D'O Espírito das Antas

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

D'O Espírito das Antas


Há noites em que realmente vale a pena sair de casa. Especialmente quando as expectativas não são as mais elevadas (sim, sempre elas a comandar o mundo) e mesmo assim, algo especial acontece.


Catarina Morais / Kapta +

E se houve algo especial, como poderia escrever da forma habitual, formatada para jogos em que só acontecem coisas normais?

Poderia discorrer sobre uma táctica teimosa e comprovadamente inapropriada, poderia agradecer à providência divina (*wink wink*) a lesão de Marega para a respectiva correcção forçada e nem assim a mais indicada, poderia até servir-me da estatística para minorar a nossa vitória frente ao RB Leipzig.

Mas não, hoje não.

Hoje vou-me limitar a descrever o que senti, algures na segunda parte, entre o empate sofrido e um pouco para lá do 2-1. Porque, eventualmente soando a pouco, a mim disse-me muito. E fez-me recuar a um passado já algo distante e, na grande maioria das memórias, difuso.

Hoje, esta equipa de Sérgio Conceição fez-me reviver uma das muitas noites nas Antas, de glória e superação, precursoras do estatuto que hoje, orgulhosamente, ostentamos. 

Falo daquelas noites europeias caseiras, na minha lembrança tipicamente chuvosas e frias, onde, contra as probabilidades e o clima, um grupo de onze guerreiros (mais dois, se entrassem) fazia das suas e nossas tripas coração, sangue, suor e lágrimas, fórmula secreta da poção que os fazia tombar outros reconhecidamente melhores do que eles.

Sim, é da essência do ser Portista de que vos falo. Do que nos moldou e nos fez aqui chegar a bicampeões europeus e mundiais (sim, mundiais). Aquela fome insuperável de vencer e de, a cada novo jogo, dar mais Porto a Portugal, de sair da nossa pequenez geográfica cavalgando a nossa grandeza de carácter.

Hoje, voltei a sentir algo parecido. E o orgulho Portista a transbordar dos alicerces do meu ser.

Uma equipa que me faz sentir assim, tem de ter qualquer coisa de especial. Tentarei lembrar-me desta noite europeia, sempre que alguma coisa nos correr menos bem. Porque de equipas destas não se pode desistir nunca. Sei que nos vai fazer felizes a todos, muito felizes.

Parabéns, rapazes. E obrigado.



Notas DPcA 


Dia de jogo: 1/11/2017, 19h45, Estádio do Dragão, FC Porto - RB Leipzig (3-1)


José Sá (7): Sempre atento, teve o seu ponto alto (e talvez decisivo) ao defender com categoria um livre para o qual dispensou barreira...

Ricardo (7): Foi co-responsável no golo sofrido (parte menor da culpa), mas quase tudo o resto foi de elevada eficácia e qualidade. Cresce a olhos vistos.

Alex Telles (8): Com o seu corpo franzino a dar saliência à cabeça (e corte de cabelo), fez-me lembrar um dos heróis da série Dragon Ball: veloz e ultra-combativo durante os noventa minutos, com tempo ainda para ajudar a decidir, assistindo Danilo para o segundo das nossas contas.

Marcano (8): Impecável. Outra vez e perante adversários bem mais complicados.

Felipe (6): Ficou ligado ao golo sofrido pela quebra momentânea de concentração, mas a exibição é claramente positiva, sendo pedra basilar da muralha d'aço que deteve este habilidoso "exército" alemão.

Danilo (7): Começou hesitante, um pouco à imagem da equipa e do plano do treinador, mas conseguiu encontrar o seu papel no jogo e não mais abdicou dele. Excepto quando foi lá à frente marcar o seu primeiro golo na Champions. Não poderia ter escolhido melhor momento para o fazer, digo eu.

Herrera (8): Sim, sim, mesmo com as habituais patacoadas pelo meio (em menor quantidade, é certo), conseguiu fazer um belo de um jogo, coroado com o golo inaugural, pleno do crer e do querer que tão bem o definem nos dias bons. Enfim...

< 72' Corona (7): Demorou a aparecer em termos ofensivos, mas fê-lo em grande estilo, só se rendendo a um impedimento físico. Mas já antes, andava pelo campo muito concentrado a fechar as portas de entrada do lateral opositor. Muito bem, porque muito útil em todos os momentos do jogo.

< 89' Brahimi (7): Hoje não conseguiu sobressair como noutros jogos, mas nem por isso deixou de ser importante, fosse a atrair alemães que nem mel a moscas, fosse a contribuir com a sua quota-parte defensiva. 


Aboubakar (7): Não marcou, mas fez uma belíssima assistência para Maxi galgar terreno e finalizar. Tudo o resto, foi uma missão de luta, muitas vezes inglória mas sempre persistente.

< 13' Marega (-): O jogo ainda estava à procura da música com que seria tocado quando o azar bateu à porta. Aparentemente, por várias semanas. Rápidas melhoras, Mousso.

> 13' André André (6): Outra vez o primeiro a ser chamado a partir do banco, mas desta feita quase a tempo de jogar o jogo inteiro. Entrou dessincronizado do jogo, o que se compreende pelo inesperado da situação e dos próprios ajustes que a equipa sofreu. Mais para a frente, em particular no segundo tempo, conseguiu mostrar alguns atributos que justificam a sua presença no plantel, ao assumir sem mais receios ter a bola nos pés e com ela ganhar metros e espaços.

> 72' Maxi (7): Foi chamado para um inusitado papel de médio direito, embora se tenha comportado muitas vezes como o quinto elemento da defesa, ficando na extrema-direita de Ricardo. O que é certo é que tinha missão bem definida e cumpriu-a a preceito, excedendo-se até ao fazer o golo de ouro (porque selou a conquista dos três pontos e nos deixou em vantagem no confronto directo).

> 89' Reyes (-): Cinco minutos em jogo para ajudar a conservar a preciosa vantagem e assistir "ao vivo" ao golo da tranquilidade.

Sérgio Conceição (8): Penso que escolheu a estratégia errada para o jogo, penso também que teve "sorte" com a lesão de Marega e nem assim escolheu o melhor substituto, mas... quem consegue pôr um grupo de homens a lutar desta maneira por uma causa - que, por sinal, é a minha - tem de ter o meu voto de confiança, pense eu o que pensar. Bem na opção Maxi, em particular na decisão de não mexer na defesa, mantendo Ricardo como o defesa de raiz. Simbolicamente, pelo que conseguiu que a equipa (nos) desse, é o meu eleito para melhor em campo.

Pareceu-me que na entrevista pós-jogo quis dar uma stickada no treinador adversário, quando se referiu a uma das substituições que o alemão fez. Podendo até ser justa (em vários sentidos), era desnecessária e não lhe fica muito bem. É pelas decisões que toma durante os noventa minutos que se deve afirmar e nestes noventa, fê-lo de forma indiscutível. Se foi só impressão minha, peço desculpa pelo juízo errado.



Outros Intervenientes:



Hoje, mais do que a imagem de boa equipa com que fiquei no primeiro jogo, saí do estádio rendido ao inacreditável talento de Naby Keita. Se Forsberg é um grande jogador de televisão, porque aparece normalmente em zonas de decisão, este pequeno grande guineense só se aprecia na sua plenitude em pleno estádio, perante a possibilidade de o ver sem interrupções. E que grande jogador que promete ser: técnica, velocidade, capacidade física e visão de jogo. Bem fez o Liverpool em comprar o seu passe; se assegurar um grande GR e mantiver o grosso do plantel (pois, Coutinho, já sei), será real candidato a vencer a Premier League da próxima época.


Sobre a arbitragem de Ovidiu Hategan, o mais simpático que consigo dizer é que ilustra bem a definição de anti-caseiro, mesmo sem nenhuma decisão crítica errada. Por outras palavras, não foi por ele que os de Leipzig saíram derrotados do Dragão.




Segue-se a recepção ao Belenenses, jogo fundamental para consolidar a liderança no campeonato, antes de nova (e absurda) paragem para Seleções e taça. Com pouco descanso e provavelmente sem Marega nem Corona (mais possível o mexicano, hopefully).

Aproveito para informar que, por motivo de força maior, não haverá Onde Está a Bola? para este jogo, estando no entanto previsto que a normalidade seja retomada já no jogo seguinte.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



12 comentários:

  1. concordo com essa da ``sorte`` na lesao de marega, sem ela provavelmente nao ganhavamos, parece ate que foi de proposito mas nao acredito que estivesse combinada. Pois as lesoes musculkares começam a aparecer, soares, otavio e marega, a intensidade e muita e lesoes musculares tambem sao sinonimo de ma preparaçao e maus aquecimentos. Vem o belenenses e nao sera facil ate pelas condicionantes fisicas, brahimi esta cansado e corona nao tem cabedal para tanta intensidade durante tanto tempo. Voltaremos ao 433 o que nao sera mau de todo se nao juntarem oliver e andre2, o problema do nosso 433 atual e a falta de velocidade e intensidade dos jogadores do meio campo que adormecem demasiado o jogo. Teremos luizao finalmente? teremos pereira? galeno estara decerteza. NAO PODEMOS TER JOGADORES DE FORA QUE NAO SEJAM CAPAZES DE IMPRIMIR INTENSIDADE AO JOGO. Hernani nao e alternativa claramente, se oliver nao e para jogar entao que siga para outro clube, se otavio nao explode defenitivamente entao que seja emprestado. SC e teimoso e a teimosia nao e boa conselheira.

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    1. É bom que ninguém expluda, estamos em período de contenção de custos...

      Quanto ao jogo com o Belenenses, vai ser complicado... até entrar o primeiro. Entrando, confio num resultado positivo e talvez até gordinho. Sob a batuta de Óliver, obviamente.

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    2. Não dê palpites para empates. Que mau agoiro.

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    3. Se estivermos a ganhar 5-0 metam lá o gajo pois já não adianta nem atrasa. Metê-lo de inicio é meio caminho andado para o suicídio.

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  2. Há efectivamente gente com sorte.
    Há gajos que pedem milhões a bancos e não têm de pagar.
    Outros que nascem dum espermatozóide do Ti Belmiro e...tá feito.
    Verdade, que estes gajos do Porto também tiveram sorte. Mas foi uma p*** duma sorte que lhes fez correr suor por todos os poros, os deixou amachucados, maltratados, lesionados.
    Nem todas as sortes são iguais. Algumas custam muito, mas também dão um gozo do caraças.

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  3. Concordo em absoluto na nostalgia pelos heroicos jogos das Antas...
    Como concordo em absoluto com a nota dada a um certo mexicano que por acaso é o nosso capitão:))))

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    1. Vê como é possível estarmos de acordo? Basta para isso que o certo mexicano jogue alguma coisa de jeito, ou seja, possível mas raro :-)

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    2. Vá Lápis, não é preciso extrapolar.
      Não gosta do gajo porque ele é feio mesmo e não há Ivo Pitanguy que possa melhorar aquele frontespício. Está no seu direito.
      Agora dizer Herrera jogou assim ou assado, não. Ele sempre jogou aquilo. Não engana. É como um relógio chinês que só dá passos em falso no ponteiro dos segundos.

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    3. A feiura é o menor dos seus males e um que a mim nem sequer importa. Só conta o que joga. E sobre isso, já tudo disse.

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