Emptiness

sábado, 9 de janeiro de 2016

Emptiness


Que me desculpem os estimados leitores pelo recurso ao inglês para titular esta crónica, mas não encontrei nenhuma palavra na nossa língua que fosse tão apropriada. Como aproximação, o vazio. Ou recorrendo à filosofia, o niilismo existencial, a negação do sentido de tudo.


É assim que me sinto neste momento em relação aos dirigentes do meu clube. Algo semelhante a uma zanga feia entre amigos, onde no calor da contenda se dizem e fazem coisas a mais, que no seu final pairam, pesam e ecoam repetidamente sobre os contendedores, dando-lhes a perfeita noção de que se foi longe de mais, de que já não há volta atrás e que nada poderá ser como dantes.


Primeiro, vamos à parte mais fácil. Lopetegui.

Um tremendo alívio

Não, não estou a contradizer a minha declaração de intenções de há umas semanas. Eu queria mesmo que o teimoso basco fosse obrigado a levar o barco até final da época. Por ele e por quem o escolheu (e o manteve para nova época, quando tudo o desaconselhava).


Por ele, porque com um teimoso não se argumenta. É tempo perdido. A um teimoso espetam-se-lhe os factos nas fuças. Sem filtros nem subjectividades. Directo nas fuças. Já muitas (demasiadas) vezes lhe apontei os incontáveis erros e teimosias, não me vou repetir. Todos nós sabemos do que eu estou a falar.

APARENTEMENTE, não foi ele que pediu para sair. Reconheço-lhe por fim esse mérito, sendo certo que muitos poderão pensar que é ainda outra teimosia sua. Talvez fosse, mas seria a mais recomendável de todas. Dar-lhe-ia a possibilidade de chegar ao fim e ser justamente tratado de acordo com o resultado final. Desta forma, poderá sempre argumentar que ia conseguir, sem que ninguém o possa desmentir com propriedade.

Mas tendo sido este o desfecho, é um tremendo alívio. Foi simplesmente um horrível erro de casting. Horrível. 

Dito isto, e sendo esta a última vez que me volto a referir a Lopetegui, desejo-lhe a melhor sorte do mundo. Nunca o considerei um de nós, mas passou por cá e certamente fez o melhor que as suas capacidades lhe permitiram. Disso não duvido.

Por quem o escolheu. Para que me pudessem fazer crer que, pese embora o cúmulo de evidências que apontavam no sentido inverso, tinham boas razões para tanta profissão de fé neste treinador e que estas se comprovariam num final de época glorioso. Para confirmar que Paulo Fonseca tinha mesmo sido uma excepcionalmente má avaliação. Para que pudesse continuar a acreditar que enquanto Pinto da Costa estiver disponível, nem valeria a pena considerar outras soluções.

Lamentavelmente, nada disto se confirmou. Dispensaram o treinador.


Começa aqui o tal vazio. 

Pela ausência de respostas a perguntas simples:

 - Quem (e a que propósito) é que "soprou" Lopetegui aos ouvidos de Pinto da Costa?

 - Com mais de três meses para abordar o mercado, porque motivo apostou Pinto da Costa num treinador sem nenhum curriculum relevante a nível de clubes e sem conhecimento algum do futebol português?

- Quem (e a que propósito) é que "insistiu" com Lopetegui a Pinto da Costa, após uma época calamitosa como a anterior? E porque motivo aceitou Pinto da Costa a insistência, renunciando assim a amores antigos como JJ e Marco Silva, que ficaram entretanto disponíveis?

- Se apostaram numa segunda época, por que motivo nunca nenhum administrador da SAD saiu em sua defesa e Pinto da Costa só o fez uma única vez, quando chegámos finalmente ao primeiro lugar do campeonato?

- O que "manda" realmente hoje o presidente Pinto da Costa na definição das equipas técnicas e plantéis? Continua-se a passar a ideia de que o presidente era o único que ainda acreditava mas estava isolado... Isolado? Quem é o presidente afinal?

