Quase a finalizar a análise da temporada 2017/18, é altura de pegar na lupa para observar mais de perto o impacto que os reforços tiveram no desempenho colectivo da equipa.
Ao contrário da norma, desta vez "reforços" tem uma abrangência mais alargada e quase que diverge da definição corrente. Por força da alhada financeira em que nos metemos e do consequente garrote da UEFA, no início da temporada apenas pudemos contar com regressados de empréstimos em vez de novas contratações.
Em meados de Janeiro, aquando da mid-season review, escrevi o seguinte:
"Sempre me ensinaram que quem não tem dinheiro, não pode ter vícios, mas os nossos queridos dirigentes parece só terem aprendido a lição à força (e ainda assim... Vaná). Com o garrote financeiro bem apertado, ofereceram a Sérgio Conceição um belíssimo cardápio... de restos.
Com muita fome e ainda mais vontade de comer, o bom do treinador fez muito mais do que os requentar: deu-lhes um novo arranjo, pô-los todos bonitinhos na travessa e serviu-os como se fosse produto acabado de fazer. Ou de chegar, como preferirem."
No mercado de inverno, houve de facto novos reforços, ainda que (aparentemente) contratados "à condição". Já o seu impacto na equipa é que deixou muito a desejar, como facilmente se constatou e a seguir se comprovará. Mas já lá iremos.
Quadro 1 - Reforços & Regressados (clicar para ampliar) |
No início da temporada, Sérgio Conceição contou com o regresso de seis jogadores (além da desnecessária inclusão de Vaná): Aboubakar, Hernáni, Marega, Reyes, Ricardo e Sérgio Oliveira. Todos "chutados" para fora do Clube, cada um pelas suas razões, eram então forçados a regressar à mal-sucedida casa de partida e a tentar de novo, após boas incursões por essa Europa fora.
Por aqui se percebe da tremenda dificuldade com o recém-chegado treinador teve de lidar. E da capacidade que demonstrou ao conseguir fazê-lo com sucesso, excedendo aliás as expectativas mais optimistas quanto ao rendimento "sacado" deste bando de renegados.
Para mim, foi mesmo o feito mais valoroso e decisivo de Sérgio Conceição, pois que só a partir daí se pode agitar de novo o desesperado marasmo em que seguia o Mar Azul. Só assim foi possível ter um grupo competitivo e capaz de conseguir resultados, um após o outro, que nos permitiram seguir sempre na frente do campeonato ou muito perto dela.
Dentro desta conquista imensa, houve naturalmente quem se destacasse acima de outros, conforme todos sabemos e o quadro acima demonstra. Por ordem de "desempenho", seguem-se os "reforços" um-a-um, ainda que divididos em quatro sub-grupos de "qualidade".
Quando houver distância suficiente para se fazer a história deste campeonato, estou certo que acabará lembrado como o campeonato do Marega. Houve outros jogadores importantes (vários), mas Marega terá mesmo sido o mais decisivo e não apenas pelo efeito-surpresa. Foi, em campo e no modelo do treinador, a peça nuclear sobre a qual muitas e muitas vezes o jogo da equipa se alicerçou para chegar aos êxitos. Tanto que, a cada impedimento seu por lesão, a equipa se ressentiu de forma inegável. O maliano foi o grande joker de Conceição e um dos grandes responsáveis pela recuperação do título nacional.
Quem também pegou de estaca e rapidamente se afirmou como peça indiscutível foi Ricardo, o jogador que um lorpa qualquer achou por bem exiliar há umas épocas atrás. A verdade é que o português aproveitou muito bem o "estágio" de dois anos em Nice e regressou muito melhor jogador. Mesmo perante a ameaça credível de Maxi, impôs-se e foi outra das peças nucleares do Porto 17/18, assumindo a lateral direita com categoria e produtividade ofensiva.
Sérgio Oliveira. Um nome que à grande maioria dos Portistas provocava algo entre a indiferença e a resignação pelo insucesso, foi a aposta do treinador para os jogos mais difíceis, após o bom desempenho e resultada da primeira experiência, no Mónaco. O que não estava nos planos é que o português assumisse o estatuto de titular indiscutível durante a segunda metade da época, por força das lesões graves de Danilo. Sérgio aproveitou a (última?) oportunidade e mostrou que tem categoria para jogar neste clube e ser uma mais-valia para qualquer treinador.
Outra das grandes "ressurreições" de Mister Conceição foi a de Aboubakar, um jogador cujo o regresso me fez confusão e até desgosto, pelo que antes se havia passado e dito. O que fica para a posteridade é que o camaronês conseguiu trocar o chip e entrou em grande na temporada, sendo um dos mais relevantes durante a primeira metade. É certo que se eclipsou em 2018, mas fez o suficiente para estar neste lote dos "4 ases" dos regressados.
Estes quatro jogadores foram os mais valiosos entre os reforços mas também dos mais importantes da equipa como um todo. Pedras nucleares, recicladas e prontas a serem vendidas a peso de ouro.
No segundo grupo, está apenas um jogador, Reyes. O mexicano, também regressado a contra-gosto, soube ainda assim assumir um comportamento exemplar e reintegrou-se de corpo e alma... mesmo sabendo que no final da época se ia embora, havia um campeonato do mundo onde queria estar presente. Reyes foi o suplente (único) da dupla titular de centrais, mas também de Danilo, oferecendo uma polivalência apreciada pelo treinador. Em termos de rendimento, creio que se pode resumir numa palavra: razoável. Oscilou entre exibições seguras e até golos importantes e desempenhos pouco menos do que desastrados, acabando por sair do Dragão sem que eu perceba o quanto vale de facto.
O terceiro grupo - o dos que não convenceram - é infelizmente o mais extenso. Inclui os quatro de Janeiro e dois dos "pioneiros" da temporada.
Hernáni, apesar das muitas oportunidades de que dispôs, nunca conseguiu controlar a ansiedade e ter a cabeça no lugar de forma a poder ser útil à equipa. Sempre muito atabalhoado, a querer mostrar tudo de uma vez só, acabou por não justificar o regresso.
Vaná... bem, não sei. Só sei que quase não jogou.
O mesmo se pode dizer de Osório e Paulinho, que quase nunca foram utilizados. O venezuelano teve uma exibição desastrada no Restelo e nada mais e o brasileiro pouco mais. O que mostraram, mesmo não sendo entusiasmante, foi claramente insuficiente para se traçar um veredicto minimamente credível.
Já Waris e Gonçalo tiveram mais tempo de jogo e foram mais vezes chamados a resolver problemas da equipa, mas a verdade é que nenhum deles se conseguiu impor ou sequer mostrar qualidade indiscutível para o conseguir. Todos temos grandes expectativas em relação ao "puto" Paciência, mas terá de fazer mais para se afirmar e garantir uma vaga em definitivo. Já quanto ao francês, continuo na mesma: não sei o que vale, nem sequer onde joga ou pode jogar. Uma perfeita incógnita.
* Bruno Costa apenas foi chamado para um jogo (e logo em Anfield), pelo que nem seria justo tecer qualquer comentário que não seja o de que se aguentou bem "à bronca".
** Fabiano veio para recuperar de lesão e apenas jogou uns minutos em Guimarães para também ser oficialmente campeão.
Está então passada a pente razoavelmente fino a nossa temporada de reconciliação com o(s) troféu(s). Se só agora chegou a esta análise, aqui ficam os links para as partes anteriores:
E assim se conclui esta análise detalhada à época 2017/18, mas que ainda terá o seu corolário apoteótico na GALA DPcA, onde mais uma vez serão entregues os Pedrotos e os Lorpeteguis para distinguir os melhores e os piores do ano... algures a seguir ao Portugal-Uruguai. Stay tuned!
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco
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