Saiu Antero Henrique.
Primeiro foi o benjamim, depois o delfim, entretanto o senhor director-geral, logo seguido pelo excelso CEO e finalmente o fugaz administrador. E agora, nada. Foi-se.
Gone baby, gone. What's next? |
Não conheço Antero Henrique pessoalmente nem creio que releve para o caso. Evidentemente que se privasse com ele teria acesso à sua versão dos factos, podendo avaliar todo o processo sob essa luz parcial. Não conhecendo, limito-me a interpretar e a extrapolar.
Antero Henrique não esteve meia dúzia de meses no Porto, esteve 26 anos segundo o que se diz. Tempo mais do que suficiente para merecer o respeito de todos os Portistas, gostando ou não dele e da sua obra. Quem dedica um quarto de século (e possivelmente um terço da sua vida - esperando que seja menos!) a uma causa, merece respeito.
Por esta altura, muitos já terão interrompido a leitura, soltando um rápido "então se o Antero merece respeito, o que dizer do Presidente?". É bem verdade, aplica-se de igual modo mas não releva para o caso. Foquem-se no tema em questão.
Continuando a divagação, importa esclarecer não basta estar 26 anos em determinado sítio para se ser credor de respeito. Pode até justificar precisamente o sentimento oposto, tratando-se de um parasita que apenas se alimenta do seu hospedeiro. É preciso que durante esse tempo se tenha dado provas de estar lá para ajudar, de ter contribuído para a causa.
Sem conhecer Antero e ainda menos as responsabilidades directas que teve nos milhares de decisões que foram tomadas, seria sempre complicado individualizar o seu mérito nesta nossa epopeia de glórias sem igual. Mas ainda assim, não tenho dúvidas de que Antero tem a sua quota-parte de responsabilidade - nos sucessos e nos insucessos. E por isso merece o meu respeito e gratidão.
Os motivos da sua saída só ele os poderá dar.
Até que isso aconteça, só se pode tentar adivinhar. E eu nunca fui grande adivinho.
Há quem jure que bateu finalmente com a porta após épocas sucessivas de "maus-tratos". Que a sua opinião foi sendo desvalorizada, a sua influência reduzida, a sua capacidade de acção coarctada e os seus méritos pouco valorizados internamente.
Sou capaz de conviver com essa ideia. Antero nunca foi de exteriorizar e isso inevitavelmente deixou-o mais exposto a fracturas internas, por falta do apoio exterior que apenas o reconhecimento dos seus méritos lhe poderia garantir. Para o bem e para o mal, a "culpa" é sempre de Pinto da Costa. Mas sobretudo para o bem (por enquanto).
26 anos é muito tempo.
Só por si pode explicar como o outrora aprendiz, que idolatrava e sonhava ser como o mestre, tenha entretanto amadurecido e mudado a sua perspectiva. Mas não creio que seja apenas o normal desgaste de uma relação longa a cobrar o seu preço.
Antero tinha até há dias um dos melhores empregos do mundo (tenho um amigo que diz mesmo ser o melhor deles todos, o tal de sonho). O que leva alguém a desistir do melhor?
Razões pessoais, como são todas aliás. Têm sempre a ver com a pessoa, que raio. Mas admitindo e desejando que não se tratem de problemas pessoais, não cola.
Outra hipótese, mais plausível, é a de querer mudar de ares. Compreensível, se dentro de dias for anunciado no City ou no PSG. Caso contrário, não me parece. Antero estava em casa (mesmo se não a dos seus sonhos de infância) e sabia que poderia sobreviver a Pinto da Costa. Ah! Será este o nervo? O ponto onde se toca e tudo treme?
Será que de facto Antero não estava de acordo com o rumo que o clube tem seguido (tal como eu não estou) e sentindo-se incapaz de alterar o rumo, decidiu afastar-se? Antes que o navio se afunde de vez. Para voltar mais tarde, ao comando de um salva-vidas?
Ou foram mesmo as decisivas interferências externas na gestão do clube que o levaram a sair por se sentir despeitado, sem considerar o seu futuro no clube? Saturado com mendicância nefasta do filho pródigo (há também quem jure que foi por ele que Rafa não veio, algo que me custa a acreditar - seria sinal de que tudo já está mesmo perdido e não sobrará pedra sobre pedra), com os danos infligidos pela Doyen e com o regresso da influência de Jorge Mendes, decidiu bater com a porta?
