Passava já das 23h e na Avenida do Mar, em contraste com a pacatez de um domingo à noite, ainda se continuavam a ouvir, aqui e ali, agora e depois, gritos anónimos (não denunciados!) de "Pooorto" ou "Eu quero o Porto campeãaaooo", como balões de São João a pintar a noite escura. O Funchal tem de facto muito mais encanto salpicado de azul e branco.
E tudo porque, horas antes, no Estádio do Marítimo, conquistamos uma mui decisiva vitória mesmo ao cair do pano, num campo "amaldiçoado" onde já não ganhávamos há muitas épocas. Após a brilhante vitória do Tondela no dia anterior, o campeonato ficara ainda mais à nossa mercê - desde que conseguíssemos derrotar o Marítimo.
E assim foi. Somos quase-campeões, o que, como bem se sabe, é o mesmo que não ganhar nada. Zero. Ficamos foi muito perto de ganhar.
Um jogo onde o até Porto entrou bem, logo a ameaçar marcar nos primeiros segundos e depois por um par de vezes nos vinte minutos que se seguiram. O que correu mal foi o que veio a seguir: não tendo conseguido marcar, a equipa enervou-se, tremeu e perdeu o discernimento para continuar a pressionar com qualidade para chegar ao golo.
Quase em cima do intervalo deu-se a expulsão do GR visitado, após derrube a Soares que se isolava, lance que obviamente marcou o jogo em definitivo. Não conseguimos aproveitar nem o livre, nem os minutos que ainda faltavam até ao descanso, mas a expectativa era a de fazer uma segunda parte muito mais conseguida e dominadora, consubstanciada em golos.
Na realidade, tal não aconteceu. A parte mais importante, pelo menos. Ficamos com o domínio do jogo, é verdade, mas da forma desejada pelo Marítimo, que nos ia conseguindo controlar nas zonas de perigo e quase abdicando de pôr o pé na nossa metade do campo. Toda a avalanche de lances ofensivos que se foram sucedendo era de pólvora seca, fosse pela incapacidade de desposicionar a defesa adversária, pelo desacerto do último passe ou pela ineficácia nas escassas oportunidades de finalização.
À medida que o relógio avançava, a frustração e o "desespero" começavam a pairar sobre os nossos - dentro e fora do campo - apesar do apoio ininterrupto vindo das bancadas. O treinador foi ao banco mas não conseguiu alterar grande coisa, mantendo-se a incapacidade para chegar à baliza em condições de finalizar com sucesso.
Já próximo do final dos 90 regulamentares, foram os dois "mais suspeitos" do costume a resolver: Telles marcou o pontapé de canto e Marega cabeceou para o fundo da baliza. Com ou sem brilhantismo, estava feito. Golo. Vitória. Campeonato à vista.
Notas DPcA
Dia de jogo: 29/04/2018, 18h00, Estádio dos Barreiros, CS Marítimo - FC Porto (0-1)
Iker (7): Sem muito para fazer, foi uma vez mais decisivo ao negar o golo no lance de maior perigo (e único) do Marítimo, ainda na primeira parte. #renovaCasillas
Ricardo (6): Jogo menos conseguido, apesar da luta permanente. Pareceu estar com dificuldades em controlar a pressão do jogo.
Alex Telles (7): Muita desinspiração, aparentemente por culpa do nervosismo, não lhe permitiu ser aquele lateral do costume, mas ainda assim foi decisivo ao assistir para o único golo do jogo.
Felipe (7): Bem a "gerir" a sua zona de influência e até para lá das suas fronteiras, quase sempre concentrado e certeiro nas suas acções.
Marcano (7): Tal como Felipe, controlou bem a sua zona de acção na maior parte do tempo, quase não permitindo oportunidades para o adversário atirar à nossa baliza.
Herrera (6): É para mim um desespero ver este homem jogar. Corre que se farta, dá o litro e recupera a bola, para logo a seguir a desperdiçar com um passe absurdo. É uma espécie de choque térmico contínuo.
< 71' Sérgio Oliveira (6): Importante no combate físico do meio-campo, acabou por não lhe "sobrar" muito para o momento ofensivo, optando quase sempre pelo passe curto ou lateral, sem risco nem recompensa, sendo que as mais notáveis excepções foram o passe para Soares no lance que acabou com a expulsão de GR contrário e um remate de longe já na segunda parte.
