sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Agora Que Já Não És
Agora que foste mas já não és, ei-los que dizem que tu é que eras.
Agora que te foste e já não estás, eis que nos asseguram - até a nós, que nem sequer te conhecíamos - que eras tudo o que eles nunca conseguirão ser.
Agora que já não vês, escrevem com fervor sobre como eras bom, infinitamente melhor do que eles e do que nós.
Agora que já não ouves, dizem com solenidade que se foi o melhor de todos. Demasiado cedo, asseguram.
Enquanto cá andaste, mecânico e cinzento como a maioria deles e de nós, nenhum deles se terá lembrado de o escrever. Nem de o dizer. Mais que tudo, de te dizer. Porque, certamente, nessa altura ainda não o eras.
Agora que já não és, estás. Agora que já não estás, és. E serás.
Apaziguador de consciências, inconfessável suspiro de alívio, foste tu e não um deles - nem um de nós. Um infinitesimal aumento das boas probabilidades - nossas e deles - que o subconsciente de cada um aplaude de pé.
Brindemos a ti e celebremos as tuas virtuosas virtudes. Efémeras virtudes. Daqui a nada já nenhum deles voltará a escrever ou a dizer sobre ti, excepto talvez no primeiro aniversário da tua partida. Com sorte, ainda no segundo.
Depois, nada. Extingues-te. Deixas de ser.
Para eles e para nós, claro.
Naqueles poucos por quem vivias, viverás tanto quanto eles próprios. E isso são várias eternidades, mesmo se passageiras.
Vai, podes descansar em paz, tu que já não és, sabendo o quanto eu te lamento.
Dedicado às vítimas inocentes, a todas elas.
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco
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Obrigado.
ResponderEliminarCheater :-)
Eliminar😇
EliminarEpá, um texto fantástico. Diz tudo aquilo que acontece muitas vezes na hora da morte. Sobretudo se a morte vier em quantidades massivas. Um abraço.
ResponderEliminarAgradecido, outro abraço.
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