Medo e Marcano

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Medo e Marcano


Cada um terá a sua forma de entender o jogo, nela se baseando para a definição ou a proposta de estratégias para chegar aos objectivos. A minha parece ser substancialmente diferente da de Sérgio Conceição. Numa eliminatória, quando se chega à segunda mão, após ter vencido em casa pela vantagem mínima e sem sofrer golos, a estratégia principal única só pode ser uma: marcar fora.




Mais do que procurar manter o nulo do marcador, do que não sofrer golos e conservar a magra vantagem, o que encaminha a eliminatória definitivamente a "nosso" favor é conseguir marcar um golo em solo "inimigo". Ora, daquilo a que eu assisti no estádio, não fiquei convencido que fosse essa a prioridade estabelecida pelo treinador. De todo.

É verdade que a minha posição de adepto é muito mais fácil e cómoda, porque me limito a observar e opinar, no entanto quem vive à custa das suas estratégias é o treinador, pelo que é a ele que se deve "pedir explicações". 

Creio que ontem tivemos mais medo de sofrer golos do que vontade de o marcar e, no final, fomos penalizados por um erro individual que é sempre passível de acontecer. Depois, já não houve pernas nem coragem para empatar antes do prolongamento. Seguiram-se 30 minutos a meio-gás, sem grande capacidade nem convicção para marcar o tal golo que seria "de ouro" para nós. Voltamos a cair nos penáltis, que desta vez até foram 80% bem marcados. Pouca sorte, dirão alguns; pouca audácia, digo eu.

Do outro lado, esteve uma equipa que quase espelhou na nossa em termos de atitude. Foram deixando o jogo correr sem forçar em demasia, porque sabiam (eles sim, sabiam!) que sofrendo um golo ficariam muito mais longe da final. Tiveram algumas oportunidades ao longo do jogo, escassas, mas nunca me apercebi que perdessem o controle emocional. A poucos minutos dos noventa foram bafejados pela sorte e a sua estratégia provou ser a mais correcta. Mas barely, diga-se.

O futebol admite sempre a possibilidade de um golo entrar a qualquer altura, sem aviso prévio (alô Capitán Herrera!), pelo que poderíamos ser levados a concluir que o golo que aconteceu na nossa baliza poderia, ao invés, ter acontecido na do Sporting. Sendo verossímil o "pressuposto", não é o que mais releva neste contexto: o que faria a diferença era haver, da nossa parte, uma obstinação, um desígnio fundamental para este jogo que fosse o de fazer golos. Ou golo que fosse, para início de conversa. Em minha opinião, não houve - pelo menos, não o principal.


Grande apoio, mas não chegou



Notas DPcA 



Dia de jogo: 19/04/2018, 20h30, Estádio de Alvalade XXI, Sporting CL - FC Porto (1-0; 5-4 g.p.)


Iker (6): Não teve especial trabalho, mas respondeu sempre bem quando a isso foi chamado, tirando os habituais e irritantes disparates com os pés. Não defendeu nenhum penálti (apesar de ter adivinhado o lado por uma vez), mas ninguém lhe poderia exigir tal coisa. #renovaCasillas

Maxi (6): Não quis saber das suas "eventuais" menores capacidades físicas e foi à luta em todas as oportunidades, acabando por ser mais feliz a construir, onde conseguiu mais espaço, do que a defender-se de Acunã, uns anos mais novo e uns metros mais rápido. Nunca seria por ele que acabaríamos eliminados...

Alex Telles (6): Passou muito mais tempo preocupado com Gélson & companhia do que em atacar, o que para ele é contranatura, algo que se reflecte na sua exibição, muito mais pálida do que o habitual.

Felipe (7): Muito bom jogo, sempre impecável nas marcações e antecipações e ainda bem a sair ou a endossar a bola.

Marcano (5): Estava a alinhar pelo mesmo diapasão do companheiro até que chegou o momento fatídico: falhou o "alívio", colocando a bola à disposição de Coates para fazer o golo da nossa derrota. Por ironia macabra do destino, foi também ele quem falhou o único penálti da noite.

Herrera (7): Bom jogo, muito combativo numa vasta área de acção de início, retraindo-se mais adiante por imposições tácticas (e físicas também, suponho), mas sem nunca deixar de lutar. Contra o seu normal, não me lembro de nenhum passe disparatado ou de alguma "travadinha", o que só pode ser bom.

