Test-Drive da Liderança

segunda-feira, 20 de março de 2017

Test-Drive da Liderança


Ao comum dos mortais, quando planeia comprar automóvel, é-lhe por regra concedido (com algum sacrifício) um test-drive de uns míseros 15 minutos ao volante, com o vendedor ao lado qual cão de guarda, a ditar o caminho, baseado no qual lhe é pedido para tomar uma decisão com que terá de viver durante alguns (muitos?) anos.


Ai que espatifamos o bólide...

Este é um fenómeno que nunca consegui compreender, partindo do pressuposto que ninguém compra uma camisa sem a experimentar primeiro. Se for assim com a camisa, como é possível que se aceite comprar um carro sem o experimentar a fundo, em vários cenários (sobretudo os mais vividos pelo comprador no seu dia-a-dia), durante várias horas ou até dias?

Mas o que interessa aqui são aqueles quinze minutos, em que o putativo comprador se senta ao volante e se imagina (depressinha, para não esgotar o tempo todo em devaneios e falhar a detecção daquele ruído irritante ou as dores nas cruzes que aquele assento lhe provoca) um orgulhoso proprietário de uma viatura semelhante. Foi isso que o Porto fez hoje em relação à liderança do campeonato.

Recebeu um inesperado telefonema ontem à noite, da parte do stand, a dizer que estava finalmente disponível o modelo tão desejado, aquele único que segue em estrada livre e apenas vislumbra outros carros nos retrovisores.

Como se da véspera de Natal se tratasse, o nosso Porto ficou atónito com a boa nova, provavelmente nem dormiu em condições e chegou hoje ao local do teste demasiado ansioso para o seu próprio bem.




Entrou no stand nervoso, com medo que algo pudesse entretanto ter acontecido ao precioso veículo, mas, ao fim de algum tempo, teve finalmente acesso ao tão desejado e nele se sentou de imediato, agarrando-se ao volante como uma lapa se agarra a uma rocha. Acelerou mirando fixamente o horizonte, inebriado pela sensação do momento, só que rapidamente se começou a sentir desconfortável, com suores frios a percorrerem-lhe o corpo ao imaginar bater ali ou ser abalroado acolá, e os movimentos começaram a descoordenar-se uns dos outros. 

Por sina, inépcia ou crueldade cósmica, decorridos que estavam os tais 15 minutos de experimentação, chocou de frente com um camião da lota, carregadinho de... chocos por frrritar. Daqueles escorregadios, que não se conseguem segurar direitos, e que mal se larga ficam prostrados pelo chão. Ninguém se entendeu quanto à culpa no acidente, pelo que foi a polícia a decidir que se dividiriam irmãmente os prejuízos.

O verdadeiro test-drive acabou aí. O resto do "passeio", que implicou devolver o carro amolgado ao stand, foi um sofrimento. Lá regressado, e apesar de muitas insistências junto dos lambidos vendedores, não conseguiu que lhe arranjassem outra igual para seguir estrada fora, sem ninguém pela frente.

O nosso Porto, que ainda por cima tinha amigos e família amontoados ao longo de todo o percurso, foi para casa no mesmo chaço com que tinha saído de casa, frustrado, triste e decepcionado. E não é para menos. Mas amanhã será um novo dia, e com ele virão, de novo, todas as possibilidades do mundo. Então amanhã falamos, meu Porto.





Notas DPcA 

Dia de jogo: 19/03/2017, 18h00, Estádio do Dragão, FC Porto - Vitória FC (1-1). 


Casillas (6): Pouco trabalho, bem resolvido, impotente no golo sofrido.

< 76' Layún (5): Sem eira nem beira no jogo corrido, a defender ou a atacar, foi um dos que ficou mal na fotografia do golo sofrido. Apenas os lances de bola parada deram alguma qualidade à sua exibição.

Alex Telles (5): Muito intranquilo, foi sempre mais em quantidade do que com qualidade. Parecia um operário de uma fabricante de parafusos, sempre a fazer o mesmo movimento.

Marcano (6): Jogo positivo, sem nada a apontar. Pena o excesso de pontaria no poste.

Felipe (5): Teve o azar de escorregar no lance do golo, deixando o marcador isolado frente a Iker. No demais, esteve bem, guerreiro como sempre.

Danilo (5): O pior Danilo da época, irreconhecível no passe e pouco eficaz nos desarmes. Seriam nervos, também? Em todo o caso, conto com o melhor já no próximo jogo.

Óliver (7): Foi dos melhores da equipa, bem na função habitual de ligação defesa-ataque, com muitas recuperações de bola e alguns bons lançamentos ofensivos, onde se destaca naturalmente o cruzamento para o golo de Corona.

< 61' Corona (7): Regressou algo enguiçado após a lesão, precisou de minutos para olear as peças, mas bem a tempo de fazer um golaço de levantar o estádio. Foi o primeiro a sair, acredito que precisamente por estar a regressar da lesão.




Brahimi (5): Procurou muito ser importante e ajudar a equipa a chegar à vitória, mas na verdade quase tudo foi em esforço e sem resultados positivos. Deveria ter sido um dos substituídos. 

Soares (5): Perdido em campo e pouco esclarecido com bola, foi a antítese de (quase) tudo o que se lhe tinha visto. Seriam os nervos a tomar o controlo do homem? Já veremos...

< 89' André Silva (6): Um pouco melhor do que nas partidas anteriores, mas sem o faro do golo que alimenta qualquer avançado. Teve duas cabeçadas para marcar, numa atirou ao poste e na outra desperdiçou para fora.

> 61' Diogo Jota (5): Desta vez não conseguiu agitar o jogo nem se tornar relevante.

> 76' Otávio (5): Idem aspas aspas

> 89' Depoitre (-): Foi a cartada final de NES já em cima do minuto 90, a do "qsf, mete o belga", e não resultou. Naturalmente.

NES (4): Falhámos o ponto de break, para usar outro tipo de analogia. Obviamente que NES é o primeiro e último responsável de tudo o que se passa em campo, pelo que tem de responder por este fracasso. Apostou em fazer regressar o 4-2-4, antevendo a postura ultra-defensiva do adversário, o que de certa forma destruiu o que de bom (jogo) a equipa vinha fazendo. Regressou o futebol quase directo, desta vez envolvido por uma indisfarçável ansiedade e até receio de jogar o jogo, entre o regresso do intervalo e o golo sofrido. Mas não deixa de ser verdade que tivemos várias oportunidades para marcar vários golos, que houve mais um penalti não assinalado e que o adversário usou de um anti-jogo de fazer corar o mais irredutível treinador italiano. Creio que demorou demasiado a fazer a segunda substituição, quando era evidente que o jogo estava emperrado. Em todo o caso, a maior crítica ao trabalho de Nuno só poderá ser àquilo que não fez para trabalhar as cabecinhas dos jogadores, não conseguindo libertá-los daquela ansiedade e do medo de ser feliz



Outros Intervenientes:


Custa-me falar deste Vitória de Setúbal, porque não vou fazer justiça ao bom plano de jogo que claramente tinham para executar. O que realmente se destacou foi o anti-jogo primário, com Bruno Varela no papel principal, Vasco Fernandes no secundário e mais uma meia-dúzia de figurantes. Ainda dentro dos vinte minutos de jogo, o guarda-redes lampião já tinha provocado quatro interrupções de jogo. E o circo continuou até final, apenas interrompido naqueles 15 minutos em que estiveram a perder. Não foi exclusiva nem principalmente por eles que o Porto não ganhou, mas foi mais um Eu Show Matrafona (versão Sado) que só pode envergonhar quem gosta de futebol.
 
Tirágraxa, Matrafona!

