junho 2017

quarta-feira, 28 de junho de 2017

República Popular do Portugalistão - Parte IV


Por instantes, senti-me a ser arrastado pelos braços, por um corredor sombrio. Estava ainda demasiado combalido para retomar os sentidos.

Abri os olhos e vi luzes brancas e redondas directamente por cima de mim. A seguir, vi um sujeito a observar-me com uma pequena lanterna. E ouvi-o comentar para alguém: "Tirando algumas negras, está bem. Em condições para resistir ao vosso "tratamento"". Quis reagir mas voltei a desmaiar.




Quando voltei a mim, estava deitado numa cama estreita. A penumbra não me revelava a totalidade do espaço envolvente, mas não demorei a perceber que estava numa cela. Hesitei entre levantar-me a gritar por alguém ou continuar deitado. A minha cabeça parecia estar em contagem decrescente para a explosão final, tão fortes que eram as pontadas que me agrediam, cadenciadas como um farol em noite de tempestade.

Após uns minutos, levantei-me. O farol desmoronou-se sobre mim e finalmente desapareceu na noite escura. Consegui finalmente raciocinar. Estou preso, meu Deus! O que irá ser de mim? Sou demasiado conhecido, não se atreverão a acabar comigo... Será?

Enquanto me debatia com o que fortuna me reservava, ouvi passos a aproximarem-se.

- Então, senhor B. Gode, já acordou? Estamos cheios de curiosidade para falar consigo. Venha comigo.

Não reconheci a cara, mas aquela voz... sim, já a tinha ouvido, mas onde e quando? Levantei-me e segui-o, após a porta da cela ter sido destrancada pelo guarda que o acompanhava. Era um edifício mal iluminado, quase sem janelas. Se tivesse de apostar, diria que intencionalmente para aumentar o terror dos "convidados".

Passamos duas portas de segurança e entrámos num pequeno gabinete, onde havia uma secretária, um telefone nela pousado, um intercomunicador na parede junto à porta e duas cadeiras. Rigorosamente mais nada.

- Sente-se. Sabe quem eu sou e porque está aqui?
Nesse momento, fez-se luz. A voz era a mesma que tinha ouvido após o acidente. Mas que grande acidente. Lembrei-me do corpo inerte do motorista. Paz à sua alma. Mas o que teria acontecido ao Francisco?

- Não ouviu a minha pergunta? Está com dificuldades de compreensão?
- Ah, não, desculpe. Ainda estou a refazer-me. Lembro-me de ter estado num acidente e pouco mais. Não sei quem o senhor é nem porque estou aqui, detido.
- Não sabe? Curioso. Conhece este perigoso terrorista? - perguntou, exibindo uma fotografia de Francisco Marques.
- Sim, conheci-o recentemente, mas não sabia ser terrorista.
- Então confessa ter estado com um terrorista?
- Sim... quer dizer, não. Sim, estive com esse senhor, mas não, não sabia que é considerado terrorista neste país.
- Ora, não goze comigo. Sou o famoso Carlinhos Daniel, está a perceber? Sou o senhor (in the) Norte, o rei de Paredes! E saiba que antes de ser uma importante patente do nosso querido Portugalistão, fui jornalista - conheço todos os seus truques!

Jornalista? Meu Deus, só posso imaginar o que terá "noticiado" nesses tempos... seguramente, também foi por ele e tantos outros como ele que o General Ventoinhas teve a possibilidade de tomar o poder de assalto.

- Senhor Daniel, eu...
- Coronel!
- Coronel Daniel, eu...
- Senhor Coronel!!

Toca o telefone, perante o espanto de ambos. Como que contrariado, o coronel atende.

- Quem se atreva a interr... ah, senhor general... mil perdões, não imaginava que era o senhor... sim, eu calo-me...
- ...
- ... está aqui comigo, senhor... ah?... sim senhor, imediatamente.

- Parece que é o seu dia de sorte. O General quer conhecê-lo. Vai ser levado de imediato até ele. Está com sorte, mas faça-me o favor de voltar a aparecer lá pelo Porto... adoraria retomar esta nossa conversa...

Gelei. O próprio ditador queria conhecer-me? Mas para quê? Iria fazer de mim o próximo "exemplo"? Aquele suor frio regressou, desta vez na forma de um dique que acabou de se romper.

Segui com um guarda até a um carro e entrei. Após ouvir alguns conselhos do Coronel, o condutor arrancou. Fiquei a matutar na expressão "lá pelo Porto". Já não estávamos no Porto? Onde então? Não demorou muito até que me apercebesse que estava de regresso a Carnidul! Tinha "apagado" de tal forma que nem me apercebi da viagem de regresso.

Menos de quinze minutos depois, chegámos. Ao palácio do governo? Não, a um estádio! Parámos no parque subterrâneo, onde outros dois "guardas" à paisana me aguardavam. Após subir pelo elevador, saímos numa zona ampla, toda ela decorada por diferentes tipos de mármores e, ao fundo, duas grandes portas de madeira. Se era para impressionar, estava a resultar. Senti-me ainda mais pequeno e impotente.

Um dos guardas seguiu na frente e abriu as portas. Entrámos numa pequena sala, decorada num estilo mais tradicional, dominado pelos veludos e madeiras em tons terrosos. Uma sala de espera, sem dúvida. O mesmo guarda bateu na porta seguinte e aguardou pelo assentimento vindo do outro lado antes de a abrir.

- Senhor, está aqui o prisioneiro... muito bem. - voltou-se para trás e apontou-me o caminho.

- Jóni Bigode, quanta honra!
- O...obrigado... é recíproca...
- Então como está essa cabeça? O que passou se? Ouvi dizer que se livrou de boa, grande acidente...
- Bem, obrigado... General?

O ditador Ventoinhas sorriu, abrigado por aquele característico bigode farfalhudo.

- Jóni, é verdadeiramente um prazer conhecê-lo, a sua fama percebe-o!

O General não era conhecido pelo seu domínio da língua, pelo que imaginei que talvez quisesse dizer outra coisa. Em todo o caso, percebi a dica.

- Agradecido, General. Sou um humilde jornalista que procura sempre fazer bem o seu trabalho, nada mais.
- Ora, não seja molesto. Mas gosto que queira fazer bem o seu trabalho - foi por isso que o trouxe até cá aqui. Consta que o andaram a engrominar com ideias falsas sobre o meu trabalho em perol do meu querido país e quero que conheça a verdade.
- Ah... sim, que bom, estou ansioso para a conhecer. A verdade, digo.
- Óptimo! Siga-me.

