Jogo complicado no tabuleiro do Bessa, casa dos estimados vizinhos que tanto nos odeiam. O que é uma pena, porque eu gosto do Boavista. Mas adiante.
Catarina Morais / Kapta + |
Complicado como habitualmente, pela tal rivalidade, que do lado boavisteiro chega a roçar o doentio, tal a vontade de nos derrubar por todo e qualquer meio disponível - normalmente, à porrada. Mas desnecessariamente complicado por uma estratégia de Sérgio Conceição que nos deixou absolutamente perdidos no meio do terreno, incapazes de ganhar segundas bolas e de ganhar espaços para construir jogo.
Não é preciso muito ciência, qualquer Simão desta vida percebe que perante um meio-campo destes, "basta" pressionar alto na nossa saída de jogo e com isso obrigar a bola a ser batida para a frente, onde dificilmente teremos capacidade para a ganhar nos duelos aéreos e ressaltos.
Corona e Brahimi estiveram até muito empenhados, mas nenhum tem perfil para as batalhas físicas do meio-campo (note-se que Corona até ganhou algumas bolas de cabeça!), onde a teia axadrezada envolveu por completo Danilo e Jar Jar Herrera.
Sérgio ou não percebeu, ou não quis "dar o braço a torcer" ou - mais provável - manteve-se convicto de que aquele onze seria o melhor caminho para chegar à vitória. No final, provou-se ter razão, mas... porque quase tudo nos correu de feição. Quase, porque Hugo Miguel também conta. Lá iremos.
Após uma primeira parte absolutamente horrível, sem capacidade para criar um lance de perigo e ainda assim exposto às investidas do Boavista, houve claramente mudanças comportamentais, com certeza derivadas das rectificações do treinador ao intervalo. O onze manteve-se, mas a forma de jogar pareceu alterar-se um pouco, com Brahimi (e também Corona, mas menos) a procurar mais o meio para ter bola e libertar espaço na sua ala.
E digo "pareceu" porque o golo chegou apenas cinco minutos após o recomeço, evento que marcou e alterou os acontecimentos em definitivo. O Boavista viu-se obrigado a procurar activamente o golo do empate e nós tivemos um pouco mais de espaço (e tempo) para assentar ideias. Tendo sobrevivido a um par de boas ocasiões do adversário, a equipa foi finalmente recompensada com a entrada do tal terceiro médio - André André - e ganhou quase de imediato o controlo das operações.
Em rigor, só após o segundo golo é que esse controlo se tornou efectivo, dada a margem de segurança que acrescentou ao marcador. O terceiro já foi um corolário desse nosso domínio tardio, aliado ou até incentivado pela valente cagada do excelso treinador adversário. Uma jóia dum moço.
No final, um resultado gordo e saboroso, que não contando a história do jogo, acrescenta alento e confiança a uma equipa já de si bem moralizada (nesta competição). Quarta-feira, a história será outra.
Notas DPcA
Dia de jogo: 28/10/2017, 20h30, Estádio de Bessa XXI, Boavista FC - FC Porto (0-3)
José Sá (6): Uma defesa importante, daquelas que, quando várias e consecutivas, podem justificar uma titularidade. Menos positivo, as (não) saídas aos cruzamentos. Aguentou-se e sem sofrer golos.
Ricardo (7): Bom jogo, do primeiro ao último minuto. Teve sempre adversários chatinhos (porque rápidos) pela frente, mas nunca se deixou alarmar por isso. E quando chegou a hora, foi à frente fazer o seu papel.
Ricardo (7): Bom jogo, do primeiro ao último minuto. Teve sempre adversários chatinhos (porque rápidos) pela frente, mas nunca se deixou alarmar por isso. E quando chegou a hora, foi à frente fazer o seu papel.
Alex Telles (6): Aguentou-se durante a tempestade e navegou a onda azul quando ela chegou. Mas tranquilamente, quase sem se dar por ele. Continua é sem inspiração nas bolas paradas.
Marcano (7): Impecável. Just.
Felipe (5): Longe de impecável. Muito desconcentrado na primeira parte, teve alguns erros de palmatória, felizmente sem danos maiores. Além disso, abusou do físico sem necessidade. Nada como os sem-vergonha querem pintar, mas, em todo o caso, desnecessário e perigoso. Precisa mesmo de acalmar e de se focar apenas no jogo.
< 90' Danilo (6): Francamente mal na primeira parte, tanto no posicionamento como com a bola, não conseguindo sobreviver à "traição" táctica do treinador. Após o primeiro golo, encontrou-se (tal como a equipa), mas não a ponto de conseguir controlar o adversário. Isso só mais tarde, quando devidamente ajudado por mais um médio. A última meia hora foi de bom nível, sem nunca chegar a brilhar.
Herrera (6): Vou-me abster de comentar a sua primeira parte, dizendo apenas que nem tudo foi culpa dele. No segundo tempo, regressou determinado a manter o registo, chegando ao ponto de, com o seu fulminante sentido posicional, transformar situações de superioridade numérica defensiva em inferioridade... sim, não estou a gozar, aconteceu mesmo. Mas, enfim, é de Herrera que se está a falar, pelo que também se sabe que no meio de tanto disparate, pode sempre surgir um raio de luz. E surgiu, mais do que um até. Um deles, foi chamuscado quando se aproximava do paraíso, naquela jogada individual onde não passou nem conseguiu finalizar. Noutra, foi mestre, fazendo a assistência que se exigia (mesmo, porque a linha de passe era óbvia). Num lance, quase faz autogolo de cabeça; uns minutos volvidos, tem um corte providencial aos pés do isolado Mateus... Tudo somado e against all odds, deu mais frutos o que fez bem do que árvores podres que fez mal. Lucky us.
< 71' Corona (7): Escapou por pouco à tentativa de assassinato desportivo, pelo que só isso já seria uma evolução face ao ano passado. Recompôs-se e "prometeu vingança", passando a desequilibrar os duros rins adversários com mais assiduidade. Foi o primeiro a sair, o que se percebe pelo desgaste e por aquilo que a equipa precisava, mas não saiu por estar a jogar mal. Naquela fase do bate até que fura, foi uma das peças importantes.
Catarina Morais / Kapta + |
Melhor em Campo Brahimi (8): Quase só se viu na segunda parte, porque antes não havia bola para os meninos de azul. E quando havia, era logo ceifadela ou agarrão. Foi fundamental para o desbloqueio do marcador e acabou ele próprio a marcar, finalmente, o tão desejado golo. A pequena mácula na exibição é a de sempre, continuar agarrado à bola depois de já ter feito o mais difícil e quando bastaria tocar para um companheiro finalizar. Enfim, lá chegará... ou não.
< 86' Aboubakar (7): Desta vez, marcou logo à primeira oportunidade, mas convenhamos que quase não tinha como falhar (alô? quem? Paulinho César? ah...). Antes e depois, foi sempre um mouro de trabalho, abnegado e solidário. Gostei muito de o ver assim.
Marega (6): Muito tempo perdido pelo jogo, sem bola nem "cheiro" dela sequer. Nessa fase, quase se limitou a cumprir o papel defensivo que lhe estava atribuído. "Apareceu" após o regresso do balneário e a partir daí foi sempre em crescendo até ao seu golo de "futsal". Mais um para a sua contabilidade pessoal...
> 74' André André (7): Contra as expectativas criadas pelos primeiros momentos em campo, agarrou no meio-campo e pisou-o com os seus minúsculos pezinhos de fada, o que chegou para os desgastados caceteiros do xadrez. Esteve directamente envolvido nos dois últimos golos e com isso ajudou a sentenciar o encontro. Pouco importa se coincidiu com o hara-kiri de azei.. Simão, simplesmente fez o que lhe competia e com distinção.
> 86' Maxi (-): Entrou para ajudar o cronómetro a passar. Sem tempo útil de jogo para ser avaliado.
> 90' Reyes (-): idem
Sérgio Conceição (6): Pode parecer injusta a nota após três secos espetados no Bessa, mas o jogo que eu vi (e com que sofri) deu-me o receio de que o desfecho pudesse ser bem diferente. Já o escrevi acima, acho que foi um erro estratégico lançar Brahimi e Corona de início e deixar o miolo com apenas dois homens de raiz. E tenho toda uma primeira parte para me dar razão. Compreendo que, ao optar por aquela via, Sérgio se tenha tornado "refém" dela, porque mexer (substituindo) um médio por um ala antes de estar a vencer, daria a ideia de estar satisfeito com o empate. Correu-nos bem, porque marcamos logo no recomeço e conseguimos não sofrer. As substituições foram as adequadas (dado o banco), mas a que realmente interferiu com o jogo foi a primeira, em minha opinião decisiva para garantir os três pontos e pecando apenas por tardia.
Outros Intervenientes:
Fraquinha, esta equipa do Boavista. Todos com grande vocação para lenhadores, mas com pouco futebol colectivo nos pés. Ainda assim, souberam explorar bem a nossa táctica e por várias vezes estiveram perto de marcar. Individualmente, chamou-me a atenção o desconcertante e desconhecido Yusupha Njie, bem como o suspeito do costume Renato Santos.
Da arbitragem de Hugo Miguel e sua trupe, digo que esteve razoável a nível técnico e um pequeno desastre no plano disciplinar. Mais do que complacente, foi conivente com o jogo violento de que vários adversários usaram e abusaram. O clímax da coisa foi mais uma vez atingido num lance com Corona, onde o vermelho se ficou pelas lindas camisolas e pelos seus pequenos corações de papoulas. Vá lá que pelo menos no FB, o bom do Hugo não deixa passar nenhuma boca mais agressiva...
E já lá vão nove vitórias e um (injusto) empate. Com este registo, Sérgio iguala alguns monstros sagrados da nossa história. Essa é que é essa, pense eu o que pensar: e que bem que eu vivo com isto!
Quarta-feira temos Champions no Dragão, jogo fundamental e eventualmente esclarecedor quanto ao nosso futuro na prova. Bilhetes aqui (acaba já amanhã).
Quarta-feira temos Champions no Dragão, jogo fundamental e eventualmente esclarecedor quanto ao nosso futuro na prova. Bilhetes aqui (acaba já amanhã).
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco