Maioria de Direita

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Maioria de Direita


Vitória fundamental no primeiro jogo do resto da nossa época. Outro resultado teria sido simplesmente catastrófico.


"Esta já está!"


Foi até por ter esta convicção que não me esforcei muito para enganar a falta de tempo e fazer a antevisão da partida. Sentia-o mas não me sentia muito confortável em dizê-lo abertamente. Era cosa nostra, para se confessar em surdina entre portistas, sem grande alarido. E assim o fiz (em surdina e entre portistas). Agora que já correu bem, não há porque negá-lo.

O primeiro onze de Peseiro foi o mesmo de Guimarães, o que demonstra inteligência da sua parte. 

Imagino que tendo Bueno disponível tivesse sentido a tentação de o lançar de início, com o espanhol impedido foi mais fácil. E inteligente porquê? Por assim dizer aos que perderam esse jogo que confiava neles, nos mesmos que falharam estrondosamente há uma semana, para nos conduzirem à vitória. Algum risco associado mas relativamente baixo quando comparado com o benefício psicológico que resultaria de uma vitória. Que foi conseguida, a propósito. 

Devo confessar que cheguei a elaborar o meu onze e era diferente, já tinha arredado Herrera e Marcano da titularidade - que por acaso, até foram os piores nesta partida, mas isso sou eu que percebo munto munto da bola... Piada à parte, ainda bem que Peseiro decidiu como decidiu, se não lá ficaria a pensar que deveria ter eu sido o substituto do basco.

Já o jogo, não foi fácil. Longe disso.

Certamente que devido à boa oposição do Marítimo (que só perdeu a compostura e o bom senso no quarto de hora final), mas também por culpa dos nossos fantasmas. Foi evidente, claríssimo, pela forma desconcentrada e até despropositada como entramos no jogo. A vontade de jogar esteve sempre presente, não foi por falta dela, só que por muito que as pernas corram, se a cabeça não funcionar devidamente, dificilmente delas sairá alguma coisa proveitosa. Fruto disto, aos 14 minutos quase sofríamos um golo com origem na amena cavaqueira entre Layún e Peseiro, que sabotou a linha de fora de jogo e alheou o lateral do início da ofensiva adversária... 

A meio da primeira parte, o lance decisivo da partida, com André a aproveitar na insistência para atirar a bola à trave, que por sua vez ressaltou com capricho nas costas de Salin e finalmente se aninhou no fundo da baliza. Bem feito, para o sacana deixar de fazer grandes exibições (só) contra nós. Parece-me no entanto ter havido um braço na bola de Abou no decorrer da jogada, possivelmente justificativo de uma interrupção precoce do lance.

Logo de seguida, mais dois lances polémicos nas duas áreas no espaço de um minuto. Fiquei com dúvidas em ambos, mas dou o benefício ao árbitro. Tal como no golo aliás. Pouco depois, nova desconcentração defensiva permitiu que Marega cabeceasse com estrondo à barra da Casillas. Castigo divino (azul e branco), à passagem de meia hora o maliano lesiona-se com gravidade suficiente para o arredar em definitivo do encontro. E o jogo segue repartido nos últimos quinze da primeira parte, que ainda inclui um amarelo a Maxi por simulação (provavelmente exagerado).

O regresso foi de novo assustador. Sem convicção ofensiva, ao que se somavam trocas de bola perigosas na nossa defesa, sem que qualquer coisa benéfica jamais pudesse resultar dali. É lógico que esta atitude temerosa e de certa forma displicente não é culpa de Peseiro, mas será sua responsabilidade erradicá-la de uma vez por todas. Seja mudando os jogadores ou mudando de jogadores...

Aos 49', provavelmente o maior erro do árbitro, ao não assinalar penálti sobre Maxi. Para mim não é daqueles que não deixam dúvidas, mas pareceu haver falta. Ainda assim, devo conceder novo benefício ao árbitro.

Nos minutos seguintes dei por mim a pensar que o jogo estava completamente aberto, uma espécie de roleta, pelo que acto contínuo rezei muito para que pintasse azul... Tanto que logo depois da hora de jogo já suspirava por mudanças - que não tardaram mais de cinco minutos, diga-se. A troca de Abou por Suk pareceu-me (uma vez mais) bem pensada, por um lado libertando o descrente camaronês de carregar com a totalidade da responsabilidade de fazer os golos, por outro dizendo ao coreano que conta com ele. Também gostei da última, ainda que a tenha imaginado diferente no seu impacto. Assumi que Varela entraria para a esquerda e que Brahimi saltaria para o meio. Tinha lógica, uma vez que o português seria sempre maior ajuda a fechar o seu lateral e o argelino iria para o seu meio natural. No entanto, Varela foi mesmo para o lugar central de André e (surpresa minha) deu-se bem! 

