Há dias em que a gente não se pode atrasar, sob pena de perder parte importante das coisas. Em jantares com amigos alarves, por exemplo: chega-se vinte minutitos após a hora marcada e o cenário é semi-dantesco: convivas alapados, a lamber as beiçolas enquanto lançam um olhar que mistura o enfartamento de um bruto com a piedade inerente ao "já foste".
Dos rissóis e croquetes só sobram os vestígios gordurosos sobre o guardanapo que os acolheu; do queijinho, as cascas, com sorte; daquelas gordas azeitonas só os magros caroços. Pacotes de manteiga esventrados sem dó nem piedade. Talvez por vergonha, sobram dois pedacitos de pão, um deles com aspecto de já ter caído ao chão. Mas enfim, divago.
Hoje, quem teve a infelicidade de chegar ao Dragão com escassos 16 minutos já decorridos, perdeu três golos. Pum, pum, pum, está feito. Agora vamos lá ver o que fazer com os setenta e quatro que sobram... Aqui o vosso escriba de ocasião atrasou-se seis minutinhos... e pimba, lá se foram os croquetes.
O bom do Marega, regressado após sentida ausência em Alvalade, tratou de finalizar o que Tiquinho não conseguiu à primeira. Outros seis minutos volvidos e nova explosão de alegria no estádio: Desta vez, foi o vilão Marcano que se refez herói de corpo inteiro, também ele aproveitando uma defesa incompleta do guardião vitoriano na sequência de um canto. Ainda o Mar Azul ondulava ao sabor desse golo e eis que Brahimi, após passe atrasado do maliano, fez o terceiro da noite. Três-zero e tudo parecia resolvido.
Só que ainda não, não por completo. Aproveitando uma altura em que o Porto estava reduzido a dez, por assistência demorada a Herrera, o Vitória de Setúbal construiu uma boa jogada e reduziu para 3-1. Foi aos 35 minutos de jogo que Corona acabou de vez com as dúvidas, num remate que ainda sofreu um desvio num adversário.
Até ao descanso, mais um par de situações e (finalmente!) João Pinheiro a decidir relembrar-nos que o amor clubístico é eterno.
A segunda parte valeu sobretudo pelo futebol "entretido", pelas três oportunidades dadas a jogadores vindos do banco e pelo quinto e último golo, apontado de forma soberba por Alex Telles, na cobrança de um livre.
Num jogo onde Sérgio Conceição retomou um dos seus onzes preferidos (Danilo à parte, obviamente), com Brahimi e Corona nas alas e Marega e (agora) Soares mais adiantados, a equipa não quis deixar para depois o que podia ser feito de imediato, livrando-se(-nos) de sobressaltos e aflições mais adiante. Claro que a eficácia foi determinante - como é sempre - mas o querer também teve o seu papel.
Com a missão cumprida, todos os olhos se deslocam para os Barreiros, onde se jogará grande parte do que falta decidir neste campeonato.
Notas DPcA
Dia de jogo: 23/04/2018, 20h00, Estádio do Dragão, FC Porto - Vitória FC (5-1)
Iker (6):
Jogo muito tranquilo e sem hipótese de evitar o golo sofrido.
< 73' Ricardo (7): Outra boa exibição, cumprindo com distinção a atacar e a defender.
Alex Telles (7): Não foi dos seus melhores jogos, mas foi uma exibição completa e outra vez decisiva: esteve no lance do primeiro golo e marcou exemplarmente de livre o último. Só no lance do golo sofrido é que não esteve tão bem, embora a falha tenha sido colectiva.
Marcano (7): Livrou-se do fardo de Alvalade (sort of) marcando um dos golos da partida e não dando grandes possibilidades ao adversário de nos marcar.
Felipe (6): Esteve quase sempre bem, mas no golo sofrido esqueceu-se de quem o marcou (a meias com Corona).
Sérgio Oliveira (6): Jogo equilibrado, com maiores preocupações tácticas e defensivas do que de construção, tal como o treinador pretende e precisa quando na frente tem o quarteto que hoje teve.
Herrera (6): Bom jogo de equilíbrios, sem nada de especial a apontar ou a elevar.
Corona (6): Parece ter recuperado a "ligeireza" que lhe é essencial para fazer boas exibições, e mesmo tendo ainda alguma ferrugem acumulada, já mostrou mais e melhor serviço, coroado com um golo de alguma felicidade.
Brahimi (7): Também esteve mais solto e isso nota-se logo na "taxa de sucesso" das suas iniciativas. Teve o sangue-frio suficiente para concluir bem o lance do terceiro golo e ainda mais um par de boas arrancadas individuais, uma delas travada apenas pelo Mostovoi do costume.
< 63' Melhor em Campo Marega (7): Assustou ali perto da meia-hora, quando foi ao banco com queixas e lá foi assistido. Antes disso, já tinha inaugurado o marcador e dado água pela barba à defensiva vitoriana em vários outros lances. É um íman-bulldozer, que primeiro atraí e depois "destrói" os adversários e todo o jogo da equipa parece assentar nessa "premissa" (ou, no mínimo, receber um upgrade qualitativo). E é graças a esse "diferencial" que o distingo como o homem do jogo.
< 75' Soares (6): Bem ligado ao jogo colectivo, faltou-lhe eficácia individual para também picar o ponto.
< 75' Soares (6): Bem ligado ao jogo colectivo, faltou-lhe eficácia individual para também picar o ponto.
> 63' Óliver (5): Entrada voluntariosa mas sem o acerto que dele se espera (sempre).
> 73' Maxi (6): Entrou para dar descanso ao saturado Ricardo e cumpriu.
> 75' Gonçalo (5): Quase marcava (como não marcou?) e pouco mais, pela dificuldade que teve em "sincronizar-se" com os companheiros.
> 73' Maxi (6): Entrou para dar descanso ao saturado Ricardo e cumpriu.
> 75' Gonçalo (5): Quase marcava (como não marcou?) e pouco mais, pela dificuldade que teve em "sincronizar-se" com os companheiros.
Sérgio Conceição (7): Uma vitória que se começou a desenhar no balneário, aquando da escolha do onze inicial. Com ele, deu à equipa a noção exacta do que dela esperava: atacar muito e bem e resolver o jogo o quanto antes. Assim foi e aproveitou para poupar os mais "castigados". Tudo correu bem, nada a dizer que não seja "bem feito".
"Não quero saber, não quero estar aqui, não brinco mais" |
Outros Intervenientes:
Mesmo sofrendo uma rajada de três golos logo a abrir, o Vitória de Couceiro não se descompôs e conseguiu - daí em diante - fazer um jogo mais interessante que 80% das equipas que nos visitaram esta temporada. O golo conseguido bem pode simbolizar esse prémio. Fiquei igualmente muito aliviado pela recuperação-relâmpago de João Amaral, claramente de novo no topo da sua forma.
A arbitragem liderada por João Mostovoi Pinheiro aguentou-se cerca de 40 minutos até finalmente começar a revelar... as suas cores. Decisões absurdas como beneficiar o infractor ao assinalar uma falta sobre Brahimi quando o argelino já se esgueirava rumo à área contrária ou o indescritível cartão a Ricardo são apenas dois exemplos de uma série de asneiradas que dizem muito do "desconforto" que sente ao "estar" neste belíssimo estádio.
Aproveito para assinalar os 36 anos de presidência ininterrupta de Jorge Nuno Pinto da Costa, um marco notável pela longevidade e pela história de tremendo sucesso que se foi escrevendo até há cinco anos atrás. Pois que seja retomada esta época, para que a sua saída - quando chegar - possa ser como merece. Parabéns, presidente.
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco
Sem invenções.
ResponderEliminarUma vitória que se começou a desenhar no balneário, aquando da escolha do onze inicial. Com ele, deu à equipa a noção exacta do que dela esperava: atacar muito e bem e resolver o jogo o quanto antes.
É assim tão difícil?
Quando a bola entra, tudo parece fácil...
EliminarSe SC não complicar.
ResponderEliminarSe nesta fase da época ainda não conseguiu vislumbrar os jogadores que complicam e os que simplificam, quando o conseguirá?
Terá dúvidas que somos muitíssimo melhores que Marítimo, Feirense e Guimarães?