A Grande Entrevista de ontem

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A Grande Entrevista de ontem



Ontem, domingo, foi dia de grandes entrevistas.

Apreciei a frontalidade de JJ e a coragem com que respondeu a quase tudo o que lhe perguntaram, muitas vezes em jeito de provocação, sem se deixar intimidar ou atrapalhar, como aliás é seu timbre. Nem a sanguessuga viperina Simões o conseguiu desmanchar, pese embora muito ter tentado enlear JJ num emaranhado léxico, ao estilo do político charlatão, que se serve da retórica apenas para confundir os impreparados e evitar que se discuta o que realmente importa.

Mas a grande entrevista, as grandes revelações, aconteceram na RTP Informação.

De novo, foi Marco Ferreira a trazer alguma luz às trevas em que está envolta a arbitragem da última época, com o resultado que todos conhecemos. Não foi exactamente uma entrevista, porque estavam várias outros convidados em estúdio a responder às questões de Manuel Fernandes Silva - a propósito, que salutar diferença para Carlos "Lampião de Paredes" Daniel. Também não foi propriamente um debate, porque poucas vezes os intervenientes entraram em diálogo, antes privilegiando responder na sua vez.

Não obstante, foi um programa muito interessante, não só pela raridade que é a existência de um programa sério sobre arbitragem e ainda mais por ser constituído apenas por pessoas ligadas ao sector, com destaque para os três árbitros no activo, mas sobretudo pelas revelações do madeirense recém-despromovido e os diferentes posicionamentos que os seus colegas assumiram.

Em estúdio com o moderador estavam Artur Soares Dias, Jorge Sousa, Paulo Paraty e o líder da APAF, José Gomes. Na RTP Madeira estava Marco Ferreira.


E então o que sobrou do programa?


O inconformado delator

Além de insistir que Vitor Pereira (VP) não tem credibilidade e deveria ter o bom senso de se demitir, Marco Ferreira acusou VP de várias coisas muito graves e fez ainda outras interessantes revelações:

 - Mentir, ao dizer que não conhecia as classificações quando fez a nomeação para a final da taça, tendo sido desmentido pelo "seu" vice-presidente da secção de classificações, um tal de José Ferreira Nunes.

 - Condicionar, referindo dois telefonemas antes e depois do Rio Ave - Benfica e onde lhe terá dito "ainda bem que o jogo correu bem, senão não podia contar contigo para o clássico do próximo mês", que VP adjetivou como "o jogo do título" (na realidade, quem depois apitou o clássico foi... Jorge Sousa!).

 - Adulterar, afirmando categoricamente que VP faz "nomeações cirúrgicas" porque "sabe muito bem quem quer por lá em cima e quem quer por lá em baixo", tendo inclusivamente apontado uma das últimas jornadas da segunda liga onde se disputaram cinco jogos com clubes envolvidos na luta pela subida e para os quais foram nomeados 3 internacionais que "precisavam dos pontos para serem salvos" e 2 não-internacionais, o que demonstra igualmente na opinião da MF "falta de critério nas nomeações". Disse ainda que Jorge Sousa era o protegido de VP e que já se sabia a meio da época que tinha sido escolhido para ser primeiro da classificação, pelas diversas nomeações para os clássicos (jogos de maior coeficiente, com impacto decisivo na classificação final) - isto sem beliscar a competência daquele que considerou o "melhor árbitro português da actualidade".

 - Estar de má-fé e pretender puni-lo pela sua frontalidade; ao validar/publicar as classificações sem que esteja decidido o recurso em relação ao pedido de anulação do relatório do Setúbal-Porto em que o o observador cometeu "ilegalidades".

 - Humildade, ao assumir que a época lhe correu mal, destacando o Braga-Benfica em que teve a pior nota da carreira mas nem por isso recorreu da nota (tendo inclusivé congratulado o observador pelo trabalho), ao contrário do que fez em outros 2 jogos em que lhe foi posteriormente dada razão.

 - Humor, daquele que a brincar, a brincar conta as verdades, quando a propósito de uma falha técnica na sua primeira intervenção e perante o comentário descontraído do moderador que defendia que não houve censura, MF retorquiu "o programa até é no Porto, portanto não poderia haver nenhum censura" (alô Carlos Daniel?)

- Lei da rolha, mostrando um papel onde constavam regras do CA para os árbitros e que no ponto 6 diz "não critique a organização e os seus dirigentes e os clubes"

Tendo o Benfica perdido o jogo em Vila do Conde e a arbitragem sido positiva, ficamos sem saber com clareza com que intenção foi feito esse telefonema (que segundo MF não é procedimento normal em VP): uns especularão que o objectivo era proteger o Benfica de dissabores (o que não veio a acontecer), outros defenderão que VP apenas pretendia que MF estivesse no máximo da sua concentração e tivesse um desempenho sem falhas.

Mas falta esclarecer se de facto VP tem ou não por hábito ligar aos árbitros antes dos jogos, acenando com "brindes" futuros e em caso afirmativo, se mais algum árbitro o entende como "pressão inaceitável". Sobre MF já me havia referido antes, aqui e aqui.


O carreirista

Artur Soares Dias apresentou-se seguro de si e procurou sempre manter distância face à polémica que envolve MF, afrontando apenas questões relevantes para toda a arbitragem. Nota-se que sabe o que já conseguiu e o que lhe está reservado - suceder a Proença no panorama internacional - pelo que não está disponível para fazer ondas que possam incomodar alguém que não deva e assim comprometer o seu percurso. Aliás, coincidência ou não, Pedro Proença dá hoje uma entrevista, já do alto do seu novo cargo, onde assume a mesmíssima postura carreirista, dando uma no cravo e outra na ferradura.


O homem do presidente

Jorge Sousa foi igual a si próprio, fazendo-me lembrar as suas arbitragens nos jogos contra o Benfica: discreto, cauteloso e a olhar para o umbigo, ignorando acusações directas como a de MF de ser o protegido de VP com respostas politicamente correctas. Não é tonto nenhum, preparou-se muito bem para o programa (como certamente faz para os jogos). No entanto, faltou claramente contrapor várias das suas "explicações", para as quais acredito que o jornalista não estivesse preparado no momento. Assim sendo, faço-as eu agora:

 - os próprios clubes disseram que o sorteio não era o melhor para o futebol logo após a AG que o aprovou, logo há incoerência: incoerente é a sua postura conforme a cor da camisola; o facto de não ser o melhor não significa que não seja melhor do que as nomeações feitas por este CA de VP

 - o que os clubes querem é poder condicionar, coagir e pressionar os árbitros (se puderem fazer a "denúncia das suas actuações"): até pode ser verdade Jorginho, não há como negar essa irresistível tentação que ainda governa em Portugal. Mas não é disso que se trata, com bem sabes. A questão aqui é que actualmente já se condiciona, coage e pressiona, mas quem o faz é VP - e nós (e os clubes constestatários) temos uma ideia sobre quem poderá estar a ser beneficiado... tu não?

  - os clubes vão contestar apenas por ressabiamento (sim, ele utilizou esta palavra): pois vão, e também pôr a língua de fora e esticar o middle finger; hum... não te terá ocorrido que se pretenda penalizar e afastar os incompetentes, que erram repetidamente?

Ao que Jorge Sousa não conseguiu fugir foi à excelente questão do moderador, que o interrogou se era verdade que havia pedido escusa de apitar o Benfica após saber que uma nota sua tinha sido alterada por pressão do clube, ao que respondeu afirmativamente. Justificou-se dizendo que o fez para evitar que o penalizassem em jogos futuros por potenciais decisões erradas, que seriam aproveitadas pelos dois lados da barricada conforme errasse a favor ou contra. Tem a sua lógica, mas quanto tempo durou essa escusa? E tendo acabado, desapareceu a suspeição porquê? Foi um período de nojo que simplesmente desvaneceu, ainda que as pessoas do Benfica continuem as mesmas? Ninguém diria...


