Uma vez mais, saímos de Inglaterra sem vencer. Pior do que isso, com uma derrota nada convincente, ao contrário de outras anteriores.
Ponto prévio: o Leicester City FC é o campeão inglês. Para os mais desatentos, isto significa que na época transacta terminou no primeiro lugar de uma competição com 38 jornadas, deixando atrás de si potências futebolísticas como o Man. City, Chelsea, Arsenal, Tottenham e Man. United. Da equipa campeã apenas saiu um indiscutível - N'Golo Kanté, para o Chelsea - e reforçaram-se com jogadores como o excelente Mendy (ainda lesionado), Ahmed Musa, Luis Hernandez e o sacana do arruaceiro argelino Slimani, investindo mais de 80 milhões de euros na equipa para fazer boa figura na Champions deste ano. Não é uma desculpa, é um facto.
Posto isto, ontem, como sempre, foram onze contra onze. E no final ganharam eles.
Os anfitriões não conseguiram disfarçar o nervosismo e a ansiedade provocada pela estreia na mais importante competição de clubes do mundo. A actuarem em casa, num estádio renovado e à medida das suas ambições, temeram não fazer boa figura. Para sorte deles, o seu modelo de jogo é relativamente fácil de executar e está bem consolidado nas mentes dos seus jogadores, relativizando a questão dos nervos. E para ainda maior sorte deles, estrearam-se em casa frente a este Porto de Nuno Espírito Santo.
Devo confessar que vi dois jogos diferentes entre si, quando comparo o que assisti no estádio com o que vi hoje já no conforto do sofá. Ontem saí do King Power mais angustiado e desiludido do que após ter revisto o jogo.
Panorâmica exterior do estádio |
E uma das diferenças mais significativas entre ambos foi a questão da disponibilidade e da atitude dos jogadores. Ao vivo fiquei com a sensação de que não estavam a dar tudo o que deviam, em particular a nível dos embates físicos. Em revisão, acho agora que não foi esse o caso. Creio que os jogadores (tirando uma ou duas excepções) se entregaram sem grandes reservas, mas depararam-se com quatro grandes obstáculos.
O primeiro, a tal "fisicalidade" do jogo dos de Leicester. Estão habituados, aliás só sabem jogar assim. Até um finguelinhas como Mahrez teve de aprender a dar luta a quem tem mais cabedal do que ele (basicamente, todos). São duros, brutos e felizes - à imagem e semelhança dos seus adeptos. Mas não foi por isto que não saímos de lá com um resultado positivo. Os nossos foram à luta, deram e levaram, arriscando enfrentar o adversário num campo onde se sente como peixe na água. Um dos nossos finguelinhas, Otávio, foi dos mais visados e o seu cambalear ao longo do aeroporto era a prova viva disso mesmo. Mas todos os outros trazem marcas para contar a história.
O segundo e bem mais decisivo, o nosso estimado treinador. O onze foi o mesmo que enfrentou o Boavista, como bem sabemos caceteiros do "B" até ao "a", pelo que aposta fazia algum sentido. O pior dos nossos havia mesmo sido dos melhores nesse encontro e seria o candidato óbvio a explorar a dureza de rins dos centrais dos ingleses. Podem-se exigir muitas coisas a um treinador, mas não que seja adivinho.
Ainda durante o aquecimento (não faço ideia quem seja o caixa d'óculos). |
No entanto, ao manter esse onze, manteve também outros "desacertos". O recuo de Óliver, em destaque face aos demais. Não é muito avisado manter longe da zona de decisão o jogador que maior capacidade tem para decidir a nível do último passe. É assim que se desperdiça o potencial do reforço mais sonante. E, mais importante mas também mais persistente e transversal a sistemas e modelos de jogo, a incapacidade de dar profundidade e largura ao jogo a não ser pelos laterais.
Não se pode esperar vencer muitos jogos (em particular na Champions) quando isto acontece, ainda para mais quando os nossos laterais têm nas missões defensivas o seu foco principal de atenção. É quase inconcebível que, ou os extremos (quando se joga com eles...), ou os médios ala não sejam tantas ou até mais vezes solicitados para ir à linha cruzar ou criar desequilíbrios no meio, tendo como fito servir condignamente os avançados. Mas é isto que acontece neste Porto. É factual, conforme se pode ver pela imagem.
É gritante a falta de soluções com que o portador da bola se depara a cada momento. Porquê? Perguntem a quem os treina sff.
O terceiro foi a falta de sorte e de pontaria. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Quando um jogador tem uma possibilidade "fácil" de marcar e não o faz, não se pode falar de sorte mas sim de aselhice. Mas quando um remate como o de Corona esbarra com estrondo no poste após desvio num meco inglês, podemos reconhecer que estamos com pouca sorte.
O quarto e último foi, como vem sendo habitual, o conjunto de arbitragem liderado pelo eléctrico turco Cuneyt Cakir, que, neste como noutros jogos, não conseguiu "evitar" a sua tendência para o caseirismo. Poderemos ter tido alguma sorte na decisão de não dar segundo amarelo a Danilo, mas quase tudo o resto foram decisões pró-Leicester em caso de dúvida. O mais gravoso, o agarrão ostensivo a Marcano, já nos descontos, que deveria ser apitado como grande penalidade. Recuando ao ponto três, foi falta de sorte...
Como nota final positiva, saliento o regresso dos nossos à pressão sobre o árbitro perante decisões incompreensíveis. Já tinha saudades de os ver rodear o senhor do apito perante as suas traquinices. Há que ter tino e avaliar com equilíbrio esses protestos, mas continuarmos mudos e mansos é que não! Espero que esta atitude se transfira já para o próximo jogo da Liga e ainda com mais... intensidade.
Como nota final positiva, saliento o regresso dos nossos à pressão sobre o árbitro perante decisões incompreensíveis. Já tinha saudades de os ver rodear o senhor do apito perante as suas traquinices. Há que ter tino e avaliar com equilíbrio esses protestos, mas continuarmos mudos e mansos é que não! Espero que esta atitude se transfira já para o próximo jogo da Liga e ainda com mais... intensidade.
Home of The Foxes |
Notas DPcA
Dia de jogo: 27/09/2016, 19h45, King Power Stadium, Leicester City FC - FC Porto (1-0).
Casillas (6): Cento e não sei quantas presenças na Champions... uau... e nem assim conseguiu aprender que bolas aéreas na pequena área têm de ser suas? Também já não vai aprender agora, suponho. Entre os postes esteve bem, menos num passe de risco, perfeitamente evitável.
Layún (7): Grande entrega e caudal ofensivo do mexicano, aquele que na nossa equipa melhor sabe como se dever jogar contra equipas inglesas. Tentou por várias vezes a sua habitual assistência mas não teve nos finalizadores a devida correspondência. E quase marcava de livre directo.
Alex Telles (6): Não posso deixar passar em claro a má abordagem no lance em que Mahrez cruzou para os cornos do caceteiro argelino, porque esse acabou por ser o lance decisivo do jogo. Mas também seria injusto não valorizar o resto da sua partida, muito combativo e de entrega total.
Felipe (7): O melhor jogo de Dragão ao peito, sem margem para dúvidas. Foi também mal batido no lance do golo (apesar da excelência do cruzamento), mas foi um (bom) gigante nos duelos individuais com os avançados. É assim que se cresce (e o tempo urge...).
Marcano (7): Outra grande exibição apesar do pecadilho no golo (deixou Vardy totalmente só para finalizar). Muitos cortes, muitas dobras e apenas um ou outro disparate menor à Marcano. Fosse sempre assim... mas já sabemos que não.
Danilo (6): Teve muito, muito que fazer perante o jogo directo dos ingleses e correspondeu bem. Não se superou mas cumpriu na sua zona mais reduzida de acção, que ontem abrangeu também o centro da defesa para travar o caceteiro argelino.
