Os bons exemplos devem vir de cima.
Na sequência do último episódio público da já longa inimizade entre Mourinho e Wenger, ocorrido na e a propósito da Charity Shield (a supertaça inglesa) que os gunners venceram no último fim de semana (quebrando assim o longo enguiço do francês contra o português), vieram hoje a terreiro os responsáveis pelo futebol inglês (FA e Premier League) mandar calar os dois treinadores, relembrando-lhes que acima deles e dos seus clubes está o futebol.
Esta reprimenda pública é um grande exemplo de como o futebol deve ser encarado e gerido.
As emoções e os exageros apaixonados fazem parte do jogo e são fundamentais para que continue a existir, mas apenas e se enquadrados e mantidos nos seus lugares (nos estádios, a apoiar; nos pubs ou em casa, em frente à televisão; nas redes socais) e pelas pessoas certas - os adeptos, que sendo parte do jogo, são também o seu destinatário mas não um dos seus principais intervenientes.
Esses - jogadores, treinadores e dirigentes - devem provar diariamente que são merecedores dos cargos que ocupam, não apenas pela competência que dedicam ao seu clube, mas pela compreensão de que o negócio do futebol é um "bem comum" que a todos obriga a dele cuidar. E quando se esquecem deste seu dever, são rapidamente chamados à atenção e colocados nos seus lugares, sob pena de sofrerem pesadíssimos castigos a vários níveis. Trata-se tão somente de proteger o brutal negócio que é hoje a Premier League e mantê-la como como melhor campeonato do mundo.
Curioso também é observar o papel dos media, nomeadamente dos jornais. Não havendo desportivos, são os genéricos e os tabloides que lhe dedicam secções nas suas páginas. Mesmo com todo o frenesim e sensacionalismo que os caracteriza, é interessante registar que são encarados pelas pessoas como um veículo de informação ou "fofocas", mas à parte do futebol em si mesmo. Não são do clube A ou B (ainda que o peso regional se faça naturalmente sentir), são órgãos de (des)informação e é nisso que se concentram.
Haveria tanto para aprender e transpor cá para o burgo, que nem me atrevo a começar a listar nestas linhas. Deixo apenas como exemplo comparativo e para reflexão, o "caso" Lopetegui-JJ após o jogo da Luz e as reações dos vários agentes do futebol e (falta de) consequências relevantes que dele resultaram.
Para terminar, aproveito para voltar ao meu post sobre Arsène Wenger.
Porque a propósito do tema de hoje, descobri duas notícias interessantes que explicam ainda melhor o "estranho caso", ou se calhar, não tão estranho:
1 - A primeira é uma reflexão do segundo maior accionista do clube (o tal russo-uzbeque de nome Alisher Usmanov), segundo o qual Wenger terá sacrificado os melhores anos da sua carreira de treinador em prol da concretização do sonho chamado Emirates Stadium. Vale a pena ler.
2 - A outra tem a ver com uma recém divulgada sondagem sobre a taxa de aprovação de 76% de Wenger pelos adeptos do Arsenal, contrastando com 51% em 2014 e apenas 17% em 2013. Igualmente interessante é descobrir a associação de accionistas que levou a cabo a sondagem e as questões desassombradas que inclui. Mesmo, mesmo muito diferente. E já agora, o inquérito foi realizado no final da época passada (portanto, antes desta supertaça, pelo que certamente agora teria mais uns pontos valentes de aprovação).
De facto, é outro mundo...
Do Porto com Amor (e admiração)
Wenger é um ídolo no Arsenal. Em 2012 visitei o Emirates, e enquanto lá estive falei com alguns funcionários. O respeito que eles tem por ele é algo incrivel, inclusive quando falei de Mourinho disseram-me que era um grande treinador ,mas não o trocavam a ele nem nenhum outro por Wenger..Ele até tem um busto logo na entrada para o Tour ao estádio. É de facto outra mentalidade, eu tenho muita simpatia pelo Arsenal e por mim o Wenger já tinha ido embora. O que salvou Wenger foi ter ganho duas taças de Inglaterra seguidas, em 2013 e 2014, pois estava há 8 anos sem nada vencer e a paciência já se começava a esgotar ,mesmos para os adeptos que o adoram.
ResponderEliminarJá imaginou o Porto estar 8 anos sem vencer nada e manter o mesmo treinador?! ..Impossivel acontecer aqui, e ainda bem..A exigência é uma características das grandes instituições..
Para terminar, uma curiosidade. Nessa mesma visita ao Emirates fui a tribuna presidencial do Arsenal, nessa mesma tribuna estavam expostas apenas 4 peças de comemoração de jogos do arsenal, cada peça era de um adversário do Arsenal e os clubes eram: Real, Barça,Dortmund e FC Porto.. Por vezes temos que sair daqui para perceber como somos respeitados lá fora e como somos enormes. É por isso que temos que ser exigentes e não podemos ficar felizes quando nada vencemos..Esta epoca será nossa, iremos ser campeões.
O paralelismo que fiz com o Porto foi precisamente o que me motivou a investigar este fenómeno Wenger-Arsenal.
EliminarTeve mais sorte do que eu, da única vez que visitei o Emirates vim de lá com o saco cheio (5 batatas). Ainda por cima, fui e voltei de metro com cachecol e camisola. É fácil imaginar o que passei no Tube, cheio até à medula...
Essa da tribuna presidencial é muito interessante, não sabia. Tirou fotografias?
Infelizmente não tenho fotos,na época o meu telemóvel ainda era um "tijolo"..Visitei igualmente o museu, que é ao lado do estádio, lá tinha os galhardetes(aqueles que os capitães trocam no inicio do jogo) do Benfica e Braga, no meio de dezenas e dezenas. O Museu é fraquinho, tendo em conta o clube histórico que é, mas o estádio é fantástico,muito bonito por dentro e fora..Outra coisa interessante são as estátuas no exterior(Henry e Adams), é uma ideia que podíamos copiar..
EliminarLembro-me bem desse jogo, nunca senti tanta agonia e rezei tanto para que um jogo acabasse..Mais do que perder, foi a forma como perdemos, fomos banalizados nesse jogo, podíamos ter levado mais do que 5..Nem com o Bayern me senti tão mal, que nunca mais se repita..
Não é por acaso que é considerada a melhor liga.
ResponderEliminarAbraço
Sem dúvida, podíamos aprender qualquer coisinha que fosse... mandar o P. Proença 6 meses como estagiário, por ex :-)
EliminarNem que estagiasse 10 anos!
EliminarInfelizmente é uma questão cultural.
Não é assim tão fácil mudar.
Muitos anos de ditadura, em que para ser presidente tinha de pertencer a um clube de Lisboa (Benfica, Sporting ou Belenenses).
A cultura do "fazer as coisas pelo outro lado" está enraizada... pelos que cresceram assim, e pelos que viram ai, a formula para mudar...
O nosso clube andou uns anos fora (sejam quais forem as razões) destas disputas de poder, e é só ver a pouca vergonha e o nojo em que isto se tornou.
Enquanto as mentes forjadas durante o fascismo ou influenciadas por ele, forem responsáveis por cargos de decisão ou de criação de opinião, vai ser assim...
Abraço
LAeB,
ResponderEliminarOs Ingleses (para o caso é que importa) gostam de Futebol, "nós" gostamos que o nosso Clube ganhe.
Os Ingleses reconhecem o mérito do adversário, "nós" recorremos ao insulto e à hostilização.
Os Ingleses reconhecem o esforço e o mérito dos seus, na hora da derrota, "nós" desatamos a pôr tudo em causa, mesmo aqueles que nos deram tanto.
Os Ingleses não elegem, ou nomeiam, os Órgãos directivos do seu Futebol em função de interesses clubísticos ou manobras de bastidores, daí a força desses mesmos Órgãos para impor regras que valorizam e potenciam a marca "Premier League" e salvaguardam na medida do possível, a verdade desportiva (ninguém é perfeito). "Nós" só nos preocupamos com a verdade desportiva quando o FC Porto ganha.
Claro que para este "nós" há uma grande quota de responsabilidade de uma "Comunicação Social" tendenciosa, centralista e, como se diz agora, intelectualmente desonesta.
Dir-me-ão que é uma questão cultural, aceito, o pior, pelo que se vai vendo, é que não se vislumbra o tempo em que deixaremos de ser este "nós".
Resta-me então, manter-me fiel ao FC Porto, paixão que dura e se renova há mais de meio Século, e vibrar sempre e em qualquer circunstância com as vitórias do meu, nosso, Clube.
Um abraço
Era mesmo ai que queria chegar.
EliminarA forma como somos tratados, leva ao extremar de posições, leva a odiar e a ter nojo de quem devia ser apenas um rival.
É só constatar a quantidade imensa de programas/artigos que criam opinião, cheios de gente desonesta, falsa e hipócrita, a fazerem de uns uns santos e de outros uns diabos.
Em questões semelhantes, tratamentos totalmente desiguais, sempre em benefício/prejuízo dos mesmos...
Só quem anda distraído, ou simplesmente ignora isto pode torcer por eles seja contra quem for!
abraço
Caro Fernando Pinto
EliminarPercebo perfeitamente o sentimento, eu também me debato com ele muitas vezes.
Mas se ninguém estiver disposto a dar o primeiro passo, nunca mais se sai do sítio.
Não como os "lorpas" do Sporting, que pensaram que por apenas não se envolverem na "política" do futebol, que dela sairiam incólumes.
Tem que acontecer um conjunto de coincidências, nomeadamente os dirigentes máximos dos 3 grandes estarem dispostos a dar esse passo, abdicando do seu poder e jogo de influências para uma entidade neutra e competente. Não é fácil, mas é possível.
Os próprios ingleses tinham o seu futebol "à beira do abismo" nos anos 80 e souberam não dar o passo em frente, recuando até ao que são hoje.
Mas então entra o tal dilema: vamos nós "ser comidos por lorpas", enquanto o regime vicia os resultados? Não. Mas por algum lado terá que começar, alguma vez.
Um abraço e volte sempre
É mesmo assim, caro Carrela.
EliminarMas felizmente também há muito gente sã e equilibrada que torce pelos rivais, ainda que normalmente afastados das decisões e dos círculos de influência. Mas também devemos reconhecer que Pinto da Costa na sua épica cruzada contra os infieis centralistas, se excedeu demasiadas vezes nos insultos e humilhações - que a muitos de nós souberam que nem ginjas, mas que nas pessoas de bem que torcem pelos outros os terá levado a serem um pouco mais radicais.
Enfim, há de tudo nos dois lados, o importante é que alguma vez os melhores de cada facção possam coincidir no poder.
Um abraço
Finalmente algo em que estou de acordo consigo, correlegionário Carrela.
ResponderEliminar"Só quem anda distraído, ou simplesmente ignora isto pode torcer por eles seja contra quem for"
Eu sou um pouco mais radical. Só não peço que caia um meteorito no Estádio do Algarve num determinado dia desta semana, porque as ondas de choque poderiam atingir muita gente boa, mas se tivesse a certeza que os danos não ultrapassariam os limites do estádio, bem-vindo meteorito.
Mais Amor (cá do Porto) e menos biolência, caro Anónimo :-)
EliminarSei que o caro Lapis Azul e Branco, está carregado de razão ao sugerir que só quando os "dirigentes máximos dos 3 grandes estiverem dispostos a dar esse passo, abdicando do seu poder e jogo de influências para uma entidade neutra e competente. Não é fácil, mas é possível. ". Deve ser jovem, mas eu sou duma geração que nunca acreditará, numa palavra, num acordo, num contrato ou o que quer que seja celebrado com essa gente.
ResponderEliminar"A juventude é uma coisa maravilhosa. Que pena desperdiçá-la em jovens." Bernard Shaw
EliminarEu, que já entrei na ternura, sinto-me ainda um desperdiçador, mas conto um dia crescer. Até lá, mantenho as minhas ilusões...
Um abraço
Acho este artigo muito pertinaz... depois do que passamos no final do ano transacto - com uma onda de falta de estima pela equipe por parte de uma grande massa de adeptos, com críticas internas em carneirismo com a estupidez dos nossos média - todos os dias se deveriam repetir os exemplos de outros países ( ver Dortmund, p.ex. / ver Manchester...) ...
ResponderEliminarTenho esse sonho, de um dia sermos um grande clube mundial ... em tudo! incluindo adeptos...
( O nosso guia teria sido o cenourinha, mas acobardou-se, e agora abrimos caminho passo a passo... mas, se o dpc viver o suficiente chegaremos lá!...) I think !
Percebo o seu ponto e em determinado ângulo, também "sonho" com isso, mas na minha opinião tende-se a confundir o amor ao clube (que me parece imutável em todos nós) com as críticas a dirigentes ou treinadores e jogadores.
EliminarO clube é o Porto, eterno. Os outros todos são apenas serventes num dado momento do tempo (mesmo PdC), que inevitavelmente deixarão o clube em algum ponto. Ninguém é superior nem igual ao clube, ninguém.
Por isso não acho que seja mau apontar o que está errado, se for caso disso (e sem confundir com a crítica fácil das redes sociais, ok?). Aliás, até demonstra interesse.
Creio que a discussão estará sempre em decidir o que cada um considera como crítica válida ou destrutiva.
O mesmo se aplica ao jornalixo. Criticar o treinador, por exemplo, não me parece que seja o mesmo que validar o escárnio e a diarreia com que diariamente nos presenteiam. E muito boa gente gosta de pensar que é a mesma coisa...
Saudações portistas
LAeB
Os adeptos "carneiristas" que estivemos em Basileia, Viena, Sevilha, Gelsenkirchen e Dublin, são do pior que há, de um clube regional como afirmam em outras paragens. Pensavamos que eramos adeptos dum dos melhores clubes do mundo, mas estavamos enganados. Vamos aprender com Lopetegui como nos educarmos para chegarmos a ser um grande clube Mundial.
ResponderEliminarTambém me parece que não, mas começando a época, resta-nos apoiar o homem e a equipa. Porque o sucesso deles será também o nosso.
EliminarNem mais caro Lápis. Enaltecer o que fizer de bom, mas sujeito à critica, quando for caso disso. Não nos peçam é que o consideremos obrigatóriamente e devotadamente o nosso Mao Tse -Tung.
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