Que me desculpem os estimados leitores pelo recurso ao inglês para titular esta crónica, mas não encontrei nenhuma palavra na nossa língua que fosse tão apropriada. Como aproximação, o vazio. Ou recorrendo à filosofia, o niilismo existencial, a negação do sentido de tudo.
É assim que me sinto neste momento em relação aos dirigentes do meu clube. Algo semelhante a uma zanga feia entre amigos, onde no calor da contenda se dizem e fazem coisas a mais, que no seu final pairam, pesam e ecoam repetidamente sobre os contendedores, dando-lhes a perfeita noção de que se foi longe de mais, de que já não há volta atrás e que nada poderá ser como dantes.
Primeiro, vamos à parte mais fácil. Lopetegui.
Um tremendo alívio.
Não, não estou a contradizer a minha declaração de intenções de há umas semanas. Eu queria mesmo que o teimoso basco fosse obrigado a levar o barco até final da época. Por ele e por quem o escolheu (e o manteve para nova época, quando tudo o desaconselhava).
Por ele, porque com um teimoso não se argumenta. É tempo perdido. A um teimoso espetam-se-lhe os factos nas fuças. Sem filtros nem subjectividades. Directo nas fuças. Já muitas (demasiadas) vezes lhe apontei os incontáveis erros e teimosias, não me vou repetir. Todos nós sabemos do que eu estou a falar.
APARENTEMENTE, não foi ele que pediu para sair. Reconheço-lhe por fim esse mérito, sendo certo que muitos poderão pensar que é ainda outra teimosia sua. Talvez fosse, mas seria a mais recomendável de todas. Dar-lhe-ia a possibilidade de chegar ao fim e ser justamente tratado de acordo com o resultado final. Desta forma, poderá sempre argumentar que ia conseguir, sem que ninguém o possa desmentir com propriedade.
Mas tendo sido este o desfecho, é um tremendo alívio. Foi simplesmente um horrível erro de casting. Horrível.
Dito isto, e sendo esta a última vez que me volto a referir a Lopetegui, desejo-lhe a melhor sorte do mundo. Nunca o considerei um de nós, mas passou por cá e certamente fez o melhor que as suas capacidades lhe permitiram. Disso não duvido.
Por quem o escolheu. Para que me pudessem fazer crer que, pese embora o cúmulo de evidências que apontavam no sentido inverso, tinham boas razões para tanta profissão de fé neste treinador e que estas se comprovariam num final de época glorioso. Para confirmar que Paulo Fonseca tinha mesmo sido uma excepcionalmente má avaliação. Para que pudesse continuar a acreditar que enquanto Pinto da Costa estiver disponível, nem valeria a pena considerar outras soluções.
Lamentavelmente, nada disto se confirmou. Dispensaram o treinador.
Começa aqui o tal vazio.
Pela ausência de respostas a perguntas simples:
- Quem (e a que propósito) é que "soprou" Lopetegui aos ouvidos de Pinto da Costa?
- Com mais de três meses para abordar o mercado, porque motivo apostou Pinto da Costa num treinador sem nenhum curriculum relevante a nível de clubes e sem conhecimento algum do futebol português?
- Quem (e a que propósito) é que "insistiu" com Lopetegui a Pinto da Costa, após uma época calamitosa como a anterior? E porque motivo aceitou Pinto da Costa a insistência, renunciando assim a amores antigos como JJ e Marco Silva, que ficaram entretanto disponíveis?
- Se apostaram numa segunda época, por que motivo nunca nenhum administrador da SAD saiu em sua defesa e Pinto da Costa só o fez uma única vez, quando chegámos finalmente ao primeiro lugar do campeonato?
- O que "manda" realmente hoje o presidente Pinto da Costa na definição das equipas técnicas e plantéis? Continua-se a passar a ideia de que o presidente era o único que ainda acreditava mas estava isolado... Isolado? Quem é o presidente afinal?
- Quem efectivamente gere o Futebol Clube do Porto, é a direção eleita pelos sócios e exclusivamente em prol do engrandecimento do clube, ou são actores externos, cujos interesses pouco ou nada têm a ver com os do clube?