- Sabe onde vamos?
- Não faço ideia, General.
- Para sua sorte, estamos em pleno Congresso Nacional do Candeeirismo, o principal evento anal da edite de Portugalistão.
- Anual, suponho... com a elite.
- Exacto, foi o que eu disse. Este ano, resolvemos fazê-lo de forma mais modesta, aqui na nossa casa, a casa de todos os cidadãos de bem - o Estádio Nacional Zébio da Silva Tremoço. Sabe, à que passar uma imagem de contenção e sobridade à população. Nada de luxos desnecessários!

Descemos por outro elevador até a um auditório repleto de gente. Ao entrar, apercebi-me dos puxadores dourados das portas que pareciam ser autênticos. E dos milhares de papoilas que forravam as paredes. E do púlpito igualmente dourado. E... de uma cadeira enorme, um trono! Dourado, evidentemente. Tudo muito austero, sem dúvida.

- Deixe-me apresentar-lhe alguns dos homens mais notários da nossa praça...
Começou a debitar nomes, à medida que avançávamos pelas filas do auditório rumo ao palco, sobre intermináveis e artificiais aplauso e gritos de vivas:
- Aqui, alguns dos seus companheiros de profissão mais reputados: Vitor Lerpa e Zé Manel Cagado, d'A Mentirola; Eunuco Ladainha, do Reco... Jójó Camelo, Davi Alfinetes de Peito e Gagá Cristóvão, comentadores independentes... Ui Tantos, da Shit; Otário Alcoviteiro e Tainha Marmanjo, do Lixeiro da Manha... Luís Meteu-os e Galdéria Flopes, do MaisTabaco... Ruipê Trás(te) da BTVI24...

Todos se curvavam à medida que o Ventoinhas passava, estendendo a mão a medo para o cumprimentar, como se de pedintes esfomeados se tratassem. E depois a mim, olhando-me ora de soslaio, ora de forma ameaçadora.

- São uns queridos, todos eles. Mas gandas porfissionais! Agora aqui na primeira fila, algumas figuras do meu governo e da nação: Tony Chamuça, o meu primeiro-ministro de confiança... Dário Cêntimo, ministro do Tesouro... Demónio Metia (ao Bolso), ministro da Electricidade e Cultura... Doutor Cerdo Guerra, ministro da Propaganda... Silvo Tarzan, ministro de... ó Silvo, o que é que tu fazes mesmo? Ó, deixa lá.

- Estes e muitos mais, todos aqui reunidos para aclamar esta grande nação! Agora sente-se aí que eu vou falar à maralha.

Confesso que tive dificuldade em acompanhar o longo e monocórdico discurso. Como se já não bastasse eu dominar mal a língua, o General ainda fazia pior. Enfim, fiquei com a ideia de que mais não disse que Deus é grande e dos candeeiros e aqui o deus sou eu.




No final, duas horas depois, regressámos ao seu sumptuoso gabinete. Ofereceu-me uma bebida e convidou-me a sentar numa zona de sofás.

- Que canseira... mas é assim a vida de um parsidente delicado, sempre a trabalhar pelo seu país! Ficou com uma ideia mais certa do que fazemos aqui?
- Sim General, e agradeço-lhe por isso... mas tenho algumas perguntas que lhe gostaria de fazer... se me permitir, claro.
- Pois sim, faça as parguntas que quiser. Tem cinco minutos.
- Cinco?... Bem, então vamos a isso, sem perder mais tempo.

- No exterior, há quem diga que o General governa o país com mão de ferro, que não tolera oposição, isso é verdade?
- Meu caro, não deveria acarditar em tudo o que ouve. Portugalistão é o país mais democrático do mundo. Não há ninguém que não possa sair à rua e gritar "vivó éssélebê". Não há ninguém que não possa candidatar-se a qualquer cargo público, no estado, no clube ou no partido. Toda a gente pode dar as suas opiniões em favor da causa nacional-candeeirista, toda a gente.
- Mas, General, se me permite... e aqueles que - eventualmente - não se revejam na sua liderança ou nas suas crenças e convicções? É-lhes permitido manifestar-se? Podem concorrer a eleições livres contra si?
- Jóni, não há ninguém de bem que seja contra mim. Eu sou o melhor que o país tem para o liderar, percebe? Todos m'adoram. E quanto ao Bêfica, já se sabe, ganha todos os anos porque é melhor c'os outros. Somos uma referência intarnacional e até nacional! Foi a Nossa Senhora que disse aos três passarinhos de Fátima qu'era assim. E nada pode ir contrá Nossa Senhora, mãe do nosso Senhor!
- Certo... mas já que fala de futebol, como explica que uma equipa tão boa em Portugalistão, a ganhar há décadas de forma consecutiva, nunca consiga bater-se condignamente a nível europeu? Relembro que o FC Porto, por exemplo, quando dominava o futebol aqui no país, também conquistava títulos internacionais...

Fui longe de mais. A expressão calma e sorridente desapareceu num ápice. Em seu lugar, uma cólera ruborizada perfurou-me o olhar.

- Você é mesmo um bisbilhoteiro introvertido. Não quer saber da verdade, apenas liga às mentiras que se espalham por aí. Amanhã regressará a casa, porque aqui já não é bem-vindo. Mas livre-se de me negrenir, tenho agentes em todo o lado...

- Zé da Dezoito! - gritou.
- Sim, General Presidente?
- Leve este senhor ao nosso "hotel" especial, onde ficará até se ir embora. Amanhã, no primeiro voo. Trate-o bem.
- Sim General Presidente.


Desta vez fui conduzido pelo braço. Juraria que o tal Zé me atiraria ao rio, não fosse pela ordem expressa do General. Apesar de tudo, o homem tinha alguma noção do impacto internacional que o meu desaparecimento teria. Graças a Nossa Senhora!

O meu "hotel" era numa prisão. Pelo aspecto, haveria de ser uma ala especial, reservada a presos políticos ou de outra forma importantes, na sede nacional da P.I.R.O.C.A.

Estava já instalado na minha confortável cela (uma suite de luxo, se comparada com a anterior), procurando reavivar todos os detalhes desta inacreditável aventura, quando alguém me chamou.

- Jantar!

Levantei-me e fui até ao postigo aberto, para recolher o tabuleiro.

- Tenha atenção à sobremesa, guarde-a para mais logo.
- O quê?...

Não tive resposta. Pousei o tabuleiro na mesa e comecei a inspeccioná-lo. Sobremesa para mais logo? Vi uma taça com gelatina. Levantei-a e por baixo estava um bilhete: "Johnny, à meia-noite vamos ter consigo, queremos conversar. ass.: Amigos da Democracia."

Lá regressou o arrepio pela espinha acima. Ainda havia mais capítulos nesta louca aventura. Quem seria agora? E como conseguiriam vir ter comigo? Não havia nada a fazer senão esperar. Mas o Tempo, esse bandido, passou a mover-se, trocista, em câmara lenta. Nem consegui desfrutar da minha primeira refeição do dia, com tamanha ansiedade. E a dor de cabeça regressou, como um guerreiro que retorna a casa após uma longa batalha: cheia de vontade de recuperar o tempo perdido. Deitei-me a imaginar.

