A Ganhar ao Intervalo

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A Ganhar ao Intervalo


Jogo interessante do ponto de vista táctico, certamente um bombom para quem se delicia com a análise dos comportamentos das equipas durante o jogo. Para mim, que vivi este como qualquer outro clássico - a roer as unhas, a exigir o céu da equipa mas sempre à espera que ele nos caia em cima da cabeça - foi um jogo duro de seguir.


Catarina Morais / Kapta +

Muitas cambiantes, vários momentos completamente distintos de ambas as equipas durante a partida e a maldita e desnecessária incerteza no marcador até final. Soado o último apito, seguiram-se uns segundos de alívio, mas logo depois instalou-se uma incomodativa frustração do que poderia ter sido. E poderia ter sido coisas bem díspares, desde a goleada que a primeira parte justificou ao empate que a segunda poderia ter consumado. 

Comecemos pelo princípio. Entrada titubeante do Porto perante uma improvisada disposição táctica do Sporting, com três defesas em linha e dois alas, que se "juntavam" à linha média quando recuperavam a bola e o matreiro Gelson a escapulir-se para o meio, procurando (com sucesso) o espaço vazio à frente da nossa defesa. 

Se Sérgio Conceição estava à espera disso, não se notou nada. Começando e acabando pelo inefável Herrera, sempre no sítio errado à hora errada, mas extensível a quase toda a equipa, que parecia um carrossel de atrasados, a chegar ao rendez-vous sempre um bocadinho depois da coisa acontecer.

Foi preciso um pouco mais de um quarto de hora para se habituarem ao adversário e finalmente começar a domá-lo. Não que tivessem criado qualquer perigo efectivo nesse período, simplesmente não nos "deixavam" fazer o nosso jogo. 

Seguiram-se 20/25 minutos de intenso domínio portista, que podia e DEVIA ter-se materializado em golos. Golos, senhores jogadores, o objectivo final (único!) deste belo jogo. Mas não. Mais uma vez, desperdiçamos uma mão quase cheia de grandes oportunidades, com culpas repartidas entre a falta de sorte, a aselhice e Rui Patrício.

A cinco minutos do intervalo, nova quebra, tipo "ok, já queimámos todo o combustível que tínhamos para esta metade, agora há que aguardar pelo refill. Só que o adversário não estava propriamente de acordo e tratou de incomodar Casillas como nunca o havia feito até então.

Um nulo frustrante em tempo de descanso, uma vez mais, como um daqueles filmes em que já sabemos as deixas antes mesmo de os actores as dizerem, de tantas vezes o termos visto. Enfim, sobrava ainda outra parte.


Catarina Morais / Kapta +

Estranhamente, a equipa regressou menos afoita e outra vez baralhada, com muita dificuldade em soltar a bola no momento certo e para o companheiro melhor posicionado. Já o Sporting, tentou finalmente fazer pela vida, de tão pequenina que tinha sido a sua confrangedora exibição em 80% do primeiro tempo. Não fez grande coisa, é certo, mas o suficiente para incomodar e criar desconforto nos nossos, impedindo aquele assalto avassalador por que se aguardava.

Voltamos à carga e à posição dominante na partida, mas sem nenhum tipo de supremacia evidente e palpável. Em minha opinião, houve uma série de equívocos e limitações de SC que muito contribuíram para essa desorientação. Tardou uma eternidade a tirar do jogo o perfeitamente inócuo Brahimi, não pode mandar o errático Herrera às malvas por falta de alternativa (wishful thinking da minha parte, eu sei) e voltou a demorar a reagir aos reajustes do adversário - ou simplesmente não quis saber.

Foi com o jogo repartido que chegámos ao muito ansiado golo. Soares respondeu com uma cabeçada imperial a um cruzamento teleguiado de Sérgio Oliveira, após um mau alívio de um defesa contrário, dando finalmente alguma justiça ao domínio acumulado ao longo da partida (boa parte dele trazido do primeiro tempo, conforme já referido).

Ansiedade é mesmo a palavra que melhor (ou mais intensamente) caracterizou a nossa postura neste jogo. Sentiu-se demasiada pressa, excessivo sentido de urgência em cada lance, em cada passe, em cada remate. Que é de certa forma compreensível, dado o histórico recente, mas convém trabalhar sobre esse estado de alma durante a semana.

Na ressaca do golo, ainda houve espaço para uma fugaz tentativa de chegar ao segundo, mas não demorou até que o modo "mais vale um na mão" tomasse de vez conta da psique dos azuisebrancos. Por oposição (e agradecendo a nossa candura), o Sporting tentou tudo para empatar a partir dos 85 minutos (típico de equipa pequena, evidentemente) e quase o conseguia, não fosse a inépcia dos seus muito semelhante à nossa em momentos anteriores. E à galhardia com que fomos bloqueando cada tentativa, acrescente-se também.

Resultado curto que nada decide, mas nos deixa em vantagem para o segundo jogo. Daqui a duas eternidades. Até lá, temos muito mais com que nos entreter, incluindo nova visita do adversário de hoje.





Notas DPcA 


Dia de jogo: 07/02/2018, 20h15, Estádio do Dragão, FC Porto - Sporting CP (1-0)


Casillas (6): Uma boa defesa a acabar a primeira parte e mais um par de intervenções "acessíveis", ligeiramente tingidas por aquelas precipitações com os pés.

Ricardo (8): Grande, grande joga deste senhor, seguramente uma das melhores da temporada. Fez o corredor inteiro uma quantidade infindável de vezes, passando pelos adversários como se de paraplégicos se tratassem. Confiante e inspirado, fez tudo para que no final a vantagem fosse bem mais confortável. Cometeu um pecadillo mesmo a acabar (que o poderia ter mandado directamente para o inferno, é verdade), mas que feliz e merecidamente não resultou em dano significativo.

Alex Telles (7): Menos exuberante que o companheiro do lado oposto, mas igualmente bem no jogo, dentro do seu alto nível habitual, embora mais colado ao limite inferior desse intervalo de qualidade garantida.

Reyes (6): Ele tenta, ele esforça-se, ele luta, até talvez dê tudo o que pode. Só que... nem sempre chega. Há nele uma lentidão natural que o atraiçoa a cada passo. Uma certa displicência (tipo 1/100000 da de Herrera) que lhe complica a vida - e a nossa. Não sei se é defeito, feitio ou algo ainda "moldável", mas não estou confiante.

Felipe (7): Outra grande exibição, claramente merecedora da nota 8, por tudo o que fez com a bola em jogo. Seguro, bem a antecipar-se e a dobrar e até (pasmo-me) a colocar a bola na frente com algum critério. Infelizmente, ainda não aprendeu a lição nem a controlar os seus piores ímpetos e foi por sorte que não nos deixou a jogar com dez, após ter reagido mal à "cacetada" que o charrado lhe deu quando simulou abaixar-se para apanhar a bola.

Melhor em Campo Sérgio Oliveira (8): Outro jogo de muito bom nível, ligeiramente abaixo do anterior em termos de exuberância e omnipresença, mas seria expectável que assim fosse porque (em teoria) o de Lisboa é mais forte que o de Braga. Ainda assim, decisivo na missão de dar ordem e sentido ao jogo da equipa e na de aglutinação dos "meios humanos" à sua disposição na construção de um bloco defensivo coeso e solidário. Decisiva foi também a sua assistência para o golo solitário, que poderia ter tido um "irmão mais velho" se a bola não decidisse espatifar-se caprichosamente no poste de Rui Patrício. E foi esse extra "decisório" que me levou a distingui-lo sobre Ricardo como o melhor em campo.

Catarina Morais / Kapta +

Herrera (5): Não adianta, cada tiro (leia-se passe), cada melro (leia-se bola para o quintal do vizinho da frente, ou a partir o vidro da vizinha do lado, ou para o adversário). É isto o verdadeiro Errera, não adianta continuar a enganar-me com os pequenos períodos de lucidez. A defender não esteve mal, foi evidentemente importante pela "escassez de pessoal na zona", mas nem por isso foi brilhante. Longe disso. À noite, quando ninguém me ouve, já sonho alto com a dupla Danilo - Sérgio Oliveira.

< 71' Corona (7): Sem ser brilhante, conseguiu imprimir um bom ritmo em alguns períodos do jogo, em especial na segunda parte, criando ou ajudando a criar desequilíbrios na defesa adversária. Entre outros, lembro-me, ainda no primeiro tempo, da quase-assistência para Brahimi e do passe magistral que isolou Herrera na cara de RP, por pena, cruelmente desperdiçada pelo compatriota. Um dos seus melhores desempenhos da temporada, o que também diz bem de quão medíocre tem sido.

< 80' Brahimi (4): Vou tentar ser meigo: uma perfeita nulidade, do primeiro ao seu último minuto em campo. Há dias assim (em especial quando se aproxima a Champions...), e a culpa maior foi mesmo de quem tinha a responsabilidade de o retirar do jogo bem antes.

Marega (6): Melhor que nos dois últimos jogos, deu muito trabalho e dores musculares a quem, em azar, teve a missão de o marcar. O charrado, os centrais, um e outro médio, todos sentiram no lombo o cimento de que é feito. Já com a bola no pé é que a coisa foi menos objectiva, mas foi porfiando à sua maneira. Ainda não deu para dar o título à crónica "Mete o Marega", mas ainda não perdi a esperança.

< 83' Soares (7): Marcou o golo que decidiu o jogo, o que seria sempre relevante, mesmo tendo desperdiçado um par deles antes disso. Mas fez bem mais, foi importante nos duelos aéreos e na preparação da conquista das segundas bolas, e individualmente ganhou muitos lances. Ainda bem que a sua ausência do último jogo foi apenas uma coincidência... 

> 71' Otávio (6): Um regresso pouco esperado, que não aqueceu nem arrefeceu. Serviu para que o objectivo primordial fosse alcançado, mas na verdade não acrescentou grande coisa ao jogo da equipa.

> 81' Hernáni (4): Mais uma confirmação... de que não tem andamento para este nível. Pode ter muito talento a jogar sozinho, nos treinos e na praia, mas futebol de onze no Porto... não creio. Jogador que não é capaz de controlar a ansiedade, uma e outra vez, quando tem vários companheiros isolados e não resiste a desperdiçar a jogada em vãs tentativas individualistas. Ou então trate-se de arranjar-lhe um transplante cerebral. Com o que tem hoje, não vai lá. Lamentavelmente.

> 83' Gonçalo (-): Sem tempo para nada, nem sequer um toque de classe, porque chegou na altura em que o adversário se lembrou que também podia tentar fazer golos.

Sérgio Conceição (5): Não gostei, Sérgio. Sei que estou a ser injusto, porque vencemos sem sofrer golos, mas não gostei e injusto serei. Seria capaz de encaixar as dificuldades que a equipa teve para se adaptar à "não-surpresa" de JJ e à habitual falta de eficácia, mas não consigo entender como é que Brahimi, hoje um verdadeiro peso-morto, se arrastou em campo durante uns infindáveis oitenta minutos. Saiu o pobre do Corona, na altura em que estava melhor no jogo, para deixar o Yacine naquela pastelice desmesurada. Não entendo, mesmo. Já para não falar de Herrera, que provavelmente não tomou uma boa decisão com a bola no pé em todo o jogo - mas pronto, entendo que precisávamos dele para o momento defensivo, onde aliás voltou a não estar propriamente mal. No final da noite, foi tudo contentinho para casa, menos eu. Antes isso.



Outros Intervenientes:



Pela terceira vez esta temporada, o Sporting submeteu-se voluntariamente ao Porto. Talvez por JJ reconhecer a nossa superioridade, talvez por inépcia do treinador, mas o que é facto é que fomos outra vez melhores e finalmente vencemos como já merecíamos. Perante tanta mediocridade, só mesmo Gélson sobressaiu. É um verdadeiro talento, que só precisa de sair depressa para um clube grande para se poder tornar num valor de classe mundial.


Quanto a João Pinheiro e sus muchachos, menos mal. Sem ter revisto o jogo ou sequer os eventuais casos mais polémicos, no estádio ficou-me a sensação que, apesar dos muitos pequenos erros, interrupções a mais e cartões a menos, no global não influenciou o desfecho final. O maior pecado foi mesmo o de não exibir vermelho directo a Acuña, em vez do segundo amarelo. Se houver motivo para tal, cá voltarei para emendar a mão.


Catarina Morais / Kapta +


E agora, Chaves. Muito mais importante do que este jogo de hoje, que ninguém duvide. É no jogo de Chaves que ninguém admite outro resultado que não seja vencer. Convençam-se disso, meus meninos. Não pode haver mais baldas, sob pena de acabarem por chumbar no final do ano. Toca a estudar a lição com afinco, que jogos de Taça não ganham campeonatos.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




7 comentários:

  1. Desta vez não concordo; dar 5 ao Herrera num jogo em que foi importantíssimo e 6 ao Otávio acho muito forçado.
    todo o meio campo e a defesa estiveram impecáveis... no final o Ricardo teve uma paragem cerebral bem complicada, que podia ter borrado o jogo; - fosse o nome dele Herrera hoje só se falava disso...

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    1. Eu percebo o "importantíssimo", mas não aceito que um profissional joguem tão mal sempre que tem a bola à sua disposição. O que fez sem ela foi importante, sim, mas não me basta. Sou esquisito, eu sei. E se o Herrera tem hoje mais "fama" que os demais, por algum motivo será (milhares deles, digo eu)...

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    2. Ó faxavor caro Lápis. O homem é um dos melhores em campo e mesmo assim...!!!! assim percebo porque reivindica o Oliver.

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  2. ganhamos, nao sofremos o que e muito importante em provas a eliminar, se marcarmos um eles tem de marcar tres. Realmente hernani nao joga nada, otavio saiu de meses de paragem nem deveria ter sido convocado ja, herrera tem esse problema mas esforça se, o problema se SC e que ele e vaidoso, convencido e teimoso, agora nao tem desculpa por exemplo osorio quando entrar dificilmente saira, paciencia idem aspas, paulinho idem aspas, warris e jogador tipo juary pode ser muito util em 40 minutos, ainda temos o dalot por exemplo, se SC nao for convencido e nao querer ser o rei da cocada podemos ter uma equipa terrivel, tem jogadores suficemtes para fazer rodar o plantel e fazer descansar os que estao mais desgastados. O sporting e perigoso nas bolas bombeadas para a area por causa da altura dos centrais. Temos de ganhar em chaves , o jogo do estoril esta ganho por tres a zero quer meirim queira quer nao queira.

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    1. E você a dar-lhe com o vaidoso... confesso que não consigo achar isso. Tem a arrogância natural que um líder deve ter, mas não vejo mais do que isso.

      Já os 3 pontos com o Estoril, não consigo ter a sua confiança. Mas acredito que daremos a volta ao marcador (jogar, jogaremos sempre, creio eu).

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