Quanto aos outros dois, nada de importante. Paulo Paraty dá a impressão de apenas estar em bicos de pés e José Gomes foi dizendo o que se esperaria, contestando e apoiando o óbvio e afastando-se de temas quentes.


Foi um programa riquíssimo em conteúdo relevante, para quem tiver interesse em relevá-lo.

Mais do que insistir no colinho (que aliás está mais do que provado), o que me parece relevante concluir é que a continuidade deste CA e VP são insustentáveis e que deveria haver uma investigação judicial aos comportamentos denunciados por MF.

Ficou igualmente claro que a aprovação do sorteio não é um dado adquirido e a entender-se melhor a pressa do representante do Benfica em acorrer à tal outra reunião em Coimbra, para assim liderar a contra-revolta do sistema vigente.



Do Porto com Amor



P.S. - Quando escrevi este texto, não fazia ideia de que Paulo Paraty já se debatia com a doença que acabou por lhe custar a vida. Por respeito à sua família, alterei o texto que, mesmo não sendo de forma alguma negativo, era desnecessário.

6 comentários:

  1. O FCP foi a equipa mais beneficiada pela arbitragem em 2014/15. Tiveram 22 erros graves a favor e apenas 9 contra o que dá um benefício arbitral de +13 erros. Por outro lado, o Benfica e o Sporting tiveram mais erros contra do que a favor. No caso dos encarnados o saldo é negatvio em -3 (13 erros a favor e 16 contra) e os verdes mostram um saldo negativo de -1 (13 erros a favor e 14 contra).

    Na tabela classificativa o Benfica continuaria a ser campeão mas o Sporting trocava de posição com o Porto. No caso do Porto a diferença traduziu-se numa vantagem de 10 pontos. Os leões obtiveram um prejuizo de 5 pontos.

    A amostra do estudo é constituida por 26 elementos fazendo parte alguns treinadores da 1ª e 2ª liga, árbitros no ativo e 1 ex-árbitro internacional.
    São considerados erros graves: penalites por assinalar e mal marcados, golos mal anulados, golos precedidos ou que surgem de fora de jogo, falta para cartão vermelho ou duplo amarelo ou faltas assinaladas sem amostragem do respectivo cartão.
    É considerado um erro grave quando existe consenso em relação a um lance (mais de 50% da amostra tem a mesma opinião).

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    1. Lololol e eu com a mania que tenho piada! Espetacular sentido de humor. Rendo-me!

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    2. Caro Anónimo

      Com todo o respeito que o caro e o seu comentário me merecem, permita-se dizer-lhe que fico com a sensação que vive noutro planeta ou então anda a fumar umas coisas porreiras (e devia partilhar com a malta). Os factos estão todos aqui, se quiser fazer o favor: http://doportocomamor.blogspot.pt/2015/06/analise-epoca-1415-influencia-da.html

      Saudações portistas e volte sempre

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    3. Anonymous6 de julho de 2015 às 14:03

      Lá porque tu és um burro com palas, não penses que os outros também são...

      O clube do colinho foi largamente beneficiado em 14 das primeiras 23 jornadas... Depois continuou mas menos... Um nojo que a vós vos deve encher de orgulho! Foi assim que se fizeram grandes!

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  2. Imbicto LAeB,

    Excelente análise! Bastante completa e pertinente.
    Fico, ainda assim, com a sensação de que tudo isto não foi mais do que "uma montanha a parir um rato".

    Imbicto abraço!

    http://imbictopoema.wordpress.com

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    1. Eu diria antes uma ratazana a parir nomeações :-)

      Mas sim, como habitualmente nestes casos de tez encarnada, as afirmações de MF vão ser desvalorizadas como resultantes do seu despeito e frustração, o VP acabará inevitavelmente atirado borda fora e nada mais resultará daqui.

      E seguiremos felizes, do Porto com Amor...

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