- Johnny?

Tinha adormecido de novo. Bolas! Já devem ser horas! Levantei-me como mola comprimida que se solta.

- Sim, sou eu. Quem é o senhor?
- Já vai saber. Vamos abrir a porta, prepare-se para me acompanhar. Está pronto? Só temos uma janela de um minuto.
- Ah, sim... estou pronto. Mas com receio. Onde vamos?

Mal a porta se abriu, saí e segui o misterioso amigo da democracia. Poucos segundos depois, estávamos noutra cela, bem maior do que a minha. Em verdade, era mais um apartamento, com várias divisões. Um luxo. Na sala de estar, um grupo aguardava em roda, sentado. Levantaram-se quando me viram chegar.

- Johnny, bem-vindo. Desculpe a pressa, mas só temos um guarda amigo neste turno. Daqui a precisamente uma hora, ele regressará para o levar de volta à sua cela.
- Quem é o senhor?
- Fui Molheira, antigo presidente da Câmara do Porto e convicto Portista. Sou um dos convidados especiais deste "hotel". Os outros são Professor Marmelo, o último presidente da República Portuguesa; Fernando Dois-Gumes, ex-presidente da Federação de futebol e Toninho Olifeira, um grande craque do passado. Ali sentado, está o homem-mito, o melhor de todos nós: o eterno presidente. Eterno no seu legado, porque a sua mortalidade já tem dificuldade em se levantar e em comunicar. Mas está connosco.
- Todos figuras proeminentes do anterior regime, deduzo. E todos silenciados pelo General...
- Correcto, Johnny.
- Mas surpreende-me que... como dizer...
- Estejamos vivos, não é o que quer dizer?
- Sim...
- O trapaceiro-mor é bronco e analfabruto, mas não é estúpido. Na realidade, é muito astuto. Sabe bem que a morte de algum de nós levantaria uma onda de contestação, além de lhe minar por completo a reputação internacional, a pouca positiva que ainda possa ter. Claro que nem todos tiveram a nossa sorte... o Super Gorila, por exemplo, está a fazer um "tratamento à sinusite" nas Berlengas.
- Como estrangeiro, a ideia que tenho é mais de dúvida... de não saber o que se passava cá. Portanto, devo concordar que a reputação do General, vista de fora, é simplesmente nebulosa. Ainda "ninguém" tem a noção exacta do que se passa aqui.
- É precisamente por isso que o trouxemos até aqui, Johnny. Queremos que ouça os nossos testemunhos e os divulgue por todo o mundo. Podemos contar consigo?
- Claro que sim. Se chegar a sair deste país, claro.
- Vai sair, o General não pode arriscar. E nunca vai saber deste nosso encontro.
- Só há um problema, então. Como posso tomar notas e sair daqui com elas? O meu material deve ter sido apreendido, se não se perdeu no acidente. E agora nada tenho para escrever.
- Aqui está o que precisa, Johnny. E não se preocupe com o resto. Está pronto para começar? O tempo urge.
- Vamos a isso.

Cada uma das ilustres figuras partilhou as suas histórias mais relevantes, aquelas que importava contar ao mundo. Como foram afastados dos seus cargos, o que sofreram e como foram capturados. O Tempo, outra vez trocista, passou a correr. Havia ainda muito para perguntar, mas estava na hora. Despedi-me com a promessa de fazer valer a minha palavra. As anotações daquela hora ficaram com o senhor Molheira.

- Uma última pergunta: o Francisco, ele está bem?
- -Sim Johnny, melhor que qualquer um de nós. Boa viagem!

Regressei à cela e tentei dormir. Em vão. Um turbilhão de pensamentos agitava a minha dorida cabeça. Não imaginava a hora estar no avião quando finalmente levantasse voo daqui para fora. Para casa.

Quando o sol já entrava de mansinho pela janela da cela, senti-me finalmente prestes a adormecer. Nisso, a cela abre-se.

- Entra aí, desgraçado. Logo à tarde já ficas com a cela só para ti. Bufo.

Uma figura garbosa entrou pela porta e piscou-me o olho: - Este gorila acha que me assusta. Tranquilo Johnny, é só mais uma visita ao "hotel".
- Quem és tu? - perguntei com a leve fúria de quem acaba de ser ver privado do sono de beleza pelo qual tanto lutou.
Olá, estamos de mau humor...
- Desculpe, é o cansaço... como sabe o meu nome?
- Toda a gente de bem já aprendeu o seu nome, meu caro. Mas onde estão os meus modos... apresento-me: sou Lápis-Lazúli, modesto blogger Portista, agora da Resistência Nortenha, ao seu dispor. Cumprimentamo-nos com um vigoroso aperto de mão.
- É um prazer, Lápis.
- Ouça com atenção: já falta pouco para o virem buscar, mas antes que isso aconteça quero combinar consigo uma coisa...
- Estou a ouvir...
- Hoje em dia, já não consigo publicar nada aqui em Portugal...istão. Tudo é monitorizado e censurado. Mas continuo a ter muitas histórias para contar... Se eu arranjar maneira de lhe enviar essas histórias para o seu email, publica-as?
- Sim, claro que sim! Tudo o que ajude a expor este regime é do meu interesse. Vindo de dentro, melhor ainda!
- Combinado então! Sempre que conseguir, envio-lhe histórias por email, as... Crónicas de Portugalistão. Leia, copie e depois... não apague tudo. Publique!

A porta da cela voltou a abrir-se e o guarda apontou para mim. Estava na hora. Um abraço ao Lápis e parti rumo ao aeroporto. Era tempo de regressar a casa.


Quando finalmente o avião descolou e deixou Carnidul para trás, senti o maior alívio da minha vida. Ia mesmo voltar a casa. Ufa...

Pouco tempo após a descolagem, uma bela e simpática hospedeira aproximou-se:
- Senhor B. Gode, o comandante pediu a sua presença no cockpit, pode acompanhar-me por favor?
- Ah? Eu? A mim? O q...?

Um piscar de olhos interrompeu as minhas dúvidas. Levantei-me e segui-a. Já na zona executiva do voo, onde apenas ressonava uma senhora de idade já avançava, a hospedeira voltou-se e explicou, bem baixinho:
- Senhor B. Gode, sou filha de um famoso Tasqueiro da Resistência, de que eu própria também faço parte. Tenho aqui uma mochila que o senhor se esqueceu de trazer... por favor verifique se não lhe falta nada e sente-se num destes lugares. E tenha uma excelente viagem.