- Com que lógica se justifica mandar o treinador embora porque "ainda podemos ser campeões" sem ter nenhum plano sólido para o substituir de imediato? Ninguém entre administradores da SAD, Antero Henrique e presidente conseguiu antecipar este desfecho à distância e trabalhar atempadamente no próximo passo a dar? É agora, depois do despedimento, que estamos a tentar várias hipóteses em simultâneo a ver se uma delas se concretiza?
Eu também acredito que vamos muito a tempo de ganhar o campeonato. Nem é preciso ser muito crente, basta atentar que só amanhã chegaremos a meio da competição. Mas convenhamos que sem um plano credível será bem mais difícil.
Lembro-me bem do que se dizia, entre portistas, aquando da decadente passagem de Octávio pelo nosso comando técnico. Dois campeonatos "não ganhos" nas duas épocas anteriores pelo engenheiro do penta (...) e uma terceira época que ainda a meio já se adivinhava calamitosa. "É o fim do presidente". "Está acabado". Entretanto ele (repito, ELE) foi buscar um jovem promissor de seu nome José Mourinho e o resto é o que se sabe.
É certo que desde então passou já mais de uma década. Muito tempo. Mas o suficiente para que o presidente tenha perdido o seu inimitável faro para descobrir treinadores? Ou terão sido outros odores, nauseabundo, que o estragaram? Ou - a minha preferida - está tudo lá e o próximo é que vai ser?
Logicamente, não sei. Mas nesta altura as dúvidas já são mais do que razoáveis (e fundamentadas) para saber que quero alternativas - uma que seja, mas quantas mais, melhor. Nem que seja para que os actuais conheçam aquela noção maravilhosa que é a concorrência. Nem que seja para me convencer de que não há melhor.
Ninguém acerta sempre, muito menos em futebol. É difícil. E por isso mesmo é que Pinto da Costa se distinguiu, por saber quase sempre mais e "melhor", por acertar muitas vezes, muito mais do que qualquer outro. E por conseguir ajustar-se e ajustá-los (aos treinadores, entenda-se) no processo.
O futebol mudou. Muito. Terá Pinto da Costa evoluído com ele? Teremos nós, portistas? Será legítimo ou até plausível alimentar esperanças de voltar a ter equipas à Porto como as dos anos 80 e 90? Tenho dúvidas, em todas.
Mas do que tenho certeza é que nenhuma fatalidade histórica impede o Futebol Clube do Porto de continuar a ser um clube de sucesso, o melhor de Portugal. É que ao contrário de todos nós, ele não envelhece, não perde faculdades, não tem outros interesses que não os seus e não tem a preocupação de se preparar o inverno da sua vida. Porque viverá para sempre numa alegre primavera.
A única condição para que isso aconteça e se perpetue é que continuem a haver portistas dispostos a entregar-se de corpo e alma ao clube, a lutar por ele sem dar tréguas, a defende-lo até à exaustão, a carregá-lo em ombros e a renovar-lhe a face a cada nova geração.
É a nós todos que cabe zelar pelo clube. Quem for homem, que se chegue à frente.
É agora que o clube precisa dos envergonhados candidatos. Esconderem-se até que Pinto da Costa se retire é simplesmente cobardia. Mostrem-se, venham a jogo. Para perder, que seja. Mas pelo menos ficarei a saber que são Homens. E que se expuseram quando o clube precisava deles. Quanto aos ratos, não os quero ao leme do nosso barco - já se sabe que são sempre os primeiros a abandoná-lo.
É agora que o clube precisa dos envergonhados candidatos. Esconderem-se até que Pinto da Costa se retire é simplesmente cobardia. Mostrem-se, venham a jogo. Para perder, que seja. Mas pelo menos ficarei a saber que são Homens. E que se expuseram quando o clube precisava deles. Quanto aos ratos, não os quero ao leme do nosso barco - já se sabe que são sempre os primeiros a abandoná-lo.
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No imediato, o que deveria ser feito?
Escolher o treinador desejado e esperar por ele. Nada de segundas ou terceiras opções. Já chega de contratar incógnitas - quando voltarmos a ser tricampeões, têm a minha licença para voltar a experimentar.
