como se explica que Telles, Felipe, Sérgio Oliveira, Herrera, Aboubakar, Marega não tenham simultaneamente um rendimento aceitável? E mesmo os que estão um pouco melhor, como Maxi e Brahimi, também não estão propriamente ao seu nível. Porquê? Coincidência terrível? Hard to buy. Há qualquer coisa de significativa a passar-se no ou com o grupo. Tem de haver. 

O lance do golo sofrido é o exemplo perfeito daquilo que tento dizer. Sucessão de disparates, equívocos e hesitações difíceis de entender, desde a ridícula perda da bola na área contrária até que ela se deteve, descontraída e importunada, no fundo da nossa baliza. Dá a sensação que os jogadores ou não sabem bem o que fazer ou então o que lhes é pedido não se adequa ao que o jogo "pede"; algo que colide frontalmente com o que se passou na época passada.

Mais do que saber o que realmente se passa, quero é que tudo se resolva rapidamente e que o grupo reencontre o Norte. Já em Setúbal, de preferência. Porque no campeonato cada ponto perdido vai ser o cabo dos trabalhos para recuperar.



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Notas DPcA 

(por ordem cronológica)


Dia de jogo: 14/09/2018, 20h30, Estádio do Dragão, FC Porto - GD Chaves (1-1)



Nota (6): Vaná, João Pedro, Herrera, Diogo Leite, Danilo, Brahimi (>64'), Hernáni (>72') 

Nota (5): Telles, Maxi, Felipe, Otávio (<84'), Corona (<60'), Adrian

Nota (-): Aboubakar (>84')

Sérgio Conceição (5)

A "sorte" desta vez abandonou-o. Podemos acusar árbitro de erros grosseiros, adversário de anti-jogo e a Rússia de invadir a Crimeia e sendo tudo verdadeiro, nenhum dos factos justifica uma exibição tão frouxa e descaracterizada e a incapacidade para marcar mais golos a este pequenito Chaves. 

Certamente que fomos melhores, certamente que poderíamos ter vencido ainda assim. No entanto, o essencial é que a jogar ASSIM serão mais as vezes em que não ganharemos do que as que sim. A equipa está mal e não o consegue disfarçar. A rever com muita urgência.




Outros Intervenientes:


Fui dos que antecipou uma boa carreira para Daniel Ramos, mas neste momento devo reconhecer que talvez me tenha enganado com aquela época que fez no Marítimo. Compreendo que não poderia vir ao Dragão levar mais cinco, mas o que é demais, é moléstia. Demasiado pequenino para poder aspirar a vir a ser grande, digo eu.

Desconhecia até este jogo quem era Vítor Ferreira e sinceramente preferia continuar sem conhecer. Postura em campo que denuncia as evidentes insuficiências que o definem enquanto juiz. Demasiados erros com influência no resultado (para ambos os lados, diga-se, embora com mais razões de queixas para o Porto), incapacidade de liderar pelo exemplo, dificuldade gritante em ajuizar cada lance. Quem o trouxe até aqui e fez dele um árbitro de futebol profissional que se explique. Eu só quero que não se cruze connosco mais nenhuma vez.


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Dia de jogo: 18/09/2018, 20h00, Arena Auf Schalke, Schalke 04 - FC Porto (1-1)



Iker (6): Bem entre os postes, mas com erros na reposição da bola que não dá para entender. Ás vezes, fica difícil acreditar que acumula tanta experiência.

Maxi (6): Foi a todas, como sempre, mas por várias vezes se distraiu e chegou tarde à sua área de actuação defensiva. Talvez se tenha esquecido que já não tem as pernas que tinha aos vinte anos.

Alex Telles (5): Continua uma sombra do que é, com a agravante de ter desperdiçado um penálti por clara má marcação. Vouta prá nóis, tá?

Éder Militão (7): Estreia na Champions e quase parecia o mais experiente. Bem em quase todas as suas acções, só a menor (e compreensível) falta de entrosamento com Felipe deu alguma preocupação. Grande futuro pela frente.

Felipe (5): Esteve numa roda-viva, ou melhor, numa montanha russa de lances bem e mal decididos, alguns que quase mudavam o marcador (em ambas as balizas). Tem de esquecer a canarinha e voltar à sua realidade, até para que um dia possa lá voltar.

< 75' Danilo (7): Muito bom regresso à alta competição, já descontando a falta de forma devida à longa paragem. Não sei se foi o melhor em campo, mas foi claramente o melhor da equipa.

Herrera (5): Não tenho memória curta, começou muito bem a época (até foi o MeC contra o Moreirense). Mas neste jogo (e no anterior, em menor escala) voltou a ser Errera: trapalhão, despropositado e comprometedor. O que se seguirá?

Otávio (6): Teve a frieza para conseguir o empate na segunda grande penalidade, o que obviamente é de realçar sobretudo pelo antecedente. Mas se dependesse de mim, já não estaria em campo por essa altura. Se a primeira metade foi razoável, na segunda desapareceu até ser chamado a este lance. E depois até "regressou" ao jogo, mas só depois. Pouco.




< 82' Brahimi (6): Sempre muito cercado nos terrenos centrais que pisou durante a primeira hora, foi ainda assim tentando furar e ganhar terreno. Já mais descaído na lateral, conseguiu um pouco mais de espaço, insuficiente para brilhar como tanto deseja.

< 64' Aboubakar (5): Quase sempre desligado da equipa e longe da acção, não sei se por culpa própria, da equipa ou 50/50. Mas o certo é que quase não "produziu" jogo, limitando-se a fixar a atenção dos defesas contrários. Saiu bem pela exibição, mal pela ausência de banco à altura.

Marega (6): Um bocadinho melhor, mas sem ser ainda decisivo como foi. Corrijo, foi sobre ele a segunda penalidade, foi decisivo. Mas soube a pouco, foi mais burrice do defesa do que outra coisa. Pode e deve fazer bem mais, sobretudo se se julga mesmo merecedor de outros voos.

> 64'  Corona (5): Nada acrescentou ao que a equipa vinha fazendo, nem mesmo a largura que suponho o treinador lhe tenha "pedido".

> 75' Oliveira (6): Continuo sem ver essa subida de qualidade no jogo da equipa que supostamente provoca quando entra, mas deve ser por culpa de expectativas mal formadas.

> 90' Hernáni (-): Esteve em campo nos descontos, sem nada a relevar.

Sérgio Conceição (6)

Ouvi boa parte da sua conferência de imprensa enquanto escrevia esta crónica e fiquei com dúvidas se teríamos visto o mesmo jogo. Não me deveria surpreender, porque ao contrário do que aconteceu durante boa parte da época passada, este ano temos visto jogos muito diferentes em quase todos os jogos. Claro que sou eu quem não está a ver bem. Só falta que me prove que assim é (com urgência). A pontuação reflecte o resultado, positivo sem ser excelente, porque o jogo que nos trouxe a este resultado nunca teria nota tão alta. Tantos equívocos individuais até podem ser trágica coincidência, mas a incapacidade da equipa de esticar o jogo com critério e causar perigo já não. Tem mesmo A VER com o treinador.

Como sugestão de T.P.C. lanço desafio de analisar o que nos tem acontecido sempre que decidiu trocar um avançado por um ala ou médio, isto é, sem o substituir por outro avançado minimamente equiparado. A ver se ajuda para o futuro.




Outros Intervenientes:


Não tinha expectativas sobre este Schalke 04 que desconhecia, excepto o que a sua actual classificação na Bundesliga sugeria. No final, bateu certo: jogam realmente pouco. Tão pouco que nem deu para distinguir nenhum jogador (nem mesmo Embolo, jogador sobre o qual tenho boas sensações desde que o vi despontar na Suíça).

Muito boa arbitragem de Gil Manzano e seus pares pela capacidade de se alhear do ambiente pressionante dos da casa. Creio que decidiu quase sempre bem e adoptou um critério largo e uniforme.


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Vendo as coisas pelo lado positivo, está feita a estreia na Champions e continuamos com as mesmíssimas aspirações que se formaram após o sorteio. O resultado do outro jogo do grupo sugere que o Galatasaray será o outro candidato ao primeiro lugar e por acaso até é o próximo adversário que vamos defrontar, desta vez no Dragão. 

Antes disso, temos campeonato pela frente. Competição bem mais importante, digo eu. Há que preparar rápido e bem a estratégia para ir ao Sado buscar os essenciais três pontos. O resto... virá a seguir. Vamos lá.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




7 comentários:

  1. O que se ganha com Danilo e é muito, perde-se em qualidade de passe. SC inventa uma nova posição para Herrera e sim foi Errera o jogo todo. Otávio ridículo no golo sofrido, bem como durante 93 minutos, só estando bem na marcação do penalty.
    Não se consegue entender como é que um jogador como Militão, que chegou há pouco tempo, foi à selecção do Brasil, não tem o entrosamento que os outros deveriam ter e é o único que apresentou futebol para este nível.
    Desta vez vimos o mesmo jogo. Fraquinho, muito fraquinho.

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    1. QUASE que vimos... eu não acho que o Danilo retire qualidade de passe (comparado com H e SO). Não está é ainda na sua melhor forma. De resto, sim.

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  2. pois eu como vidente mor ate detetei que a equipa afinal estava maluca no celebre jogo dos 5 a 0 e entre o 3 e o 4 golo onde com uma equipa mais a serio poderiamos ter apanhado dois golitos, era eu muito pessimista diziam. Pois, mas SC esta a demonstrar ser um treinador de chicotada, existem jogadores fartos de tanta correria maluca e sem nexo, existem jogadores que querem sair ( herrera, brahimi, abou ), existe completa desmotivaçao obvia em leite, oliver que e um desgraçado nas maos do patetico treinador, oliveira, adrian, entram reforços e SC nao os consegue integrar, meteu Militao por evidencias obvias, mas porque nao a def direito? SC ja perdeu parte do grupo e ele sabe isso, Danilo disse que a equipa entrou nervosa e SC ripostou logo dizendo que deveria ser ele que estaria nervoso, SC EMOCIONALMENTE E FRACO E ESTA A DEMONSTRAR SER O NOVO MOTA, UM TREINADOR DE CHICOTADA, AS COISAS FUNCIONAM NA BASE DO GRITO E DA RODINHA E DO SOMOS OS MAIORES DURANTE 6 MESITOS DEPOIS.......E PRECISO FUTEBOL E SC NAO SABE. Duvido que ganhemos em setubal, SC quer manter uma forma de jogar incompativel com a maioria dos jogos. DIGAM ME COMO ESTARA OLIVER UM JOGADOR DE 20m ELE NAO LHE DA UMA OPORTUNIDADE, acham que jogara com vontade sabendo que nao tem hipoteses? SC NAO CONSEGUE POTENCIAR NENHUM JOGADOR NOVO, continua a adorar hernani porque? ou fabiano? porque? Provavelmente noutros tempos Pinto da Costa teria substituido o treinador mesmo tendo sido campeao, mas nesta altura aos 80 anos quer e passear e sopas e descanso e faz bem mas pelo menos que entregue a pasta porque estara na altura.

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    1. Não acredito nisso. Respeito a opinião, mas não acredito.

      Quanto ao tratamento dado a Óliver, também não compreendo e não me parece que haja qualquer mérito obscuro. Parece má gestão pura.

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  3. Eu acho que empatamos na Alemanha, mesmo perdendo um pênalti e isso é um resultado positivo. Jogando bem ou mal.
    Concordo 100% que SC parece estar perdendo um pouco o controle da equipa e também não entendo o que faz com o Óliver. Por outro lado, foi campeão e merece o meu benefício da dúvida. Força FCP!!
    RC

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