Foi há 11 anos, no final de uma tarde quente, entre cachorros e cervejas, que o nosso Porto se sagrou campeão europeu de clubes pela segunda vez na sua história. Tudo foi memorável, o jogo, o ambiente no estádio, o cortejo de regresso ao aeroporto de Munster e a grande festa à chegada da equipa para o embarque.
Nunca me hei-de esquecer do prazer imenso de regressar ao Porto, já na alvorada do novo dia e, sem sequer sair do aeroporto, seguir de imediato para Lisboa para cumprir obrigações profissionais. Estava tão orgulhoso quanto um adepto de um clube de futebol poderia alguma vez estar. Estava no limite.
Saí do avião já (ou melhor, ainda) de cachecol ao pescoço.
Senti-me um imperador Ming: a cada passo que dava, em cada lugar que passava, tudo baixava os olhos. Tirando um ou outro que me devolvia um sorriso desmesurado ou gritava emudecido, entre-dentes, "Porto, caraaago!", ninguém me olhava nos olhos.
Melhor só na fila dos táxis, cada "Zé Manel" que passava enquanto eu aguardava pela minha vez parecia que ia vomitar. E à medida que me aproximava da frente, comecei a ver (ok, adivinhar) o terror nas suas caras, a fazerem as contas para saber se seria eu que lhes calharia em sorte. Entrei, disse bom dia, o destino e nada mais. O "Zé Manel" olhou uma vez pelo retrovisor, anuiu quanto ao destino e baixou os olhos. Concentradíssimo na condução durante todo o percurso. Lá foi obrigado a dizer-me quanto era, passar factura (ainda por cima) e arrancou como se tivesse tido súbito desarranjo da flora intestinal.
Peguei no meu carro e parei numa estação de serviço para abastecer (o carro e a alma). Uau, deve ter sido a primeira vez que Sua Alteza Imperial visitou uma estação de serviço, tal a reverência com que fui tratado. Nem um olhar nos olhos. Todos se desviavam do meu caminho. Os jornais desportivos a um canto, parte deles tapados por revistas de automóveis. Lá os comprei a todos, depois de os folhear pausadamente, e fui trabalhar.
Foi há 11 anos.
Aquele abraço, Do Porto com Amor (DPCA)
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