À medida que o apito final se aproximava, as coisas descontrolaram-se um pouco para ambas as equipas. Os da Madeira assumiram uma intolerável postura de conflito, como se fossem os DD(aquilo)T. Não são, seus palerminhas, haja respeito. Mas enfim, são resquícios de 18 meses de lopeteguização, não é verdade? Do nosso lado, voltou a tremideira e os pesadelos de jogos passados. O que levou à paralização parcial, sempre com medo que o céu lhes caísse (mais uma vez) em cima da cabeça. Felizmente não caiu. Ganhámos e bem.

Neste jogo, Maxi e Corona foram - por larga margem - os melhores em campo. À semelhança do que se passou na noite eleitoral, também no Dragão se assistiu a uma esclarecedora maioria de direita.


Tooomaaaa!


Notas DPcA (com a tabela de pontuação finalmente concluída, não deixem de visitar e comentar!):


Dia de jogo: 24/Jan/2016, 20h30, Estádio do Dragão. FC Porto - CS Marítimo (1-0).


Iker (5): Sem grande trabalho mas pouco consistente naquilo para que foi chamado. Não deu "aquela" segurança nas bolas que eram "suas" e esteve particularmente desacertado nas reposições, contribuindo para a intranquilidade que se foi fazendo sentir. Espero mais dele e não posso deixar de o penalizar por isso.

Melhor em Campo Maxi (7): Este é o Pereira que encanta os seus adeptos e desespera os adversários. Lutador em cada bola (sempre para a ganhar) e disponibilidade para fazer o corredor de uma ponta à outra. Esteve muito bem envolvido no ataque e deu origem a várias decisões polémicas da arbitragem na área adversária. Só lhe falta mesmo o golo e/ou a assistência. 

Layún (6): Uma primeira parte horrível, com muita (demasiada) desconcentração. Lance paradigmático quando ficou colado a Peseiro a receber instruções (meia-culpa...) do lado de dentro do campo, o que colocou os adversários em jogo que assim avançaram para um contra perigoso. Coisa de infantil. Foi já perto do final que subiu de rendimento, combinando bem melhor com Brahimi & Ca. na construção ofensiva. No global, não chegou para se safar. [Actualização: faltou-me creditar-lhe a decisiva assistência, pelo que... ponto extra]

Marcano (4): Vou ser claro e directo, uma vez mais: não tem categoria para jogar no Porto. Ponto. Andor e venha outro.

Martins Indi (6): Se o companheiro de sector não ajuda, ele também não consegue colmatar as suas falhas, deixando-se antes arrastar para elas. Duas ou três intervenções de cabeça oca, incluindo com a bola nos pés. Fora isso, quase sempre certinho, sem exuberâncias.

Danilo (6): Começou muito desconcentrado (tal como Layún) a falhar passes óbvios e a decidir mal. Para ser sincero, não lhe conhecia esta faceta. Demorou a recompor-se mas lá conseguiu. Depois esteve bem até chegar Rúben. A partir daí, voltou a perder o norte dentro do campo, culpas divididas com o companheiro. Mas ainda assim sempre melhor do que ele.

<-81' André André (7): Estreou-se em novas funções, fazendo fé nas suas palavras (e nas de Peseiro) no final do encontro, e foi decisivo. A exibição como um todo não foi brilhante, longe disso, mas trabalhou e na maioria das vezes com acerto. Ponto extra pelo golo.

<-73' Herrera (4): Take 2 - "Enfim, lá voltou ele à sua normalidade de passes ridículos e más decisões. Tudo o que vai fazendo de bom acaba inevitavelmente por sucumbir a tanto disparate de amador. Alô Napoli?...". Acrescento que foi ele o primeiro a arrancar assobios das bancadas, aos 11 minutos...

Corona (7): Muito boa partida, faltou-lhe apenas o golo para ser uma exibição à Porto (ver a tabelinha p.f.). Sempre muito mexido, procurou sempre a bola e o espaço para a receber, nunca se escondendo do jogo. Combinou lindamente com Maxi e quase era feliz. Mesmo assim, muito bom.

Brahimi (6): Continua a fazer quase tudo bem até ao momento da decisão, que tal como o nome sugere, é o decisivo. E por isso o que podia ser sensacional fica-se pelo "quase que era". O que tem o seu mérito também, até porque atrai adversários como moscas ao mel.

<-69' Aboubakar (6): Foi bom vê-lo recuar bem mais do que anteriormente, aproximando-se o suficiente dos médios para que o "recebe, segura e toca" tenha condições de funcionar. A isto não serão alheias nem as instruções do treinador nem o novo sistema de jogo. Bem trabalhado, pode mesmo resultar. Mas fora isto, pouco. Lutou mas teve pouca bola e nenhuma oportunidade de que me lembre. O que é uma evolução, desta vez não falhou nenhum golo cantado.

->69' Suk (6): Está bem rapaz. Agitaste mais as águas maritimistas em 20 minutos do que Abou em setenta. Movimentado e lutador, como convém a quem tem tudo a provar e (provavelmente) pouco tempo para o fazer. Tiveste ali uma quase oportunidade flagrante, mas o passe foi mais atrasado do que seria necessário. Para este jogo foi ok, mas percebe que no próximo já esperaremos um pouco mais. E no seguinte, ainda mais um pouco.

->73' Rúben Neves (4): Não está bem o menino, é ponto assente. Parece que a sua juventude está a passar a factura do crescimento explosivo que testemunhou. Não tem mal, desde que bem gerido. Por ele e pelo treinador. Há que resguardá-lo nesta fase... e aproveitar para tirar o Ferrari da garagem.

->81' Varela (6): Outra boa entrada, Silvestre. Fresquinho que nem uma alface (roxa), notou-se de imediato o seu auxílio no capítulo defensivo. E naqueles minutos finais em que nenhum médio parecia querer ter a bola, foi ele que assumiu o risco de a tranportar (e com a classe e confiança que se exige a um jogador do Porto). Quero mais disto.


José Peseiro (7): Começou com uma importantíssima vitória e não se limitou a assistir, tendo procurado explicar o que pretende sobretudo dos médios. Convém é fazê-lo quando a bola está fora, ok mister? Gostei do novo sistema (o 4-2-3-1, que tanto me orgulhei de ter identificado logo no início do jogo, tirei foto e tudo, pensando que ia brilhar aqui na escrita, quando afinal o próprio o confirmou no final...), mesmo sendo ainda muito prematuro para o poder rotular de válido ou desajustado. É sabido que é um sistema complicado de gerir em termos defensivos, mas um passo de cada vez. Esta primeira batalha está ganha, de nada interessa se pela margem mínima. Está ganha. Vamos ao próximo!


4-2-3-1


Ultrapassado este primeiro obstáculo, é altura de mandar toda a equipa para o divã. Há que fazer uma rápida recuperação destas cabecinhas, devolvendo-lhes a confiança e a autoridade que as suas competências lhes conferem por direito próprio. Ser jogador do Porto também é isto, ter a coragem de assumir que se é melhor do que os adversários - de outro modo, seriam jogadores dos adversários e não do Porto.

E pronto. Treino de manhã, divã de tarde e a coisa lá se irá compondo. Com o auxílio imprescindível das vitórias. A próxima já na quarta, na Feira, para encerrar com alguma dignidade esta nossa desastrosa participação na Taça da Liga. E depois, outro teste complicado, a deslocação ao Estoril, no sábado ao final da tarde.


Mas por agora, é altura de descomprimir um pouco. Todos nós.


Do Porto com Amor


Última hora: Marega e José Sá vão ser dragões!



17 comentários:

  1. Gostei, houve mais velocidade e querer, e , nas minhas (baixas) expectativas, isso contou bastante.

    Acho que aqueles três foras de jogo muito mal tirados davam golo, mas isso é wishful thinking, talvez.

    Habemus Via, penso eu de que.

    (E um penalti de vez em quando, só assim para desenjoar, tipo, também não seria o fim do mundo...)

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

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    1. Sim, o fundamental era mesmo ganhar. Feito.

      Não abordei muito a arbitragem porque não tive oportunidade ainda de rever os lances. Mas sim, pelo menos 2 offside mal tirados em lances de perigo eu vi sem margem de dúvida. O(s) penálti(s) não sei, talvez sim, mas no estádio nenhum me pareceu clamoroso.

      Abraço portista

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    2. O ultimo aconteceu mesmo à minha frente. É indubitavelmente penalti garanto-te.

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  2. Bahahahahahahahahahahahahahahahah. Hacker uh? :)

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    1. O Marega é grande jogador e o Sá é um guarda-redes com futuro. Sei que são negócios de oportunidade, mas num novo sistema...

      Muito bem :) Sempre a aumentar o melão.

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  3. Temos de ser pacientes..ok ok...
    Mas tudo que passou dos 45 minutos, manter Herrera em campo, foi distracção ou Herrera é jogador do Alexandre e há que equilibrar o duelo Antero versus Alex P C ?

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    1. Poderia ser essa a resposta, sempre facilitava a compreensão do mistério... mas creio que com o regresso de Bueno e a continuar com este tipo de exibição, não tarda vai mesmo aquecer o banquinho como merece...

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  4. Lapis,
    boa cronica como sempre e tambem como sempre concordamos em 90% da analise.
    Os outros 10% - Indi e Marcano, que para mim mereciam trocar a sua analise... Marcano falhou muitos passes, sem duvida, mas isso parece-me problema psicologico como o do resto da equipa e resolve-se com um pouco de estabilidade.
    Agora Indi? Reveja la a volta do minuto 25, quando o Marega (ou foi o Dyego sousa?) manda a bola a barra. Segundos antes, o Indi foi atras dum avancado ate ao meio do meio campo, na lateral direita e claro que deixou um buraco do tamanho do Texas na grande area por onde esse avancado entrou. Foi o Brahimi que tentou tapar o buraco, veja la... Nao podemos ter um central que nao tem uma minima nocao dos espacos e que e demasiado duro e bruto (poe-se a jeito para penalties e cartoes) constantemente... Ja chegou o Bruno Alves que podia ser muito portista, mas que de bom jogador tinha pouco...

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    1. Foi o Dyego Sousa (mas quem ficou nas covas sem motivo foi Layún). O que não invalida a justeza do que diz sobre a subida do Indi. Eu não o considero um grande central mas sim com potencial para, se tiver ao lado um "patrão" que lhe sirva de referência.

      Neste momento tem ao lado um pimento padrón, que a cada "trinca" varia entre o insonso e "socorro que trinquei uma fogueira". Sem questionar a também má forma de Indi, para mim Marcano é assunto encerrado - vai muito para além do problema psicológico, é inaptidão para jogar futebol de alto nível.

      Que venha um bom central e já...

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  5. Para já, a primeira conclusão: José Peseiro precisa de um médio-ofensivo até ao fim do mês. Tentou colocar André André nessa posição, mais perto de Aboubakar, mas André André não pode jogar com 3.º médio neste esquema. Ficou claro que a SAD precisa de dar um médio criativo a Peseiro até ao fim do mercado.
    André André é um fardo demasiado pesado para que só Danilo e Herrera consigam carregar aquele meio campo.

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    1. Precisa, mas não por culpa do "fardo" André :-)

      Aliás talvez possa ser Bueno esse médio ofensivo, recuando André para o lugar de Herrera. Eu sei que gostava :-)

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    2. Medio ofensivo? Alem do Bueno que caia ai que nem uma luva, que tal ir buscar um menino colombiano que temos emprestado em Franca - finalmente temos um treinador que percebe como se usa um 10...
      Para as duas posicoes mais recuadas do meio-campo, entre Neves, Evandro e Sergio Oliveira temos mais que suficiente tecnica, inteligencia e capacidade de passe (as tres partes importantes que infelizmente o outro trio - Danilo, Andre e Herrera - mostram pouco). O segundo trio era bom para Lopetegui porque tinham as duas coisas que ele precisava do meio-campo - musculo e baloes para os extremos...

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    3. Pois, esse menino é de longe o melhor. Mas nos pró-Lopeteguis esse ainda é mais odiado que Herrera. Insisto que Danilo, Imbula, Herrera (Evandro) é o melhor meio campo da Liga.

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    4. "Aliás talvez possa ser Bueno esse médio ofensivo, recuando André para o lugar de Herrera. Eu sei que gostava :-)"

      !!!! Coitado do Danilo. Mais lhe valia ser excomungado.

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