Eram 6 da manhã quando o Tóino chegou
ao ponto de encontro, uma praça que já fervilhava de agitação, em
contraste com o resto da cidade arcebispal, que parecia ainda desfrutar
dos últimos momentos de sono antes do maldito despertador ganhar vida.
O Tóino com 13 mesinhos |
Ainda remeloso e com o bafo das últimas branquinhas da
noite, o Tóino não conseguia esconder a sua alegria. A viagem ia ser
longa, mas em festa: afinal, não era todos os dias que o Tóino tinha a
sorte de poder ver os seus dois amores jogar, ainda por cima três jogos,
o último dos quais entre ambos, se tudo corresse como previsto. E pelo
meio, umas mini-férias no calor do Algarve.
A
mancha vermelha à sua frente não deixava dúvidas quanto ao acerto da
localização. Naquele momento, o Tóino ficou a pensar que já só faltava a
sua camisola rubra e branca para finalizar aquele puzzle.
Quase
meio-dia depois, finalmente a chegada ao local da festa. O comboio
vermelho tinha atravessado o país de norte a sul, com inevitáveis
paragens para almoço e verter águas. Os músculos estavam um pouco
contorcidos, mas tinha valido a pena. Já faltava pouco para o inicio da
final-four, era hora de acelerar para o estádio.
Ao
fim da noite, tudo havia corrido bem. O primeiro dos amores a jogar
(não necessariamente o primeiro do seu coração) assegurou a presença
na final com uma vitória "sem espinhas", não se cansava de repetir.
Mais umas bifanas e uns fininhos para acamar o merecido sono. Era
preciso descansar bem, porque no dia seguinte jogava o máior.
O
segundo dia correu preguiçoso. Mesmo se o sol se tinha feito difícil, a
procrastinação tinha sido de qualidade. Ler as gordas nos jornais do
café, rir-se das críticas do treinador adversário e aguçar o apetite
para a degola que se avizinhava.
Já
no estádio, Tóino, com outra camisola mas sempre de vermelho, vibrava com as bancadas semi-cheias, como se lá não coubesse nem mais um voucher. Vermelho. Durante o aquecimento, reparou nas parcas dezenas
de adeptos do Moreirense, e comentou com o parceiro de ocasião:
"Admiro
estes tipos, pá. Fazem uma porrada de quilómetros só para verem a
equipa perder... para nada... mas vêm na mesma, pá! Sim senhor...". E sorria, com aquela soberba que só os lampiões exibem.
Ao intervalo, tudo na paz do senhor.
Só faltava mesmo cumprir calendário, aqueles últimos 45 minutos, e a
festa da grande final estava garantida. O estádio cheio, vermelho,
lindo. Era já a seguir.
Nem
10 minutos segunda parte adentro, algo não batia certo. Os maióres
tinham adormecido e o Moreirense já ganhava por 2-1. Um acidente de
percurso, pensou, já levam mais 3 ou 4 batatas. Tranquilo, mas um pouco menos.
Aos 71', aconteceu o impensável. 3-1 para o Moreirense. Mas q'é isto, pá? Brincamos? Bem, ainda faltam 20 minutos, é só marcar um e damos a bolta.
No final do jogo, o Tóino estava incrédulo. FOD@-SE, PÁ!
Como é possível estes morcões terem desperdiçado esta hipótese de uma
final de sonho? Sem andrades nem lagartos para atrapalhar, estava tudo
feito, carago... Filhos da put@! Chuuuuloss! Gritou ao passar pelo autocarro dos máiores.
Foi
directo para o desconforto da pensão manhosa que o organizador da
excursão tinha arranjado (mas o preço era imbatível). Voltou a sair,
mais duas branquinhas no café do lado e cama. Porra, pá, filhos da put@... mas prontos, nem tudo é mau: amanhã uma praiinha com comes e bebes e depois o caneco.
Nem praiinha nem caneco. Como se não bastasse o mau tempo que se fez sentir durante toda a estadia, o grande, o enorme Moreirense voltou a limpar o rabinho
aos lampiões de Braga, tal como havia feito aos de Lisboa.
Glória ao Moreirense, primeiro campeão de inverno (seja lá o que isso
for).
Quem não queria saber de glórias era o Tóino. Umas férias de sonho transformadas num pesadelo do c@r@lho. Como é possível estes &#%&$"%& não terem ganho? É que nem uns, nem outros!! #$"$%!"!!!
Quem não queria saber de glórias era o Tóino. Umas férias de sonho transformadas num pesadelo do c@r@lho. Como é possível estes &#%&$"%& não terem ganho? É que nem uns, nem outros!! #$"$%!"!!!
A
viagem de regresso a casa seguia lenta, arrastada e penosa perante a
indiferença das planícies alentejanas. O silêncio era quem mais
ordenava. Mas o Tóino não era homem para se render. "Não hei-de regressar a casa sem uma vitória, c@r@lhos me [forniquem]!".
Levantou-se do seu lugar como uma mola que se descomprime, trocou
algumas palavras com organizador e motorista e estava decidido. De
peito feito e orgulhoso de si, dirigiu-se a todos os que seguiam no
autocarro nº13:
"Eu
sei que estamos todos chateados, mas um bermelho nunca desiste. Eu já
decidi, num bolto a Braga sem ber um dos meus clubes ganhar. Quem fica
comigo em Setúbal para amanhã?"
Pelos últimos relatos, parece que o Tóino está
agora alojado numa pensão em Carnide. À espera do próximo jogo e de uma vitória, para poder finalmente voltar a casa. "Boa sorte" homem, espero que não voltes a Braga antes
que seja Março.
Lápis Azul e Branco,