Abri a mochila e lá estava todo o meu material, o antigo e o recente. Tudo o que precisava para contar ao mundo a verdadeira história de Portugalistão.

Sentei-me no meu novo lugar, que naquele momento me pareceu mais confortável do que qualquer outra coisa que jamais havia experimentado. E finalmente adormeci.



(Fim)



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



quinta-feira, 22 de junho de 2017

BenficaGate: os SMS do Presidente e a Fruta Divina


Mais um Universo Porto da Bancada, mais se ficou a saber sobre este polvo candeeiro, corrupto e traficante, sem ponta de pejo ou vergonha na cara.



Com pouca vocação para pastorinho mas muito a propósito da linguagem inaugurada pelo sinistro Adão, Francisco Marques fez ontem três revelações de fazer corar o vigarista mais empedernido.


Primeira revelação

Um tal de Carlos de Deus (parece de propósito...) Pereira, outra figurinha gordurosa e rastejante da corte candeeira à la Figueiredo (Mário ou António, podem escolher) que na altura era somente o presidente da AG da Liga, enviou a 16 de Fevereiro de 2014 um email a Pedro Guerra com ficheiros em anexo que continham a transcrição de centenas de SMS de Fernando Gomes, actual presidente da FPF! Além da óbvia ilegalidade por via da violação de correspondência, é uma demonstração clara da imparcialidade do energúmeno e da vontade de ser, também ele, um "menino querido" do regime.

Acresce ainda que FJM disse haver muitos emails onde o bom do Carlos sossega o Guerra, garantindo que quando decisões fossem tomadas na Liga, ele seria avisado antes dos clubes. A put@ da falta de vergonha parece não ter limite.

Sem coincidência, este foi o mesmo mamífero que rejeitou duas candidaturas à presidência da Liga, deixando o seu Mário Figueiredo como concorrente único às eleições. Vale a pena clicar no link e ler as desventuras, bem como artigos associados.

Quem já o tinha topado em 2014: Tribunal do Dragão.


Segunda revelação

A 2 de Fevereiro de 2017, o Benfica emitiu comunicado a apelar à contenção dos seus adeptos. Esse comunicado foi partilhado entre várias figuras do clube, deduzo que antes de ser emitido, para que pudessem comentar e dar a sua opinião. Foi partilhado por Luis Bernardo, o responsável pelo pelouro e comentado por... Paulo Gonçalves, o tal "portista fanático", da seguinte forma:

"(...) reforçaria somente o seguinte parágrafo "a segurança é também um bem de todos e os recentes e graves acontecimentos noutros estádios - seguramente com consequências disciplinares verdadeiramente punitivas e preventivas - levam-nos a reforçar este apelo". Assim, metemos pressão do CD para sancionar o FC Porto e o SC Braga como deve ser. Como ainda vamos ter que ir a Braga, era bom que houvesse coragem para interditarem a pedreira.".

Não é preciso ser um génio para deduzir que Paulo Gonçalves exerceu ou tentou exercer pressão sobre o órgão disciplinar em questão, o que à luz do Artigo 61º ("Exercício e abuso de influência") do Regulamento Disciplinar da FPF é proibido e sancionado com multa e exclusão da competição entre uma a três épocas. Muito interessante é também o seu ponto 2, cuja leitura recomendo vivamente.


Terceira revelação

"€200 o tempo que quiseres; se for a 3, €400", ilustrado por fotografias de amantes, amadoras e profissionais. De quem, para quem e sobre quem? Do menino querido Nuno Cabral para o imenso Guerra, informações íntimas sobre árbitros! Segundo FJM, são vários os emails trocados entre ambos, com informações do género.

É óbvio qual o intuito de saber e partilhar com os amigos estes segredos sujos dos árbitros: condicioná-los e, se necessário, chantageá-los. Isto sim é um caso de polícia, transcendendo claramente a esfera desportiva (mas onde também pertence). Que um dos visados tenha a decência de dar o seu testemunho.


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São demasiados, demasiados indícios do que realmente se tem passado desde pelo menos 2013 (eu apostaria que bem antes disso) e que não podem continuar a ser ignorados pelas instâncias desportivas.

É sua obrigação agirem, começando por dizer alguma coisa sobre os assuntos, reconhecendo a sua existência e a sua imensa importância. Ou será que alguém ainda acha que a próxima época pode começar com tudo na mesma?

De seguida, devem investigar com rigor e isenção e apurar da verdade dos factos denunciados. 

O FJM disse ter em sua posse os anexos com as SMS do presidente da Federação, o que mais será preciso para que o douto senhor DEIXE DE SE FAZER DE MORTO ?

A PJ deve procurar recuperar os emails "mal" apagados de Pedro Guerra (@slbenfica.pt, não esquecer este detalhe) e interrogar todos os envolvidos. De certeza que não faltará quem ponha a mão na consciência e confesse por fim aquilo que sabe.

Os órgãos disciplinares da FPF e da Liga têm de liderar toda e qualquer investigação a nível desportivo, não se furtando de nenhuma das suas obrigações. Se os actuais dirigentes desses órgãos estiverem comprometidos de alguma maneira, devem ser destituídos de imediato e dar lugar a gente séria, competente e isenta, que chegue com a predisposição - caramba, com a missão! - de investigar e apurar a veracidade de todos os factos já denunciados, de solicitar outros ainda por revelar ao Porto Canal e de retirar as consequências apropriadas dessas averiguações! 

Sim, o Benfica deve ser excluído das competições por tempo a determinar. 

Sim, seria moralmente justo que o Benfica descesse aos escalões não-profissionais e lhe vissem retirados todos os títulos conquistados no período onde decorreram todos os factos apurados.

Já chega de meias-palavras, há deturpação evidente das competições desportivas em favor do Benfica, realizada por pessoas "do" ou "associadas a". O Benfica deve ser responsabilizado na extensão total dos regulamentos desportivos e da Lei portuguesa.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco 



segunda-feira, 19 de junho de 2017

O Fogo e as Cinzas



Sábado foi um daqueles dias por que um homem casado e abençoado com descendência vive e antecipa em silenciosa ansiedade - porque são a excepção, evidentemente. Futebolada com a malta de sempre ao final da tarde, para fazer de conta que ainda somos solteiros e maus rapazes (reforço o "rapazes" no meio de tudo o mais), seguida de um jantar com os mesmos companheiros.

Já de regresso ao balneário após a contenda, chega a notícia inesperada: somos campeões em Hóquei, contra todas as inclinadas probabilidades de que foi feita a recta final da temporada. Um sorriso, daqueles que ficam gravados na aura, muito para lá do momento.

Passagem breve por casa para afinar a indumentária e reunião com a malta para jantar. Para ser mais preciso, com a parte que sobrou entre lesionados, atarefados ou simplesmente rendidos a hora e meia de uma já despropositadamente intensa actividade física. Despropositada? Qual quê? É até que as pernas deixem de obedecer!