Claro que o facto de não se ter ganho nada durante três anos teve o seu peso. E bem pesado, não duvido. Sobretudo se na sua cabeça pairar a dúvida de que "se tivessem feito como eu disse, tudo tinha sido diferente".
Por último, sobra a explicação mais simples. Antero Henrique reconheceu o seu mau desempenho no último mandato e no actual defeso e saiu, num assomo de consciência tardio.
Simples mas pouco convincente. Antero tinha acabado de ser promovido a administrador, facto que leio como uma tentativa de Pinto da Costa de o fazer mudar de ideias. O que implica que esta "vontade" de sair já vinha a ganhar momento há algum tempo (anos, meses, semanas?) e que o Presidente estaria a par.
Seja como for, a realidade é que o homem que no clube mais sabia de futebol a seguir ao Presidente se foi embora. Poucos meses após se ter candidatado e ganho eleições pela lista (única) vencedora. Poucas semanas após ter sido nomeado administrador da SAD. Um dia depois de ter encerrado o mercado de verão, sem que a equipa tivesse sido convenientemente reforçada e sem conseguir uma única venda relevante. Sobrevivem-lhe os muitos títulos e alegrias que ajudou a forjar e uma nota de saída no tom correcto, fechando a porta às meretrizes do costume da capital. Não esperava outra coisa.
Se era para sair, deveria ter sido no final do mandato anterior. Com explicações plausíveis por parte do Presidente, que aliás seriam fáceis de encontrar (sendo verdadeiras e indesmentíveis) no mau rendimento da equipa de futebol.
Desta forma e neste contexto, ninguém sai ileso deste tiro no porta-aviões. Já veremos se saiu quem mais água metia ou se continua(m) a bordo.
Boa, toda a sorte a Luís Gonçalves, sei bem que vai precisar dela. E nós também.
Lápis Azul e Branco,
Do Porto com Amor
Antero Henrique não esteve meia dúzia de meses no Porto, esteve 26 anos segundo o que se diz. Tempo mais do que suficiente para merecer o respeito de todos os Portistas, gostando ou não dele e da sua obra. Quem dedica um quarto de século (e possivelmente um terço da sua vida - esperando que seja menos!) a uma causa, merece respeito.
Por esta altura, muitos já terão interrompido a leitura, soltando um rápido "então se o Antero merece respeito, o que dizer do Presidente?". É bem verdade, aplica-se de igual modo mas não releva para o caso. Foquem-se no tema em questão.
Continuando a divagação, importa esclarecer não basta estar 26 anos em determinado sítio para se ser credor de respeito. Pode até justificar precisamente o sentimento oposto, tratando-se de um parasita que apenas se alimenta do seu hospedeiro. É preciso que durante esse tempo se tenha dado provas de estar lá para ajudar, de ter contribuído para a causa.
Sem conhecer Antero e ainda menos as responsabilidades directas que teve nos milhares de decisões que foram tomadas, seria sempre complicado individualizar o seu mérito nesta nossa epopeia de glórias sem igual. Mas ainda assim, não tenho dúvidas de que Antero tem a sua quota-parte de responsabilidade - nos sucessos e nos insucessos. E por isso merece o meu respeito e gratidão.
Nos bons, velhos tempos |
Os motivos da sua saída só ele os poderá dar.
Até que isso aconteça, só se pode tentar adivinhar. E eu nunca fui grande adivinho.
Há quem jure que bateu finalmente com a porta após épocas sucessivas de "maus-tratos". Que a sua opinião foi sendo desvalorizada, a sua influência reduzida, a sua capacidade de acção coarctada e os seus méritos pouco valorizados internamente.
Sou capaz de conviver com essa ideia. Antero nunca foi de exteriorizar e isso inevitavelmente deixou-o mais exposto a fracturas internas, por falta do apoio exterior que apenas o reconhecimento dos seus méritos lhe poderia garantir. Para o bem e para o mal, a "culpa" é sempre de Pinto da Costa. Mas sobretudo para o bem (por enquanto).
26 anos é muito tempo.
Só por si pode explicar como o outrora aprendiz, que idolatrava e sonhava ser como o mestre, tenha entretanto amadurecido e mudado a sua perspectiva. Mas não creio que seja apenas o normal desgaste de uma relação longa a cobrar o seu preço.
Antero tinha até há dias um dos melhores empregos do mundo (tenho um amigo que diz mesmo ser o melhor deles todos, o tal de sonho). O que leva alguém a desistir do melhor?
Razões pessoais, como são todas aliás. Têm sempre a ver com a pessoa, que raio. Mas admitindo e desejando que não se tratem de problemas pessoais, não cola.
Outra hipótese, mais plausível, é a de querer mudar de ares. Compreensível, se dentro de dias for anunciado no City ou no PSG. Caso contrário, não me parece. Antero estava em casa (mesmo se não a dos seus sonhos de infância) e sabia que poderia sobreviver a Pinto da Costa. Ah! Será este o nervo? O ponto onde se toca e tudo treme?
Será que de facto Antero não estava de acordo com o rumo que o clube tem seguido (tal como eu não estou) e sentindo-se incapaz de alterar o rumo, decidiu afastar-se? Antes que o navio se afunde de vez. Para voltar mais tarde, ao comando de um salva-vidas?
Ou foram mesmo as decisivas interferências externas na gestão do clube que o levaram a sair por se sentir despeitado, sem considerar o seu futuro no clube? Saturado com mendicância nefasta do filho pródigo (há também quem jure que foi por ele que Rafa não veio, algo que me custa a acreditar - seria sinal de que tudo já está mesmo perdido e não sobrará pedra sobre pedra), com os danos infligidos pela Doyen e com o regresso da influência de Jorge Mendes, decidiu bater com a porta?
O suspeito do costume. Já chateia, não? |
Claro que o facto de não se ter ganho nada durante três anos teve o seu peso. E bem pesado, não duvido. Sobretudo se na sua cabeça pairar a dúvida de que "se tivessem feito como eu disse, tudo tinha sido diferente".
Por último, sobra a explicação mais simples. Antero Henrique reconheceu o seu mau desempenho no último mandato e no actual defeso e saiu, num assomo de consciência tardio.
Simples mas pouco convincente. Antero tinha acabado de ser promovido a administrador, facto que leio como uma tentativa de Pinto da Costa de o fazer mudar de ideias. O que implica que esta "vontade" de sair já vinha a ganhar momento há algum tempo (anos, meses, semanas?) e que o Presidente estaria a par.
Seja como for, a realidade é que o homem que no clube mais sabia de futebol a seguir ao Presidente se foi embora. Poucos meses após se ter candidatado e ganho eleições pela lista (única) vencedora. Poucas semanas após ter sido nomeado administrador da SAD. Um dia depois de ter encerrado o mercado de verão, sem que a equipa tivesse sido convenientemente reforçada e sem conseguir uma única venda relevante. Sobrevivem-lhe os muitos títulos e alegrias que ajudou a forjar e uma nota de saída no tom correcto, fechando a porta às meretrizes do costume da capital. Não esperava outra coisa.
Se era para sair, deveria ter sido no final do mandato anterior. Com explicações plausíveis por parte do Presidente, que aliás seriam fáceis de encontrar (sendo verdadeiras e indesmentíveis) no mau rendimento da equipa de futebol.
Desta forma e neste contexto, ninguém sai ileso deste tiro no porta-aviões. Já veremos se saiu quem mais água metia ou se continua(m) a bordo.
Boa, toda a sorte a Luís Gonçalves, sei bem que vai precisar dela. E nós também.
Lápis Azul e Branco,
Do Porto com Amor
Independentemente das razões que levaram Antero a sair, o que transparece é que existem algumas divisões entre os dirigentes do clube.
ResponderEliminarGostaria de acrescentar que a saída já estava há algum tempo decidida, doutra forma não compreendo como o nome do seu substituto foi anunciado quase imediatamente.
Verde protector
"Diz que"
Eliminar"então se o Antero merece respeito, o que dizer do Presidente?"
ResponderEliminarGostei.
"O suspeito do costume. Já chateia, não?"
Chateia mesmo, principalmente não apontando nada em concreto.
O restante está bom.
PS - Falta apenas a comparação do Danilo com o William Carvalho. Vamos ver se passa ao esquecimento ou se as estatísticas desmentem a impressão com que ficamos :).
Foi a pensar em si que escrevi essa nota ;-)
EliminarQuanto ao outro, já escrevi que chegue, muito mais do que queria ter feito. Infelizmente temo ter que voltar a fazê-lo, assim que novos FACTOS forem surgindo.
A comparação era no post anterior, não?