O Elefante na Sala

quarta-feira, 13 de maio de 2020

O Elefante na Sala


Este será um texto curto e grosso, mas para que se compreenda na íntegra é importante que a sua leitura seja antecedida do texto que o antecede. Se por inacreditável e inexplicável coincidência ainda não o leu, clique já a seguir e comece pelo Futebol nos Tempos da Pandemia.




Agora que tiramos de caminho uma série de pontos prévios e estamos no mesmo nível de entendimento, vamos ao tema que parece continuar tabu para todos os envolvidos, a começar e a acabar no meu clube, o Futebol Clube do Porto (que, por acaso, deveria ser o mais interessado).

Os dias vão passando, os contornos do regresso da Liga vão sendo divulgados a conta-gotas, mas no ninguém se atreve a apontar o enorme paquiderme que está na sala desta liga. Ui ui que nisso não se fala. Soubemos hoje que 4 de Junho é a data do regresso, saberemos já a seguir em que estádios se jogarão as dez jornadas remanescentes e tudo o mais que se exige saber - tudo, menos o tabu.

Sobra tempo para falar de aversão ao azul, dos "instas" dos jogadores, do corte da relva e do sal na comida, mas para interrogar, alto e em bom som, o que a fará a Liga caso a competição venha a ser de novo interrompida e não se conclua em termos da classificação final, não parece sobrar. Nada, nem um comentário jocoso, nem um tweetzinho, nada.

Sabemos o que o escroque que escandalosamente ainda ocupa a pasta de secretário de Estado do Desporto deseja ardentemente, aliás tanto que já nem se contém na diarreia verbal, tal como adivinhamos que coincide com o que um largo espectro da sociedade - essa gangrena de que padecemos - também anseia.

Parecemos um condenado a caminho do cadafalso, limitando-nos a caminhar ao ritmo do carrasco, perante a turba extasiada de antecipação.

Paremos por um instante com a declamação inflamada para analisar com objectividade a situação.

Um campeonato de 34 jornadas, das quais já se disputaram 24, o que corresponde a cerca de 70% do total. Ideal para atribuir um campeão e uma classificação final a todos os participantes? Não. Suficiente para que reflicta minimamente o mérito desportivo? Sim. No caso do apuramento do campeão ainda mais, porque os dois jogos entre os dois candidatos já se realizaram e com vitória em ambos para o líder FC Porto. Ideal? Não. Suficiente? Sim.

No entanto, como já vimos, o futebol não se resume à própria competição e ao mérito desportivo per se, há toda uma vertente de negócio que não pode ser desconsiderada porque dela depende a sobrevivência do sector como um todo. Por isso, compreende que se envidem todos os esforços para que se jogue. Mas acautelem-se também, por antecipação, todos os cenários possíveis.

O que acontecerá se a situação sanitária do país regredir e a competição for declarada terminada antes que se concluam as dez jornadas em falta?

O que acontecerá se uma ou várias equipas registarem um número de infectados que as impeça de competir em um, dois ou mais jogos?

Em meu entender, dois desfechos admissíveis para o apuramento da classificação final desta Liga:

 - Ou se considera a actual, que resulta da paragem forçada em face de uma situação de todo imprevista à altura em que se iniciou a competição

 - Ou se cumpre integralmente o calendário com todos os competidores e a classificação final será a que dela resultar.

Qualquer in between será sempre uma deturpação do espírito da competição e uma grosseira adulteração da verdade desportiva. Porquê?

Pela simples razão de que, à data de hoje em que se define um dia para o recomeço, já se sabe do panorama sanitário e dos riscos envolvidos nesse recomeço, não só em termos da saúde dos jogadores e demais envolvidos, mas também da consequente impossibilidade de terminar a competição caso haja uma evolução desfavorável na primeira.

Ora daqui se depreende que só faz sentido alterar a classificação actual - a que corresponde ao momento da forçada e inesperada interrupção - se for possível cumprir tudo o que falta ainda jogar, porque este recomeço é assumido sabendo-se que existe uma razoável probabilidade de não ser possível de concluir. Logo, se não for possível uma classificação completa da prova, deve valer a que se registou durante a fase "saudável", porque não faz sentido trocá-la por uma intermédia que será sempre resultante do facto da espada do Covid19 ter caído de forma abrupta sobre a cabeça da competição.

Por este motivo, deve ser dito e assumido pelo organizador da competição que apenas estes dois cenários serão admissíveis.

(regresso à tese conspirativa)

Que a Liga e a Federação se calem bem caladinhas enquanto os habituais lacaios vão lançando "pistas" sobre o que vai acontecer, não pode surpreender ninguém, mas que o mais interessado de todos, o FC Porto, não levante esta questão de forma pública, clara e concisa e se recuse a participar antes de obter uma resposta, é algo que não consigo compreender (apenas mais uma entre tantas, admito, mas este de especial relevância até para o futuro do Clube).

Meus caros Portistas, se outros calam, falemos nós. Façamos o barulho possível para que o silêncio deles todos se torne ensurdecedor. O tempo urge.



Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco




1 comentário:

  1. 200% de acordo. Sempre me ensinaram que as regras definem-se antes do jogo, para evitar confusões e desconfianças futuras...
    "O que acontecerá se a situação sanitária do país regredir e a competição for declarada terminada antes que se concluam as dez jornadas em falta?" pergunta o autor deste texto. E eu pergunto: qual será o critério(s) para terminar a competição? 1, 10, 100 jogadores infectados? É a DGS que determina? É a Liga? É quando o clube do regime estiver em primeiro...
    E depois disto esclarecido faltará definir os resultados: conta a classificação actual ou a da altura? Concordo com a opinião do autor desta peça. E o primeiro é declarado campeão ou não? Ou a classificação só servirá para o apuramento das competições europeias e para as descidas?
    Muitas perguntas que devem ser esclarecidas antes da retoma da competição. E o nosso clube parece muito calado... O presidente do Paços de Ferreira fala mais deste assunto que o nosso ...

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