< 59' Otávio (5): O menos inspirado da equipa, talvez por não ter entendido bem como e onde se posicionar em campo, em particular durante toda a primeira metade. Saiu com naturalidade.
Foto de Rogério Ferreira / Kapta+ |
< 88' Brahimi (6): Andou muitos minutos a decidir mal, também ele aparentemente nervoso primeiro e quase-desesperado depois. Foi o último a ser substituído, quase já no final do jogo e com o nulo no marcador, pelo "peso" que os adversários lhe atribuem, mas francamente deveria ter ido descansar mais cedo. Pelo meio, teve alguns bons registos individuais, com o ponto alto num lance brilhante sobre a esquerda onde se libertou dos adversários, entrando na área e assistindo Otávio para um... quase-golo.
Melhor em Campo Marega (7): Não foi a locomotiva do costume, não só porque não está na plenitude das suas capacidades, mas também porque a estratégia do adversário para o controlar foi bem montada. Ainda assim, foi ele quem decidiu o jogo e muito provavelmente o campeonato, que justamente ficará para a história como o Campeonato do Marega.
Soares (5): Trabalhou muito mas com pouco propósito e ainda menos acerto, em particular na finalização, o que quase nos custou a vitória.
> 59' Corona (5): Defraudou as expectativas a quem acreditava que poderia agitar e dar mais intensidade ao nosso ataque, mostrando-se pouco inspirado e até desconcentrado.
> 71' Óliver (6): Acrescentou qualquer coisa em termos de assertividade ofensiva, embora sem fazer realmente a diferença num jogo que continuou a caminhar para um frustrante empate.
> 88' Gonçalo (-): Entrou a tempo de "estorvar" os adversários para que Marega finalizasse.
Sérgio Conceição (6): Ganhámos, excelente, magnífico, estamos mesmo prestes a cortar a meta. Dito isto, ganhámos por muito pouco. E muito pouco foi também o que a equipa jogou, mesmo com a sorte do jogo quase sempre a nosso favor, com destaque para a superioridade numérica de que beneficiamos desde o minuto 41. Todos compreendemos que a equipa está a jogar muito perto do seu limite (às vezes, parece que até para lá dele), que se aguentou "por um fio" graças à vitória na Luz, mas é difícil "desculpar" uma exibição tão pobre num jogo tão importante. Difícil mas não impossível, porque no final os três preciosos pontos regressaram com ela para o Dragão.
Outros Intervenientes:
Este Marítimo do competente Daniel Ramos é uma equipa formada por bons valores, bons de bola, que em sua casa se transformam numa equipa perigosa e muito combativa. Apesar de não ter mostrado muito neste jogo, Joel Tagueu tem uma movimentação muito interessante, dando uns ares de Jackson. Gostei também de ver um para mim desconhecido Jorge Correa, bons pés e durinho.
Foto de Rogério Ferreira / Kapta+ |
À partida, o nome Carlos Xistra causa sempre calafrios a qualquer Portista, tão "dramático" que é o seu histórico recente connosco. No entanto, desta vez surpreendeu pela positiva. Pareceu entrar mais descontraído do que o seu normal (por que será?), levando as coisas "a bem" e deixando jogar, mas fazendo cumprir as regras do jogo.
Acabado de regressar da Madeira, não tive ainda oportunidade de rever o
jogo ou sequer os lances mais polémicos com a devida e necessária
atenção, em especial o da primeira expulsão, que terá sido o mais relevante do jogo. Do que vi, parece-me que a decisão do auxiliar/VAR foi acertada, porque não considero que haja qualquer falta por braço na bola de Soares. O movimento do braço resulta da percepção do avançado do abalroamento iminente e preparação "automática" para a queda que se seguiria. Se entretanto descortinar algo diferente, aqui virei rectificar.
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Não é ainda tempo para balanços, pelo que venha de lá esse ponto final que os Aliados já mal se aguentam de se imaginar banhados pelo imenso Mar Azul. Todos sabemos que o Porto tem muito mais encanto quando pintado de Azul e Branco. Vamos lá acabar com isto.
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco