Que banho de bola levámos ontem. E nem sequer jogámos.
Duas horas de prime time dedicados pela TVI de Moniz ao presidente do Benfica. O ponto alto foi a comovente reportagem de vida, em que todos ficámos a saber que pai e filho Vieira se tratavam por "Fanã" e "Ventoinhas", enquanto no quadradinho pequeno se via, casualmente, o bom do Luís a enxugar as lágrimas. Que ternura. Afinal os homens também choram.
Trata-se de uma estação privada, pelo que pode e deve fazer o que muito
bem entender, dentro dos limites normais da sã convivência democrática.
Se optassem por um big brother na primeira pessoa, com uma GoPro aparafusada numa das orelhas de Vieira, 24h por dia, por mim dava no mesmo. Não é o critério editorial ou "programático" da
TVI que ponho em causa. Aliás, tenho a certeza que tanto a SIC como a
"nossa" RTP (em especial esta) devem estar roídas de inveja. A ver se
não aproveitam esta minha sugestão do big brother...
Mas todo o espectáculo foi cuidadosamente pensado e meticulosamente preparado.
Já há tempos dei aqui conta do PREV: Processo Refundador do Estadista Vieira, um plano amplamente apoiado - tácita ou activamente - de forma transversal pelos vários quadrantes da sociedade lisboeta com o intuito de promover a metamorfose do presidente benfiquista de uma larva burgessa para uma maravilhosa borboleta com dotes e pose de estadista.
Não vou perder tempo a comentar as respostas do Luís, nem com a candura do grande jornalista que o entrevistou, nem com os três estarolas que lhe sucederam. Por certo são todos bons rapazes, mas quando se trata do SLB... perdem o norte, metem a dignidade na algibeira, deixam o cérebro em casa e viva o aisêlebê. Como muitos outros milhões, de resto.
O que me importa salientar é o efeito global que todo aquele show tem no subconsciente da nação, mesmo em quem não é do Benfica, se não tiver uma atitude crítica perante o que lhe é apresentado.
Aos poucos, vão-se apagando da memória colectiva as trafulhices com os pneus, as vigarices com as obras, as portas 18 e os calotes astronómicos. Tudo isso se esbate, perante o super-competente, poderoso e implacável mas humano e solidário Vieira, a imagem que lhe estão a construir. Reescrever a história ainda com ela em curso. Notável. Mas mentirosa. Letra por letra, lágrima por lágrima.
A continuar por este caminho, não tardará a aparecer um qualquer lacaio a jurar que o apelido não era Gaddafi dos pneus, mas sim o Ghandi dos pneus.
Numa coisa LFV tem razão: na altura em que ele e Vilarinho chegaram ao clube, era "a pior coisa que tinha visto na vida". E só não se extinguiu para os distritais porque foi socorrido pelo Estado Português, por várias formas e em diferentes momentos.
Quando a nata benfiquista se apercebeu da "capacidade táctica" do Gaddafi dos pneus e dos efeitos práticos que prometia alcançar para o ressurgimento do glorioso nacional-benfiquismo, o apoio começou a crescer. Com a chegada e obra feita por JJ, Vieira passou a ser o Querido Líder, a quem todos deveriam venerar. Que importa se pelo caminho roubou, vigarizou ou defraudou pessoas e instituições, se o SLB é tricampeão do #colinho?
Não termino sem dizer que Vieira tem sido um bom presidente para o Benfica. Mesmo que tenha sido no seu consulado que o Porto tenha infligido aos benfiquistas as maiores humilhações da sua história, Vieira conseguiu sobreviver e superar isso e apresenta hoje um clube em melhor forma do que o nosso. Como lá chegou, é o outro lado da estória.
Tudo isto para chegar ao que me interessa: não podemos continuar a assistir a isto de braços cruzados. Bem sei que é uma força imensa e saltitante, mas não foi isso que nos impediu no passado. Se não conseguimos ter armas para lhes declarar "guerra" nos mesmos campos de batalha onde se movimentam, façamos guerrilha, que nisso sempre fomos bons.
Eu quero um futebol regenerado e profissional, liderado por uma organização acima e à prova dos interesses individuais dos clubes. E quero um Porto alinhado pelo mesmo paradigma. Mas esse passo só será possível de dar quando todos os outros também estiverem disponíveis. Com Vieira ao leme do Benfica, nunca será possível. Voltemos pois às trincheiras. Com quem tiver capacidade e vontade para o fazer - se não os actuais, que venham os próximos.
Lápis Azul e Branco,
Do Porto com Amor
ResponderEliminardesculpa a minha ignorância, mas não é "kadaffi dos pneus"?
quanto à prosa, excelente texto e muito pertinente, com uma avaliação rigorosa ao que se passou na estação de Queluz (obrigado, mas não fumo).
abr@ço
Miguel | Tomo III
Não é ignorância ou então eu também partilhava dela até há pouco tempo. Em rigor é Gaddafi, segundo o que consegui apurar (e a Wikipédia confirma ;-)). Em Portugal sempre se disse "Kaddafi" até bem perto da sua morte... Enfim, preciosismos...
EliminarAbraço Portista
Achei piada ontem a meio de um zapping apanhar o Ventoinha e escutar algo como..."era branca, branca como a neve". Pensei que estivesse a responder a alguma pergunta mais ou menos incómoda sobre a porta 18, mas não. Tive pena...muita pena.
ResponderEliminarPS. Excelente post!
As perguntas incómodas ficaram todas na "casinha" dos No Name...
EliminarAbraço Portista (e obrigado)
pois ja e assim ha muito tempo, ate uns 5 anos atras davamos baile, mas apesar do aviso de muitos deixamo nos levar, nao nos adaptamos e temos uma comunicaçao sem efeito baseada no presidente que algum tempo atras chegava hoje ja nao chega. NAO PODEMOS MESMO SER MACIOS EM CAMPO E FORA DELE.
ResponderEliminarO Tempo não pára e nós temos de avançar com ele. A comunicação é fundamental, mas o jogo de bastidores também. Não adianta só gritar que ninguém nos liga, é preciso garantir que não somos derrotados por quem dirige o futebol.
EliminarTrincheira it'll be. Mas que ninguém leve granadas sem cavilha na mochila...
ResponderEliminarAbraço
PS. Roído de inveja de não ter inventado o reality com uma gopro najorelhas do orelhas...grrr :)
"It'll be" dizes tu. O problema é que "tu" não chegas. Nem eu. Nem todos os Portistas adeptos. Têm que ser eles, os que nos dirigem, a liderar as tropas pelo exemplo.
EliminarAbraço
Dica: o BdC vai ser entrevistado hoje ou amanhã pela SIC, aproveita para ir pensando... dou-te esse head start :-)
Não vi, nem tenho curiosidade em ver. Enquanto não existirem coimas para quem não assistir a esse tipo de propaganda, continuarei a não ver.
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