< 84' Óliver (6): Voltou a ter uma oportunidade inteira para demonstrar que a sua parca utilização é pouco menos do que uma injustiça, mas na verdade não fez o suficiente para o justificar. Não tendo jogado mal, a verdade é que também não conseguiu ser melhor do que quem tem jogado no "seu" lugar, começando até com uma série de maus passes que me deixaram os cabelos em pé (os 7 que ainda tenho). Melhorou com o evoluir do jogo, não destoou propriamente, mas... soube a pouco. Ainda por cima, "obrigou" o treinador a queimar a última substituição dada a sua incapacidade para continuar. Malditas expectativas.

< 75' Otávio (7): Boa exibição do baixinho, juntando à sua habitual combatividade um acerto e objectividade que raramente demonstra. Do meio para a ala e vice-versa, foi varrendo e ajudando a varrer as iniciativas adversárias, recuperando muitas bolas e depois saindo com critério, pese a pouca profundidade da equipa. Possivelmente, o seu melhor jogo da temporada. De tal forma, que me custou vê-lo ser substituído. E à equipa também, diga-se.

Not this time, capitán...

Ricardo (7): Um dos melhores dos nossos, talvez até fosse o melhor em campo se a eliminatória nos tivesse sido favorável. Mais um jogo enorme, comprido de uma área à outra e cheio de qualidade. Acaba a época em grande forma e MERECE estar no mundial.

Brahimi (7): Sem ser um Brahimi especial, esteve bem melhor do que nas últimas partidas (e ainda melhor do que na última), porque foi capaz de perceber quando deveria insistir no lance individual ou servir os companheiros, garantindo com isso o "manter em sentido" de dois ou três adversários de cada vez, o que libertou espaço para os companheiros.

< 66' Soares (6): Exibição muito ao estilo da que fez na Luz, com dificuldade em segurar a bola e tocar depois, embora me parecesse ligeiramente melhor globalmente. Faltou, claro, o golo que dá o colorido a qualquer desenho de um avançado, mas nem oportunidades teve para isso. 

> 66' Aboubakar (4): Está num momento horrível de forma, tudo em que toca transforma em cocó, pelo que não entendo a insistência do treinador. Se quer e não consegue, teria de ser quem o dirige a optar por outra solução. Mete dó vê-lo em campo e ontem custou-nos caro jogar com "um a menos".

> 75' Sérgio Oliveira (5): A equipa perdeu com a troca, pareceu-me entrar um pouco amorfo e fora de ritmo, o que o levou a fazer mais faltas do que o recomendável (nem todas assinaladas). Não esteve propriamente mal, mas também não se destacou pela positiva.

> 84' Reyes (6): Entrada forçada, por via do "estouro" de Óliver, mas positiva, dentro do que se sabe que poderia dar à equipa. Precisou de uns minutos para encontrar o seu espaço (literalmente), mas a partir daí integrou-se bem e cumpriu a missão, tendo até chegado a introduzir a bola na baliza adversária, mas com o fora-de-jogo já assinalado.

Sérgio Conceição (4): Explicou após o jogo que as substituições se ficaram todas a dever a problemas físicos, tal como a não-titularidade de Marega (esta infiro eu das suas palavras), pelo que só tenho de acreditar na sua palavra e não o penalizar por ter tirado Soares e Otávio do jogo - o primeiro porque a alternativa era muito pior, o segundo porque estava a jogar bem. 

No entanto, do que não se "livra" é de uma primeira parte em que raríssimas vezes chegámos à baliza de Rui Patrício e de uma segunda no mesmo "tom", ainda que com melhor produção de jogo. Já expliquei acima que não entendo como não montou uma estratégia para marcar golos em Alvalade acima de qualquer outra coisa. E como no final deu-se mal e custou-nos a presença no Jamor, sai deste jogo como o principal responsável pela eliminação. Mais do que tudo, teve medo de perder. E perdeu.




Outros Intervenientes:



Este Sporting é uma equipa razoável que combina a experiência do treinador e alguns jogadores com a imensa qualidade de Gélson e Bruno Fernandes. Não jogaram muito, nem sequer mais do que nós, mas marcaram. Conseguiram derrotar-nos à quinta tentativa e voltaram a ser melhores nos penáltis. Foram mais felizes, pelo que só me resta dar-lhes os parabéns, ainda que muito a contragosto.


Em vez de perder tempo a repisar o quão fraquinho e pequenininho é o ser Jorge Sousa, o que só lhe permite fazer arbitragens assim, ultra-defensivas, cobardes, mesquinhas, vou insistir no carácter "profissional" de Hugo Macron, o vídeo-árbitro de serviço, que uma vez mais deve ter adorado ver-nos a provar do seu veneno, que incluiu a não marcação de um penálti evidente de Mathieu e a não-expulsão de Acuña, entre outras eventuais cegueiras selectivas deste montinho de esterco verde (como será que Maxi ficou no estado que se pode ver abaixo?). No conforto da sua cabine tecnológica, abrigado das reacções do estádio, o viscoso Hugo lá fez o seu trabalhinho e no final foi para casa todo contentinho. E assim há-de continuar, até ao dia em que alguém lhe fizer engolir a dentição toda de uma vez só.




Se já estava doente com a eliminação, mais fiquei e fico ao ser obrigado a ler as baboseiras do costume de entre as nossas fileiras, do tipo "o que importa são as quatro finais que temos para ganhar", "o campeonato é que interessa" ou o eterno "amo-te hoje mais do que ontem"... Não, porra! Ontem o que interessava era garantir a final, cambada, nada mais, NADA MAIS! A Taça é objectivo tal como o Campeonato, a Supertaça e a Taça da Liga: competições internas, TODAS para ganhar!

Se falhámos, há que ter coragem para "viver" esse falhanço, encará-lo de frente e evitar que se repita! Enfiar a cabeça na areia pode estar no ADN deles, os da segunda circular, mas não está no nosso. Man up!


Dito isto e assumida sem reservas a colossal azia pela eliminação (que perdurará ainda durante alguns dias e regressará em força no dia da final), AGORA digo que há que olhar em frente e deixar de ser "cagarolas" a enfrentar os quatro jogos que nos faltam. Têm de ser todos para ganhar, mas mesmo para ganhar, desde o primeiro ao último minuto, e um de cada vez. Não há margens, não há folgas, não há empates nenhuns para se poderem ceder. NADA, ZERO. Só há é que ganhar os quatro jogos, começando pelo Vitória de Setúbal.

Sem desculpas, sem receios, sem nada que não seja uma indomável e inquebrantável vontade ser campeão, embalada pelo grito audaz da nossa ardente voz.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




12 comentários:

  1. No estádio teve a sensação que Ricardo fez mesmo a exibição que acima espelha?
    Não querendo parecer o Lápis nas apreciações que faz a Herrera, mas, acha mesmo, que jogar com Oliver + Otávio (concordo que ontem até não foi dos piores) conseguimos fazer mossa ou construir algo para ganhar a quem quer que seja?
    O que dizer de Aboubakar? 100 Kgs de carne que não aguenta uma carga de ombro dum Coentrão, que é incapaz de segurar uma bola, que faz menos pressão que um Tiquinho morto e um treinador que não consegue ver isso?
    Enfim, percebe-se perfeitamente porque é que o Braga perdeu uma final a ganhar 2-0 e em superioridade numérica. Obviamente demitido pelo mestre de obras.

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    1. O que dirá quando finalmente for um treinador campeão? Está longe de ser perfeito, mas está a ser melhor que os últimos quatro juntos. Respeitemos isso, se nada mais.

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    2. Mérito. Provavelmente fui mal habituado. Ganhamos tudo sempre merecidamene, mesmo o campeonato do Kelvin.
      Claro que quero ganhar e pelo que hoje já todos sabem, nem me importo que seja com golos marcados com a mão.
      Gostaria mais de ganhar com mérito e não por demérito adversário.Oportunidades para isso não faltaram.
      Não está a ser melhor, não. Os outros é que estão mais acossados e temos alguns jogadores com muito mais caracter do que quem os orienta.

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  2. Entendo que é essa colossal azia que o leva a criticar a arbitragem. Como é óbvio tem direito a "pensar pela sua própria cabeça", mas o Tribunal do jornal ligado ao Porto, O Jogo, é unânime que não houve penalty do Mathieu e percorrendo alguma da blogosfera portista, estes alinham pelo mesmo diapasão: não há penalty. Os braços estão numa posição natural quando se faz um "carrinho" (experimente fazer um "carrinho" e diga-me depois se a posição não é natural), não tem influência nenhuma no lance, aliás é só jogadores do Sporting à volta da bola (Piccini também já está a chegar), ou seja, a bola nunca seria ganha por um jogador do Porto e, obviamente, e, acima de tudo, o toque é totalmente casual.
    Esquecendo o detalhe da aribitragem, cuja conclusão é sempre a mesma quando o Porto não ganha ao Sporting lol, é uma análise lúcida e crítica para com a equipa do Porto e com a qual concordo: não basta dizer que o que interessa é ganhar o campeonato, a mentalidade deve ser a de ganhar todas as competições. Parabéns, porque essa deve ser a abordagem.
    Abraço, Verde Protector

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    1. Entende mal. A azia é uma coisa, os erros de arbitragem outra. É a minha opinião.

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    2. Creio não ter sido claro: não me passa pela cabeça que SC não quisesse ganhar também a Taça, o que digo é que não escolheu o melhor caminho para lá chegar.

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  3. Entendo que é essa colossal azia que o leva a criticar a arbitragem. Como é óbvio tem direito a "pensar pela sua própria cabeça", mas o Tribunal do jornal ligado ao Porto, O Jogo, é unânime que não houve penalty do Mathieu e percorrendo alguma da blogosfera portista, estes alinham pelo mesmo diapasão: não há penalty. Os braços estão numa posição natural quando se faz um "carrinho" (experimente fazer um "carrinho" e diga-me depois se a posição não é natural), não tem influência nenhuma no lance, aliás é só jogadores do Sporting à volta da bola (Piccini também já está a chegar), ou seja, a bola nunca seria ganha por um jogador do Porto e, obviamente, e, acima de tudo, o toque é totalmente casual.
    Esquecendo o detalhe da aribitragem, cuja conclusão é sempre a mesma quando o Porto não ganha ao Sporting lol, é uma análise lúcida e crítica para com a equipa do Porto e com a qual concordo: não basta dizer que o que interessa é ganhar o campeonato, a mentalidade deve ser a de ganhar todas as competições. Parabéns, porque essa deve ser a abordagem.
    Abraço, Verde Protector

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  4. Assim que recebi informação da equipa inicial pela App FC Porto, comecei a repetir frenética e catatonicamente uma espécie de mantra mental:

    Eu sou um simples adepto, pouco percebo de futebol
    Eu sou um simples adepto, pouco percebo de futebol
    Eu sou um simples adepto, pouco percebo de futebol

    Quer dizer, de que outra forma se consegue manter a sanidade e calma necessárias para assistir a um jogo que - na opinião de um simples adepto, que pouco percebe de futebol - logo à partida está condenado a ser muito mais complicado do que seria necessário, a expensas únicas da falta de categoria do treinador?

    Sem tirar nem pôr. O lápis escreveu isto em Janeiro de 2017, também o poderia escrever ontem.

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    1. Lembro-me bem de o ter escrito, creio que na deslocação ao Estoril que até ganhámos, mas não senti nada parecido neste jogo. É só a sua embirração com o Óliver a dar sinal de vida :-)

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    2. Se lhe parece que jogamos bem, que criamos oportunidades e apresentamos um futebol de criaivo, ambicioso, deve ser mesmo a minha embirração com o projecto de jogador de futebol que se cansa com muita facilidade.
      Curioso só termos ido à baliza do Sporting depois de estarmos a perder por...Marcano, Felipe, Reyes e os empatas já não estarem em campo.

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  5. Caro Lápis, isto hoje está fácil, revejo-me na sua colossal azia, na sua opinião sobre a forma como o FC Porto abordou o jogo e, como também estive no Estádio, vimos ambos o mesmo jogo. Perdida mais uma competição, agora sim, o Campeonato é o objectivo supremo da Época. Apoio e confiança total na Equipa no seu todo para atingir tal desiderato. Vamos FC Porto.

    Um abraço

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