"…o homem, primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará."
Yes We Can! |
Assim foi. E assim será (por mais alguns jogos).
O fundamental - a única coisa que realmente importa de momento - foi conseguido: vencemos. Carrego no lápis para que o enfoque não se perca ao longo da crónica. O fundamental era vencer e foi conseguido. Continuamos na luta.
Dito isto, vamos ao secundário. O jogo em si mesmo e as exibições, individuais e colectiva.
Entrada vacilante - ainda em terra, naturalmente - que nos castigou com severidade, mais do que aparentemente estaríamos preparados para aguentar, através de um golo madrugador num canto muito mal defendido a meias entre Danilo e Herrera.
Eu (e uma imensa minoria, suponho) temi o pior.
A reacção não foi imediata mas também não tardou. Poucos minutos volvidos estávamos já em cima do Estoril, conquistando cantos sucessivos. Mas seria através de um grande lance de Layún que seria reposta a igualdade pelo pé direito de Aboubakar. Alívio imediato e esperança renovada: "assim ainda vamos lá"...
O jogo avançou repartido, aberto, mas quase sempre com sinal + da nossa parte. E foi com naturalidade que Layún (quem mais?) assistiu de novo na cobrança de um canto para uma tolada irrepreensível de Danilo. Pronto, erro reparado e vantagem no marcador.
Entretanto o nosso décimo primeiro jogador resolveu entrar no jogo. Don Herrera despertou do seu sono profundo de equívocos e hesitações por volta dos 35' e ficamos finalmente a jogar de igual para igual. E com este bónus, chegámos ao intervalo sem marcar o merecido terceiro mas também sem conceder, o que na altura até foi mais importante.
O regresso ao jogo foi (de novo...) titubeante, desta vez agravado com uma anarquia defensiva que nos rouba anos de vida. Danilo, Herrera e André ainda não compreendem bem que espaços ocupar em cada momento e em relação a cada um deles. Tal como os alas. E como os defesas, que hoje tiveram momentos em que deixaram uma cratera entre a sua linha e o resto da equipa. Tudo normal, tudo aceitável e compreensível - desde que se ganhe.
Percebe-se claramente que está a nascer uma nova forma de jogar. Já não será uma larva mas também ainda não é borboleta. Estamos na fase da crisálida. Haja paciência para a nutrir.
Voltando ao jogo, a segunda parte foi ainda mais aberta do que a primeira. O Estoril não teve receio de sofrer mais golos, preferindo apostar em marcar. Uma atitude sempre louvável. E isso intimidou-nos, agitando os fantasmas recentes. Encostamos demasiadas vezes atrás e subimos demasiado devagar, quando saía um contra-ataque ou um simples "alivia Vicente!". No entanto, tivemos várias oportunidades para ampliar antes de finalmente chegarmos ao terceiro por André. Ele próprio, Corona e especialmente Abou (que foi aquilo, senhores?) tiveram tudo para nos alegrarem mais cedo. Mas enfim, regressando ao início do texto, vencemos. E justamente, diga-se.
Fica a sensação de que seremos uma equipa muito mais ofensiva num futuro próximo. Hoje uma das maiores diferenças face ao passado recente foi a quantidade de jogadores que colocámos em zona de finalização em cada ataque. No reverso da medalha, os colossais desequilíbrios defensivos quando perdíamos a bola. Não duvido que são processos que serão afinados e se reduzirão a seu tempo, mas já duvidaria de quem me dissesse que iriam desaparecer por completo. São o outro lado de atacar com muitos homens. Pode ser menorizado acertando os posicionamentos, as compensações e as marcações, mas o cobertor não estica para os dois lados. E por mim tudo bem, desde que marquemos sempre mais um do que os sofridos.
Abram alas para o Super Maxi - e chupem (antes que derreta) |
Notas DPcA:
Dia de jogo: 30/Jan/2016, 18h30, Estádio António Coimbra da Mota. GD Estoril-Praia - FC Porto (1-3).
Iker (5): Continua intranquilo e transparece essa intranquilidade para os companheiros, seja nas (não) saídas a bolas na sua zona de intervenção, seja nas reposições mal calculadas. Arriba coño!
Maxi (8): Outro grande jogo do Sr. Maximiliano, talvez até o seu melhor de brasão abençoado ao peito. Lutador incansável e inquebrantável, esteve sempre em todas as suas e mais algumas alheias. Já não tem as pernas dos "vinte anos" mas compensa-o com tudo o resto. E digo mais, só não sai daqui como MeC porque Layún foi ainda mais decisivo.
Melhor em Campo Layún (8): Começam a escassear adjectivos para este caso seríssimo de jogador decisivo. Se o segundo golo se enquadra no seu reportório habitual das bolas paradas, o primeiro acrescentou-lhe um novo truque. Será este o verdadeiro Ferrari? Que nem se atrevam a permitir que se abra uma qualquer janela de oportunidade para sair e que não assine em definitivo por nós.
Marcano (6): Três cortes importantes a evitar outros tantos quase-golos. Isso tem que ser relevado, mesmo se um desses lances é de sua responsabilidade e se em vários outros aliviou para zonas proibidas ou hesitou na abordagem. Hoje atingiu os mínimos olímpicos. Ena.
Martins Indi (6): Sempre mais discreto (para o bem e para o mal), teve também algumas hesitações na abordagem à bola e/ou ao adversário, dando-lhe tempo e espaço que exponenciaram o perigo para a nossa baliza. No final e com tudo somado, também se safou.
Danilo (7): Entrada terrível, não só por não ter conseguido acompanhar Diego Carlos no lance do golo, como também por se assemelhar à Capuchinho Preto perdida e assustada na floresta. Rapidamente se transformou no Lobo Mau e repôs a sua conta a zero com o bom golo que marcou e que permitiu a cambalhota. E de resto, foi alternando entre a Capuchinho e o Lobo, mas felizmente sempre com mais uivos do que choros amedrontados.
<-86' André André (7): Enervou-me q.b. na primeira parte. Por não ter feito um golo "fácil" e pelo seu posicionamento errante, quase sempre demasiado longe do adversário de ocasião para "lhe chegar". Subiu muito na segunda metade, jogou e fez jogar e matou o jogo na ocasião menos fácil. Exibicionista... e ponto pelo golo matador de canários.
Herrera (6):
Ora hoje este señor dignou-se a começar a jogar como um profissional aos 35 minutos. Até lá, foram os seus habituais disparates que estiveram em campo. Dez minutos douradinhos. No recomeço, alternou entre o mau e o razoável e mais para a frente, voltou a jogar como todos gostaríamos que jogasse sempre. Enfim, um enxaqueca.
Corona (7): Bom jogo, ainda que com oscilações. E o mais relevante para mim foi precisamente ter recuperado do apagamento a que se acometeu em meados da segunda parte. Levou uns quantos gritos do banco e arrebitou, aguentado-se como um Dragão até final. Pode não parecer, mas creio que cresceu uns centímetros hoje..
<-71' Brahimi (6):
"Continua a fazer quase tudo bem até ao momento da decisão, que tal como
o nome sugere, é o decisivo. E por isso o que podia ser sensacional
fica-se pelo "quase que era". O que tem o seu mérito também, até porque
atrai adversários como moscas ao mel". Nada a acrescentar ou a retirar.
<-89' Aboubakar (7): Grande evolução em termos da sua contribuição para o jogo colectivo, bem mais perto do que já nos mostrou ser capaz de fazer. E golo importante num momento crítico. E muito, muito trabalho. Ponto a mais pelo golo, ponto a menos por aquela coisa...
->71' Varela (6): Ainda outra boa entrada. Em crescendo, desta vez. Perdeu uma bola proíbida que quase fazia mossa mas recuperou e ajudou a equipa rumo ao terceiro golo. Não creio que tenha condições para se firmar no meio, mas logo veremos.
->86' Rúben Neves (-): Bem melhor do que nas mais recentes aparições. O que mais se notou com a sua entrada foi a qualidade de passe, ainda que estando tempo em campo. É, de facto, outra coisa. Mas tem que aprender (depressinha) a defender com a faca nos dentes, não pode ser tão português suave na sua abordagem aos lances. Não jogou o suficiente para ser avaliado.
->89' Suk (-): Sem tempo de jogo suficiente para ser avaliado. Entrou com vontade e ainda deu um par de corridas...
José Peseiro (7): Vitória fundamental, num campo tradicionalmente complicado e com cambalhota no marcador pelo meio. É assim que vai conseguir agarrar os jogadores e devolver-lhes e a confiança e a alegria de jogar. A tal anarquia é neste momento tão natural quanto aceitável. Só para ter algo com que implicar, creio que adiou em demasia as segunda e terceiras substituições. Mas o fundamental já lá estava, no papo do Zé.
Tabela de pontuação finalmente concluída, não deixem de visitar e comentar!
Outros intervenientes:
Boa postura a do Estoril, que com um golo caído do céu não caiu na tentação de se encolher na defesa. E depois já em desvantagem, não desistiu de procurar o empate até ao último golo da partida. Gerso continua a destacar-se, mas hoje gostei de ver Matheus (longe do nível do pai, obviamente) e também o desconhecido Marion.
Quanto ao árbitro, grande surpresa... até aos 75 minutos. O suspeito Tiago Martins liderou com descrição e eficácia recorrendo a um critério largo que favorece sempre o jogo (assim os jogadores o queiram). Terá errado, como é suposto, mas sem relevância. Até aos 75 minutos. Depois perdeu a compostura, começou a amarelar tudo o que mexia, com o erro maior no amarelo a Corona, transformando uma falta sofrida numa cometida. Mas em termos globais não esteve mal não senhor.
Hoje matámos dois borregos de uma cajadada só. O de ganhar neste campo e o de ganhar em Lisboa. Embrulhem.
"…mas
o éter antes de subir aos ares para ser o onde as estrelas se suspendem
e o ar que Deus respira, vive dentro dos homens e das mulheres (...) o
éter compõe-se da vontade dos vivos (…) quando vires que a nuvem vai
sair de dentro delas aproximas o frasco aberto, a vontade entrará nele…" in Memorial do Convento
Do Porto com Amor