Finda que está a época 2021/22, com sucesso quase-absoluto do Futebol Clube do Porto no plano nacional, é, pois, tempo de revisitar o trilho percorrido pelo maior obreiro deste feito: o treinador Sérgio Conceição.
Uma época onde, a meio, se viu privado do melhor jogador (de longe) que até então actuava em Portugal, e que de certa forma tinha carregado a equipa às costas nos primeiros meses da temporada, oferecendo assim tempo e espaço para que a equipa e jogadores como Vitinha e Fábio se fossem desenvolvendo e habituando ao padrão de exigência mais elevado das suas curtas carreiras. Perder Luís Diaz foi um golpe tremendo para o treinador, não apenas a nível da ambição europeia como agora se faz crer, mas de todos os objectivos que tinha para cumprir, sobretudo o primordial, o campeonato.
Sérgio protestou (e bem) mas continuou a trabalhar. E conseguiu, de forma até algo surpreendente, que os que ficaram se ligassem ainda mais entre si, mostrando verdadeiramente que a força de um bom colectivo é o melhor remédio para suprir a partida do seu maior craque. Mérito absoluto aos jogadores, pois claro, mas também ao maestro (e seus ajudantes) que lhes deu as partituras adequadas e os ajudou a aprender a tocar em conjunto.
Nem tudo foram prestações melodiosas, houve - como sempre há - interpretações menos afinadas que até nos poderiam ter custado pontos importantes em momentos decisivos da época, mas, no final, qualidade, trabalho e alguma fortuna foi quanto baste para nos devolver a felicidade suprema, coroada com a sensação de já algum enfartamento de glória com a dobradinha assegurada este domingo. E assim também Diaz se tornou campeão de Portugal e vencedor da Taça.
Muito do que quero expressar neste momento sobre Conceição, já o disse no final de época do ano pandémico de 2020, pelo que seria perda de tempo estar a repeti-lo; antes, convido o estimado leitor a ler ou reler o que então escrevi em "Obrigado pelos Títulos, Agora Queremos Futebol" - prometo que vale a pena e que o conteúdo é bem mais simpático para treinador do que o título possa sugerir.
Prefiro então focar-me no que mudou desde então.
Em minha opinião, baseada somente na observação nas bancadas e por vezes na TV dos nossos jogos, a forma de jogar do Porto de Conceição 21/22 deu um claro passo (salto?) em frente, não só em termos de "agradabilidade" para quem assiste, como também em termos de consistência (a todos os níveis).
E relembro que me refiro a uma época onde, por exemplo, tivemos várias vezes Bruno Costa a lateral com tudo o que isso implicou de mau em termos de profundidade e capacidade de atacar por esse lado (sem nenhum desprimor ao Bruno, claro, que somente se sacrificou fazendo o que lhe foi pedido o melhor que podia). Quero com isto ilustrar o desequilíbrio em termos de posições que mais uma vez assolou o plantel e a necessidade de - mais uma vez - ir improvisando pelo caminho, sem perder o rumo.
Mesmo assim, observou-se clara evolução ao longo da época que só terminou, diria, por volta da eliminatória com o Lyon, quando me pareceu que a equipa sentiu a necessidade de se "defender" e passou a jogar mais em modo sobrevivência rumo aos títulos, do que preocupada em continuar a evoluir, mesmo que o treinador o não quisesse. Opção impossível de criticar, evidentemente.
Até esse momento, houve uma primeira fase onde o "herói" foi sendo Luis Diaz, não apenas por resolver grande parte dos problemas de construção e finalização ofensiva, mas também por com isso tirar o foco de vários outros jogadores, que assim puderam ir crescendo sem comprometer.
Com a sua saída para Liverpool, começou um novo período onde a equipa se fortaleceu nos seus movimentos colectivos, sob a batuta de Otávio, Taremi e Vitinha (sem desprimor, Pepe!) e demonstrou uma fiabilidade e consistência exibicional como ainda não se tinha visto no consulado de Conceição. Mesmo com trocas de um ou dois jogadores no onze, a equipa pouco oscilava nos seus propósitos e demonstrava a cada jornada o quão difícil seria ser destronada da liderança ou afastada da Taça.
Claro que ter jogadores mais esclarecidos e evoluídos ajudou e muito a construir esta "nova" forma de jogar, mas até porque já os tinha tido em épocas anteriores, é apenas justo reconhecer que o próprio treinador soube evoluir e limar arestas da(s) sua(s) proposta(s) de jogo.
E até num dos seus pontos "menos fortes" me pareceu registar evolução, a capacidade de influenciar os acontecimentos a partir do banco. Foram vários, muitos os jogos onde começamos mal e foi necessário correr atrás dos pontos e prejuízos, operação quase sempre concluída com sucesso.
Em resumo, o mister fez o favor de atender ao meu pedido e, além de títulos, deu-nos também melhor futebol. Não que seja uma obra acabada (nunca é), porque ainda há muito por onde evoluir (a equipa e o treinador), mas que houve um claro salto qualitativo, ninguém pode negar.
Espero e desejo, evidentemente, que Sérgio Conceição continue como treinador do FC Porto na próxima temporada e que volte a ser a pessoa mais decisiva na definição das contratações. Se possível, que se mantenha pelo menos até que se vire a página da presidência mais titulada de sempre. Por tudo.
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Os parolos e os desonestos que tentam decalcar este nosso ano de conquistas com o do Sporting na época passada, falham nos "piqueninos pormenores" que fazem toda a diferença:
- O Sporting em nenhum momento se viu confrontado com arbitragens unanimemente julgadas como surripiadoras de pontos decisivos, ao contrário do que nos fizeram há um ano nos campos de Belenenses, Braga e Moreira de Cónegos, onde nos privaram de seis pontos absolutamente decisivos na definição do campeão;
- O Sporting, em momento algum demonstrou a superioridade futebolística em 20/21 que o Porto exibiu esta época, bem patente nos confrontos directos entre candidatos a títulos;
- Por fim, devo fazer justiça ao Sporting do capitão Varandas e reconhecer o mérito onde o têm, porque falta ainda ser-lhes reconhecido o inédito título que só eles detêm: o de causadores do maior surto de infecções de COVID-19 do país e de todas as implicações económicas e sociais que daí advieram.
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