fevereiro 2022

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Sporting na Era da Pós-Verdade

Por favor não confundir a fonética do título com "puberdade", uma fase da vida caracterizada pelo descontrolo hormonal, mudanças súbitas de humor e exacerbação de eventos corriqueiros até ao extremo, e que serve igualmente bem para descrever a fase por que passa a maioria dos lagartos.

 


Já tive a oportunidade de explicar que distingo ferozmente o benfiquista do lampião, e da mesma forma o faço em relação ao sportinguista e ao lagarto: os primeiros (benfiquista e sportinguista) são adeptos normais, tão apaixonados pelo seu clube quanto eu pelo meu, passíveis de perder o controlo e a razão durante os jogos e disputas mais acesas, mas capazes de recuperar a sanidade e o bom senso volvido algum tempo - tal como eu (espero); enquanto os segundos (lampião e lagarto) são por definição intelectualmente diminuídos ou - mais frequente e gravoso - auto-diminuídos: pese a capacidade (ainda que ténue) de raciocinar, optam deliberadamente pelo boçalidade e pelo ódio cego, que os define mais do que tudo o resto. E sim, também existem no meu Clube, mas não sou eu quem os vai apelidar.

Imagine-se um clube de futebol centenário, com uma base de adeptos suficientemente grande para que o seu objectivo primordial tenha de ser vencer competições de futebol sénior, mas que, por força das guerras fratricidas e de gritante incompetência, são expostos a várias décadas de seca extrema, ao ponto se auto-convencerem que afinal são é "eclécticos" e as modalidades amadoras é que sim senhor (mesmo esbarrando de frente com a evidência de nem aí conseguirem vencer, em boa parte do tempo), a prova provada de que, não fosse o futebol uma competição viciada de cafés com fruta e leite dos seus antepassados, seriam igualmente vitoriosos e imparáveis. 

Imaginem, se conseguirem, o que é nascer, crescer, amadurecer e apodrecer assim, matracados pelos mais velhos e a matracar os mais novos com a mesma lengalenga, tórpidos, alheados da realidade e presos na sua efabulação de auto-preservação. Dá pena, mesmo, sem sarcasmo. Mas é assim o desporto, só pode ganhar um de cada vez e nada garante que algum dia chegue essa a vez - nada, que não seja maior competência do que os demais, algo que o Sporting raramente conseguiu desde que a democracia se instalou em Portugal.

Na sequência do episódio mais rocambolesco e violento de que há memória no desporto português - o ataque "terrorista" de lagartos ao seu próprio centro de treinos - eis que se dá o enésimo golpe palaciano na instituição e que leva ao poder um tal de Frederico Varandas, indivíduo de fraca figura e pior oratória, contestado pelos seus desde o primeiro minuto (e ainda hoje, apesar de ter sido sob a sua presidência que finalmente mataram o borrego vintão do campeonato), mas que também desde a primeira hora seguiu sempre uma estratégia, tão clara como imbecil, de hostilizar sempre e em qualquer momento o Porto e em particular o presidente Pinto da Costa. Até chegar a Rúben Amorim, todos os muitos erros de casting cometidos foram sendo sempre justificados desta forma. Perdedores como sempre, imbecis como poucas vezes.

Com o assalto ao título na época passada, os lagartos de Varandas passaram da mais decadente depressão à mais alucinada euforia, como se a "conquista" de um mero campeonato -  onde, apesar dos seus méritos próprios, beneficiaram tanto de ajudas externas como o Porto se viu privado da mais elementar equidade (Belém, Braga e Moreira de Cónegos, para não ir mais longe) - os devolvesse finalmente a uma sonhada supremacia do futebol luso, algo que nunca existiu e que apenas vive no seu delírio colectivo, naquele cantinho demente das suas almas desportivamente tão abusadas. 

Assim que sentiram o faro a uma possível conquista, despiram para todo o sempre a capa do "paladino da justiça", o único troféu que pensavam ostentar - e ainda bem, nunca lhes assentou e estava já toda coçada de tanto uso a despropósito. Caída a máscara, ficou a nu o lagarto: rufia, néscio e profundamente batoteiro, vigarista, aldrabão.

Como se não bastasse, provocaram deliberadamente aquele que terá sido o maior surto de COVID-19 no país, numa das alturas mais críticas da pandemia, tema ainda hoje bem relembrado por Daniel Deusdado no DN, porque ainda sem responsabilidades apuradas. Um insulto a todos os que perderam familiares e amigos para a doença e a todos os que a combateram com tanto sacrifício pessoal. O Sporting do tal Varandas é um grupelho de gente sem valores e sem o mínimo de responsabilidade - mas atenção, não são (até prova em contrário) inimputáveis, pelo que pode ser que um dia respondam pelos seus actos.

