Curiosamente - ou nem tanto - um dos textos mais lidos de sempre deste blogue tem como título "Eleições no FC Porto". Corriam os idos de Março do ano da graça do Dragão de 2016, faltava cerca de um mês para o acto eleitoral no Clube, mais um vazio de interesse, inócuo, para cumprir estatutos.
Escrevi na altura "Ninguém (portista) quer o caos. Ninguém. Só um irresponsável poderia preferir um clube desgovernado ou ingovernável a uma má liderança. Mas entre as duas coisas há alternativas. Tem que haver.". Na altura não houve, desta vez há - candidatos pelo menos.
Nesse texto fiz um brevíssimo resumo do que havia sido o mandato que então findava, fraquíssimo até à data da escrita mas ainda com possibilidade de melhorar (a época desportiva ainda decorria). Foi a época de Peseiro, que todos bem sabemos como acabou - a zero, após o afundanço no campeonato e a tragicomédia do Jamor contra o Braga. A actualização foi feita em Maio do mesmo ano e desta forma, de onde destaco o seguinte (embora todo o texto mereça uma (re)leitura):
"Em suma, a época 2015/16 foi das piores de sempre de que tenho memória.
Além de não termos vencido nenhuma competição, falhámos o fundamental acesso directo à Champions e deixamos uma péssima imagem daquilo que somos, que sempre fomos e do que queremos continuar a ser, ao ponto de terminarmos ridicularizados por uma tragicomédia no anfiteatro do Jamor.
Somando esta às duas anteriores, é fácil concluir que este foi o pior mandato de Pinto da Costa como presidente do clube. Um desfecho perfeitamente previsível por altura das eleições de Abril. E nem assim houve quem avançasse na defesa do clube. Algo vai muito mal no reino do Dragão - e somos nós, os portistas, os únicos responsáveis por esta inércia."
Além de não termos vencido nenhuma competição, falhámos o fundamental acesso directo à Champions e deixamos uma péssima imagem daquilo que somos, que sempre fomos e do que queremos continuar a ser, ao ponto de terminarmos ridicularizados por uma tragicomédia no anfiteatro do Jamor.
Somando esta às duas anteriores, é fácil concluir que este foi o pior mandato de Pinto da Costa como presidente do clube. Um desfecho perfeitamente previsível por altura das eleições de Abril. E nem assim houve quem avançasse na defesa do clube. Algo vai muito mal no reino do Dragão - e somos nós, os portistas, os únicos responsáveis por esta inércia."
Quatro anos volvidos, o que mudou? Para melhor, quase nada. A começar pelo palmarés do futebol profissional:
2016/17
Liga: 2º
Taça: 4ª eliminatória (Chaves)
Taça Liga: fase grupos (último lugar)
Liga Campeões: 8vos (Juventus)
2017/18
Liga: Campeão
Taça: Meia-final (Sporting)
Taça Liga: Meia-final (Sporting)
Liga Campeões: 8vos (Liverpool)
2018/2019
Supertaça: Vencedor (Aves)
Liga: 2º
Taça: Final (Sporting)
Taça Liga: Final (Sporting)
Liga Campeões: Quartos (Liverpool)
2019/2020
Liga: a decorrer (1º após 24 jornadas)
Taça: na final
Taça Liga: Final (Braga)
Liga Campeões: playoff (Krasnodar)
Liga Europa: 16vos (Leverkusen)
Resumindo, mais um mandato que desportivamente será, na melhor e mais desejada das hipóteses, razoável. Vencendo o campeonato e a taça, somaremos 2 Ligas, uma TP e uma Supertaça em quatro anos, o que é apenas razoável. Não vencendo a TP, sofrível. Não vencendo o campeonato, será sempre mau.
E o combate ao #polvo? Zero (vírgula um). A décima chama-se Francisco J. Marques, que fez tudo o que podia para dar à administração as ferramentas necessárias para que pusessem mãos-à-obra e iniciassem a reparação do futebol português. Ou que lutassem por isso, no mínimo. Não podem, não querem? Não sei ao certo, sei que nada fizeram que se veja e sinta na práctica.
No clientelismo e relações promiscuas, houve melhorias? No mínimo, parece haver mais recato, menos mal.
Já o distanciamento entre Clube e adeptos continuou a aumentar, mesmo considerando as boas iniciativas comerciais e de marketing que foram lançadas, porque do lado de cá se sente cada vez mais que, tirando o momento da renovação dos lugares anuais, os únicos adeptos que contam para a administração da SAD são as claques e os FSEs que esta(s) lhe(s) presta(m). Quem quer ir ver o Porto fora mas não se quer sujeitar ao enjaulamento das claques, mais vale é ficar em casa.
Somando a tudo isto a falência económico-financeira em que o Clube se encontra, conclui-se sem dificuldade que tirando termos conseguido evitar o pe(n)ta dos sem-vergonha, somamos mais quatro épocas a cantarolar alegremente rumo ao abismo.
Só isto, mesmo ignorando o descalabro do mandato anterior, deveria ser motivo suficiente para haver concorrência nestas eleições. Desta vez sim, houve quem corajosamente se dispusesse a ver a sua vida devassada e avançasse com candidaturas, mais concretamente duas à Presidência e uma terceira apenas ao Conselho Superior. Mas concorrência efectiva? Está por demonstrar.
Li o manifesto e ouvi a conversa de José Fernando Rio (lista C) com os Cavanis e reforcei as ideias que já vinha formando: que é uma candidatura útil ao Clube e merece o respeito de todo o universo Portista, não apenas pela coragem de ser a primeiro em décadas, mas também por conseguir articular um conjunto de ideias e princípios que considero coerentes, positivos e necessários, muitos dos quais elenquei já há quatro anos. Falta saber como e com quem as pretende concretizar, é certo, mas no mínimo fomentou a discussão sobre os temas.
Também li o que encontrei e ouvi Nuno Lobo (lista B) no mesmo registo e o que de mais positivo posso dizer é que é alguém genuinamente apaixonado pelo Clube, farto de sofrer com o declínio e a inoperância confrangedora dos incumbentes, um Portista de corpo e alma. E por aí me fico.
Não sendo concorrência, há uma outra lista (D) que se candidata apenas ao Conselho Superior, um órgão "faculto-consultivo" que poderia ser uma oportunidade soberana de reunir e discutir com os vários stakeholders do Clube, mas que na prática tem sido apenas um órgão de fachada e de premiação dos homens do presidente. Só pelo facto de esta lista não pertencer ao status quo já seria interessante, mas mais se torna quando se lê aquilo a que se propõe - mesmo sabendo que nada "podem" (porque nada mandam), poderão pelo menos questionar e dar conta das respostas ou do silêncio que vier de volta.
Quanto ao passeio pelo parque de Pinto da Costa (lista A), destaco o facto de existir um site de candidatura, cuja composição é 95% Passado e 5% variados: a já antes prometida Academia, agora em esteróides, e mais umas coisas que não passam de aborrecidas palavras de circunstância como melhorar, lutar e outras para rimar. NADA de novo, obviamente.
Minto, há Vítor Baía. Um dos mais acarinhados ídolos Portistas, que havia sido chutado para a sarjeta quando se atreveu a sair do guião de figurante que lhe tinha sido atribuído. Voltou agora porquê e para fazer o quê? Entendo obviamente o seu lado e a autenticidade da alegria em voltar a casa, mas tenho muita dificuldade em entender os motivos de Pinto da Costa. Não acredito que lhe passe pela cabeça ter a reeleição em risco, pelo que... porquê, agora, Baía?
Não falta quem adivinhe uma sucessão, quiçá ainda durante o próximo mandato (se se vier a concretizar), ao que eu respondo com um estrondoso e trocista AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH. Não que Baía não possa aspirar legitimamente a sê-lo, mas que Pinto da Costa o queira endossar por ver nele um digno sucessor. E porque não?
Primeiro, porque acho que já passaram demasiados anos para que o presidente ainda consiga ver alguém como sendo digno de o suceder; segundo, porque apesar da sua popularidade, Baía está numa posição de fragilidade (pelo sucedido e pelos caminhos que tomou a seguir) e PdC sabe-o bem; terceiro, porque aposto que o presidente teria outra(s) preferência(s) muito mais... umbilical.
Por aqui talvez se possa perceber alguma coisa. Talvez, mais do que querer que Baía o suceda, quer "alinhavar" uma lista vencedora, encabeçada por alguém popular, capaz de duas coisas: 1) incluir nessa lista quem (PdC) bem entender (negociado de antemão) e 2) impedir ou diminuir consideravelmente a probabilidade de sucesso de "outras" candidaturas. Isto tudo à la longue, obviamente, porque no continuar é que está o ganho.
Aguardo curioso por saber que papel terá Baía na "nova" estrutura (se eleita) e quem mais o acompanhará, bem como quem serão as "notáveis" ausências (Fernando Gomes não conta, obviamente). Se Baía ficar fora da SAD, será mais um gnomo azul para enfeitar o Dragão; se entrar como administrador, há mesmo mouro na costa (salvo seja).
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AGORA A SÉRIO
Retiradas estas questões menores do caminho, é tempo do que interessa verdadeiramente. Após muito zunzum e rumores, confirmo, para vossa imensa alegria, que mais uma vez volto a não ser candidato e - mantendo a coerência - com o mesmíssimo programa eleitoral.
Programa Eleitoral Do Porto com Amor
Do Porto com Amor,
Lápis Azul e Branco (a presidente!)