Em nome do pai e do Espírito Santo

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Em nome do pai e do Espírito Santo


Começo este artigo com a mesma pergunta com que terminei o anterior (pré post-scriptum):

Estando Nuno Espírito Santo disponível aquando do despedimento de Lopetegui, por que motivo não serviu na altura e serve agora para treinar o FC Porto?


Bruno Sousa


Lopetegui foi corrido ao pontapé (e nem me chamaram para lhe dar um dos meus, com biqueira larga) sem que antes se acautelasse o futuro imediato, ou seja, que fosse encontrado o seu sucessor. Um clube altamente profissionalizado, liderado pelo presidente mais vencedor da história e por uma estrutura que o acompanhou em todos esses sucessos, sempre pagos a peso de diamante, permitiu-se anular a sua própria fé de poucos meses antes e avançar para o desconhecido de olhos fechados. Não sei se foi um impulso incontrolável, se foram pressões externas ou se foi o Espírito Santo (o sagrado) que apareceu em sonhos ao presidente, o certo é que se passou assim.

Perante isto, entrou Rui Barros. Para evitar o caos e levar com as balas que seriam destinadas à direcção. Fez o que pode. 

Entre a saída de Lopetegui e a entrada de Peseiro passaram várias semanas. Várias semanas. O que se deduz disto? Que o presidente passou esse tempo à procura da melhor solução para orientar a equipa. Relembro que Nuno estava livre, sem emprego, à distância do mesmo telefonema que agora recebeu.

Tendo finalmente Peseiro sido o escolhido, com tamanha demora, são várias as conclusões que se podem tirar. Destaco duas:

1) Que nenhuma das primeiras opções estava "disponível";
2) Que Nuno não era uma dessas opções.


A justificação dada hoje pelo presidente é pouco mais do que insípida. Não esclarece absolutamente nada sobre o motivo da sua não contratação em Janeiro. Mas se optar por acreditar que "na altura, nas circunstâncias," entenderam "que não era o momento oportuno para uma pessoa com o perfil do Nuno entrar no FC Porto", fico duplamente preocupado

Primeiro porque a situação hoje é claramente mais gravosa do que em Janeiro, quando ainda tínhamos todas as hipóteses de terminar a época fazendo a dobradinha e evitar os actuais três anos de jejum. 

Segundo, porque revela que a confiança no novo treinador não é ilimitada ou, se preferirem, não é para todas as situações.

Muito menos faz sentido pensar que foi Jorge Mendes que impôs o treinador como condição para reforçar a equipa. Mas fica claro que o empresário passará a estar mais próximo do clube e envolvido em muito mais negócios, o que obviamente é muito diferente de passarmos a ser mais um clube satélite de Jorge Mendes, algo impensável e inaceitável.

Será igualmente curioso perceber como vai evoluir a relação com a Doyen e, pelo meio, com Alexandre Pinto da Costa. A vaca está magra e não se afigura fácil alimentar dois (três) vitelos tão vorazes. Não me custa nada imaginar que o filho pródigo já terá saltado para a barricada de Jorge Mendes, abandonando os até agora grandes "amigos". Afinal, amigos, amigos... Mas continuaremos todos atentos aos negócios em que estará envolvido, qual o seu grau de envolvimento, qual a necessidade da sua presença e que percentagem retirará deles.

Outra conclusão que decorre do que foi dito na apresentação de hoje é que o presidente e seus pares andaram literalmente a dormir desde Janeiro até agora. Cedo se percebeu que Peseiro não tinha futuro no clube, pelo que o que seria de esperar é que imediatamente (no momento dessa constatação) se iniciasse o processo de contratação do próximo treinador. 

Não chegou ficarmos arredados da luta pelo título, nem da luta pelo acesso directo à Champions, nem as derrotas caseiras com Arouca e Tondela para que Pinto da Costa deitasse mãos à obra nesse empreendimento. Não, foi preciso esperar pela derrota na final da Taça e juntar-lhe mais uma dezena de dias para que "a administração" decidisse "com acordo total, que a passagem de José Peseiro tinha terminado" e então pensar no novo treinador. Será mesmo possível termos chegado a este ponto?

Quanto ao escolhido, já resumi o que penso dele no treinadorómetro. Não vou agora desdizer-me apenas porque foi contratado. No entanto, só depende dele fazer-me mudar de opinião. Que assim seja! Consola-me que tenha sido a primeira e única opção. Quer dizer, não consola, porque havia outros que considero melhor "qualificados", mas pelo menos o presidente não pensa assim e conseguiu contratar exactamente quem pretendia. E como ele sabe mais de futebol a dormir do que eu acordado...

Da minha parte, fica tudo dito quanto ao péssimo serviço que esta direção prestou ao clube no mandato anterior e em particular nesta última época. Para lá dos meus piores pesadelos. Não vou fingir que "já passou" e não me deixou marcas. Deixou sim, na confiança que (já não) tenho nela (na direção). Mas seja como for, está reeleita para novo mandato. E daqui em diante, só escreverei tendo em vista o que temos pela frente.

Nuno Espírito Santo é o novo treinador do Porto. Haverá tempo para abordar as suas características e feitos, ainda que para mim interesse muito mais o que vai fazer daqui em diante. Por agora limito-me a acolhê-lo na nossa família portista. Bem-vindo, Nuno, que tenhas a competência, os recursos e a sorte necessários para triunfar no banco do Dragão. O teu sucesso será indiscutivelmente o meu. 

Que o filho seja posto a milhas e que voltemos a ganhar. Em nome (do merecido legado) do pai e do (sucesso de Nuno) Espírito Santo.



Do Porto com Amor



13 comentários:

  1. Imbicto LAeB,

    Mais um melão. Agora é perceber se a infelicidade da abertura do mesmo perpassa ao longo da cabeça dos Portistas, ou se, finalmente, no meio de tanto sorteio sai a sorte e o prazer de degustar. É que o problema sempre foi um: o melhor sabor está mesmo ali ao lado da pevide...

    Imbicto abraço!

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    1. Pois que seja um melão agora ao princípio e não no final, como se tem tornado hábito. Vai-se a ver e até é madurinho e sumarento. Tomara que sim...

      Abraço

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  2. Mais uma vez, partimos do princípio de não concordar, à partida. Do que vi do NES como treinador, gostei. E sei perfeitamente que foi corrido por causa do Negredo e, low and behold, a capa do Super Deporte fala de um processo disciplinar ao mesmo.

    De resto, subscrevo e sublinho o último paragrafo. E avaliarei o desempenho a seu tempo. Não é este. Desejo - como desejamos todos - que tenha muita sorte.

    Abraço

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    1. Ficarei muito feliz se desta vez for eu a enganar-me!

      Teremos agora todos que nos esforçar por deixar o passado no passado e seguir em frente. Folha limpa.

      Abraço

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  3. Imagine que tinha sido o Nuno a vir em Janeiro. E o resto da época acabou por ser o mesmo que aconteceu com o Peseiro. O que estaríamos agora a escrever? Falta de saber o que é ser Porto? Falta de mística? O que estaríamos agora a revindicar? Um treinador "à Porto" e mesmo assim falhamos.
    Se o Nuno tivesse vindo em Janeiro e a época acabasse da mesma forma, ninguém queria saber se ele sabe o que é a mística e se é Portista.

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    1. Caro Tiago, eu não dou nenhum valor a essa treta do "Somos Porto". Mesmo quando o NES se saiu com essa, tínhamos sido Porto se tivéssemos entrado por aqueles Conselhos de Disciplina adentro e tivéssemos partido aquilo tudo. Mansos como aceitamos o vilipêndio (e todos os que se lhe seguiram, até hoje), fomos tudo menos Porto.

      O meu ponto em relação ao NES tem a ver com a falta de orientação da direcção. Se tivesse vindo em Janeiro por convicção do presidente (e não por ser o único disponível como foi Peseiro), já saberíamos hoje se NES tem o que é preciso ou não. Porque há uma coisa importante, que poucos salientam: mesmo sem ganhar nada, Peseiro ou outro qualquer poderiam acabar a época com condições para continuar - tudo depende de como as coisas se passa(ra)m. Poderíamos concluir hoje que NES, vindo em Janeiro, tinha feito tudo o que seria possível mas que por diversas circunstâncias (mau plantel, colinho, etc.) não poderia fazer mais.

      Em qualquer caso, já tínhamos queimado esta etapa (saber se NES serve ou não) e hoje a escolha seria feita um passo mais adiante. Espero ter conseguido explicar o meu pensamento.

      Abraço portista

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    2. Alguém sabia que o André Vilas Boas tinha o que era preciso? Ser do Porto não é partir tudo. Mas dito isso, se calhar é por isso que se ouve falar em falta de mística. Sentem falta de jogadores que partam narizes aos adversários. Se é dessa forma que avaliam o ser um jogador ou treinador à porto... é realmente há falta de mística. Qualquer treinador que tivesse vindo em janeiro e tivesse o mesmo resultado que o Peseiro, ia acontecer o mesmo. Já começo é a sentir que há muito portista que parece estar ansioso por largar as assobiadelas no primeiro passe errado da época.

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    3. É bem possível que alguns (não muitos) estejam ansiosos por assobiar, mas não é o meu caso até porque não o sei fazer. E em muitas décadas de Antas/Dragão, nunca senti necessidade de aprender.

      Ser do Porto, meu caro, é demasiado para lhe explicar por aqui. Não entenda com isto que pretendo ser o dono da resposta, reporto-me apenas à minha versão. Mas ser do Porto é nunca se render perante injustiças, isso lhe garanto, sejam elas cometidas por quem for, de dentro ou de fora. E é o que tem acontecido desde que os tais apitos amordaçaram o presidente. E sim, também é olhar para nos olhos dos adversários, trincar a língua e avisar telepaticamente "vou-te partir todo". Ai é, é. Tal como ser artista, flutuar pelo campo e espalhar magia. Tem a ver com a atitude, a vontade insuperável de vencer.

      Tem razão quanto a AVB, mas eu não digo que NES não o possa igualar ou superar, apenas desconfio. E a desconfiar, dá mais jeito ser antes de as coisas acontecerem - depois é relativamente fácil. Agora o meu desejo é certamente o mesmo que o seu, que se torne no treinador mais vitorioso de sempre do clube.

      Mas o cerne da questão não esta no treinador, antes em quem o(s) contrata.

      Abraço portista

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  4. Não tendo frequentado colégios privados e não tendo adquirido os bens que possuo por contrato de associação, estou inserido naquele lote de portugueses que não é com certeza dos mais inteligentes. Mesmo assim, deduzo que em Janeiro, haveria incompatibilidades insanáveis para Nuno Espirito Santo celebrar qualquer contrato com o F. C. do Porto, tão só por ser representado pelo mesmo agente do Lorpa que acabava finalmente de ter levado um pontapé nos fundilhos. Com diplomacia e alguma negociação, assina agora e resolvem-se dois problemas: Ficamos com treinador (qualquer é melhor que o pior técnico que passou por este clube, incluindo Octávio Machado e Lopetegui tem que ir trabalhar, se alguém o quiser).
    Evidentemente, isto é uma teoria, como disse, dum portista normal. Os mais inteligentes, os dos anglicanismos, terão uma teoria muito mais elaborada e rebuscada.
    NES poderá não ser o treinador que empolga as massas, mas para quem clamava por Marco Silva ou Leonardo Jardim, até que nem é pior solução.

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    1. Imagine se o Porto equipasse de amarelo tamagochi :-)

      Admito possível a sua argumentação, mas não a aceito como justificação. Ou então é mesmo isso, já descemos a um ponto tão baixo que daqui, da superfície, já não consigo ver. E contratámos NES porque dava jeito para nos livrar do que ainda temos que pagar ao basco, é isso? Rico critério...

      Eu não sei se NES empolga as massas nem tão pouco os arrozes, o que me parece é que havia melhores escolhas para fazer. Assim não foi e agora é com o Nuno que vamos todos. Sem hesitar.

      E que acha de eu mudar o nome para Blue & White Pencil? Será mais condizente com a minha inteligência?

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    2. Lápis, até pode mudar para Lápiz Azul Y Blanco com Ilusion, por mim está completamente à vontade. Porque de inteligentes até o Lopetegui tinha alguma naquele caixote escarrapachado no pescoço, senão não conseguia enganar todo o tempo otários e receber principescamente.
      E quais eram essas melhores escolhas? Se vai dizer Marco Silva ou Leonardo Jardim, só lhe digo, não me "lixe" que eu dou-lhe broa.
      O que sobra, estava contratado e as anterices fizeram o resto.

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  5. Boa tarde a todos.
    Não conheço o Espírito Santo como treinador, sei que fez umas coisas engraçadas, mas não passou disso. Repito, não conheço o trajecto, palmarés etc. Só o nome alguns já estarão a pensar nas piadas com o outro (ladrão) Espírito Santo. Espero que não aconteçam para o nosso bem, e para o bem da Santíssima Trindade.
    Sejamos objectivos: Se este falhar... é o terceiro consecutivo, penso que nenhuma barragem conseguirá travar a enxurrada que aí virá. Previsível, a acontecer o pior cenário, uma demissão em bloco, tendo sido encontrado (o verdadeiro) fundo em granito - e não as areias movediças que ainda não pararam de nos engolir.

    Quanto ao Nuno, lembro-me da conferência de imprensa, do Somos Porto. Quem tiver saudades tem o vídeo disponível no youtube. Se foi ele que escreveu o discurso... Se não foi ele, vamos voltar, mais cedo ou mais tarde, ao ponto de partida. Na minha opinião, mais que um treinador, precisamos de um motivador. Uma personalidade forte, que possa moralizar as tropas. E com isso nos moralize a nós também.

    Na minha opinião, o problema irá continuar no mesmo sítio. Quando dizes que a vaca está magra, não é por causa dos vitelos, é por causa das sanguessugas. É que um vitelo ainda pode crescer e dar alguma coisa, agora sanguessugas... ou carraças... ou um outro qualquer parasita. E ali são muitos... oh se são.

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    1. Meu caro, o que não pode haver é mesmo trindade nenhuma! O filho que desapareça de vez da nossa órbita, porque coincidência ou não, sempre que reaparece dá merda.

      Nunca ouviste falar dos chupa-cabras? Cá temos os chupa-clubes :-)

      Nuno já é o nosso treinador. O passado finou-se. Foi a decisão mais relevante tomada pela direcção para esta nova época, mas há outras também decisivas: reforço do plantel, limpeza do balneário, limpeza dos corredores da SAD e pulverização de pesticida anti chupa-clubes.

      Agora só posso acreditar que vamos ter sucesso. O futuro já começou.

      Abraço

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