Quanto à equipa de arbitragem liderada por Manuel Oliveira, acho que foi um pouco caseiro nos lances divididos a meio-campo, em especial na primeira parte. Fiquei com a sensação que "na dúvida", apitava quase sempre a nosso favor. No estádio não me apercebi de qualquer lance capital, mas analisando agora os três lances de que o Clube já se queixou, em minha opinião fica um penálti claro por marcar aos 61 minutos, porque se trata de impedir ilegalmente o AS de disputar a bola. Os outros dois, aceito bem que não tenham sido assinalados. Vejam o vídeo abaixo e cada um que julgue por si.

Importa ainda destacar a justeza do tempo de compensação, que mesmo ficando longe de realmente compensar o tempo perdido, marca uma posição que se saúda e se deveria repetir sempre que batoteiros fizerem isto. Faltou o passo seguinte, que é não ter pejo em expulsar (por segunda advertência) os prevaricadores.





Desta vez, sou capaz de jurar que André André fez falta. Ou outro como ele e na forma actual dele - que não há. Percebo que Nuno quisesse entrar com tudo no jogo, mas não sei se com isso não acrescentou ansiedade à equipa (que já teria uma boa dose por si só, não duvido). Uma equipa com apenas dois médios e com "quatro avançados" pressupunha marcar um golo cedo e outro logo a seguir, para acalmar as hostes. Talvez fosse excesso de optimismo por parte do treinador, sobretudo tendo em conta o adversário. 

No final de contas, tudo como antes desta jornada. Ou quase tudo, para ser honesto. Porque não há como esconder que a possibilidade gorada de alcançar o primeiro lugar nos terá deixado um pouco menos confiantes. Nada que não se trabalhe e ultrapasse, obviamente. O jogo que interessa é mesmo o próximo.



Lápis Azul e Branco,

Do Porto com Amor





6 comentários:

  1. O Tribunal O Jogo diz de forma unânime que nos 3 lances deviam ter assinalado penalty. Concordo. Se bem que o 1º e 3º são aquele tipo de lance que passa por vezes despercebido. O 2º é por demais evidente.
    Foi uma boa oportunidade desperdiçada de ascender à liderança e concordo que baixa os índices de confiança. O ideal será o Porto ganhar na Luz e acredito que o faça para apenas depender de si. Empatando, mesmo assim, acredito que o Sporting vá impedir o tetra do Benfica.

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    1. Como o meu caro bem sabe, porque muitas vezes me "aponta" o Tribunal como referência, não abdico nunca de pensar pela minha cabeça. Admito facilmente que haja quem considere indiscutíveis os três lances, mas eu não.

      Percebo também que para si o não-tetra seja a prioridade, no entanto para mim é sobretudo voltar a ser campeão.

      Depois de uma noite mal dormida, realizo que tudo se mantém intacto nesse domínio, basta que NES saiba pegar na frustração de ontem e transformá-la numa ainda maior vontade de ganhar. Estas duas semanas de intervalo vão ajudar a colocar as coisas em perspectiva, relegando para segundo plano a oportunidade perdida e relevando a oportunidade em aberto.

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  2. São 3 penalties. Tudo explicado? Nem por sombras. Foi demasiada estupidez junta para varrer para baixo do árbitro. Mas conta, olá se conta!
    Tudo igual, portanto. Nada perdido, como nada estaria ganho com uma vitória. De acordo.

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    1. Um, dois ou três, cada um que escolha em consciência, mas bastava o que eu vi para ganhar o jogo (digo eu). O resto foi... NES a menos, em vários planos.

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  3. Quem quer ser campeão tem que o ser nos momentos certos. Ontem falhamos. Com todos os defeitos e problemas fizemos mais do que o suficiente pra ganhar e isso é frustrante. No entanto continuamos dependendo só de nós e acredito que teremos força suficiente para ganhar este ano!!! Força Porto

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    1. Será que fizemos? Não estou convencido, embora o pudéssemos ter conseguido com um pouco mais de sorte. Veremos se não deixará alguma marca na cabeça dos jogadores. Confio que não.

      Abraço

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