Fruto desse despropósito, muitíssimo acentuado pela inusitada temperatura que se fez sentir, o pós-jantar foi mais curto do que o habitual. Deu-se na esplanada do bom tasco onde repusemos as calorias perdidas no jogo. Em triplo, para não arriscar fraquezas no dia seguinte. Boa comida, boa bebida, boa conversa. Tudo entrelaçado e ao ritmo de cada um. A fresca aragem ribeirinha corria suave, justa dádiva após tão grande provação, como que nos preparando, com gentileza, para o merecido descanso que se seguiria em breve. Chegado a casa, vale de lençóis foi o destino quase imediato. Antes, um rápido zapping pelos canais de bola e notícias. Olha, já começam os incêndios. É sempre a mesma merd@. Amanhã logo vejo quantos hectares foram, por hoje está feito. Boa noite.



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Nem por sombras.





Hoje, terça-feira, que sei - como sabemos todos - da dimensão da tragédia que se abateu sobre Pedrógão Grande e arredores, não consigo deixar de remoer em várias coisas, uma atrás da outra, sem ordem nem duração especificas.


Os filmes mudos que se formam e reformam na minha mente, ao ver e rever as fotografias e filmagens daquela estrada negra devorada pelas chamas. Os carros, senhores, os carros. O horror indescritível que o seu posicionamento indicia, somado às cruas explicações de quem sabe, com alguma certeza, o que se terá passado. Empalideço.


O bombeiro. Os bombeiros. Esforçando-me para ser propositadamente cruel e invejoso, sou capaz de pensar que "à primeira", muitos vão para se relacionarem, para evitar o tédio, para beber uns canecos, pela adrenalina pura e todos os demais motivos sem nobreza que possam conceber. Mas à segunda, à terceira, à centésima, ano após ano? Não. Só pode tratar-se de uma estirpe especial de seres humanos, muitas vezes também designados por heróis, grandes ou pequenos, mas heróis, todos eles. A minha admiração e gratidão a todos eles, amplificadas pela minha incompreensão da sua matriz. E o meu grave pesar pelos que morreram neste cenário dantesco. Arrepio-me.


Aquele testemunho do homem que perdeu mulher e filhas adolescentes, porque seguiam noutro carro, enquanto ele procurava salvar (e conseguiu) outros familiares. Seguiam em fila, mas perderam-se no fumo e no fogo. Está em choque profundo, possivelmente ainda em negação, só assim se explica a aparente compostura com que relata os acontecimentos. Para ele, a tragédia não aconteceu no sábado enquanto eu me divertia, ria e jantava com amigos. Para ele, a tragédia será um círculo interminável de perguntas sem respostas, de "ses" e "mas", de arrependimento e consolo e de eterno desespero. O verdadeiro inferno, imagino. Dilacero-me.


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O que teria aquela família feito no dia anterior? Terão jantado juntos, em família? Ou com amigos? Ou separados, cada um feliz com a sua escolha? Ou simplesmente passaram por mais um dia, perdido no meio de tantos outros? E o bombeiro que não se importou de não se salvar porque havia outros para salvar? E todos os outros, cada um dos que morreram?

Estavam vivos e a viver. Descontraídos e tensos como todos nós, agarrados à tantas vezes falsa esperança de uma vida longa, ainda com muito tempo para fazer muita coisa. E nesses mesmos momentos de normalidade, vinte e quatro horas antes do seu fim, quantos outros seres humanos perderam a vida de forma macabra ou corriqueira mas sempre inesperada? É a crueldade da Vida, feita impiedosamente de inícios e finais. Inícios previstos ou previsíveis, finais sem pré-aviso. Pó.

Não me atrevo a concluir nada, para não banalizar o que não pode ser banalizado. Foram sessenta e quatro vidas que acabaram de forma inesperada neste incidente. No entanto, não sou capaz de conter a pergunta: não há responsáveis?



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



quarta-feira, 14 de junho de 2017

BenficaGate: Crime, Disse Eu


Por ser auto-explicativo o "material" que se segue - todo ele apresentado ontem no Universo Porto - da Bancada, nem vou fazer introdução. Volto no final, para a conclusão.




Atenção: conteúdo explícito, susceptível de provocar nojo e vómitos. Se acabou de ingerir alimentos, recomendo aguardar e voltar daqui a duas horas.



I - E-mails trocados entre Adão Mendes e Paulo Gonçalves, um dos homens-fortes do Ventoínhas e assessor jurídico da SAD do SLB




23 de Setembro de 2014 

AM para PG:

"Anexo três documentos que explicam o que preciso de si. Peço que ponha toda a carne no assador, como eu a ponho todos os dias por nós"

"(...) Sei que consigo vamos ganhar" [o recurso de uma avaliação do filho Renato]

Respostas de Paulo Gonçalves a Adão Mendes:

"Caro Adão Mendes, amanhã tentarei pessoalmente explicar a razão que assiste ao árbitro. (...) Se depender de mim..."

"Este é o documento que foi entregue em mão hoje de manhã"


29 de Setembro de 2014

AM para PG:

"(...) O Vítor Pereira pode ser solução antes do recurso?

"Eu a doutora [sugerida por Paulo Gonçalves para patrocinar o recurso para o CJ] somos amigos. A questão é ser o glorioso a apadrinhar a questão e não alguns anti-cristos"

"Temos de ganhar isto e se o doutor puser a carne toda, sei que ganhamos. O chefe [Ventoínhas?] está comigo para tudo.

PG para AM:

"(...) Vou pensar melhor e fazer uns contactos e amanhã falamos."


30 de Setembro de 2014

AM para PG: "O Vítor Pereira já respondeu ao recurso do Renato e alegou que vai levar o caso ao plenário. Era a altura de o...

PG para AM: "Vamos então..."


9 de Outubro de 2014

AM para PG:

"O nosso amigo Manuel Mota recorreu de nota negativa no jogo (...). Temos de lhe dar nota positiva. Ele e eu apelamos ao doutor"

"Sobre o Renato [Mendes, filho de Adão Mendes], o Vítor Pereira nada disse até hoje."

"Não podemos dormir, vem aí o esfolar do cabrito

PG para AM: "Caro amigo, obrigado pela informação. Abraço forte." 


6 de Junho de 2016

AM para PG: "Junto envio lista dos melhores candidatos assistentes. Força nisso e cuidado. Teste escrito (...) [elencada lista de cinco árbitros, com o filho Renato em segundo] Por esta ordem, estes são os melhores e nada pode falhar



II - E-mails trocados entre Nuno Cabral (ex-árbitro de qualidade duvidosa, delegado da Liga à data dos factos e acutalmente funcionário da FPF), o omnipresente Paulo Gonçalves e o próprio Ventoinhas.



31 de Março de 2014

NC para LFV e PG"[Assunto: arbitragem] Caríssimo presidente e doutor Paulo, para vosso conhecimento e análise. Forte abraço" [envio de anexos desconhecidos]

PG para NC: "Bom trabalho, excelente.

NC para PG: "Obrigado amigo doutor. Apenas quero ser um menino querido para vocês e fazer bem o meu trabalho e que o homem confie em mim tal como o doutor. Abraço"


23 de Junho de 2014

NC para PG: "Destes 15, vão 12 a estágio para o próximo ano. [referindo-se a árbitros de segunda categoria, eventualmente passíveis de serem promovidos após o estágio; este email é um reencaminhamento de outro, do árbitro João Pinheiro que na altura ainda não era de primeira categoria e ia para estágio, e que por sua vez tinha recebido o e-mail original de um funcionário da FPF, Mauro Quaresma]



III - E-mails trocados entre Nuno Cabral, Paulo Gonçalves, o então presidente da Liga Mário Figueiredo e o amigo Ventoinhas



29 de Janeiro de 2014

NC para PG: "Amigo doutor, 3 dos delegados dos jogos da polémica da Taça da Liga estão nomeados. Sou o único delegado até ao momento que não fiz Primeira Liga.

PG para MF, reencaminhando o original de NC: "Mário, a ser verdade. será que o homem é feio ou incompetente? É o único delegado que ainda não fez nenhum jogo da Primeira Liga e já foi nomeado 11 vezes para Chaves. Qualquer dia vai ser treinador do Chaves he he he"

MF para PG: "Paulo, só tu para me fazeres sorrir um bocado. Ele está pronto? Vem fazer um jogo aqui ao Porto? Só tens que dizer. Um abraço "


2 de Abril de 2014

MF para LFV: "Caro Luís, segue em anexo as declarações de António Salvador (...). Por favor tem calma que sempre tenho estado e estive do teu lado. Um abraço"

LFV para MF: "Inda querem-me faser atrazado mentol"


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Alguém de boa fé pode duvidar por um segundo que isto é uma amostra (pequeníssima, imagino) do que é o polvo de que tanto se fala?

Alguém, com pelo menos um QI de sobrevivência, pode duvidar que isto são indícios concretos e irrefutáveis de que o Benfica tem a seu soldo uma horda de lacaios, disseminados por todo o futebol português e para lá dele, com a missão de o beneficiar ilicitamente?

Alguém ainda se admira que os apelide como o clube dos sem-vergonha?

Não sei se alguma vez haverá alguma investigação séria sobre tudo isto. E havendo, não sei se alguma vez se encontrarão provas admissíveis em tribunal que levem a uma mais do que merecida condenação. 

Nem se alguma vez, alguém nos órgãos disciplinares do futebol, levará a cabo igual demanda. E levando, se encontrará provas que permitam aferir da culpa do Benfica e dos personagens envolvidos. 

Mas o que eu sei, sem qualquer sombra de dúvida, após ter conhecimento destes e-mails, é que o Benfica montou uma máquina de corrupção e tráfico de influências que, desde há vários anos, controla e manipula a arbitragem e os órgãos que gerem o futebol profissional, e assim desvirtua, ilicitamente e em seu favor, as competições futebolísticas em que está envolvido.

São vigaristas, são corruptos, corruptores e corrompidos. São traficantes de influências (e algo mais, como bem sabemos). São batoteiros, além de caloteiros. São uma fraude e deveriam ser julgados e condenados à luz da Lei. Presos. 

O que seria justo e decente, era haver um CalcioCaos em Portugal. Não se lembram? Foi isto. Entre outros condenados, a Juventus desceu de divisão e perdeu os títulos de campeão de 04/05 e 05/06 "apenas" por ter influenciado indevidamente a nomeação de árbitros em 2004/05. E o seu director-geral de então ficou impedido de exercer funções desportivas durante cinco anos.

Pausa para reflexão.

Lamento profunda e sinceramente por todos os benfiquistas que, por serem honestos e pessoas de bem, começam agora a despertar para esta realidade suja e mentirosa. E agora, vão continuar a exibir o "rumo ao..."? Ao quê? Ao espelho? Ao desespero? 

Já não dá para assobiar para o lado: quem continuar a glorificar as "conquistas" deste Benfica, terá de reconhecer ser tão vigarista como os seus dirigentes.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




sábado, 10 de junho de 2017

Sérgio, o Caça-Fantasmas


Sérgio Conceição concretizou o sonho de chegar a treinador do seu FC Porto. E agora?




Primeiro, vamos ao antes.

Quem me lê com regularidade sabe que não coloquei Sérgio Conceição no topo das minhas preferências de adepto. Para ser preciso, nem a meio da tabela. Foi assim mais para baixo.

Muito ao de leve, porque honestamente não contava que fosse o eleito final, expliquei a nota 2 (de 1 a 5): "acho-o e gosto que seja aguerrido, mas preocupa-me a sua instabilidade emocional". Não escrevi na altura por desconhecimento, mas mais adiante também me preocupou uma tirada sua a propósito da sua filosofia de jogo, no caso, em comparação com a de Leonardo Jardim. Recorrendo ao Tribunal do Dragão, que posteriormente fez um post apenas com essa mesma declaração, eis o excerto que me interessa salientar:

"É por isso que adoro o Mónaco, a equipa mais completa, a melhor do campeonato. Mas tenho diferenças em relação a Jardim. Ele acha que é melhor ganhar 4-3, eu penso que é melhor ganhar 1-0 (...) A única coisa que garante pontos é não sofrer golos".

Ainda poli-traumatizado pelos acidentes ao volante (por sonolência) causados por Lopetegui e NES, fiquei com calafrios só de imaginar que o terceiro estampanço possa estar a caminho.

Não sofrer golos só garante o empate, caro Sérgio - e desses estamos nós fartos! Para ganhar, é sempre imprescindível fazer um golo, pelo menos mais um do que o adversário.

Quando o dia da apresentação já se tinha feito noite, assisti a um bom programa do Porto Canal onde se procurou explicar como jogava o "seu" Nantes. Para mim foi de facto didáctico, porque não fazia ideia. E sim, fiquei um pouco mais tranquilo quanto a este aspecto, sobretudo considerando as diferenças entre Porto e Nantes em termos de objectivos.

Na minha cabeça, a dúvida manteve-se sobre aqueles momentos em que os jogos estão "amarrados", em especial contra adversários mais fortes: irá Sérgio fazer jus aos seus pergaminhos enquanto jogador e arriscar para ganhar ou apostará na coesão defensiva acima de outra coisa qualquer? Logo veremos.

Fica dito e enterrado, apenas para memória futura. 

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Porque a realidade é que Sérgio é o treinador do Porto e, a partir de agora, só contará o que fizer daqui em diante. Desejo-lhe toda, mas toda a sorte do mundo, para que daqui a um ano seja D. Sérgio I, o Reconquistador e não Sérgio, o Quinto ________ (completar conforme preferência individual).

Não sei se é o desespero do Portista amargurado que vive dentro de mim a querer exorcizar os seus fantasmas, mas a verdade é que gostei da sua postura na apresentação e sinto agora uma confiança renovada no que concerne ao treinador. Por comparação, sinto-me bem mais confiante hoje do que aquando da apresentação de qualquer um dos últimos três. E sensivelmente com a mesma que senti em relação a Paulo Fonseca. 

Sim, já sei que correu mal. Por dois motivos, essencialmente. Pela impreparação do mister palminhas e pelo notório desequilíbrio do plantel que teve à disposição. É em relação ao primeiro ponto que me sinto mais confiante. Porque em relação ao segundo, não sei bem o que posso esperar.

Foi importante Sérgio ter dito que queria esquecer o que estava para trás. É importante que ele o faça, focando-se apenas no trabalho que tem pela frente. No entanto, os fantasmas do presidente estão lá, a pairar sobre ele e sobre todos nós. As quatro almas penadas, carregadinhas de insucessos e desilusões, a prometer assombrar a cada oscilação imprevista. 

Creio ser fundamental ir assimilando isto. É mais provável que aconteça do que não. Jogos menos conseguidos, resultados decepcionantes. E se acontecerem, deveremos todos ter presente que Sérgio só chegou agora. Nada do que aconteceu para trás é da sua responsabilidade. Durante os jogos, apoiar, sempre. Entre eles, analisar e discutir o que houver de relevo. 


Estes croissants são óptimos, já vos disse? Felizmente, o NES não exigiu ficar com eles...


Agora o plantel e a falta de fair-play.

Não faço ideia de como vai ser, quem vai sair e quem vai entrar. Dizem-me que André Silva pode ser o primeiro a zarpar. Preferia que não e até expliquei como o conseguir, mas infelizmente a SAD não lê blogues que não sejam baluartes, muito menos os sem rosto.

Nesta fase, só nos resta aguardar com impaciência o desenrolar dos acontecimentos. No entanto, importa gritar bem alto desde já que não será admissível que dêem um plantel desequilibrado ao novo treinador e depois o deixem arder em lume viçoso, se os resultados ficarem aquém.

Não! Estou farto de me encharcar com a água que os senhores administradores metem e depois sacodem dos seus faustosos capotes. São responsáveis pela contratação do treinador e pelos jogadores que lhe colocarem à disposição. Guilty as charged, all of them

E assim chegamos ao tema "interno" do momento. As penalizações da UEFA por força do incumprimento das regras de equilíbrio financeiro, segundo a SAD, não só antecipadas como "já estrategicamente decididas" pela própria.

Não me vou alongar ainda sobre a substância do "acordo", mas não posso deixar de relevar a disparidade que existe entre o que O Jogo noticia e o lacónico comunicado da SAD. Sejam bons ou maus, espero sempre que os factos relevantes para a vida do Clube sejam divulgados, em primeira instância, pelo próprio clube. 

Sendo verdadeiro o que o jornal relata (e até agora, não me apercebi de nenhum desmentido), é para mim incompreensível que a SAD não refira a(s) multa(s) e as limitações nas inscrições nas provas uefeiras. Aliás, no comunicado até se pode ler "O FC Porto enaltece a atitude pedagógica e não punitiva do órgão regulador do Fair Play Financeiro da UEFA". Em que ficámos? Há ou não há punições? Cheira-me a que a falta de fair-play já se propagou por contágio...

O fantástico sentido de auto-preservação que caracteriza os da nossa espécie conduz a que muitos se congratulem pelo sucedido, uma vez que nos vai obrigar a recorrer mais à prata da casa e menos às importações em paletes. Pois eu discordo, porque não sou tão optimista. Havendo "vontade", os maus negócios continuarão a existir, não só nas compras, mas também nas vendas. Sim, também nas vendas. Exemplo? Isto. Daqui a uns anos voltaremos a falar dele.

O que parece certo é que o tempo das contratações alavancadas acabou. Já não voltaremos a contratar Danilos e Alex Sandros sem ter garantida a sua venda um ou dois anos depois. E que craques são esses dois. Regressaremos às origens, à descoberta de novos talentos antes dos outros? 

Hoje o mundo está muito mais aberto e instantâneo; uma jogada fenomenal numa liga amadora do Burkina Faso chega num minuto aos quatro cantos do mundo. Tão importante como descobrir talentos antes que o seu preço dispare, é criar as condições para que fiquem no Clube um período suficientemente longo para que se possam desenvolver, valorizar e contribuir para o sucesso da equipa principal. Apresentar-lhes um plano de crescimento, partilhado, e fazê-los sentir o prazer e a ambição de triunfar de azul e branco.

Se o caminho escolhido for esse, talvez o Sérgio possa dar uma ajuda.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



quinta-feira, 8 de junho de 2017

Agora Apague Tudo



Somos uns bazófias, somos uns pavões amestrados, somos uns vigaristas inchados, somos Benfica. AGORA APAGUE TUDO*.

Em resumo, foi isto que Francisco J. Marques divulgou ontem no Universo Porto - da Bancada. Uma alegada troca de e-mails (escrevo alegada porque, até ao momento, não tive acesso aos documentos que suportam a denúncia) entre uma figurinha sinistra e ranhosa, daquelas que vive na penumbra e se alimenta de restos putrefactos, que dá pelo nome de Adão Mendes (ou será mentes) e o inefável e paquidérmico Pedro Guerra.


 


O nível de estupidez e soberba que se exige para enviar um email deste teor é bem revelador do sentimento de impunidade que grassa no culto de Carnide. A ligeireza e o desplante com que a figurinha associa a arbitragem à Igreja é sintomático da sua menoridade intelectual.

Mas o que mais releva disto é uma certa tendência para a desagregação do culto. Porventura, terão conseguido um nível tal de "compromisso lampiânico" por parte de todos os sectores da sociedade, que se terão desleixado na sua soberba, tão característica daquela seita.

Admitir, por escrito, que o "primeiro-ministro" LFVieira (deveria ser o Papa, para manter a coerência, mas isso seria pedir demasiado, certo?) "conquistou com muito trabalho" o "espaço" que garante que "hoje, o Benfica manda mesmo" e "hoje, quem nos prejudicar, sabe que é punido" é de alguém claramente estúpido ou que se julga acima da lei. Ou ambas.

Não menos relevante é a data do suposto email, que nos remete para o primeiro ano deste tetra da treta. Ele há cada coincidência...

O omnipresente Baluarte Dragão não tardou a cascar na maralha, inaugurando a muy feliz designação BENFICAGATE (pessoalmente, gosto mais de ler benfi_cagate), destacando-se uma "análise" sua que compara os jogos apitados pelos 8 acólitos e os apitados pelos outros, supostamente mais ou menos agnósticos. 




"Vamos ter os padres que escolhemos e ordenamos nas missas que celebramos". E quem são esses oito magníficos? Ei-los!


+FCPorto

Acresce ainda que, num outro email, o Adão dos Infernos confessa que foi ele que captou Manuel Mota para a arbitragem profissional. E o preparou, evidentemente. Seguindo as instruções do "primeiro-ministro".

Para complementar a pintura, seria também interessante analisar o que os recém-ordenados andaram a fazer, os famosos "padres"-proveta. Fico a aguardar, baluartes.

Se o que o insuspeito (pela devoção) Expresso noticiou é mesmo verdade, pode ser que alguma coisa resulte disto. Uma pequena investigação que não saia da quadratura do círculo e possa descansar no arquivo morto com a maior brevidade. Só para dizer que existiu e tal. Ou, por improvável milagre, ser realmente investigado e levado até às últimas consequências, que é como quem diz, até à cabeçorra do polvo, o tal de bigode farfalhudo.

Será que em vez de um rato enfezado, a montanha vai parir filetes de polvo? Ver para crer.


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Enquanto nada se resolve, eis que a caldeirada se vai cozinhando em lume brando. Hoje, de fininho, a FPF divulgou a classificação dos árbitros relativa a 2016/17. Quem quiser descarregar o documento, pode fazê-lo clicando aqui.

Jorge Sousa foi primeiro (cumpriu sempre nos jogos decisivos sem penalizar a seita), Soares Dias segundo (ai, aquele derby em Alvalade...) e, pasmem-se, o papa-campeonatos Carlos Xistra completou o pódio.

Continuando, o quarto classificado foi o sempre fiel Bruno Paixão, logo seguido pelo Ferrari vermelho. Só depois aparece Hugo Miguel, o artista de Braga, maravilhosamente auxiliado pelo 4º árbitro que não fala francês Tiago Antunes.

Outras classificações de relevo: a salvação do péssimo Rui Costa (big brother was watching for you), bem como do abençoado Manuel Mota e, para fechar coberto de doce ridículo: o homem dos roubos de Capela ficou isento de classificação, assegurando assim mais uma época ao serviço do "primeiro-ministro". Quão absurdo se pode ser neste país?

Ah, coitado do Antunes, acabou mesmo por descer, tal como o filho do dono da tasca de Fafe. Mas não tenham pena deles, muito em breve hão-de estar a video-inclinar disfarçados de gente séria e competente, vai uma aposta?



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



*Sim Júlia, foi de ti que roubei o título. Sorry.




terça-feira, 6 de junho de 2017

Dalot - Heaven Can Wait


Enquanto não se avista fumo branco vindo da SAD que oficialize o novo treinador Sérgio Conceição, José Diogo Dalot Teixeira é o homem do momento. 


@DragaoRuben

 
Certamente não por acaso, O Jogo de hoje faz uma chamada de capa com o jogador sub-19, afirmando que "ou renova ou sai". Lendo a notícia, não se encontra muito mais sumo. Boas exibições, apetite dos tubarões, fair-play financeiro (FFP), renova ou sai.

Eu, que percebo pouco de jornalismo, diria que esta "notícia" vem de encomenda. Para nos preparar para uma eventual venda de Dalot nas próximas semanas. 

Pois deixem-me ser muito claro: vender agora Diogo Dalot seria mais do que um acto de péssima gestão, seria um "crime" lesa-Clube. Do género do que o vigarista dos pneus, líder actual dos sem-vergonha, cometeu com Bernardo Silva.

Terá, sem dúvida, legítimos sonhos e ambição de representar um dos 3/4 maiores clubes do mundo (para mim, são apenas dois e nossos vizinhos), natural em qualquer jovem que pressente ter qualidades para chegar ao topo.

No entanto, muitas (imensas) vezes demonstrou o seu Amor pelo FC Porto - aquele Amor que nos une a todos enquanto Portistas - e a vontade, o sonho de jogar na equipa principal. Está à porta de o conseguir.




Diogo Dalot tem ainda dois anos de contrato com o Clube, o que significa que daqui a 18 meses poderá assinar por um outro sem que haja lugar a indemnização. É uma situação que, naturalmente, deve merecer a atenção da SAD, procurando desde já acordar uma extensão até 2022 (pelo menos) com a óbvia melhoria das condições. Mas não é uma situação premente, há tempo para negociar. 

Vender agora Dalot seria o reconhecimento implícito da incapacidade de chegar de outra forma ao FFP. Ou de ficar menos distante, não sei. E, repito, um acto de gestão danosa.

Dalot é nosso, Dalot é dos nossos e deve continuar a ser. Até que o seu destino se cumpra, com naturalidade. O céu do futebol pode esperar, por agora é tempo de Dalot cumprir o seu sonho de menino.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco



sexta-feira, 2 de junho de 2017

Onde Está a Bola? - Encerramento 2016/17


Já se findou mais uma temporada, outra do nosso descontentamento, mas que ainda assim permitiu a que muitos milhares de Portistas passassem muitas horas de amor e devoção na casa de todos nós, o Estádio do Dragão.

Na sua modestíssima quota-parte, o DPcA contribuiu para que, a cada jogo, mais dois Portistas pudessem estar em casa, a vibrar e a apoiar o Melhor Clube do Mundo - porque é o nosso, claro.

Se bem se recordam, no post anterior do OEaB? foram distinguidos dois ilustres participantes:

- A Catarina Machado, por ter sido a concorrente com o maior número de participações;

- O António Teixeira, por ter sido o segundo classificado neste ranking.

Uma vez que a Catarina já havia ganho uma edição do passatempo em 2016/17, achei por bem passar os bilhetes para o último jogo no Dragão (vs. Paços de Ferreira) para o António. No entanto, não quis deixar a Catarina sem uma recompensa adequada pela sua dedicação e perseverança. O resultado? Este!



A belíssima Catarina, envergando a não menos bela pele do Dragão oferecida pelo DPcA, à porta do nosso santuário!

Literalmente, uma despedida em beleza da época :-)

Mas não me despeço sem antes vos apresentar o António Teixeira e a sua pequena e simpática convidada, que imagino ser sua filha.




O meu agradecimento à Catarina e ao António, extensível a todos os que concorreram e cumpriram com a palavra dada de me enviar as fotos. Para o ano haverá mais, com uma ou outra novidade à mistura...

Até lá, boas férias de Porto!



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco