Derbialidades

segunda-feira, 19 de março de 2018

Derbialidades


Nota mental: por muito agradável que isso seja, nunca participar em tertúlias após um jogo e ANTES de fazer a respectiva análise. E porque não, pergunta o bem conservado leitor? É simples, isto de escrever sobre futebol - aliás, sobre os jogos de futebol em que participa o meu Porto - é uma espécie de , porque baseada num conjunto mais ou menos reduzido de convicções, formadas on the fly e em função do que o jogo me vai "dando" a observar.




Pouco importa se essas convicções correspondem à realidade: são as minhas e é a partir delas que escrevo o que escrevo. Ora, quando me predispus a debater as incidências do jogo com outras criaturas (notáveis criaturas, diga-se), formou-se uma tempestade perfeita na minha mente e as inabaláveis certezas sobre o que vi e não vi derreteram-se e escorreram sem piedade para um oceano de whatever, nele se diluindo sem deixar rasto.

Isto tudo para dizer que não sei bem o que escrever sobre este jogo. 

Saí do estádio um pouco para o assustado com o que vi. Uma equipa em claras dificuldades, menos físicas do que mentais, para explanar o seu jogo colectivo. Sim, porque nós temos um (e algumas variações). Mas não é só a questões táctico-estratégicas a que me refiro, é também à aparentemente frágil psique dos nossos jogadores por esta altura. 

Sente-se, eu senti, pelo menos, uma nuvem invisível de um certo temor a pairar sobre o nosso tapete verde. Estão a ver aquela quadrícula de BD em que o personagem tem uma nuvenzinha negra sobre a cabeça que o acompanha para todo o lado? É isso, mas em invisível. Ou então é só sobre a minha cabeça e sou eu quem está sugestionado por tudo o que temos passado nas últimas épocas.

Um golo madrugador deveria ser o suficiente para acalmar ansiedades e permitir um jogo confiante e determinado daí em diante. É certo que se trata de um jogo historicamente especial, o dérbi da cidade, mas nem isso pode explicar os movimentos erráticos da equipa durante o jogo. A primeira parte, em especial, foi penosa de assistir sob o ponto de vista azulebranco: pouquíssimo futebol, incapacidade de controlar o jogo e o tal receio de que o sacana do Murphy voltasse a atacar.

Após o intervalo houve melhorias, mas foi preciso uma oferta ridícula de Vagner para que o Porto finalmente se libertasse um pouco daquele colete de forças mental. A espaços, viu-se algum futebol com nexo, ligado e objetivo. A defender, houve menos permeabilidade. Mas longe de (me) tranquilizar para o que aí vem.

Muitos dirão que vínhamos de uma derrota traumática (e não somente por ter sido a primeira) e que só esse facto justifica a tal intranquilidade, que no fundo é apenas natural.

Outros que continuamos privados de meia-equipa titular, o que inevitavelmente se repercute na qualidade e na confiança com que a equipa sobe aos relvados. 

Outros ainda que isto é tudo uma parvoíce minha, que a equipa fez o que lhe competia - ganhar e assim manter-se líder isolada - e agora venha o próximo.

Sou capaz de concordar com todos os pontos, somando-os até a fim de obter um todo mais consistente e revelador, mas tenho de acrescentar um outro: esta equipa está carente de Marega, porque é viciada no "Mariano Maliano". Há vários jogadores importantes na equipa - e, mudando um ou outro, todos concordámos sobre eles - mas só Marega é realmente determinante neste "modelo de jogo" que Sérgio Conceição foi construindo ao longo da temporada. 

Vencemos com justiça o Boavista e vamos agora "beneficiar" de mais uma paragem para a SeleNão para ganhar tempo de recuperação dos lesionados. Aproveitemos, pois, para acender umas velinhas e rezar para que o mousso volte muito depressinha, bem acompanhado pelos demais. E que mais ninguém se magoe, entretanto...






Notas DPcA 


Dia de jogo: 17/03/2018, 20h30, Estádio do Dragão, FC Porto - Boavista FC (2-0)


Iker (6): Jogo quase sempre tranquilo, bem quando chamado.

< 85' Maxi (6): Apanhou um némesis barbudo pela frente e não se coibiu de mostrar a sua raça. Globalmente bem, a atacar e a defender, apesar das provocações. Aplaudi-o de pé.

Dalot (6): Agora que já não é novidade, a rotina começa a instalar-se em quem está a ver de fora e a exigência vai aumentando. Convém é não perder de vista duas coisas: acabou de cumprir 19 aninhos e está a jogar num lado que não é o seu. Assim sendo, jogo positivo.

Marcano (6): Jogo atento e eficaz, só perdendo a habitual discrição quando viu um amarelo "estranho".

Melhor em Campo Felipe (7): Não perdoou logo à primeira oportunidade e assim deu o (bom) mote para o jogo. Aliás, quase bisava logo a seguir. No restante, esteve quase sempre seguro e como o risco que correu num lance dentro da área compensou, saiu de campo como o melhor de jogo.

Sérgio Oliveira (6): Se a sua primeira parte foi indiscutivelmente fraca, a segunda teve espaços de algum fulgor e qualidade. Além de assistir para o primeiro golo, teve ainda oportunidade de bater o penálti (uma semana depois...) mas tanto queria marcar que "foi lá" com os dois pés. Como não influiu no desfecho, tudo ok. Mas se...

Foto de Rogério Ferreira / Kapta+

Herrera (6): Muito bem a aproveitar a falha do GR para marcar o golo que sentenciou a distribuição dos pontos. De resto, o habitual: uma coisa bem feita, duas mal. Mas pronto, dá tudo o que tem, por pouco que seja.

< 52' Otávio (5): Era uma vez um mini-roadster que foi para o monte competir com 4x4 blindados... era difícil esta história acabar com final feliz. Em todo o caso, a haver culpas, a maior não será a própria.

Brahimi (5): Não, Yacine, ainda não. Keep trying, though...

< 80' Aboubakar (4): Está um monte de cacos. Ponto.

Ricardo (6): Foi para a "frente" desta vez - e com uma semana de atraso, mas adiante - fazendo companhia à Aboubakar na 1ª parte, como uma espécie de segundo avançado. Depois, foi "evoluindo" para uma zona mais familiar, com a linha lateral como companhia. Bem envolvido nas ofensivas, teve um par de ocasiões para marcar e outras tantas para assistir, só que o destino não quis. Já a acompanhar o seu "lateral", teve algumas desatenções pouco recomendáveis.

> 52' Óliver (6): Mesmo sem brilhar, a sua entrada deu algum nexo de causalidade ao nosso jogo.

> 80' Gonçalo (5): Pouco espaço e ainda menos tempo para se mostrar, tentou agarrar o que lhe passou pela "rede", mas era arraia-miúda.

> 85' Corona (-): Nothing to see here, move along.

Sérgio Conceição (6): O essencial foi mesmo cumprido: ganhar. Nesta fase, tudo o resto pode ser considerado acessório. O meu "problema" são as deduções que me ponho a fazer sobre o que pode acontecer nos próximos jogos, se entretanto não houver um salto qualitativo no mood da equipa. Haverá, não haverá Serginho? Haverá, pois.


Rogério Ferreira / Kapta+



Outros Intervenientes:



O Boavista, conduzido por Jorge "Gallo" Simão, teve uma postura positiva, procurando responder com determinação à "infelicidade" de sofrer um golo logo no segundo minuto. Conseguiu reagir e criou algumas ocasiões de aperto para Iker, mesmo sem ameaçar o desfecho final. Falta saber como seria se esse golo não tivesse acontecido e o jogo ainda estivesse empatado por volta da hora de jogo...


Fiquei feliz por descobrir que, afinal, o VAR existe e até sabe ser útil e minimamente competente. É o que de mais positivo tenho a dizer sobre a arbitragem de Manuel Oliveira, que com o companheiro do AV estreou uma série de decisões até agora inéditas no nosso futebol. Reversão de expulsão, golo invalidado por penálti de "duplo toque" e o diabo a quatro. Aparentemente, boas decisões (embora no penálti se possa defender que antes dessa infracção, já outra estava a ser cometida pelos jogadores do Boavista, que invadiram a grande área, o que deveria levar à repetição do castigo máximo). O problema é que em muitos outros jogos, em especial nos que metem clubes da segunda circular, o VAR é cego, surdo e mudo quando se trata de os "penalizar". Vou fazer de conta que acredito que, daqui em diante, vai ser sempre assim.

O Boavista queixou-se de um penálti por assinalar de Felipe sobre Yusupha aos 56' (ainda com 1-0), a mim parece-me discutível: vistas as repetições, parece-me haver uma espécie de "golpe duplo", com ambos os jogadores a agarrarem-se, mas admito que possam existir outras interpretações pelo facto do agarrão final de Felipe ser mais notório.


Rogério Ferreira / Kapta+


Conforme anunciado, segue-se interregno no campeonato para cumprimento de compromissos da FPF com Jorge Mendes. É importante que estes dias sirvam para que o grupo seja trabalhado no sentido de reforçar a estrutura mental para abordar os próximos quatro desafios: três para o campeonato a culminar com o Clássico e, logo depois, a segunda mão da meia-final da Taça. Todos para vencer, obviamente, ou, se preferirem, para garantir a manutenção da liderança isolada e o Jamor.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




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