Até Quando, Sérgio?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Até Quando, Sérgio?

 Quase trezentos dias após o meu último texto, eis-me aqui de novo, contrariando a minha escassa racionalidade, compelido por uma mistura de obrigação moral e fraterna solidariedade. A primeira para com o meu Clube, a segunda para com Sérgio Conceição, o treinador do meu Clube.

 


 

Uma breve recapitulação

 Quem me foi lendo, no tempo em que escrevia com regularidade, recordará ainda as minhas convicções principais sobre este timoneiro do Mar Azul:

- Um grande Portista, sempre disposto a dar o peito às balas invejosas, bafientas e centralistas, sem sequer hesitar;

- Um treinador em construção, que no primeiro ano conseguiu com um saco de enjeitados apanhar todos de surpresa e ganhar o anti-penta de forma espetacular, mas que a partir daí parecia ter ficado refém dessa conquista e pouco disponível para mudar a proposta de jogo para algo mais consistente e condizente com os pergaminhos do Porto, ou seja, mais dominador e controlador e - sim, também é preciso - mais interessante de se ver ( e jogar, apostaria);

- "Variabilidade" emocional, oscilando entre a instabilidade e a euforia, com alguns episódios nada edificantes à mistura, que, em minha opinião, prejudica mais do que ajuda ao seu desempenho como treinador;

- Tudo somado e subtraído, a pessoa em quem mais confio na actualidade para manter o Clube à tona do sucesso desportivo e assim evitar a debacle total (económico-financeira) - distanciando-me de sebastianismos bacocos, a única pessoa em quem confio das que lá estão neste momento.

Curiosamente, esta época fez-me rever em alegre alta a parte da sua não-evolução: o futebol que a equipa pratica(va com Diaz) sugere um claro salto qualitativo na proposta de jogo, para lá da melhor qualidade dos intérpretes do meio-campo, obviamente. Parece que foi preciso parar de escrever para se dar a metamorfose.


The name is Diaz, Luis Diaz

 Dizia esta semana José Manuel Ribeiro, director d'O Jogo cujas reflexões opinativas muito prezo, na Visão de Jogo, que o problema do Porto ser forçado a vender o craque colombiano neste Janeiro não é de um erro cometido agora mas há anos, cuja "factura" chegou agora para ser paga. Permito-me ir mais além: é o somatório de muitas facturas, acumuladas ao longo de mais uma década (quase duas, na verdade), quase sempre empurradas para a frente com a barriga ou saldadas com fracos remendos (empréstimos obrigacionistas, por exemplo) que logo a seguir engrossariam a factura seguinte.

 Para ser justo, disse também que os três grandes portugueses têm agora um problema "quase insolúvel", que tem a ver com a folha salarial, cuja "média" tem disparado a nível internacional e que Porto, Benfica e Sporting não podem acompanhar por falta de acréscimo equivalente das receitas. É factual, reconheço, mas não se resume a isto nem é insolúvel, requer é outra abordagem. Já lá vou.

Luis Diaz seria sempre vendido, mais cedo do que tarde, dado o sua inegável qualidade. O problema é ter saído agora, a meio caminho da felicidade. Poderia até ficar já vendido agora e sair em Junho, eventualmente o melhor de dois mundos: entrava dinheiro fresco e continuava o rendimento desportivo. O que faltou para isso acontecer é simples: incapacidade negocial, pela conhecida ruína de tesouraria a que se permitiu chegar. Houvesse o mínimo para garantir cumprimento de obrigações contratuais até final da temporada e não me parece complicado fazer ver aos ingleses que ou o garantiam já para o próximo ano ou se arriscavam a ficar sem ele para sempre. Agora assim, de chapéu estendido, nada a fazer.

Quanto a uma forma distinta de gerir o futebol profissional, não há soluções milagrosas. É preciso manter a competitividade interna sem perder o equilíbrio das contas, isto é, garantindo que as receitas cobrem as despesas. Sendo claro que o "modelo das vendas para pagar custos" se esgotou por força da nova realidade, resta encontrar outros caminhos. 

Sem me querer alongar, lanço alguns bitaites avulso. Em relação à impossibilidade de renovar contratos (que a seguir permitiriam as tais vendas), há que seguir o que todos já fazem: scouting impecável, formação de nível mundial, acertar contratos com jogadores também em final de contrato noutros clubes e/ou comprar jogadores ainda baratos para o nosso nível. Tirar máximo rendimento desportivo e vender... se ainda possível. Uma máquina sempre oleada, com substitutos prontos a entrar no lugar dos que saem, a custos inferiores aos actuais. Não vejo outro caminho.

Quanto à falta de dimensão do nosso mercado futebolístico (em termos de atractividade e capacidade de gerar receitas), só há uma solução: ganhar dimensão. E isso só seria possível com a criação de uma liga ibérica, por exemplo. Mas até para isso seria necessária uma outra direção, no Porto e nos outros dois de Lisboa, que tivessem a capacidade de perceber que teriam de se juntar e fazer pressão nesse sentido, para que todo o futebol profissional português e os fat cats da Federação o fizessem também.

 

Até quando...

O que é real para o treinador, é que se vê privado do seu melhor jogador (de longe) a meio da época, cuja metade já cumprida ficará sempre marcada pela espetacular forma do colombiano. Sem ele, esta equipa será seguramente diferente e pior, dê por onde der. Podem os mais pintistas argumentar que, não tivéssemos sido eliminados pelo Atlético naquele mau jogo a fechar a fase de grupos, Diaz ficaria até final da temporada - o que até poderia ser verdade (com reticências), mas não desmente nada do que até aqui escrevi. Aliás, acrescento e resumo: a venda precoce de Luis Diaz é da responsabilidade exclusiva da gestão danosa da SAD de Pinto da Costa e nunca um treinador poderá ser culpabilizado de uma venda pelo resultado negativo de um jogo.

"Até quando" é a dúvida que me assalta a cada passo, nestes dias já sem Luis. Até quando estará Sérgio Conceição disposto a aturar este estado de coisas, sem bater com a porta de uma vez por todas? É evidente e inequívoco que o Clube será sempre maior que todo e qualquer homem, e naturalmente este treinador sairá um dia e outro ocupará o seu lugar. Mas a minha interrogação não tem nada a ver com filosofia e tudo com a práxis: é com o momento actual que estou preocupado, com o muito que ainda há para vencer esta época e as que lhe seguirão, ainda durante o consulado deste presidente; com a manutenção de limites mínimos de decência na gestão do Clube que Sérgio vai, directa e indirectamente, "assegurando". Sem ele, o seu amor ao Porto e a sua idiossincrasia tão distintiva, temo que tudo se precipite ainda mais vertiginosamente. O outro futuro, que virá depois, será toda uma outra conversa.


Entretanto, amanhã joga o Porto. Por sinal, um dos jogos mais importantes da temporada, onde vencer marcará uma diferença porventura inultrapassável para o rival. O que mais desejo, do fundo do meu coração de uma só cor, é que amanhã depois do jogo ninguém seja forçado a pensar que "com o Diaz, a história seria outra".


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco


2 comentários:

  1. A consciência Portista não pensa de outra maneira. E acrescento, o treinador Sérgio Conceição, nesta época, sairá sempre por cima, ganhe ou não (o diabo seja surdo, mudo e cego e bato na madeira 3 vezes) e Pinto da Costa, no coração dos Portistas atilados, deu um desgosto identico aos cônjuges enganados - acho eu, que nunca me senti assim.

    ResponderEliminar
  2. Luis Diaz com Marega era suplente. Corona actualmente era suplente. Sergio Oliveira idem aspas. Para a tradição ainda ser o que era, Sérgio Conceição continua incapaz de ganhar aos arruaceiros viscondes. Continua com muito tesão na língua, mas vê um árbitro roubar penaltys, permitir todo o tipo de anti-jogo, permitir que se joguem apenas 43 minutos, jogadores seus a serem agredidos pelos rafeiros de Alvalade e no fim do jogo parecia a Madre Teresa de Calcutá.

    ResponderEliminar

Diga tudo o que lhe apetecer, mas com elevação e respeito pelas opiniões de todos.