De Istambul com Amor

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

De Istambul com Amor


Istambul, Constantinopla, Bizâncio. Uma cidade milenar, misteriosa e mágica que abraça dois continentes, tantas vezes actriz principal na história das civilizações - e uma das minhas cidades preferidas, como se poderá deduzir - foi também crucial para as nossas aspirações de seguir em frente na Champions.




Um grupo equilibrado, um par de maus resultados e o melhor Besiktas europeu de que tenho memória, tudo apontava para uma prova de elevado grau de dificuldade para este Porto de Sérgio Conceição.

Não vos vou maçar com a minha paixão por Istambul, apenas fazer votos para que a possam visitar um dia, tantos dias quanto possível. Todo o peso da História, que se sente em cada vislumbre da cidade, seja em que direcção for, a tentar acomodar-se ao ritmo da vida moderna e dos quinze milhões de almas que a habitam, deveria ser suficiente para vos convencer. E as cores, os cheiros e o frenesim de uma grande metrópole. Se não chegar, lancem-se num leap of faith (Assassin's Creed, got it?) e vão por mim.

O renovado estádio dos da casa, a Arena Vodafone, é um belo exemplo do que um estádio moderno deve ser. Funcional, multi-facetado, confortável e impiedoso para com os adversários. A escassos metros de uma das margens do Bósforo e quase a espreitar o Corno de Ouro (não, companheiros, não me refiro ao justiceiro do Apito Dourado), não se imagina o que nos espera lá dentro assim que a "casa se compõe". Tinha estado no velho estádio em 2010, mas este aumenta um nível em termos de barulheira ensurdecedora. 




Foi neste ambiente que vi entrar um Porto resistente, seguro da missão que tinha para o jogo, e que, de certa forma, surpreendeu o Besiktas. Tirando o bailado de Quaresma sobre Marcano e consequente cruzamento (quase uma cópia do primeiro golo no Dragão) que felizmente não encontrou ninguém para finalizar, estivemos sempre concentrados e à altura dos desafios que nos foram sendo criados. 

Poucas saídas com princípio, meio e fim, é verdade, mas também sem conceder grandes veleidades aos turcos. E assim, sem pré-aviso, chegamos ao golo através de um lance (muito bem) estudado - uma das imagens de marca de SC - sobre a meia hora de jogo, quando Felipe fuzilou Fabri, para nosso contentamento. Se já não nos estávamos a sentir nada mal no jogo, melhor ficámos. Tanto que o zero-dois podia e devia ter acontecido, não fosse o perdulário Aboubakar a ter a última palavra no assunto. Mais um cruzamento da direita, mas desta vez o camaronês não teve o acerto necessário.

Quem não perdoou pouco depois foi o nosso velho "amigo" Talisca, que se limitou a empurrar após muito boa jogada de Tosun, que meteu o tonto Felipe no bolso e assistiu com classe. Chegou o intervalo e o empate estava correcto, pese a tal oportunidade flagrante de Abou.

Depois é que foram elas... Şenol Güneş, nada satisfeito com a pequena surpresa que o imberbe oponente lhe preparou, puxou dos galões e reajustou a equipa, desde logo através de Gary Medell, o pequeno pitbull chileno que entrou para... central, e assim o Besiktas ganhou mais um jogador para sair com bola, um médio muito experiente, capaz de subir sem se desposicionar. Mais adiante, houve mais mobilidade e trocas de posição mais "regulares". Tudo somado, vimo-nos gregos frente aos turcos durante uns bons vinte minutos. 

Depois, ambas as equipas começaram a acalmar, ou melhor, a arriscar menos. Sem nunca abdicar de procurar a vitória, entenda-se. Que o diga Ryan Babel, que teve demasiada pontaria no seu fantástico remate. E Ricardo, que se engasgou na altura de fuzilar Fabri, tentando marcar de trivela mas apenas conseguindo uma rosca para o infinito...

Os turcos ainda meteram toda a artilharia em campo, mas no subconsciente dos jogadores já pairava a noção que o empate garantiria o apuramento em primeiro. Do nosso lado, agradeceu-se essa boa consciência. Empate justo, que facilmente poderia ter caído para qualquer um dos lados. Missão parcialmente cumprida, num estádio que também joga. Venha de lá o Mónaco.





Notas DPcA 


Dia de jogo: 21/11/2017, 17h00, Arena Vodafone, Besiktas JK - FC Porto (1-1)


Melhor em Campo José Sá (8): Antes de saber da titularidade de Iker na taça, apostava que regressaria à titularidade neste jogo. Falhei redondamente e - pelo que fez Sá - ainda bem. Exibiu sempre segurança apesar da gritaria turca e acabou por fazer várias defesas de grande nível, daquelas que quase equivalem a um golo marcado. Só não foi capaz de travar aquela pequena maravilha de Babel, mas ninguém o seria - só mesmo a trave da baliza. Grande resposta e um passo de gigante na sua afirmação. Parabéns, pá.

Maxi (6): A meia-surpresa no onze, tirando partido da sua grande experiência e libertando Ricardo para semear o pânico mais adiante. Foi compensando a indisfarçável falta de velocidade com o bom posicionamento e a eterna raça de lutador. Teve sorte em não ver o segundo amarelo e isso tem de ser reflectido na nota final. 

Alex Telles (7): Provavelmente, um dos jogos mais complicados que teve de suportar, tendo Quaresma (e não só) para vigiar e anular. Não o fez na perfeição, mas ganhou mais do que perdeu. E foi decisivo no lance do golo, bem como num par de outras situações mal aproveitadas pelos companheiros.

Marcano (6): Começou o jogo a ser "toureado" por RQ7 como se de um iniciado se tratasse, mas lá foi segurando os nervos e foi obviamente importante a defender a baliza de Sá. Teve ainda mais uma e outra má abordagem, mas nada que não pudesse ser reparado a tempo.

Felipe (7): Deu-nos a felicidade de finalizar muito bem um belo lance de laboratório, só para depois se permitir ser literalmente comido por lorpa no golo sofrido. Uma abordagem de infantil... Fora isso, foi um dos bravos do pelotão e ainda bem que não se deixou "amassar" pelo intratável Tosun.

Danilo (7): Jogo complicado, tal a imprevisibilidade do carrocel turco, mas nunca se escondeu e houve mesmo momentos em que foi ele a assumir o risco de levar a bola para zonas mais avançadas. A defender, nunca se rendeu. Bom jogo.

< 90' Herrera (7): Um dos três melhores, muito bem a fechar espaços e no posicionamento para ressaltos e segundas bolas. Lutou até ser finalmente rendido, já exausto, e o ponto fraco foi o do costume: algumas más decisões (e execuções) no passe.


Sérgio Oliveira (6): Um amarelo muito cedo ameaçava condicioná-lo (ou pior) para o resto do jogo, mas soube dosear na perfeição o equilíbrio entre agressividade na disputa dos lances e o espectro do segundo amarelo. Foi também peça importante para que a barragem não cedesse, embora ele próprio se tenha esgotado antes do apito final.

Brahimi (6): Não conseguiu ser "aquele" jogador, parecendo mesmo ser dos que mais sentiram o ambiente infernal. Toda a sua técnica na condução da bola foi quase sempre utilizada em labirintos que não conduziam a parte alguma, mas foi mais um a fazer a sua parte quando ela estava na possa dos turcos. E sim, teve um par de lances "à Brahimi", soube foi a pouco.

Aboubakar (6): Deve ter ficado feliz com a grande recepção que teve dos seus ex-adeptos (até eu fiquei por ele), mas escusava de lhes ter "retribuído" de forma tão generosa, falhando escandalosamente o 0-2, numa altura em que bem poderíamos ter arrancado para outro resultado. Mas batalhou, como sempre, e ajudou os companheiros a ganhar metros, apesar do policiamento implacável de Pepe.

< 79' Ricardo (7): O jogador que fecha o meu pódio neste jogo, que poderia ter sido bem melhor se tivesse marcado um golo fácil, na cara de Fabri. Um momento de indecisão foi o suficiente para o remate sair completamente falhado. Foi pena, porque teria sido no momento certo para depois aguentar a vantagem até final. No entanto, tudo o resto foi muito bom, sendo mesmo o maior desafio para a defesa turca durante grande parte do jogo. Muito bem no lance ensaiado, mesmo que o seu passe tenha ressaltado num adversário para chegar ao pé de Felipe. 

> 79' Corona (5): Missão complicada, a de substituir Ricardo após a sua boa exibição. Tentou à sua maneira, mas numa altura em que a pressão turca já estava outra vez a fazer-se sentir. Ajudou a aguentar. 

> 90' Reyes (-): Entrou para ajudar a passar os últimos minutos e cumpriu.

Sérgio Conceição (6): Segundo jogo consecutivo em que estou fundamentalmente de acordo com as decisões, tanto na equipa inicial, como nas substituições. O grande reparo que sou obrigado a fazer é em relação ao tempo em que nada fez, após o regresso do balneário, e que nos poderia ter custado a derrota. A atenuante é a limitação de escolhas que tinha no banco, eu entendo o receio de "mexer e estragar", mas na verdade o risco talvez tenha sido excessivo. No final, compensou, porque o empate nos deixa bem posicionados para seguir em frente. Ainda não é tempo de fazer o balanço, mas em todo o caso é bem notória a sua própria evolução, patente na forma como conseguimos ir controlando o inferno de Istambul durante quase toda a primeira parte. E se Abou tivesse feito o 0-2, quem sabe o que seria o resto do jogo...




Outros Intervenientes:



Sei que já o escrevi aquando do primeiro jogo, mas é da mais elementar justiça voltar a repeti-lo, reforçando a mensagem: Şenol Güneş é um senhor treinador. Além do grande mérito de ter transformado este conjunto de "velhos" craques numa boa equipa de futebol, lê muito bem o jogo e reage de acordo. Foi dele o grande mérito na subida do Besiktas após o intervalo. Dentro de campo, o destaque vai para Cenk Tosun, o possante mas de boa técnica avançado turco, e para Quaresma, porque gosto muito dele.




Sobre a arbitragem liderada por Mateu Lahoz, esteve quase sempre bem a nível "técnico", começando por utilizar um critério larguíssimo nos contactos, algo tipicamente inglês mas nada espanhol, até que decidiu marcar e dar amarelos... ao Porto (demorou quase uma parte inteira para dar o primeiro amarelo a um "turco"). Talvez por isso, já regressado "a si", não quis expulsar Maxi com segundo amarelo quando faltavam pouco mais de dez minutos para o fim. E, logo a seguir, seguiu a mesma via em relação a Gonul. Tudo equilibrado, portanto...


- - - - - - - - -


Com a vitória do Leipzig no Mónaco, "basta-nos" igualar o resultado dos alemães no derradeiro jogo do grupo para seguir para os oitavos. Que é como quem diz, ganhar. Nem pode ser de outra forma - se não o conseguirmos, seremos justamente remetidos para a Liga Europa. Há quem nem isso tenha para se agarrar.

Já na Taça de Portugal, calhou-nos o sempre desafiante Vitória de Guimarães, felizmente como visitante do Dragão. Bem melhor sorte tiveram Sporting e Rio Ave.

Agora importa apenas re-focar no campeonato, onde o jogo nas Aves se apresenta como um importante e complicado desafio. Uma vitória é fundamental para uma recepção confortável e cheia de moral aos sem-vergonha. Vamos a isso, malta boa?



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



10 comentários:

  1. Respostas
    1. Goulash lembro-me de ter comido em Budapeste e em Viena... não sabia que os turcos também lhe davam. Mas sim, comi muito bem, como aliás acontece em quase todo o lado, desde que se saiba e queira procurar.

      Eliminar
    2. Há uma variante turca, com frango, que comi uma vez e gostei imenso.

      Já em Budapeste, eu foi mais Lángos. Amava aquilo com queijo de cabra.

      Eliminar
    3. Certo, sempre a aprender. Na próxima não perdoo. Budapeste... Palinka, Tokay.... Nham...

      Eliminar
  2. As melhoras. Vasodilatadores é capaz de ajudar. .|.

    ResponderEliminar

Diga tudo o que lhe apetecer, mas com elevação e respeito pelas opiniões de todos.