Uma Semana Difícil

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Uma Semana Difícil


Eram 6 da manhã quando o Tóino chegou ao ponto de encontro, uma praça que já fervilhava de agitação, em contraste com o resto da cidade arcebispal, que parecia ainda desfrutar dos últimos momentos de sono antes do maldito despertador ganhar vida.


O Tóino com 13 mesinhos


Ainda remeloso e com o bafo das últimas branquinhas da noite, o Tóino não conseguia esconder a sua alegria. A viagem ia ser longa, mas em festa: afinal, não era todos os dias que o Tóino tinha a sorte de poder ver os seus dois amores jogar, ainda por cima três jogos, o último dos quais entre ambos, se tudo corresse como previsto. E pelo meio, umas mini-férias no calor do Algarve.

A mancha vermelha à sua frente não deixava dúvidas quanto ao acerto da localização. Naquele momento, o Tóino ficou a pensar que já só faltava a sua camisola rubra e branca para finalizar aquele puzzle.

Quase meio-dia depois, finalmente a chegada ao local da festa. O comboio vermelho tinha atravessado o país de norte a sul, com inevitáveis paragens para almoço e verter águas. Os músculos estavam um pouco contorcidos, mas tinha valido a pena. Já faltava pouco para o inicio da final-four, era hora de acelerar para o estádio.

Ao fim da noite, tudo havia corrido bem. O primeiro dos amores a jogar (não necessariamente o primeiro do seu coração) assegurou a presença na final com uma vitória "sem espinhas", não se cansava de repetir. Mais umas bifanas e uns fininhos para acamar o merecido sono. Era preciso descansar bem, porque no dia seguinte jogava o máior.

O segundo dia correu preguiçoso. Mesmo se o sol se tinha feito difícil, a procrastinação tinha sido de qualidade. Ler as gordas nos jornais do café, rir-se das críticas do treinador adversário e aguçar o apetite para a degola que se avizinhava.

Já no estádio, Tóino, com outra camisola mas sempre de vermelho, vibrava com as bancadas semi-cheias, como se lá não coubesse nem mais um voucher. Vermelho. Durante o aquecimento, reparou nas parcas dezenas de adeptos do Moreirense, e comentou com o parceiro de ocasião: 

"Admiro estes tipos, pá. Fazem uma porrada de quilómetros só para verem a equipa perder... para nada... mas vêm na mesma, pá! Sim senhor...". E sorria, com aquela soberba que só os lampiões exibem.

Ao intervalo, tudo na paz do senhor. Só faltava mesmo cumprir calendário, aqueles últimos 45 minutos, e a festa da grande final estava garantida. O estádio cheio, vermelho, lindo. Era já a seguir.

Nem 10 minutos segunda parte adentro, algo não batia certo. Os maióres tinham adormecido e o Moreirense já ganhava por 2-1. Um acidente de percurso, pensou, já levam mais 3 ou 4 batatas. Tranquilo, mas um pouco menos.

Aos 71', aconteceu o impensável. 3-1 para o Moreirense. Mas q'é isto, pá? Brincamos? Bem, ainda faltam 20 minutos, é só marcar um e damos a bolta.

No final do jogo, o Tóino estava incrédulo. FOD@-SE, PÁ! Como é possível estes morcões terem desperdiçado esta hipótese de uma final de sonho? Sem andrades nem lagartos para atrapalhar, estava tudo feito, carago... Filhos da put@! Chuuuuloss! Gritou ao passar pelo autocarro dos máiores.

Foi directo para o desconforto da pensão manhosa que o organizador da excursão tinha arranjado (mas o preço era imbatível). Voltou a sair, mais duas branquinhas no café do lado e cama. Porra, pá, filhos da put@... mas prontos, nem tudo é mau: amanhã uma praiinha com comes e bebes e depois o caneco.

Nem praiinha nem caneco. Como se não bastasse o mau tempo que se fez sentir durante toda a estadia, o grande, o enorme Moreirense voltou a limpar o rabinho aos lampiões de Braga, tal como havia feito aos de Lisboa. Glória ao Moreirense, primeiro campeão de inverno (seja lá o que isso for).

Quem não queria saber de glórias era o Tóino. Umas férias de sonho transformadas num pesadelo do c@r@lho. Como é possível estes &#%&$"%& não terem ganho? É que nem uns, nem outros!! #$"$%!"!!!

A viagem de regresso a casa seguia lenta, arrastada e penosa perante a indiferença das planícies alentejanas. O silêncio era quem mais ordenava. Mas o Tóino não era homem para se render. "Não hei-de regressar a casa sem uma vitória, c@r@lhos me [forniquem]!". Levantou-se do seu lugar como uma mola que se descomprime, trocou algumas palavras com organizador e motorista e estava decidido. De peito feito e orgulhoso de si, dirigiu-se a todos os que seguiam no autocarro nº13:

"Eu sei que estamos todos chateados, mas um bermelho nunca desiste. Eu já decidi, num bolto a Braga sem ber um dos meus clubes ganhar. Quem fica comigo em Setúbal para amanhã?"

Pelos últimos relatos, parece que o Tóino está agora alojado numa pensão em Carnide. À espera do próximo jogo e de uma vitória, para poder finalmente voltar a casa. "Boa sorte" homem, espero que não voltes a Braga antes que seja Março.



Lápis Azul e Branco,

Do Porto com Amor




4 comentários:

  1. LOL!! Com um teco de sorte, só volta um ano depois do xóringinheiro do penta ter voltado para casa dele...

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  2. As branquinhas, são daquelas que se arranjam na porta 18? :) :) daquelas que até fazem imaginar que a mais maior grande equipa do mundo perde com moreirense e Setúbal na mesma seman... Oh wait! :) :)

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