- Quem efectivamente gere o Futebol Clube do Porto, é a direção eleita pelos sócios e exclusivamente em prol do engrandecimento do clube, ou são actores externos, cujos interesses pouco ou nada têm a ver com os do clube

- Com que lógica se justifica mandar o treinador embora porque "ainda podemos ser campeões" sem ter nenhum plano sólido para o substituir de imediato? Ninguém entre administradores da SAD, Antero Henrique e presidente conseguiu antecipar este desfecho à  distância e trabalhar atempadamente no próximo passo a dar? É agora, depois do despedimento, que estamos a tentar várias hipóteses em simultâneo a ver se uma delas se concretiza?


Eu também acredito que vamos muito a tempo de ganhar o campeonato. Nem é preciso ser muito crente, basta atentar que só amanhã chegaremos a meio da competição. Mas convenhamos que sem um plano credível será bem mais difícil.

Lembro-me bem do que se dizia, entre portistas, aquando da decadente passagem de Octávio pelo nosso comando técnico. Dois campeonatos "não ganhos" nas duas épocas anteriores pelo engenheiro do penta (...) e uma terceira época que ainda a meio já se adivinhava calamitosa. "É o fim do presidente". "Está acabado". Entretanto ele (repito, ELE) foi buscar um jovem promissor de seu nome José Mourinho e o resto é o que se sabe.

É certo que desde então passou já mais de uma década. Muito tempo. Mas o suficiente para que o presidente tenha perdido o seu inimitável faro para descobrir treinadores? Ou terão sido outros odores, nauseabundo, que o estragaram? Ou - a minha preferida - está tudo lá e o próximo é que vai ser?

Logicamente, não sei. Mas nesta altura as dúvidas já são mais do que razoáveis (e fundamentadas) para saber que quero alternativas - uma que seja, mas quantas mais, melhor. Nem que seja para que os actuais conheçam aquela noção maravilhosa que é a concorrência. Nem que seja para me convencer de que não há melhor.

Ninguém acerta sempre, muito menos em futebol. É difícil. E por isso mesmo é que Pinto da Costa se distinguiu, por saber quase sempre mais e "melhor", por acertar muitas vezes, muito mais do que qualquer outro. E por conseguir ajustar-se e ajustá-los (aos treinadores, entenda-se) no processo.

O futebol mudou. Muito. Terá Pinto da Costa evoluído com ele? Teremos nós, portistas? Será legítimo ou até plausível alimentar esperanças de voltar a ter equipas à Porto como as dos anos 80 e 90? Tenho dúvidas, em todas.

Mas do que tenho certeza é que nenhuma fatalidade histórica impede o Futebol Clube do Porto de continuar a ser um clube de sucesso, o melhor de Portugal. É que ao contrário de todos nós, ele não envelhece, não perde faculdades, não tem outros interesses que não os seus e não tem a preocupação de se preparar o inverno da sua vida. Porque viverá para sempre numa alegre primavera. 

A única condição para que isso aconteça e se perpetue é que continuem a haver portistas dispostos a entregar-se de corpo e alma ao clube, a lutar por ele sem dar tréguas, a defende-lo até à exaustão, a carregá-lo em ombros e a renovar-lhe a face a cada nova geração.

É a nós todos que cabe zelar pelo clube. Quem for homem, que se chegue à frente.

É agora que o clube precisa dos envergonhados candidatos. Esconderem-se até que Pinto da Costa se retire é simplesmente cobardia. Mostrem-se, venham a jogo. Para perder, que seja. Mas pelo menos ficarei a saber que são Homens. E que se expuseram quando o clube precisava deles. Quanto aos ratos, não os quero ao leme do nosso barco - já se sabe que são sempre os primeiros a abandoná-lo.


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No imediato, o que deveria ser feito?


Escolher o treinador desejado e esperar por ele. Nada de segundas ou terceiras opções. Já chega de contratar incógnitas - quando voltarmos a ser tricampeões, têm a minha licença para voltar a experimentar.

Se o desejado não está agora livre nem há possibilidade realista de poder estar, então que seja um treinador a prazo mas que saiba como ganhar já. Isto é o oposto do que defendo, mas o leite está derramado e há que enfrentar a situação. Muito pior seria contratar agora "um qualquer" já a pensar nas próximas épocas.

De entre os nomes mais ventilados, só admito três: Jardim, Marco e AVB, já por ordem de preferência. Para interino, gostava realmente de Jesualdo, mas admito que não esteja interessado. Não sendo possível, então que fique Rui Barros, que é neste momento quem melhor conhece o plantel, devidamente auxiliado por alguém da casa (João Pinto, Jorge Costa, Aloísio, até Pacheco).

Contratar um bom central. Daqueles que daqui a duas ou três épocas sairão por €30M. Não identifico nenhum que jogue por cá. Nem para vender por €15M...

Contratar um goleador. Suk parece interessante, mas é muito difícil saber se vai resultar e ainda menos ser real alternativa à Abou. É preciso um verdadeiro goleador, dos caros. Ou não.

Recuperar o encostado Óliver, com cláusula de compra.

Vender Herrera. Por favor.


Volto amanhã para a antevisão.



Do Porto com Amor




8 comentários:

  1. Subscrevo.

    Abraço Azul e Branco

    Jorge Vassalo | Porto Universal

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  2. Se o Presidente Jorge Nuno pretende de facto, contratar o AVB, ou o Marco Silva, o Leonardo Jardim, ou o Sérgio Conceição no final da época, então o melhor agora, é manter Rui Barros à frente dos destinos da equipa.
    Agora um aparte, no dia do despedimento do Sr Lopetegui, um dos dias mais difíceis no reino do DRAGÃO, o Porto Canal colocou na sua programação a rubrica 45 minutos à Porto. Fiquei então a "SENTIR +" ao saber que a referida rubrica contemplava o clube dos cozinheiros "chefe da Silva" e o Joel Anacleto Hermano Saraivada. É isto que o MEU, o TEU, o NOSSO FCPORTO, quer para órgão de propaganda? Patético.

    Luís (O do Nuno Espírito Santo, Pedro Martins, ou Lito Vidigal)

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    1. Estou de acordo, caro Luís. Ainda não me referi a esse outro vazio (de autonomia, de programação e de conteúdo) por falta de espaço.

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  3. Oliver, pois claro. E continua a fazer perguntas para as quais me parece que tem uma resposta. Pelo menos a em que acredita. Mas são boas perguntas, conte-me lá as respostas...

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    1. Gostava eu de as saber, as verdadeiras respostas. Tudo o que acho que sei, é especulação não confirmada ou simples dedução. Ou ambas.

      Quanto a Óliver, se for antes para o Villareal, aposto que se escreverá que é pela falta de Lopetegui :-)

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  4. Mais do que comprar ou vender jogadores, há que recuperá-los. Fazer sentir que eles são bons, únicos e que podem mudar o rumo dos acontecimentos. Está tudo nas mãos (pés) deles!!!! Mais do que um 4-3-3 ou um 4-4-2, a verdadeira táctica é o restabelecimento psiquico e animico da equipa.
    Força Rui Barros!

    Tiro o meu chapéu a Vitor Baía por ter sido o único a dar a cara pelo lugar forte do FC PORTO. O outro, António de Oliveira, é mais um rato. Sem que ninguém lhe perguntasse alguma coisa tratou logo de dizer que não estava interessado. E como quem desdenha quer comprar...

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    1. Caro Felisberto, de facto Herrera é mesmo único :-)

      Parte dessa reabilitação foi automática, com a saída do treinador. Agora falta a outra parte, dar-lhes um plano simples e eficaz de jogo e confiança, muita confiança. O resto, será a bola entrar ou bater na barra a decidir.

      Baía teve esse "mérito" de trazer o assunto à tona, infelizmente pago pelos CMs desta vida. Mas fez logo questão de dizer que seria apenas quando PdC se retirasse, o que não é muito diferente do espontâneo Oliveira.

      Quero um candidato para hoje, com ideias e credibilidade para as executar. Nem que seja para "por finos" os actuais (e muito provavelmente próximos) dirigentes.

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