Se o desejado não está agora livre nem há possibilidade realista de poder estar, então que seja um treinador a prazo mas que saiba como ganhar já. Isto é o oposto do que defendo, mas o leite está derramado e há que enfrentar a situação. Muito pior seria contratar agora "um qualquer" já a pensar nas próximas épocas.
De entre os nomes mais ventilados, só admito três: Jardim, Marco e AVB, já por ordem de preferência. Para interino, gostava realmente de Jesualdo, mas admito que não esteja interessado. Não sendo possível, então que fique Rui Barros, que é neste momento quem melhor conhece o plantel, devidamente auxiliado por alguém da casa (João Pinto, Jorge Costa, Aloísio, até Pacheco).
Contratar um bom central. Daqueles que daqui a duas ou três épocas sairão por €30M. Não identifico nenhum que jogue por cá. Nem para vender por €15M...
Contratar um goleador. Suk parece interessante, mas é muito difícil saber se vai resultar e ainda menos ser real alternativa à Abou. É preciso um verdadeiro goleador, dos caros. Ou não.
Recuperar o encostado Óliver, com cláusula de compra.
Vender Herrera. Por favor.
Volto amanhã para a antevisão.
Do Porto com Amor
Do Porto com Amor
Subscrevo.
ResponderEliminarAbraço Azul e Branco
Jorge Vassalo | Porto Universal
Welcome back!
EliminarSe o Presidente Jorge Nuno pretende de facto, contratar o AVB, ou o Marco Silva, o Leonardo Jardim, ou o Sérgio Conceição no final da época, então o melhor agora, é manter Rui Barros à frente dos destinos da equipa.
ResponderEliminarAgora um aparte, no dia do despedimento do Sr Lopetegui, um dos dias mais difíceis no reino do DRAGÃO, o Porto Canal colocou na sua programação a rubrica 45 minutos à Porto. Fiquei então a "SENTIR +" ao saber que a referida rubrica contemplava o clube dos cozinheiros "chefe da Silva" e o Joel Anacleto Hermano Saraivada. É isto que o MEU, o TEU, o NOSSO FCPORTO, quer para órgão de propaganda? Patético.
Luís (O do Nuno Espírito Santo, Pedro Martins, ou Lito Vidigal)
Estou de acordo, caro Luís. Ainda não me referi a esse outro vazio (de autonomia, de programação e de conteúdo) por falta de espaço.
EliminarOliver, pois claro. E continua a fazer perguntas para as quais me parece que tem uma resposta. Pelo menos a em que acredita. Mas são boas perguntas, conte-me lá as respostas...
ResponderEliminarGostava eu de as saber, as verdadeiras respostas. Tudo o que acho que sei, é especulação não confirmada ou simples dedução. Ou ambas.
EliminarQuanto a Óliver, se for antes para o Villareal, aposto que se escreverá que é pela falta de Lopetegui :-)
Mais do que comprar ou vender jogadores, há que recuperá-los. Fazer sentir que eles são bons, únicos e que podem mudar o rumo dos acontecimentos. Está tudo nas mãos (pés) deles!!!! Mais do que um 4-3-3 ou um 4-4-2, a verdadeira táctica é o restabelecimento psiquico e animico da equipa.
ResponderEliminarForça Rui Barros!
Tiro o meu chapéu a Vitor Baía por ter sido o único a dar a cara pelo lugar forte do FC PORTO. O outro, António de Oliveira, é mais um rato. Sem que ninguém lhe perguntasse alguma coisa tratou logo de dizer que não estava interessado. E como quem desdenha quer comprar...
Caro Felisberto, de facto Herrera é mesmo único :-)
EliminarParte dessa reabilitação foi automática, com a saída do treinador. Agora falta a outra parte, dar-lhes um plano simples e eficaz de jogo e confiança, muita confiança. O resto, será a bola entrar ou bater na barra a decidir.
Baía teve esse "mérito" de trazer o assunto à tona, infelizmente pago pelos CMs desta vida. Mas fez logo questão de dizer que seria apenas quando PdC se retirasse, o que não é muito diferente do espontâneo Oliveira.
Quero um candidato para hoje, com ideias e credibilidade para as executar. Nem que seja para "por finos" os actuais (e muito provavelmente próximos) dirigentes.