... in our hearts. Portista convicto, trabalhador e dedicado à causa. Um de nós sentado no banco de treinador. Mas a questão também é essa: porquê ele e não qualquer um de nós?
Não estava a ser irónico. Das últimas coisas que escrevi ainda na fase regular deste blogue, foi este "O Porto de Conceição". Está lá quase tudo, para que não duvidem da minha sinceridade.
Hoje, cerca de seis meses mais tarde e três troféus perdidos - sim, três troféus nacionais perdidos - sinto necessidade de actualizar o meu sentimento sobre Sérgio Conceição.
Recapitulando, o Sérgio chegou ao Porto após 4 épocas desastrosas que puseram bem a nu o declínio irremediável da liderança do Clube. Incompetência directiva a todos os níveis: desportiva, financeira e "bélica". Incapaz de travar os obrigatórios combates contra o Portugalistão em que vivemos, assistimos impotentes a vários campeonatos nos serem roubados sem se vislumbrar uma nesga daquele vigor que fez deste Presidente o melhor de sempre. Mas por agora não quero continuar por aí, volto a Sérgio Conceição.
Aceitou o complicado desafio (mas também a sua grande oportunidade de carreira) e deparou-se com a impossibilidade de fazer boas contratações (leia-se de jogadores feitos, que oferecessem garantias) e viu-se obrigado a recuperar um bando de proscritos e perdedores-natos para formar um plantel. Foi com eles que formou uma irmandade e construiu uma forma de jogar que surpreendeu tudo e todos, a começar pelo adversário de cada domingo. Nunca um futebol deslumbrante, mas quase sempre determinado e eficaz.
Surpresos mas logicamente felizes, os Portistas acorreram ao chamado e deram corpo a um imenso Mar Azul. Com altos e baixos ao longo da temporada, mas sempre com apenas e só aquele bando de renegados à sua disposição (mais duas ou três comissões jeitosas em Janeiro), Sérgio conseguiu o impensável em ano de desígnio nacional. Sérgio e os seus jogadores sagraram-se campeões nacionais e destruíram os sonhos de pe(n)ta da nação bafienta e corrupta. Foram demasiado fortes até para os árbitros sem-vergonha, graças àquele pontapé de Herrera.
Prestem atenção agora: foi Sérgio Conceição, SOZINHO com os seus jogadores, quem nos devolveu o título e liquidou o desavergonhado penta. Foi ele o homem, foi ele o líder. Ele. Falhou nas outras competições internas, mas venceu a mais importante - aliás, a única que interessava naquela temporada.
Fim de época, continuidade assegurada. Sem garantias de nada, uma vez mais. A tal ponto que esteve para se ir embora mesmo antes de começar. Mais umas trapalhadas e comissões a envenenar o seu projecto, mas lá resistiu e fez ouvir a sua voz. Baixinho.
O balão da superação esvaziou-se e os proscritos relembraram-nos porque o foram. E os perdedores-natos porque estavam no Clube há várias temporadas sem ganhar nada. Voltaram ao seu normal. Ainda assim, deu para cavalgar a onda da época anterior e fomos cumprindo a obrigação de ganhar jogos. Com os árbitros a apitar de forma igual para todos (porque assustados com a aparente ameaça que pairava sobre o estado lampião), chegamos à confortável vantagem que todos conhecemos e garantimos os oitavos da Champions. Tudo se encaminhava para mais uma temporada de sucesso. O que aconteceu então?
Muitos serão os factores e de várias ordens para explicar tudo o que se passou - e não tenho a pretensão de conhecer um décimo sequer - mas o que mais salta à vista é aquilo para que também sempre fui "alertando", mesmo quando ganhávamos: o nosso futebol nunca convenceu ninguém.
Ideia única de jogo, muito dependente da capacidade física dos jogadores, sem alternativas, sem planos de recurso. Futebol previsível e nada, nada entusiasmante. É isto que vejo como adepto e não adianta dizerem-me que não sei e não percebo nada da coisa, porque no final é isto que conta. É o que fica. Este ano, uma Supertaça contra o Aves. E três títulos muito mal perdidos.
Se é inequívoco que o campeonato foi uma vez mais viciado a favor dos sem-vergonha, também não é mentira que tivemos uma vantagem à prova de vigaristas. Mesmo após aquela escandalosa expulsão perdoada a Bruno Fernandes em Alvalade antes do intervalo, ficamos com cinco pontos de avanço e a vantagem de receber os sem-vergonha no Dragão. Tínhamos de ter feito mais e melhor, porque depois desse jogo em casa, tudo ficou decidido. Já sem ponta de Justiça à vista, os árbitros voltaram a encarreirar e nunca mais permitiram que os sem-vergonha perdessem pontos.
Analisando os jogos decisivos, em especial contra lagartos e lampiões, falhámos quase sempre. A excepção foi mesmo a meia-final da Taça da Liga, porque este último a fechar o campeonato já não valia nada (e não jogamos nada também).
E o falhar aqui não significa ser inferior ao adversário, porque nunca o fomos. E, se calhar, isso ainda custa mais a digerir. Tendemos a dominar a maior fatia dos jogos e a criar mais ocasiões para marcar - mesmo a jogar "assim", lento e previsível. Falhar significa perder no final. Será tudo "culpa" da falta de eficácia? Não creio. Ter um ponta-de-lança de grande qualidade ajudaria muito, mas não resolveria tudo. E já nem consigo abordar a questão dos penáltis, começa a ser doloroso estar a ver o desfecho da meia-final verdes-vermelhos e pensar instintivamente "pronto, lá vamos nós perder nos penáltis".
É este espírito derrotista e de impotência para ultrapassar o "destino" que se começa a apoderar do Clube (e não digam que a culpa é minha, ok?). É Sérgio o responsável por isso? Não. Mas também não foi capaz de o evitar, antes pelo contrário.
Já sei que sou apenas adepto e coisa e tal, mas em quase todos esses jogos fiquei com a sensação que o treinador não estava a ler bem o jogo, mais durante do que antes de começar. Acho até que tem dificuldade em reagir àquilo que o jogo vai pedindo. A gritante escassez de soluções no banco explica uma parte, mas não pode explicar tudo. Falta alguma coisa ainda.
Além disto, há também a questão da mentalidade. Por muito que se queira pintar de outra cor, a verdade é que esta equipa (nas duas épocas) nunca teve a mentalidade de entrar e esmagar os adversários, de marcar o primeiro e ir de imediato na busca do segundo. Ao invés, um estilo muito contemplativo, permissivo, que dá tempo ao adversário de superar as suas próprias dúvidas e começar a acreditar nas suas possibilidades. Não é um Porto mandão, incisivo, opressor. E isso conseguia-se mesmo sem craques, bastava ter a mentalidade certa!
Além disto, há também a questão da mentalidade. Por muito que se queira pintar de outra cor, a verdade é que esta equipa (nas duas épocas) nunca teve a mentalidade de entrar e esmagar os adversários, de marcar o primeiro e ir de imediato na busca do segundo. Ao invés, um estilo muito contemplativo, permissivo, que dá tempo ao adversário de superar as suas próprias dúvidas e começar a acreditar nas suas possibilidades. Não é um Porto mandão, incisivo, opressor. E isso conseguia-se mesmo sem craques, bastava ter a mentalidade certa!
O meu ponto? Adoro Sérgio Conceição, o Portista. Estou de pé-atrás com Sérgio Conceição, o treinador. Mas as lágrimas dele de ontem são também as minhas e são também por ele. Sobretudo de raiva, porque voltamos a ser melhores e a perder para uma equipa banal com mentalidade de distrital, sempre a fazer de tudo para se jogar o menos possível, com o habitual empurrão daquela triste figura com o apito na boca. Um nojo de equipa, bem à imagem do clube derrotado que sempre serão.
E então, deve ou não continuar no banco do Porto em 2019/20?
Um inequívoco sim. Porque neste momento é a pessoa em quem eu mais confio para defender o Clube do exterior e de si mesmo. De longe, diga-se. E não estou a ver que possa assumir outro cargo qualquer (havia de ser bonito), pelo que terá de ser no de treinador. E ainda acredito que vai conseguir.
No entanto, meu querido Sérgio, tens de evoluir e depressa como treinador. Alargar horizontes, estudar e testar outros modelos e perceber como e quais se podem aplicar aos jogadores que vais ter à tua disposição. O tempo escasseia, eu sei, mas que não te falte audácia. Se falhares, falha a tentar algo diferente! Não cedas perante a exigência daqueles reforços que consideras fundamentais e não aceites refugo comissionista. Ah, e já agora, contrata um bom psicólogo que nos ensine a ganhar nos penáltis, ok?
Sobre o Clube, vou esperar até perceber exactamente quem mente e quem fala verdade sobre a questão do Fair Play Financeiro, porque algo não bate certo e isto seria demasiado grave para ser tolerado.
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco