Este será um texto curto e grosso, mas para que se compreenda na íntegra é importante que a sua leitura seja antecedida do texto que o antecede. Se por inacreditável e inexplicável coincidência ainda não o leu, clique já a seguir e comece pelo Futebol nos Tempos da Pandemia.
Agora que tiramos de caminho uma série de pontos prévios e estamos no mesmo nível de entendimento, vamos ao tema que parece continuar tabu para todos os envolvidos, a começar e a acabar no meu clube, o Futebol Clube do Porto (que, por acaso, deveria ser o mais interessado).
Os dias vão passando, os contornos do regresso da Liga vão sendo divulgados a conta-gotas, mas no ninguém se atreve a apontar o enorme paquiderme que está na sala desta liga. Ui ui que nisso não se fala. Soubemos hoje que 4 de Junho é a data do regresso, saberemos já a seguir em que estádios se jogarão as dez jornadas remanescentes e tudo o mais que se exige saber - tudo, menos o tabu.
Sobra tempo para falar de aversão ao azul, dos "instas" dos jogadores, do corte da relva e do sal na comida, mas para interrogar, alto e em bom som, o que a fará a Liga caso a competição venha a ser de novo interrompida e não se conclua em termos da classificação final, não parece sobrar. Nada, nem um comentário jocoso, nem um tweetzinho, nada.
Sabemos o que o escroque que escandalosamente ainda ocupa a pasta de secretário de Estado do Desporto deseja ardentemente, aliás tanto que já nem se contém na diarreia verbal, tal como adivinhamos que coincide com o que um largo espectro da sociedade - essa gangrena de que padecemos - também anseia.
Parecemos um condenado a caminho do cadafalso, limitando-nos a caminhar ao ritmo do carrasco, perante a turba extasiada de antecipação.
Paremos por um instante com a declamação inflamada para analisar com objectividade a situação.
Um campeonato de 34 jornadas, das quais já se disputaram 24, o que corresponde a cerca de 70% do total. Ideal para atribuir um campeão e uma classificação final a todos os participantes? Não. Suficiente para que reflicta minimamente o mérito desportivo? Sim. No caso do apuramento do campeão ainda mais, porque os dois jogos entre os dois candidatos já se realizaram e com vitória em ambos para o líder FC Porto. Ideal? Não. Suficiente? Sim.
No entanto, como já vimos, o futebol não se resume à própria competição e ao mérito desportivo per se, há toda uma vertente de negócio que não pode ser desconsiderada porque dela depende a sobrevivência do sector como um todo. Por isso, compreende que se envidem todos os esforços para que se jogue. Mas acautelem-se também, por antecipação, todos os cenários possíveis.
O que acontecerá se a situação sanitária do país regredir e a competição for declarada terminada antes que se concluam as dez jornadas em falta?
O que acontecerá se uma ou várias equipas registarem um número de infectados que as impeça de competir em um, dois ou mais jogos?
Em meu entender, só há dois desfechos admissíveis para o apuramento da classificação final desta Liga:
- Ou se considera a actual, que resulta da paragem forçada em face de uma situação de todo imprevista à altura em que se iniciou a competição
- Ou se cumpre integralmente o calendário com todos os competidores e a classificação final será a que dela resultar.
Qualquer in between será sempre uma deturpação do espírito da competição e uma grosseira adulteração da verdade desportiva. Porquê?
Pela simples razão de que, à data de hoje em que se define um dia para o recomeço, já se sabe do panorama sanitário e dos riscos envolvidos nesse recomeço, não só em termos da saúde dos jogadores e demais envolvidos, mas também da consequente impossibilidade de terminar a competição caso haja uma evolução desfavorável na primeira.
Ora daqui se depreende que só faz sentido alterar a classificação actual - a que corresponde ao momento da forçada e inesperada interrupção - se for possível cumprir tudo o que falta ainda jogar, porque este recomeço é assumido sabendo-se que existe uma razoável probabilidade de não ser possível de concluir. Logo, se não for possível uma classificação completa da prova, deve valer a que se registou durante a fase "saudável", porque não faz sentido trocá-la por uma intermédia que será sempre resultante do facto da espada do Covid19 ter caído de forma abrupta sobre a cabeça da competição.
Por este motivo, deve ser dito e assumido pelo organizador da competição que apenas estes dois cenários serão admissíveis.
(regresso à tese conspirativa)
Que a Liga e a Federação se calem bem caladinhas enquanto os habituais lacaios vão lançando "pistas" sobre o que vai acontecer, não pode surpreender ninguém, mas que o mais interessado de todos, o FC Porto, não levante esta questão de forma pública, clara e concisa e se recuse a participar antes de obter uma resposta, é algo que não consigo compreender (apenas mais uma entre tantas, admito, mas este de especial relevância até para o futuro do Clube).
Meus caros Portistas, se outros calam, falemos nós. Façamos o barulho possível para que o silêncio deles todos se torne ensurdecedor. O tempo urge.
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco
200% de acordo. Sempre me ensinaram que as regras definem-se antes do jogo, para evitar confusões e desconfianças futuras...
ResponderEliminar"O que acontecerá se a situação sanitária do país regredir e a competição for declarada terminada antes que se concluam as dez jornadas em falta?" pergunta o autor deste texto. E eu pergunto: qual será o critério(s) para terminar a competição? 1, 10, 100 jogadores infectados? É a DGS que determina? É a Liga? É quando o clube do regime estiver em primeiro...
E depois disto esclarecido faltará definir os resultados: conta a classificação actual ou a da altura? Concordo com a opinião do autor desta peça. E o primeiro é declarado campeão ou não? Ou a classificação só servirá para o apuramento das competições europeias e para as descidas?
Muitas perguntas que devem ser esclarecidas antes da retoma da competição. E o nosso clube parece muito calado... O presidente do Paços de Ferreira fala mais deste assunto que o nosso ...