< 63' André André (5): Outro jogo mal conseguido. É impossível jogar contra uma equipa inglesa com aquela falta de intensidade e ter sucesso. E por isso falhou, saindo já tarde do jogo. Está a merecer o banco e espero que o tenha já na Madeira (alô Rúben?).
< 78' Óliver (6): Continua algo desfasado do resto da equipa, sem dúvida pelo posicionamento "estranho" que é compelido a assumir. Mesmo assim, lutou muito pela posse de bola e quando a teve conseguiu desenhar algumas boas jogadas. Acabou sacrificado, justamente. Enfim...
Esperem lá... esta foto não pertence aqui. Olha, paciência, agora fica. |
Otávio (7): Outra vez o melhor dos nossos, desta vez apenas dos nossos e não do jogo. Uma entrega inatacável a que se junta a qualidade e a coragem para tentar desequilibrar a defesa adversária, seja no um-para-um, seja através de passes de ruptura. Hoje, é para mim o único titular indiscutível da equipa.
André Silva (6): Jogo muito difícil perante dois gorilas e vários outros "macacos" furiosos. Não se escondeu, ajudou a construir alguns dos nossos melhores lances e teve a sua oportunidade (ainda que complicada) de fazer o golo.
< 63' Adrian (4): Regressou o pior Adrian, sem convicção, displicente e desligado. Uma nulidade durante intermináveis 63 minutos. Já chega? Não me parece.
> 63' Diogo Jota (6): Entrou tardiamente mas ainda a tempo de ajudar a transformar a equipa em "algo" capaz de conseguir chegar ao empate. Não foi particularmente brilhante, mas contribuiu.
> 63' Herrera (6): Ganha força a teoria de que do banco é que ele entra bem... mesmo se dos primeiros 6 passes, falha 3 de forma inacreditável. Não se ressentiu e empurrou o Leicester para trás, promovendo condições para o assalto final.
> 78' Corona (6): Entrou muito tardiamente mas também a tempo de provar o valor acrescentado que tinha para dar à equipa. Foi dele a grande oportunidade, após um remate de primeira que se esfumou no posto. Merecia... e nós também.
Nuno Espírito Santo (4): Já escrevi quase tudo sobre a forma como vi o seu desempenho neste jogo. A nota seria sempre negativa porque perdemos, mas poderia ser pior ou melhor conforme fosse sofrida a derrota. Teve lógica a aposta inicial (em função do que se vinha observando e do próprio adversário), mas nada disfarça a incapacidade da equipa para criar situações abundantes (ou pelo menos algumas) de perigo para o adversário. E isso, I'm afraid, só pode ser atribuído ao treinador. Se a aposta inicial não resultou (e ficou claro que não desde muito cedo), tinha que ter mudado mais cedo. O regresso de Adrian (e até de André) após o intervalo é muito difícil de entender.
Outros Intervenientes:
Desiludiu-me um pouco este Leicester. Entendo o tal nervosismo da estreia, mas esperava mais intensidade e sobretudo mais capacidade para criar perigo para lá de bombear bolas para a zona de intervenção de Casillas. No final, provaram ter adoptado a estratégia certa, porque venceram. E para tal, muito devem ao seu pequeno génio argelino de seu nome Ryhad Mahrez - que craque. E que saudades de um outro génio argelino...
Sobre a equipa de arbitragem, nada mais a acrescentar. Caseiro, mal auxiliado (como no lance do penalti) e arrogante (como exemplo, decidir terminar a primeira parte sem deixar marcar o canto). Não foi ele que nos derrotou, mas o seu trabalho prejudicou-nos bem mais do que aos da casa.
Conforme tinha já escrito em antecipação, esta derrota não compromete em nada as nossas aspirações de seguir em frente. Temos a sorte de o grupo ser muito acessível e nem sequer me passa a cabeça ficar pelo caminho. Obviamente temos de vencer os dois jogos com o Club Brugge e fá-lo-emos - caso contrário, não estaríamos na Champions a fazer nada.
Mas para já, e bem mais importante, temos um jogo para vencer ou vencer na Choupana. Livrem-se de não o conseguir...
Do Porto com Amor