agosto 2019

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Vamos para Nulos


Não esperava voltar a escrever antes de Setembro. De todo. Depois de conhecer os sorteios, fiquei muito confiante de que eventuais desaires iniciais no campeonato (sem sonhar ainda mas a temer o que se veio a passar em Barcelos) seriam amortecidos pela conquista de um lugar na Champions 19/20. 




Se já na época passada, aquando dos oitavos contra a Roma isso aconteceu, era (ainda mais) previsível que Sérgio Conceição, com bênção total da SAD, se focasse em garantir o primeiro e mais imediato objectivo da temporada, mesmo que isso pudesse custar alguns dissabores na Liga do faz-de-conta. É que o campeonato dura nove meses e há salários, prémios e benefícios para pagar entretanto. Havia... ou melhor, ainda há, não sei é se haverá como.

A primeira mão em Krasnodar correu-nos de feição. Um jogo tremido mas q.b. para garantir um nulo, salvo por um lance de felicidade mesmo a acabar. Tudo bem encaminhado, mas longe de garantido. Ainda assim, impossível imaginar o que se viria a passar ontem no Dragão

Pelo meio, uma entrada calamitosa no campeonato. Primeiro e último responsável, Sérgio Conceição. Equipa muito alterada face à da Rússia, sem motivo aparente que não seja a convicção do treinador. E mais certo fiquei quando soube do onze para esta segunda mão: depois de já ter mudado três titulares da Rússia para Barcelos (dois deles do meio-campo, sector fulcral para o funcionamento das equipas como tal), voltou a mudar, desta vez quatro jogadores, incluindo o já caído em desgraça Saravia e duas estreias, Diaz a titular e Nakajima em absoluto.

Isto para dizer uma coisa e concluir outra. Primeiro, é dos livros e do bom-senso que quando se está a construir uma equipa nova é preciso dar prioridade às rotinas e ao conhecimento entre os jogadores, o que não se consegue mudando tanto e tantas vezes o onze titular. Segundo, Sérgio Conceição não tem ideias claras sobre quem tem à disposição e o que quer para a equipa (se tem, pior ainda, porque significa que nada evoluiu em três anos como treinador).

E esta é que é a pergunta fulcral que deve ser colocada: 

O que se passa com Sérgio Conceição? 

Visto de fora e dando eco ao que se diz (em parte confirmado pelo próprio), o treinador recebeu - ainda que tardiamente - os reforços que pediu. Seguramente nem todos são as primeiras escolhas, mas ainda assim escolhas, suas. Deveria estar mais confiante e bem-disposto do que nunca, entusiasmado por poder finalmente trabalhar focado nas suas ideias e com a sua matéria-prima de eleição.

O que se tem visto desde o regresso aos trabalhos é bem diferente, não é? Tensão, rostos fechados, desconforto, postura de acossado. E até o é, pelo corja do costume, mas isso não é novidade. Já foi campeão apesar deles, porquê ceder agora? Tem de haver mais.

Não tenho as respostas, mas tenho - temos todos - os resultados à vista. Bem-vindos à Liga Europa e ao incumprimento do orçamento (venha de lá um já rectificado p.f.).

Podemos sempre optar por pensar que foi uma série de infortúnios que raramente coincidem no mesmo jogo, mas a verdade é que os factos parecem querer demonstrar algo diferente. De nenhum dos três jogos oficiais se pode dizer que a equipa jogou bem. Pior, que a equipa se comportou como tal, que se viram rotinas ou que se detecta alguma evolução no jogo colectivo. Bem pelo contrário.

E se em parte se compreende alguns dos retrocessos pelas saídas do final de época, nem tudo é justificável, até porque os adversários não eram dos mais cotados - longe disso. Mesmo em reconstrução, era exigível muito mais e muito melhor.  Muito melhor.

Sérgio Conceição não está equilibrado e o Clube é que pagou e vai continuar a pagar a(s) factura(s). E agora?

Agora nada, vamos para nulos*. Por um lado, temos um presidente que ainda há dias desejou/comprometeu que Conceição fosse o seu último treinador. Por outro, temos um treinador que termina a conferência de imprensa pós-eliminação a reconhecer que errou mas que faria tudo igual se tivesse a oportunidade. Mind blowing.

Portanto, a solução única que se vislumbra e se aceita é a continuidade de Sérgio Conceição até final da temporada, dê por onde der. Mas mesmo por onde der - se por infelicidade estivermos a 15 pontos do líder em Dezembro, por exemplo. Até Maio, dê por onde der. Comigo a apoiar, concordando ou não com as opções.

E então que cada um tire as suas ilações, a começar pelo presidente Pinto da Costa. Se a época falhar a ponto de não permitir a continuidade do treinador, o presidente terá a obrigação de tirar as devidas conclusões. Fáceis de subentender. Dou uma ajuda: falhar será tudo o que não seja ser campeão e/ou voltar a incumprir com as regras do FPF.

A aposta inicial falhou redondamente. Marcano foi uma má aposta, tal como todas as que visavam o "lucro imediato". Espero que agora haja o mínimo de bom-senso para reequacionar a estratégia desportiva do Clube e dar mais espaço (e tempo) aos bons valores que saíram da formação campeã da Europa de clubes, integrando igualmente as boas contratações que foram feitas. No mínimo, isso, porque, insisto, temos matéria-prima para fazer uma bela(!) temporada.

Uma palavra de admiração e agradecimento para Pepe. Não foi o único, mas foi o melhor, o líder incontestado e inconformado, um monstro dentro de campo a defender, a construir e a liderar. 

O futuro imediato passa pela recepção ao Vitória e pela deslocação ao antro dos criminosos sem-vergonha e é nisso que todos se terão de focar a partir de amanhã. Agora é para digerir e desinchar. E depois voltar a apoiar. Como sempre.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



* Para quem não sabe jogar King, ir para nulos acontece quando o dono da "festa" ou o vencedor do leilão tem um jogo tão baixo que prefere jogar sem trunfo e com o objectivo de não fazer vazas, o oposto do normal em 99% dos jogos de cartas, desde a lerpa à bisca lambida. Eu sei que não faz muito sentido para quem não conhece o jogo, mas aqui está o desafio para aprenderem, que vale bem a pena e distrai das maleitas...



segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Agora a Doer


É já depois de amanhã, na longínqua Krasnodar, que o FC Porto entra na época oficial 2019/20 e logo contra um obstáculo com cara de poucos amigos. E não é por serem russos, é por - dizem por aí - jogarem bem à bola. É assim, a frio e logo a doer, contra um adversário que já vai na quarta jornada do seu campeonato (2V-1E-1D). 




Depois da boa imagem que deixou na Liga Europa da época anterior, onde foi eliminado e por muito pouco pelo Valência nos oitavos, o FK Krasnodar chega a esta pré-eliminatória por via do terceiro lugar que conquistou na liga russa. Não os vi jogar ainda este ano, mas quem viu (e percebe da poda) garante que vão vender cara uma eventual eliminação.

Não vale sequer o esforço de atirar com o nosso palmarés para a arena argumentativa, primeiro porque o palmarés não joga e segundo porque já vai sendo tempo de os Portistas aceitarem que o Porto actual já não é o que nos fez orgulhosos à conta da sua insuperável competência e espírito de conquista.

(Para que ninguém se confunda, o (meu) orgulho de ser Portista é inatacável e imutável, o que desapareceu foi aquela dose suplementar que advinha da superioridade competitiva que evidenciou durante várias décadas) 

Hoje temos uma equipa profissional de futebol que se está a refazer, aparentemente a pensar no imediato - o acesso ao "milagre" financeiro da Champions, o único que permite continuar a suportar este tipo de gestão - e cujo princípio único parece ser o de satisfazer os desejos de Sérgio Conceição. Se há uma política desportiva estruturante, eu não a consigo detectar.

A prova provada chega pelo conjunto de entradas e saídas deste defeso. Sem questionar ainda a valia de quem chegou e o saldo teórico face ao plantel que sucede, o que se constata é a chegada de jogadores "feitos", para darem rendimento desportivo de imediato e forçosamente sem aspirar vendas futuras com relevantes mais-valias. É verdade que parece também sobrar algum espaço para os miúdos da formação, mas é preciso esperar para ver se e quem vai ter reais oportunidades para evoluir, espaço para errar e confiança para começar a mostrar as suas qualidades.

Já há muito que deixei de me afeiçoar a jogadores (Lucho e Quaresma foram os últimos), até porque deixou de fazer sentido. Hoje os jogadores são verdadeiramente profissionais, pensam apenas na sua profissão e em como dela retirar o máximo rendimento. E é também por isso que cada vez mais pessoas se desencantam com o que sobrou do futebol original.

Hoje, em 99,99% dos casos, os exemplos de amor ao clube apenas acontece em duas situações: quando o jogador já está num dos clubes de topo (e que mais paga) ou quando o jogador não tem qualidade suficiente para atrair o interesse desses "tubarões" (os Luisões desta vida). Nós é que ainda não nos convencemos disso e continuamos a sonhar com um futebol que já não existe...

Isto para dizer que os "miúdos" me interessam sobretudo na perspectiva do rendimento e das mais-valias futuras que podem gerar, que é como quem diz que o que me interessa é a política desportiva do Clube, sem olhar a nomes ou proveniências. Claro que - como sonhador que ainda sou - adorava ter na equipa principal e por muitos anos jogadores com formação no Porto, mas sei bem da utopia que isso representa.

Regressando a Krasnodar, o Porto terá de demonstrar competência suficiente para poder garantir no Dragão a passagem ao playoff, onde terá outro osso duro de roer (seja turco ou grego). As chegadas tardias de Marchesin e Uribe (dois negócios com muito para explorar) condicionam desde logo o seu potencial contributo nesta primeira mão e provavelmente na segunda também. E do que pouco que se pode ver contra o Mónaco, o resto também tem ainda muito que pedalar.

Seja como for, na quarta têm de estar todos prontos. O estatuto e o palmarés não jogam, mas quem vestir a azulebranca tem de provar merecer ser herdeiro de todos esses monstros do passado. E quem está ao leme tem também de honrar a memória do eterno Mestre. 

O primeiro balanço desta nova temporada será feito assim que for conhecido o destino europeu do Clube - até la, sigo com rigor (possível...) a minha receita de sobrevivência.

Acabou a pré-época, agora é mesmo a doer. E falhar o acesso à Champions pode mesmo revelar-se uma dor insuportável para o Clube e em particular para Sérgio Conceição. Por isso façam o favor de ser felizes.


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco


P.S. para os fãs das ligas Do Porto com Mística: vão acontecer! Já podem inscrever-se na Liga Portuguesa (token b5089773) e na FPL (código 8un4o1) que começam já na próxima sexta.