Há dias em que mais vale falar do adversário para melhor perceber tudo o que (não) fizemos. São raros, felizmente, mas hoje é um desses dias.
A (ou melhor, o) Juventus FC, penta-campeão italiano e bem lançado a caminho do hexa, apresentou-se hoje no Dragão com uma equipa de sonho, fortíssima em todas as posições e com um banco de luxo. Nem mesmo a ausência (por opção) de Bonucci poderia lançar qualquer suspeição sobre o tremendo potencial desta equipa. Não sou especialista em Juventus, mas não tenho dúvidas em afirmar que tem um dos seus planteis mais fortes de sempre e que, por isso mesmo, aspiram (nada) secretamente a conquistar esta Champions.
Para juntar todas estas peças de relojoaria existe Massimiliano Allegri, um treinador experiente, vitorioso e de qualidade (apesar de má reputação de que goza junto de muitos adeptos), que soube dar seguimento ao não menos meritório trabalho de Conte (outro mal-amado, que está de novo a provar o seu valor no Chelsea).
Começaram a ganhar este jogo ao não subestimar este Porto, bem menos competente do que muitos outros de épocas passadas, apostando num jogo de circulação de bola, sem imprimir grande ritmo e muito menos sem se expor a dissabores nas costas da sua defesa. Evidentemente que a enorme experiência de Buffon, Chiellini, Barzagli e Lichtsteiner são um posto, mas cobram também uma factura em termos de velocidade e aceleração. E o nosso Alex Sandro também não é propriamente um speed demon (mas nem por isso deixou de fazer um grande jogo).
No meio, Khedira e Pjanic controlaram sempre as operações, o primeiro mais concentrado em evitar as investidas portistas, o segundo a levantar a cabeça e fazer jogar os seus companheiros mais adiantados.
Mandzukic e Cuadrado nas alas, a fechar e a investir, com Dybala solto a procurar criar o pandemónio por todo o lado. Na frente, sempre com a mira fixada para lá de Casillas, Higuain.
Repito, equipa de sonho, bem orientada por um bom treinador. E sabem que mais? Foram dois suplentes que fizeram os golos.
Souberam ter a paciência necessária para esperar pelas suas oportunidades, que naturalmente foram surgindo com mais frequência à medida que o cronómetro avançava, fruto do desgaste de um adversário em inferioridade numérica e da sua própria imensa qualidade. O nulo ao intervalo era sobretudo um prémio para a qualidade do esforço defensivo do Porto, mas que, ao travar essa batalha, deixou de criar qualquer perigo. Tinha que ser assim, digo eu.
No recomeço, a mesma postura. Havia ainda muito tempo e seria improvável o adversário com dez resistir mais de sessenta minutos com a mesma intensidade defensiva. Bem surpreendido deverá ter ficado Allegri, quando viu sair Rúben Neves para dar lugar a Corona. Surpreendido mas agradecido, uma vez que em campo continuou a nulidade mexicana que dá pelo nome de Herrera.
Não tardou muito a fazer entrar Pjaca, um médio croata muito promissor, para explorar a ainda mais reduzida presença no miolo defensivo. Cinco minutos volvidos, o croata inaugura o marcador com um bom remate cruzado e após assistência impecável de Layún.
Aqui, o Porto quebrou de vez, física mas sobretudo animicamente. A Juve e o seu treinador sentiram a oportunidade de selar a passagem aos quartos logo na primeira mão e vieram para cima de nós - com mais intensidade, mas sem nunca perder a compostura. Allegri retirou o já amarelado e entradote lateral suíço e lançou Dani Alves (sim, Dani Alves no banco, vejam bem), que apenas precisou de um minuto para aproveitar o bom cruzamento do soneca e a marcação virtual de Jota, entretanto chamado a substituir Brahimi.
Pelo meio e até final, sobraram ainda outras boas oportunidade para marcar, mas dois golos são já uma vantagem muito, muito confortável. Só uma hecatombe/milagre poderá ainda reverter o provável desfecho da eliminatória.
No final de contas, foi uma agradável viagem ao melhor destino europeu do momento, com a vantagem de levar já o apuramento na bagagem de regresso a Turim.
Uma nota final para a questão da cor do nosso equipamento. Insurgi-me mal vi que ia ser o preto, mas agora percebo porquê. Quem ainda não souber, que clique aqui. Azar puro.
Uma nota final para a questão da cor do nosso equipamento. Insurgi-me mal vi que ia ser o preto, mas agora percebo porquê. Quem ainda não souber, que clique aqui. Azar puro.
Notas DPcA
Casillas (7): Algumas boas defesas, dignas do seu palmarés, ensombradas apenas pelas apressadas e displicentes colocações da bola em jogo.
Maxi (5): A raça de sempre, mas já sem capacidade física para a acompanhar. Se contra os Tondelas já se vai notando, contras as Juventus é indisfarçável.
Alex Telles (1): Entrou no jogo nervoso como nunca o tinha visto, como que a fazer prever o que viria a seguir. O primeiro amarelo poderia ter sido vermelho directo, o segundo amarelo é justo, apesar do aproveitamento de Lichtsteiner. Momento muito mau que nos custou a eliminatória. Melhores dias virão, já fez o suficiente para merecer o meu perdão Portista.
Marcano (8): Um jogo soberbo, implacável em quase todos os duelas e dobras. Se falhou, não dei por isso.
Danilo (7): Estava a dominar a sua área de influência com classe, até que veio a expulsão. Depois teve de trabalhar a dobrar, mas nunca perdeu o sentido de estado. Muito boa partida. Será talvez o único que seria titular nesta Juve.
< 61' Rúben Neves (6): Estava a fazer um jogo bem razoável até à expulsão. Depois, foi obrigado a trabalho de sapa, sem margem para pensar em atacar. A sua saída é mais um dos insondáveis mistérios do universo, tendo em conta que havia Herrera.
Herrera (3): O seu único registo positivo aconteceu aos 83 minutos, quando ganhou apenas um amarelo mas derrubou dois italianos de uma vez só. E vá lá, aquela cabeçada não totalmente má a passe de Layún. Quase tudo o resto é inenarrável. Segundo O Jogo, a "agressão" ao seu pé esquerdo aconteceu aos '50, pelo que me sobram duas questões: 1) por que motivo não jogou durante esses primeiros 50 minutos e 2) por que motivo não foi substituído, se a dor correspondia ao que se pode ver no final. Tem a palavra NES.
< 73' Brahimi (6): Não teve tempo nem engenho para brilhar no seu palco preferido, apesar do esforço. Sempre que tentava furar recorrendo à sua técnica de cabine telefónica, logo dois ou três italianos caiam em cima dele e não soube nunca como evitar a armadilha, por não levantar a cabeça e simplificar com um passe para alguém mais liberto. Ainda não é desta que nos rende uns milhões.
< 73' Brahimi (6): Não teve tempo nem engenho para brilhar no seu palco preferido, apesar do esforço. Sempre que tentava furar recorrendo à sua técnica de cabine telefónica, logo dois ou três italianos caiam em cima dele e não soube nunca como evitar a armadilha, por não levantar a cabeça e simplificar com um passe para alguém mais liberto. Ainda não é desta que nos rende uns milhões.
Soares (6): Alguma vez havia de ser, não marcar num jogo pelo Porto. Foi hoje e nem sequer foi por ser perdulário; simplesmente não teve oportunidades. Nem meia, sequer. Batalhou o que pode até que também ele quebrou.
< 30' André Silva (5): Estava a trabalhar na frente, como é habitual, à procura de espaço e de ganhar tempo para os companheiros poderem subir, quando foi sacrificado em nome de Telles. Antes disso, ainda arrancou o livre mais perigoso de que dispusemos em todo o encontro.
> 30' Layún (5): Assumiu bem o papel que lhe caiu no colo de surpresa, cumprindo nas tarefas defensivas e procurando alguns passes bem colocados, como lhe é característico. Por cruel ironia, a sua obra-prima foi a assistência involuntária para Pjaca e com isso fica negativamente ligado ao baixar de braços da equipa.
> 61' Corona (5): Aposta arrojada de NES, não foi capaz de corresponder porque entretanto vieram os golos do adversário e o descalabro colectivo. Correu como os outros...
> 73' Diogo Jota (4): Entrou a despropósito e não conseguiu acrescentar nada ao jogo, talvez porque já estivesse na linha quando aconteceu o tal primeiro golo que quebrou o nosso espírito. Certo é que teve grande responsabilidade no segundo, ao não acompanhar o seu Dani Alves. Só não teve culpa de ser chamado ao jogo.
NES (3): Começando pelo princípio, voltou a optar por incluir Herrera no onze inicial, com tudo o que isso representa (sempre) de mau para a equipa. O reforço dado por Rúben a Danilo seria sempre bem-vindo, mas haveria que ter alguém que desse algo mais, uma espécie de Pjanic, que por cá se chama de Óliver. Não teve evidentemente culpa da loucura de Telles e começou por mexer a preceito; o sacrifício de AS foi o mais natural para permitir recompor a defesa com Layún. A equipa respondeu como seria de esperar, defendendo-se com unhas e dentes e resistindo até ao intervalo, mesmo reduzida a nove (Herrera, lembram-se?).
À hora de jogo, sacou do bolso a coragem que não mostrou ter contra o Estoril, por exemplo, e com menos um homem (dois, pois), tirou um dos dois jogadores que estavam a segurar o dique e lançou um extremo. Tirar Herrera em vez de Rúben? Tonteria! Mas ok, apreciei a atitude, imaginando que iríamos tentar fazer um golo (e com essa tentativa, assustar um pouco a Juve, que crescia a cada minuto que passava) e depois voltar a recompor o meio-campo, com a entrada de André André para o lugar de Brahimi.
Qual quê! Homem que é homem não tem medo! Mas também não tem juízo... Relembro que Jota já estava destinado a entrar quando a Juve marcou o primeiro, o que significa que iríamos de qualquer forma jogar outra vez com três avançados, mesmo reduzidos a dez (nove), frente à poderosa e tactical master Juventus! O que esperava conseguir? Marcar um, dois, três golos e não sofrer nenhum? Com este Herrera ainda e sempre em campo? Uau... sou mesmo um simples adepto...
Por tudo isto, ter a mesma nota que Herrera assenta-lhe que nem um shot de Mezcal pela cabeça abaixo.
Outros Intervenientes:
Chegou o momento mais quente da crónica, a análise ao trabalho da equipa de arbitragem liderada por Felix Brych. Pois no que me diz respeito, podem guardar as tochas e as forquilhas, porque não o quero queimar vivo. Não gosto do seu estilo, não aprecio a sua tendência para amparar os mais fortes nem sequer gosto da porcaria do nome. Foi sempre mais "simpático" para a Juve na análise de cada lance disputado ao milímetro, terá deixado de mostrar-lhes um ou outro cartão, mas esteve bem na decisão capital. Aliás, poderia ter expulso Telles logo ao primeiro amarelo, pelo pisão do brasileiro por trás. Poderia ter condescendido no segundo cartão? Sim, poderia, mas estaria a contrariar o espírito da lei. Claro que no estádio não tive esta percepção, inflamei como os demais 47.500, mas agora reconheço que o irritante alemão acertou mais do que errou.
Pronto, este ano está arrumado. Ou quase - a quem ainda acreditar, todo o meu apoio. Cumprimos os dois objectivos essenciais nesta competição: passar o play-off e o apuramento para os oitavos. Bem ou mal, missão cumprida.
O que interessa mesmo é ganhar no Bessa. E por isso, que cozam o pé do Herrera com calma, não apressem a recuperação. Temos mesmo de ganhar no Bessa.
Lápis Azul e Branco,
Do Porto com Amor