Não vou perder tempo a enumerar os múltiplos incidentes com o Sporting ao longo dos anos, muitos já o fizeram nestes últimos dias, para rebater as infames baboseiras regurgitadas pelo tal Varandas e os seus 40 anos de dor imensa, porque sendo pouco mais velho do que ele, fico muitíssimo feliz e até emocionado ao recordar tantas e tantas alegrias desportivas e não só que o FC Porto me deu nestas últimas quatro décadas. Poderia condoer-me ao tentar perceber o reverso da medalha (como o fiz, recorrentemente, com os meus amigos sportinguistas), mas no caso do tal Varandas, só me ocorre isto: bem feito, espero que os próximos 40 lhe sejam ainda mais dolorosos!

O que hoje realmente importa esclarecer e rebater até à exaustão é todo este gigantesco logro que a máquina mediática da capital centralista começou a montar mal começaram as tristes cenas do final do jogo no Dragão. "Jornalistas", repórteres, pivots, especialistas, comentadores, analistas, vigaristas, todos vigaristas por acção, consentimento ou omissão, que mais uma vez tentam passar toda a responsabilidade para cima do Porto e descartar a segunda circular de qualquer responsabilidade. 

Estive no estádio com Portistas e sportinguistas, sempre num clima de respeito pelas diferenças de credo, e ficou para mim claro que, devendo todos os intervenientes ser responsabilizados por se deixarem envolver e arrastar para o "sururu", houve provocadores e instigadores que despoletaram tudo o que se seguiu e, para mim, o maior responsável é mesmo o master sonso Rúben Amorim

Bem-falante e dominador da arte de ter boa imprensa, disso se aproveita para se esconder atrás de frases cavernícolas enquanto traça estratégias de conflito e caos, de vale-tudo para ganhar, para os seus peões implementar, como fez aquele indecoroso adjunto perto do final do jogo e os seus jogadores mais experientes e manhosos durante toda a partida - e anteriormente, em tantos outros jogos já bem documentados. Até no abraço a Conceição se nota a sonsice e falsidade, só estranhei que Sérgio não se tenha apercebido (defeito de ser boa pessoa?).

Em resumo, este Sporting não é mais que um spogting pequenito e mal-educado, rufia e aldrabão, um insulto à sua história enquanto colectividade centenária, que não só não pode ser ignorado como tem de ser levado muito a sério, combatido por todos os meios e desmascarado a cada momento. É que se por um lado quem nasce lagartixa nunca chega a jacaré, por outro, de tanto olhar para o outro lado da estrada, podem não resistir a não só igualar como a tentar superar o vizinho na trafulhice e falta de vergonha. E o ópio das vitórias é por si só suficiente para arrastar cada vez mais alienados para a alucinação colectiva.

E nós, Porto, podemos ter muitos defeitos e muitos mais nestes últimos anos, mas parvos nunca fomos. Nem de permitir que quem quer que seja venha a nossa casa insultar-nos sem a devida resposta.


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco


P.S. - para que fique claro, acho inadmissível o que aconteceu com os "coletes azuis" e se o clube é "legalmente" responsável pelas acreditações que concede, deve ser punido conforme ditam os regulamentos. Não é pelo facto do SLB nunca ter sido punido pelo que os seus "coletes amarelos" fizeram no túnel da Luz (e que, em consequência, nos ditou o roubo de um campeonato) que vou dizer que quero tratamento igual: não, é tempo de dizer basta a tudo isto - mas, doravante, igual para todos.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Até Quando, Sérgio?

 Quase trezentos dias após o meu último texto, eis-me aqui de novo, contrariando a minha escassa racionalidade, compelido por uma mistura de obrigação moral e fraterna solidariedade. A primeira para com o meu Clube, a segunda para com Sérgio Conceição, o treinador do meu Clube.

 


 

Uma breve recapitulação

 Quem me foi lendo, no tempo em que escrevia com regularidade, recordará ainda as minhas convicções principais sobre este timoneiro do Mar Azul:

- Um grande Portista, sempre disposto a dar o peito às balas invejosas, bafientas e centralistas, sem sequer hesitar;

- Um treinador em construção, que no primeiro ano conseguiu com um saco de enjeitados apanhar todos de surpresa e ganhar o anti-penta de forma espetacular, mas que a partir daí parecia ter ficado refém dessa conquista e pouco disponível para mudar a proposta de jogo para algo mais consistente e condizente com os pergaminhos do Porto, ou seja, mais dominador e controlador e - sim, também é preciso - mais interessante de se ver ( e jogar, apostaria);

- "Variabilidade" emocional, oscilando entre a instabilidade e a euforia, com alguns episódios nada edificantes à mistura, que, em minha opinião, prejudica mais do que ajuda ao seu desempenho como treinador;

- Tudo somado e subtraído, a pessoa em quem mais confio na actualidade para manter o Clube à tona do sucesso desportivo e assim evitar a debacle total (económico-financeira) - distanciando-me de sebastianismos bacocos, a única pessoa em quem confio das que lá estão neste momento.

Curiosamente, esta época fez-me rever em alegre alta a parte da sua não-evolução: o futebol que a equipa pratica(va com Diaz) sugere um claro salto qualitativo na proposta de jogo, para lá da melhor qualidade dos intérpretes do meio-campo, obviamente. Parece que foi preciso parar de escrever para se dar a metamorfose.


The name is Diaz, Luis Diaz

 Dizia esta semana José Manuel Ribeiro, director d'O Jogo cujas reflexões opinativas muito prezo, na Visão de Jogo, que o problema do Porto ser forçado a vender o craque colombiano neste Janeiro não é de um erro cometido agora mas há anos, cuja "factura" chegou agora para ser paga. Permito-me ir mais além: é o somatório de muitas facturas, acumuladas ao longo de mais uma década (quase duas, na verdade), quase sempre empurradas para a frente com a barriga ou saldadas com fracos remendos (empréstimos obrigacionistas, por exemplo) que logo a seguir engrossariam a factura seguinte.

 Para ser justo, disse também que os três grandes portugueses têm agora um problema "quase insolúvel", que tem a ver com a folha salarial, cuja "média" tem disparado a nível internacional e que Porto, Benfica e Sporting não podem acompanhar por falta de acréscimo equivalente das receitas. É factual, reconheço, mas não se resume a isto nem é insolúvel, requer é outra abordagem. Já lá vou.

Luis Diaz seria sempre vendido, mais cedo do que tarde, dado o sua inegável qualidade. O problema é ter saído agora, a meio caminho da felicidade. Poderia até ficar já vendido agora e sair em Junho, eventualmente o melhor de dois mundos: entrava dinheiro fresco e continuava o rendimento desportivo. O que faltou para isso acontecer é simples: incapacidade negocial, pela conhecida ruína de tesouraria a que se permitiu chegar. Houvesse o mínimo para garantir cumprimento de obrigações contratuais até final da temporada e não me parece complicado fazer ver aos ingleses que ou o garantiam já para o próximo ano ou se arriscavam a ficar sem ele para sempre. Agora assim, de chapéu estendido, nada a fazer.

Quanto a uma forma distinta de gerir o futebol profissional, não há soluções milagrosas. É preciso manter a competitividade interna sem perder o equilíbrio das contas, isto é, garantindo que as receitas cobrem as despesas. Sendo claro que o "modelo das vendas para pagar custos" se esgotou por força da nova realidade, resta encontrar outros caminhos. 

Sem me querer alongar, lanço alguns bitaites avulso. Em relação à impossibilidade de renovar contratos (que a seguir permitiriam as tais vendas), há que seguir o que todos já fazem: scouting impecável, formação de nível mundial, acertar contratos com jogadores também em final de contrato noutros clubes e/ou comprar jogadores ainda baratos para o nosso nível. Tirar máximo rendimento desportivo e vender... se ainda possível. Uma máquina sempre oleada, com substitutos prontos a entrar no lugar dos que saem, a custos inferiores aos actuais. Não vejo outro caminho.

Quanto à falta de dimensão do nosso mercado futebolístico (em termos de atractividade e capacidade de gerar receitas), só há uma solução: ganhar dimensão. E isso só seria possível com a criação de uma liga ibérica, por exemplo. Mas até para isso seria necessária uma outra direção, no Porto e nos outros dois de Lisboa, que tivessem a capacidade de perceber que teriam de se juntar e fazer pressão nesse sentido, para que todo o futebol profissional português e os fat cats da Federação o fizessem também.

 

Até quando...

O que é real para o treinador, é que se vê privado do seu melhor jogador (de longe) a meio da época, cuja metade já cumprida ficará sempre marcada pela espetacular forma do colombiano. Sem ele, esta equipa será seguramente diferente e pior, dê por onde der. Podem os mais pintistas argumentar que, não tivéssemos sido eliminados pelo Atlético naquele mau jogo a fechar a fase de grupos, Diaz ficaria até final da temporada - o que até poderia ser verdade (com reticências), mas não desmente nada do que até aqui escrevi. Aliás, acrescento e resumo: a venda precoce de Luis Diaz é da responsabilidade exclusiva da gestão danosa da SAD de Pinto da Costa e nunca um treinador poderá ser culpabilizado de uma venda pelo resultado negativo de um jogo.

"Até quando" é a dúvida que me assalta a cada passo, nestes dias já sem Luis. Até quando estará Sérgio Conceição disposto a aturar este estado de coisas, sem bater com a porta de uma vez por todas? É evidente e inequívoco que o Clube será sempre maior que todo e qualquer homem, e naturalmente este treinador sairá um dia e outro ocupará o seu lugar. Mas a minha interrogação não tem nada a ver com filosofia e tudo com a práxis: é com o momento actual que estou preocupado, com o muito que ainda há para vencer esta época e as que lhe seguirão, ainda durante o consulado deste presidente; com a manutenção de limites mínimos de decência na gestão do Clube que Sérgio vai, directa e indirectamente, "assegurando". Sem ele, o seu amor ao Porto e a sua idiossincrasia tão distintiva, temo que tudo se precipite ainda mais vertiginosamente. O outro futuro, que virá depois, será toda uma outra conversa.


Entretanto, amanhã joga o Porto. Por sinal, um dos jogos mais importantes da temporada, onde vencer marcará uma diferença porventura inultrapassável para o rival. O que mais desejo, do fundo do meu coração de uma só cor, é que amanhã depois do jogo ninguém seja forçado a pensar que "com o Diaz, a história seria outra".


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco