quarta-feira, 25 de maio de 2022

Sir Sérgio Conceição


Finda que está a época 2021/22, com sucesso quase-absoluto do Futebol Clube do Porto no plano nacional, é, pois, tempo de revisitar o trilho percorrido pelo maior obreiro deste feito: o treinador Sérgio Conceição.

 


 

Uma época onde, a meio, se viu privado do melhor jogador (de longe) que até então actuava em Portugal, e que de certa forma tinha carregado a equipa às costas nos primeiros meses da temporada, oferecendo assim tempo e espaço para que a equipa e jogadores como Vitinha e Fábio se fossem desenvolvendo e habituando ao padrão de exigência mais elevado das suas curtas carreiras. Perder Luís Diaz foi um golpe tremendo para o treinador, não apenas a nível da ambição europeia como agora se faz crer, mas de todos os objectivos que tinha para cumprir, sobretudo o primordial, o campeonato.

Sérgio protestou (e bem) mas continuou a trabalhar. E conseguiu, de forma até algo surpreendente, que os que ficaram se ligassem ainda mais entre si, mostrando verdadeiramente que a força de um bom colectivo é o melhor remédio para suprir a partida do seu maior craque. Mérito absoluto aos jogadores, pois claro, mas também ao maestro (e seus ajudantes) que lhes deu as partituras adequadas e os ajudou a aprender a tocar em conjunto.

Nem tudo foram prestações melodiosas, houve - como sempre há - interpretações menos afinadas que até nos poderiam ter custado pontos importantes em momentos decisivos da época, mas, no final, qualidade, trabalho e alguma fortuna foi quanto baste para nos devolver a felicidade suprema, coroada com a sensação de já algum enfartamento de glória com a dobradinha assegurada este domingo. E assim também Diaz se tornou campeão de Portugal e vencedor da Taça.

 


 

Muito do que quero expressar neste momento sobre Conceição, já o disse no final de época do ano pandémico de 2020, pelo que seria perda de tempo estar a repeti-lo; antes, convido o estimado leitor a ler ou reler o que então escrevi em "Obrigado pelos Títulos, Agora Queremos Futebol" - prometo que vale a pena e que o conteúdo é bem mais simpático para treinador do que o título possa sugerir.

Prefiro então focar-me no que mudou desde então.

Em minha opinião, baseada somente na observação nas bancadas e por vezes na TV dos nossos jogos, a forma de jogar do Porto de Conceição 21/22 deu um claro passo (salto?) em frente, não só em termos de "agradabilidade" para quem assiste, como também em termos de consistência (a todos os níveis).

E relembro que me refiro a uma época onde, por exemplo, tivemos várias vezes Bruno Costa a lateral com tudo o que isso implicou de mau em termos de profundidade e capacidade de atacar por esse lado (sem nenhum desprimor ao Bruno, claro, que somente se sacrificou fazendo o que lhe foi pedido o melhor que podia). Quero com isto ilustrar o desequilíbrio em termos de posições que mais uma vez assolou o plantel e a necessidade de - mais uma vez - ir improvisando pelo caminho, sem perder o rumo.

Mesmo assim, observou-se clara evolução ao longo da época que só terminou, diria, por volta da eliminatória com o Lyon, quando me pareceu que a equipa sentiu a necessidade de se "defender" e passou a jogar mais em modo sobrevivência rumo aos títulos, do que preocupada em continuar a evoluir, mesmo que o treinador o não quisesse. Opção impossível de criticar, evidentemente.

Até esse momento, houve uma primeira fase onde o "herói" foi sendo Luis Diaz, não apenas por resolver grande parte dos problemas de construção e finalização ofensiva, mas também por com isso tirar o foco de vários outros jogadores, que assim puderam ir crescendo sem comprometer.

 


 

Com a sua saída para Liverpool, começou um novo período onde a equipa se fortaleceu nos seus movimentos colectivos, sob a batuta de Otávio, Taremi e Vitinha (sem desprimor, Pepe!) e demonstrou uma fiabilidade e consistência exibicional como ainda não se tinha visto no consulado de Conceição. Mesmo com trocas de um ou dois jogadores no onze, a equipa pouco oscilava nos seus propósitos e demonstrava a cada jornada o quão difícil seria ser destronada da liderança ou afastada da Taça.

Claro que ter jogadores mais esclarecidos e evoluídos ajudou e muito a construir esta "nova" forma de jogar, mas até porque já os tinha tido em épocas anteriores, é apenas justo reconhecer que o próprio treinador soube evoluir e limar arestas da(s) sua(s) proposta(s) de jogo.  

E até num dos seus pontos "menos fortes" me pareceu registar evolução, a capacidade de influenciar os acontecimentos a partir do banco. Foram vários, muitos os jogos onde começamos mal e foi necessário correr atrás dos pontos e prejuízos, operação quase sempre concluída com sucesso.

Em resumo, o mister fez o favor de atender ao meu pedido e, além de títulos, deu-nos também melhor futebol. Não que seja uma obra acabada (nunca é), porque ainda há muito por onde evoluir (a equipa e o treinador), mas que houve um claro salto qualitativo, ninguém pode negar. 

Espero e desejo, evidentemente, que Sérgio Conceição continue como treinador do FC Porto na próxima temporada e que volte a ser a pessoa mais decisiva na definição das contratações. Se possível, que se mantenha pelo menos até que se vire a página da presidência mais titulada de sempre. Por tudo.

 

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Os parolos e os desonestos que tentam decalcar este nosso ano de conquistas com o do Sporting na época passada, falham nos "piqueninos pormenores" que fazem toda a diferença:

- O Sporting em nenhum momento se viu confrontado com arbitragens unanimemente julgadas como surripiadoras de pontos decisivos, ao contrário do que nos fizeram há um ano nos campos de Belenenses, Braga e Moreira de Cónegos, onde nos privaram de seis pontos absolutamente decisivos na definição do campeão;

- O Sporting, em momento algum demonstrou a superioridade futebolística em 20/21 que o Porto exibiu esta época, bem patente nos confrontos directos entre candidatos a títulos;

- Por fim, devo fazer justiça ao Sporting do capitão Varandas e reconhecer o mérito onde o têm, porque falta ainda ser-lhes reconhecido o inédito título que só eles detêm: o de causadores do maior surto de infecções de COVID-19 do país e de todas as implicações económicas e sociais que daí advieram.


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco


 


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Sporting na Era da Pós-Verdade

Por favor não confundir a fonética do título com "puberdade", uma fase da vida caracterizada pelo descontrolo hormonal, mudanças súbitas de humor e exacerbação de eventos corriqueiros até ao extremo, e que serve igualmente bem para descrever a fase por que passa a maioria dos lagartos.

 


Já tive a oportunidade de explicar que distingo ferozmente o benfiquista do lampião, e da mesma forma o faço em relação ao sportinguista e ao lagarto: os primeiros (benfiquista e sportinguista) são adeptos normais, tão apaixonados pelo seu clube quanto eu pelo meu, passíveis de perder o controlo e a razão durante os jogos e disputas mais acesas, mas capazes de recuperar a sanidade e o bom senso volvido algum tempo - tal como eu (espero); enquanto os segundos (lampião e lagarto) são por definição intelectualmente diminuídos ou - mais frequente e gravoso - auto-diminuídos: pese a capacidade (ainda que ténue) de raciocinar, optam deliberadamente pelo boçalidade e pelo ódio cego, que os define mais do que tudo o resto. E sim, também existem no meu Clube, mas não sou eu quem os vai apelidar.

Imagine-se um clube de futebol centenário, com uma base de adeptos suficientemente grande para que o seu objectivo primordial tenha de ser vencer competições de futebol sénior, mas que, por força das guerras fratricidas e de gritante incompetência, são expostos a várias décadas de seca extrema, ao ponto se auto-convencerem que afinal são é "eclécticos" e as modalidades amadoras é que sim senhor (mesmo esbarrando de frente com a evidência de nem aí conseguirem vencer, em boa parte do tempo), a prova provada de que, não fosse o futebol uma competição viciada de cafés com fruta e leite dos seus antepassados, seriam igualmente vitoriosos e imparáveis. 

Imaginem, se conseguirem, o que é nascer, crescer, amadurecer e apodrecer assim, matracados pelos mais velhos e a matracar os mais novos com a mesma lengalenga, tórpidos, alheados da realidade e presos na sua efabulação de auto-preservação. Dá pena, mesmo, sem sarcasmo. Mas é assim o desporto, só pode ganhar um de cada vez e nada garante que algum dia chegue essa a vez - nada, que não seja maior competência do que os demais, algo que o Sporting raramente conseguiu desde que a democracia se instalou em Portugal.

Na sequência do episódio mais rocambolesco e violento de que há memória no desporto português - o ataque "terrorista" de lagartos ao seu próprio centro de treinos - eis que se dá o enésimo golpe palaciano na instituição e que leva ao poder um tal de Frederico Varandas, indivíduo de fraca figura e pior oratória, contestado pelos seus desde o primeiro minuto (e ainda hoje, apesar de ter sido sob a sua presidência que finalmente mataram o borrego vintão do campeonato), mas que também desde a primeira hora seguiu sempre uma estratégia, tão clara como imbecil, de hostilizar sempre e em qualquer momento o Porto e em particular o presidente Pinto da Costa. Até chegar a Rúben Amorim, todos os muitos erros de casting cometidos foram sendo sempre justificados desta forma. Perdedores como sempre, imbecis como poucas vezes.

Com o assalto ao título na época passada, os lagartos de Varandas passaram da mais decadente depressão à mais alucinada euforia, como se a "conquista" de um mero campeonato -  onde, apesar dos seus méritos próprios, beneficiaram tanto de ajudas externas como o Porto se viu privado da mais elementar equidade (Belém, Braga e Moreira de Cónegos, para não ir mais longe) - os devolvesse finalmente a uma sonhada supremacia do futebol luso, algo que nunca existiu e que apenas vive no seu delírio colectivo, naquele cantinho demente das suas almas desportivamente tão abusadas. 

Assim que sentiram o faro a uma possível conquista, despiram para todo o sempre a capa do "paladino da justiça", o único troféu que pensavam ostentar - e ainda bem, nunca lhes assentou e estava já toda coçada de tanto uso a despropósito. Caída a máscara, ficou a nu o lagarto: rufia, néscio e profundamente batoteiro, vigarista, aldrabão.

Como se não bastasse, provocaram deliberadamente aquele que terá sido o maior surto de COVID-19 no país, numa das alturas mais críticas da pandemia, tema ainda hoje bem relembrado por Daniel Deusdado no DN, porque ainda sem responsabilidades apuradas. Um insulto a todos os que perderam familiares e amigos para a doença e a todos os que a combateram com tanto sacrifício pessoal. O Sporting do tal Varandas é um grupelho de gente sem valores e sem o mínimo de responsabilidade - mas atenção, não são (até prova em contrário) inimputáveis, pelo que pode ser que um dia respondam pelos seus actos.

Não vou perder tempo a enumerar os múltiplos incidentes com o Sporting ao longo dos anos, muitos já o fizeram nestes últimos dias, para rebater as infames baboseiras regurgitadas pelo tal Varandas e os seus 40 anos de dor imensa, porque sendo pouco mais velho do que ele, fico muitíssimo feliz e até emocionado ao recordar tantas e tantas alegrias desportivas e não só que o FC Porto me deu nestas últimas quatro décadas. Poderia condoer-me ao tentar perceber o reverso da medalha (como o fiz, recorrentemente, com os meus amigos sportinguistas), mas no caso do tal Varandas, só me ocorre isto: bem feito, espero que os próximos 40 lhe sejam ainda mais dolorosos!

O que hoje realmente importa esclarecer e rebater até à exaustão é todo este gigantesco logro que a máquina mediática da capital centralista começou a montar mal começaram as tristes cenas do final do jogo no Dragão. "Jornalistas", repórteres, pivots, especialistas, comentadores, analistas, vigaristas, todos vigaristas por acção, consentimento ou omissão, que mais uma vez tentam passar toda a responsabilidade para cima do Porto e descartar a segunda circular de qualquer responsabilidade. 

Estive no estádio com Portistas e sportinguistas, sempre num clima de respeito pelas diferenças de credo, e ficou para mim claro que, devendo todos os intervenientes ser responsabilizados por se deixarem envolver e arrastar para o "sururu", houve provocadores e instigadores que despoletaram tudo o que se seguiu e, para mim, o maior responsável é mesmo o master sonso Rúben Amorim

Bem-falante e dominador da arte de ter boa imprensa, disso se aproveita para se esconder atrás de frases cavernícolas enquanto traça estratégias de conflito e caos, de vale-tudo para ganhar, para os seus peões implementar, como fez aquele indecoroso adjunto perto do final do jogo e os seus jogadores mais experientes e manhosos durante toda a partida - e anteriormente, em tantos outros jogos já bem documentados. Até no abraço a Conceição se nota a sonsice e falsidade, só estranhei que Sérgio não se tenha apercebido (defeito de ser boa pessoa?).

Em resumo, este Sporting não é mais que um spogting pequenito e mal-educado, rufia e aldrabão, um insulto à sua história enquanto colectividade centenária, que não só não pode ser ignorado como tem de ser levado muito a sério, combatido por todos os meios e desmascarado a cada momento. É que se por um lado quem nasce lagartixa nunca chega a jacaré, por outro, de tanto olhar para o outro lado da estrada, podem não resistir a não só igualar como a tentar superar o vizinho na trafulhice e falta de vergonha. E o ópio das vitórias é por si só suficiente para arrastar cada vez mais alienados para a alucinação colectiva.

E nós, Porto, podemos ter muitos defeitos e muitos mais nestes últimos anos, mas parvos nunca fomos. Nem de permitir que quem quer que seja venha a nossa casa insultar-nos sem a devida resposta.


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco


P.S. - para que fique claro, acho inadmissível o que aconteceu com os "coletes azuis" e se o clube é "legalmente" responsável pelas acreditações que concede, deve ser punido conforme ditam os regulamentos. Não é pelo facto do SLB nunca ter sido punido pelo que os seus "coletes amarelos" fizeram no túnel da Luz (e que, em consequência, nos ditou o roubo de um campeonato) que vou dizer que quero tratamento igual: não, é tempo de dizer basta a tudo isto - mas, doravante, igual para todos.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Até Quando, Sérgio?

 Quase trezentos dias após o meu último texto, eis-me aqui de novo, contrariando a minha escassa racionalidade, compelido por uma mistura de obrigação moral e fraterna solidariedade. A primeira para com o meu Clube, a segunda para com Sérgio Conceição, o treinador do meu Clube.

 


 

Uma breve recapitulação

 Quem me foi lendo, no tempo em que escrevia com regularidade, recordará ainda as minhas convicções principais sobre este timoneiro do Mar Azul:

- Um grande Portista, sempre disposto a dar o peito às balas invejosas, bafientas e centralistas, sem sequer hesitar;

- Um treinador em construção, que no primeiro ano conseguiu com um saco de enjeitados apanhar todos de surpresa e ganhar o anti-penta de forma espetacular, mas que a partir daí parecia ter ficado refém dessa conquista e pouco disponível para mudar a proposta de jogo para algo mais consistente e condizente com os pergaminhos do Porto, ou seja, mais dominador e controlador e - sim, também é preciso - mais interessante de se ver ( e jogar, apostaria);

- "Variabilidade" emocional, oscilando entre a instabilidade e a euforia, com alguns episódios nada edificantes à mistura, que, em minha opinião, prejudica mais do que ajuda ao seu desempenho como treinador;

- Tudo somado e subtraído, a pessoa em quem mais confio na actualidade para manter o Clube à tona do sucesso desportivo e assim evitar a debacle total (económico-financeira) - distanciando-me de sebastianismos bacocos, a única pessoa em quem confio das que lá estão neste momento.

Curiosamente, esta época fez-me rever em alegre alta a parte da sua não-evolução: o futebol que a equipa pratica(va com Diaz) sugere um claro salto qualitativo na proposta de jogo, para lá da melhor qualidade dos intérpretes do meio-campo, obviamente. Parece que foi preciso parar de escrever para se dar a metamorfose.


The name is Diaz, Luis Diaz

 Dizia esta semana José Manuel Ribeiro, director d'O Jogo cujas reflexões opinativas muito prezo, na Visão de Jogo, que o problema do Porto ser forçado a vender o craque colombiano neste Janeiro não é de um erro cometido agora mas há anos, cuja "factura" chegou agora para ser paga. Permito-me ir mais além: é o somatório de muitas facturas, acumuladas ao longo de mais uma década (quase duas, na verdade), quase sempre empurradas para a frente com a barriga ou saldadas com fracos remendos (empréstimos obrigacionistas, por exemplo) que logo a seguir engrossariam a factura seguinte.

 Para ser justo, disse também que os três grandes portugueses têm agora um problema "quase insolúvel", que tem a ver com a folha salarial, cuja "média" tem disparado a nível internacional e que Porto, Benfica e Sporting não podem acompanhar por falta de acréscimo equivalente das receitas. É factual, reconheço, mas não se resume a isto nem é insolúvel, requer é outra abordagem. Já lá vou.

Luis Diaz seria sempre vendido, mais cedo do que tarde, dado o sua inegável qualidade. O problema é ter saído agora, a meio caminho da felicidade. Poderia até ficar já vendido agora e sair em Junho, eventualmente o melhor de dois mundos: entrava dinheiro fresco e continuava o rendimento desportivo. O que faltou para isso acontecer é simples: incapacidade negocial, pela conhecida ruína de tesouraria a que se permitiu chegar. Houvesse o mínimo para garantir cumprimento de obrigações contratuais até final da temporada e não me parece complicado fazer ver aos ingleses que ou o garantiam já para o próximo ano ou se arriscavam a ficar sem ele para sempre. Agora assim, de chapéu estendido, nada a fazer.

Quanto a uma forma distinta de gerir o futebol profissional, não há soluções milagrosas. É preciso manter a competitividade interna sem perder o equilíbrio das contas, isto é, garantindo que as receitas cobrem as despesas. Sendo claro que o "modelo das vendas para pagar custos" se esgotou por força da nova realidade, resta encontrar outros caminhos. 

Sem me querer alongar, lanço alguns bitaites avulso. Em relação à impossibilidade de renovar contratos (que a seguir permitiriam as tais vendas), há que seguir o que todos já fazem: scouting impecável, formação de nível mundial, acertar contratos com jogadores também em final de contrato noutros clubes e/ou comprar jogadores ainda baratos para o nosso nível. Tirar máximo rendimento desportivo e vender... se ainda possível. Uma máquina sempre oleada, com substitutos prontos a entrar no lugar dos que saem, a custos inferiores aos actuais. Não vejo outro caminho.

Quanto à falta de dimensão do nosso mercado futebolístico (em termos de atractividade e capacidade de gerar receitas), só há uma solução: ganhar dimensão. E isso só seria possível com a criação de uma liga ibérica, por exemplo. Mas até para isso seria necessária uma outra direção, no Porto e nos outros dois de Lisboa, que tivessem a capacidade de perceber que teriam de se juntar e fazer pressão nesse sentido, para que todo o futebol profissional português e os fat cats da Federação o fizessem também.

 

Até quando...

O que é real para o treinador, é que se vê privado do seu melhor jogador (de longe) a meio da época, cuja metade já cumprida ficará sempre marcada pela espetacular forma do colombiano. Sem ele, esta equipa será seguramente diferente e pior, dê por onde der. Podem os mais pintistas argumentar que, não tivéssemos sido eliminados pelo Atlético naquele mau jogo a fechar a fase de grupos, Diaz ficaria até final da temporada - o que até poderia ser verdade (com reticências), mas não desmente nada do que até aqui escrevi. Aliás, acrescento e resumo: a venda precoce de Luis Diaz é da responsabilidade exclusiva da gestão danosa da SAD de Pinto da Costa e nunca um treinador poderá ser culpabilizado de uma venda pelo resultado negativo de um jogo.

"Até quando" é a dúvida que me assalta a cada passo, nestes dias já sem Luis. Até quando estará Sérgio Conceição disposto a aturar este estado de coisas, sem bater com a porta de uma vez por todas? É evidente e inequívoco que o Clube será sempre maior que todo e qualquer homem, e naturalmente este treinador sairá um dia e outro ocupará o seu lugar. Mas a minha interrogação não tem nada a ver com filosofia e tudo com a práxis: é com o momento actual que estou preocupado, com o muito que ainda há para vencer esta época e as que lhe seguirão, ainda durante o consulado deste presidente; com a manutenção de limites mínimos de decência na gestão do Clube que Sérgio vai, directa e indirectamente, "assegurando". Sem ele, o seu amor ao Porto e a sua idiossincrasia tão distintiva, temo que tudo se precipite ainda mais vertiginosamente. O outro futuro, que virá depois, será toda uma outra conversa.


Entretanto, amanhã joga o Porto. Por sinal, um dos jogos mais importantes da temporada, onde vencer marcará uma diferença porventura inultrapassável para o rival. O que mais desejo, do fundo do meu coração de uma só cor, é que amanhã depois do jogo ninguém seja forçado a pensar que "com o Diaz, a história seria outra".


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco


quarta-feira, 28 de abril de 2021

Exéquias

Quase dois dias após o maior roubo de que há memória num jogo de futebol no Portugal pós-ditadura - ia escrever democrático, mas fui educado a nunca mentir - o extremo nojo e a absoluta descrença numa qualquer utópica regeneração deste pardieiro crescem em mim a cada "peça noticiosa" que ouço e vejo (e que não ouço ou não vejo), a cada minuto que respiro.

 



Todos sabem da conjuntura, ainda que a maioria não queira saber. O Porto, sempre mais intolerado e odiado a cada tropeção que provoca no andor do desígnio nacional que, hoje como desde quase sempre, se resume à concentração de tudo na capital Lisboa (e que por isso é tão pouco e tão menos do que deveria). Não basta o maior PIB per capita, não basta a concentração das sedes de decisão, não basta a aglutinação das empresas de maior dimensão, não basta todo e qualquer braço do obeso, obsoleto e definhador Estado, não basta os eventos culturais, não basta as convenções internacionais, não basta os títulos desportivos, não: é preciso ser tudo, ter tudo e estar tudo o que (lhes) importa ali a quinze minutos da porta de casa. O resto do território é para explorar à saciedade e ir de férias quando aprouver, visitar as vinhas, praia, campo, montanha e dar de comer à fauna local (de tão pitoresca que é).

E o Porto, hoje mais do que nunca, é a única voz dissonante que se vai fazendo ouvir, seja pela perplexidade que causa, seja pelo incómodo da persistência. Mas a luta que o Porto ainda vai dando, no espaço mediático, quase se resume ao Futebol Clube do Porto e a umas investidas de Rui Moreira. Nada de novo, uma deprimente tendência que se arrasta há décadas, durante a maior parte das quais em contra-ciclo com o Clube: o que a cidade e a região iam cedendo sem gemer, o Clube ia reconquistando em orgulho, honra e dignidade. E títulos desportivos, muitos títulos desportivos, nacionais e internacionais.

Ora como fica bom de ver, isto é intolerável e até incompreensível nas cabeçorras destas segundas e terceiras gerações de "macro(a)céfalos" nados e criados na capital, filhos e netos de gente saída de todos os cantos do país and beyond e a quem deveria ter sido explicado e demonstrado que aqueles cem metros quadrados de terra numa aldeia de Bragança, de Portalegre, de Luanda ou de Goa que ficaram para trás, valerão sempre infinitamente mais do que os T-muitos na Ajuda e as moradias em Cascais - porque são os cem metros quadrados da sua herança, origem e história das gerações idas que os antecederam e lhes dariam um sentido e um propósito. 

Claramente não foi e se a estes juntarmos os boçais arrivistas, oportunistas e parasitas recém-chegados às luzes hipnotizantes da "grande" metrópole (estou a devanear com um mosquiteiro eléctrico de talho, para ser sincero), temos o retrato fidedigno do panorama actual da corte deste país. 

O desporto é muitas vezes considerado como o substituto moderno das batalhas e guerras que acompanharam a Humanidade desde os seus primórdios em que se começou a organizar em grupos, clãs, tribos e afins. E bem, diga-se, porque permite experimentar o prazer e adrenalina da conquista e da vitória sem toda aquela chatice da mortandade e dos campos cobertos de sangue. Por regra, sobra apenas o direito dos vitoriosos a gabarem-se e a enfurecer os rivais e na batalha seguinte, lá continuam todos vivos para novo confronto desportivo. Parece simples, mas é a essência do desporto: o confronto entre oponentes enquadrado de forma civilizado por regras pelas quais todos se devem reger.

Voltando à corte bolorenta, as incontáveis evidências demonstram a sua total incapacidade para lidar com as décadas de meritórios sucessos do Porto, tão bem ilustradas pelo João Pinto no Jamor e em Viena, pelo Baía em Gelsenkirschen e pelo festival de luz e água com que nos brindaram pela conquista de mais um campeonato no mais saboroso dos lugares mal-frequentados. 

Havendo finalmente um jagunço ignorante e vigarista, sem vestígio de vergonha na cara e capaz de tudo, a liderar o clube que mais adeptos reclama ter (e por conseguinte, que mais sofre às mãos do Porto), juntou-se finalmente a fome à vontade de roubar - e de comer também, pronto. A corte pestilenta, normalmente sempre tão ávida por destruir o seu companheiro do lado e ficar-lhe com o quinhão, uniu-se finalmente a bem do desígnio nacional

Do "jornalista" ao director de informação, do comentador isento ao especialista impoluto, do juiz ao funcionário do tribunal, do funcionário público ao Secretário de Estado, do bancário ao banqueiro, do advogado ao deputado e do vendedor de rifas ao empresário dos frangos, todos viram a Luz e sentiram o apelo de se irmanarem com o único fim: devolver (?) a glória desportiva ao maior do mundo (e de Lisboa também), fosse de que forma fosse, custasse o que custasse, doesse o que doesse. 

Acto continuo, o assalto a todas as instituições que regulam as actividades desportivas e, muito especialmente, ao futebol. Não ficou pedra sobre pedra. Desde a federação à liga, em todos os lugares de decisão e em particular, onde com facilidade se pode adulterar a lealdade e o mérito desportivo: órgãos de disciplina e de arbitragem. Desde o justiceiro Ricardo Costa (hoje juiz conselheiro do STJ, pasmem-se) até esta senhora de que nem sei o nome, vários se perfilaram, serviram e foram recompensados (juiz conselheiro do STJ, insisto enquanto choro e rio). 

Na arbitragem, foi ainda mais refinada a trama, bem ao estilo nazi: sob a batuta de um Vitor Pereira que nunca ajoelhou Jesus, foi fabricada e programada toda uma nova geração de árbitros, seleccionada segundo apertados critérios arianos de uma raça (desta vez inferior) amestrada e unida pelo ódio visceral ao FC Porto. Passo a passo, foram-se empurrando os árbitros activos para fora do futebol profissional, despromovendo os desalinhados, reformando os pouco determinados e mantendo apenas os serviçais como João Capela e Bruno Paixão, tão reconhecidos pela sua "incompetência" como pelo fervor clubístico.

"De repente",  o quadro profissional de árbitros estava tomado de assalto pela nova seita e protegido pelos velhos pederastas que já mencionei e mais alguns como Hugo Miguel, que nos nutre um ódio doentio, e Nuno Almeida, mais benfiquista que árbitro. Não satisfeitos e para que o plano não corresse o mais pequeno risco, uma mão cheia desses novos acólitos é promovida de rajada a internacionais, onde ficam protegidos de descidas de divisão. Os famosos internacionais-proveta, para quem acompanha o futebol. E quem são eles? Vocês sabem, claro, mas eu digo: Fábio Veríssimo, Tiago Martins, Luis Godinho, João Pinheiro. Ring a bell?

Mas tão ou mais importante como adulterar a lealdade e o mérito desportivo é a enviesar a percepção pública que disso se cria. Sim, que ninguém se iluda, para o cidadão comum e até um pouco mais, uma mentira repetida muitas vezes e em todas as televisões, rádios e jornais por comentadores que se apresentam como isentos, seja de futebol, seja de arbitragem (um must destes tempos que vivemos, acaba por se tornar na única verdade que conhece e quanto mais distante do fenómeno, mais verdadeira essa verdade por desinteresse ou simples preguiça de verificação. E nisto também foram mestres da podridão, com o beneplácito dos directores das estações e demais artistas do meio com poder de decisão sobre quem convida e a quem paga para passar determinadas mensagens.

Ainda assim, o Porto continuou a ganhar. Não tanto como mereceu em campo, mas continuou. Não podia ser. Passamos ao nível seguinte, a desavergonhada e reles corrupção de adversários, jogadores e (suspeito) treinadores, pagar-lhes para facilitar, a negação do desporto. Quem puder garantir que nunca aconteceu, que me atire todas as pedras que encontrar (e peça ao Google para eliminar todos os registos de testemunhos na primeira pessoa dessas tentativas de suborno).

Ainda assim continuamos a ganhar, não foi? Pois sejam então bem-vindos ao que só pode ser o último nível

Em todos estes quadrantes, é vê-los saírem aos magotes dos armários farsolas em que se iam contendo e deixar cair todas as máscaras, assumir sem qualquer pudor ou decoro (porque nunca os tiveram) o seu facciosismo, imparcialidade, sectarismo e puro ódio. 

Jornalistas e comentadores insultam sem arrependimento o Porto, os Portistas e muitas vezes todos os que não são da corte capital (apenas porque não o são e mesmo nem sendo Portistas...), mentem descaradamente, sem castigo, e voltam à carga no dia seguinte ainda mais empoderados. 

Nos gabinetes da política, fazem-se medidas à medida de uns e de outros, sempre em favor dos mesmos e em desfavor do mesmo. Sempre. Nos corredores da justiça acontece o impensável num estado de Direito, aceitam-se amnésias, permitem-se fugas, ignoram-se provas, avisa-se de buscas, tecem-se prescrições. Um cancro que se espalha agressivamente pela sociedade portuguesa e que ninguém parece querer parar. 

Dentro de campo, o culminar de tudo isto e um pouco mais. Jornada após jornada, os mesmos são beneficiados de forma descarada, o Porto é intencionalmente prejudicado e todos são recompensados com novo jogo importante na jornada seguinte. Chegaram ao ponto de assassinar de vez as boas intenções que criaram o VAR a troco de um título nacional ou até menos, um segundo lugar. As decisões podem agora ser tomadas a centenas de quilómetros, sem que ninguém se possa sequer queixar. Os vigaristas são escondidos, protegidos e recompensados. Jogo após jogo.

O desespero é tal que já nem tem de ser o maior do mundo (e de Lisboa) a ganhar, pode ser o irrelevante tolo apalhaçado do outro lado da estrada que não faz mal, o importante... o importante é que o Porto pare de ganhar!

O completamente intencional, absurdo e desajustado empolamento que se tem dado desde segunda à noite a uma agressão de um grunho parasita a um operador de câmara, com honras sucessivas de primeiras páginas e aberturas de telejornais, comentários empertigados e exaltados vindos de todo o tipo de vermes e de todos os quadrantes da vida pública, em detrimento e para encobrir a muito mais grave viciação de resultado desportivo e do desfecho da competição que antecedeu a agressão é apenas o exemplo mais recente e paradigmático de estarmos já no tal último nível. 

É evidente, até para qualquer imbecil, que a agressão tem a sua gravidade e deve ser tratada segundo dita a lei, tal como é evidente que muitas agressões semelhantes ou piores se sucederam em tempos bem recentes e nada disto se gerou. Mas todos sabemos isto, nós e eles. Só que eles já nem querem saber, o importante... o importante é que o Porto não ganhe outra vez

Desde o jogo em Belém que fomos consecutivamente espoliados e afastados do título, o que só não tinha acontecido até segunda à noite por manifesta incompetência do líder fantoche e de quem nos persegue. Conseguiram, mas só desta forma. Mais um "campeão" falso como Judas.

 

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Este é o cenário. Este é o cenário em que já não consigo viver enquanto cidadão e homem de princípios. Enquanto não decido mudar de país, só me resta não me envolver mais neste lodaçal de podridão. Afastar-me do futebol, render-me talvez. Porque isto de andar aí a gritar aos quatro ventos sociais que somos isto e aquilo, e que nunca, jamais, enquanto imaginamos bater no peito, só serve mesmo para nos irmos enganando e digerindo os aviltamentos de que somos alvo. 

Caramba, se quem dirige o meu próprio clube desistiu há tanto tempo de lutar, fazendo de conta que há-de passar e para o ano há mais, se os meus consócios continuam num sono criogénico à espera do próximo D. Sebastião enquanto o actual permite que se destrua tudo o que foi sendo construído, quem sou eu para lutar sozinho? 

Pior, sei que se ficasse só me restaria mesmo lutar, no sentido mais literal e físico da palavra, para expurgar parte da raiva e da revolta que me consome por estes dias. E ficar depois, sozinho, a arcar com as consequências de um acto irreflectido e a tentar olhar nos olhos dos meus filhos e explicar-lhes porque fiz o que sempre lhes digo para não fazer, sem que absolutamente mais nada tivesse mudado sequer.

No dia em que sentir que os Portistas estão dispostos a tudo, começando por se juntar entre si sem estar à espera que a iniciativa venha de um qualquer presidente e deste em particular e demonstrar, com a força dos números, que não aceitaremos mais este estado de coisas, voltarei para estar na fila da frente. Antes disso, não me vou deixar mais consumir.


Até um dia destes,

Lápis Azul e Branco




terça-feira, 6 de outubro de 2020

O dia em que o Futebol morreu

Não sei precisar quando terá sido ao certo, mas que ninguém se iluda: o desporto futebol que existiu durante quase um século faleceu com estrondo.



Hoje percebo a imensa sorte que tenho em ser filho da revolução, nascido ainda bem dentro do século XX,  que me permitiu disfrutar desse jogo único que já foi tudo. Mais afortunado ainda por ser Portuense e - obviamente - Portista, onde a dimensão intrínseca do Clube, concretizada no futebol, atinge níveis de afeição e sentimento de pertença dos mais elevados do planeta.

Conheci e cresci com um futebol que era o orgulho (quantas vezes o único) da Invicta, o seu baluarte como o presidente tão bem dizia (e fazia), o seu porta-estandarte que recusava sempre vergar-se enquanto as forças sociais e políticas que o iam rodeando se vendiam por um bilhete de ida para a capital. Sempre contra-corrente, sempre hirto a encarar de frente às adversidades. 

Ainda senti, por história contada de uma geração para a seguinte, o que era ser Portista e não poder ganhar depois de passar a ponte sobre o Douro. Cresci a ver o Porto crescer, a tornar-se maior que o mesquinho país que tem a infelicidade imensa de o acolher, até chegar ao topo do mundo através do seu futebol. Uma estória daquelas de encantar, só que em real. 

Esse futebol, sempre visto pela lente enamorada pelo Futebol Clube do Porto, era uma escola de virtudes, insubmisso, lutador até à última gota de suor. Quem as corporizava eram os jogadores, moldados cirurgicamente pela determinação e sagacidade de Pinto da Costa e pela inteligência e competência de Mestre Pedroto e (alguns dos) seus sucessores. 

Todos sabemos quem foram e o que significaram Rodolfo, João Pinto, Paulinho Santos e Jorge Costa, mas muitos mais passaram pela azulebranca de forma mais discreta mas ainda assim contribuindo com a sua quota-parte para o sucesso inigualável em democracia de quase quatro décadas. Nunca se fez só (nem sobretudo!) de artistas, mas também por lá passaram muitos, de Cubillas a Hulk, passando por Oliveira, Lucho, Quaresma e Deco - em comum, além do talento sem fim, o sentimento. Nuns espontâneo, noutros ensinado, mas sempre único e coerente. Todos em prol do Clube.

Os mais recentes, como Hulk ou Deco, tinham já e justamente a ambição de chegar a um clube mais poderoso, que lhes permitisse ganhar mais dentro e fora de campo. Deco conseguiu, Hulk só parcialmente, mas o que importa é o que acrescentaram e a inspiração de que serviram para os que se lhes seguiram. Todos percebemos a ambição natural de cada pessoa, o problema não está nela mas nas condições que foram adulteradas para que o desequilíbrio entre partes se tornasse tão gritante.

Todos nos forçamos a saber também que os tempos mudaram, primeiro mais lentamente e depois com grande velocidade. Pode ter sido com Bosman que a primeira bala foi disparada, mas seguramente que foi a ascensão da nossa tão querida Champions League a um patamar de negócio estratosférico e desregulado quem descarregou o resto do carregador. 



O cheiro a dinheiro fácil e garantido, aliado ao passaporte dourado garantido a quem nele investisse, no questions asked, tornou-se um chamariz irresistível para clepocratas e criminosos dos quatro cantos do mundo se estabelecerem, de forma limpa e livre, na Europa civilizada. Foi o início do fim.

Se juntarmos a isto a total cumplicidade da UEFA e a constante cedência perante as exigências absurdas (para quem gosta do futebol como ele era) das maiores ligas europeias, temos a cova aberta e o caixão a ser carregado em ombros.

Chamemos-lhe negócio, indústria, o que quisermos, sempre seguido de rentável, mas não lhe chamemos futebol. Sempre houve e haveria clubes maiores e mais poderosos, fruto das suas idiossincrasias e circunstâncias geo-políticas, sociais e demográficas. O Real Madrid, o Barcelona, o Bayern e mais alguns "nunca" deixariam de o ser, mas como compreender e aceitar que outros campeões do passado, também eles gigantes nas suas realidades, tenham sido relegados para uma quasi-eterna penumbra por força dos petroeuros e similares, por troca com os paraquedistas Chelsea, PSG, City e demais "aberrações"? Ou um Mundial no Qatar? 

Como pode o futebol ser global se Porto, Ajax, Olympiacos, Anderlecht, Celtic, Roma ou Marselha estão impedidos de lutar com armas minimamente equivalentes? Como entender que clubes tão fortemente identitários e identificados com as suas regiões não as consigam representar condignamente com jogadores das suas fileiras? Não para lutarem todos os anos pelo ceptro europeu, porque estaria naturalmente fora da sua dimensão, mas para conseguir intrometer-se a espaços, como "sempre" aconteceu.

Só o Liverpool parece ter escapado à sina e apenas porque foi - também ele - comprado, embora sem perder a identidade (bem pelo contrário). E pode parecer contrasenso (talvez seja...), mas é um exemplo que abre uma pequena janela de esperança de que talvez seja possível... um futuro diferente, ainda distópico só que não tanto, em que o valor da identidade prevaleça sobre o investimento cego, surdo e mudo e que o equilíbrio dentro de campo reflicta as diferenças "naturais" entre clubes.

Pior que este reshuffle da hierarquia dos clubes do velho continente, é a forma como aconteceu e as implicações na forma de viver e sentir o futebol por parte dos jogadores. O amor ao clube e a antes indissociável aspiração máxima de representar as suas cores, gentes e valores desapareceu. Ou melhor, existe mas é de plástico, para russo ou árabe ver. É que a doença não se restringe ao topo, está disseminada de cima a baixo ao ponto de qualquer Wolves ter a capacidade de ter vários titulares da selecção portuguesa.

Hoje, os miúdos borbulhentos que não passam ainda de projectos de jogador já têm bem claro que o objectivo é chegar ao clube que lhes garanta uma vida financeiramente "feita" no pós-futebol, seja ele qual for. Jogar pelo clube grande da cidade ou do país é, na grande maioria das geografias, apenas um trampolim provisório e para encher de orgulho o avô (porque os pais já estão a pensar no passo seguinte), excepto nos casos em que coincide com esse clube ser do tal topo longínquo onde só cabe uma dezena.

Por fim, é triste constatar que mesmo o amor ao jogo sobrevive em cada vez menos jogadores e nada poderia ser mais fatal do que isso. O futebol como eu o conheci, com que cresci e que vi também crescer, está em vias de extinção. E só não está - nunca estará? - extinto porque ainda sobrevive nas ruas, nos pelados e nos sintéticos. Vive dentro da alma das crianças que ainda não sabem e das que sabendo não se importam e dos "veteranos" que nunca chegaram a ser. Essas são as casas onde o espírito do futebol livre ainda vive, esses somos todos nós que do futebol apenas recebemos emoções.

A reflexão é muito mais extensa e complexa do que isto, que não passa de um simples desabafo. O futebol pode estar morto, mas longa vida ao Futebol!



Sobre a loucura destes últimos dias do mercado do Porto, não me quero alongar muito. A péssima, melhor, inexistente gestão a médio prazo empurra-nos sempre para as mãos dos que não tem nem pressa nem falta de dinheiro. É estar sempre à espera de aproveitar a melhor oportunidade, que muitas vezes não deixa de ser má. 

Se já há muito nos habituámos a ignorar olimpicamente toda e qualquer declaração do Presidente sobre entradas e (sobretudo) saídas, não deixa ainda assim de ser dramático o total desbaratamento dos sub-19 vencedores da Youth League. É que há mentiras que doem mais do que outras e os que, como eu, ainda suspiram por ter na equipa jogadores que amam e vivem o Porto, não conseguem ficar indiferentes.

Lamentavelmente, o Porto em 2020 é exemplo de tudo o que se perdeu com o futebol-indústria, ao que se soma uma gestão em fim de ciclo, sem rumo e muitas vezes negligente. Os títulos regressados pela mão obstinada de Sérgio Conceição não podem nem devem voltar a servir de anestésico para que os Portistas regressam ao seu estado amorfo-catatónico. Não creio que esses tempos possam voltar de forma esmagadora, mas há ainda muito boa gente que não admite questionar as decisões da liderança de Pinto da Costa.

Esperemos para ver que nível competitivo irá atingir esta nova equipa, desejando ardentemente que seja o suficiente para nos levar ao bicampeonato, mas os negócios feitos remetem-nos para o primeiro ano de Lopetegui, com empréstimos sem opção de compra e para a inenarrável venda dos jovens jogadores da formação.

Nota final para Sérgio Conceição que, até prova em contrário, deverá ser considerado "cúmplice" desta estratégia sem estratégia - para o bem e para o mal e independentemente do que a seguir conseguir fazer com a matéria-prima. É que haverá sempre vida para lá desta época desportiva e o treinador campeão associou-se voluntariamente à ideia de que o futuro próximo da equipa principal passaria pelos vencedores de UYL. O que se constata é o exacto e doloroso oposto. Já há muito que aprendi a não sofrer com as possíveis chegadas, mas é-me ainda impossível não fazer o luto das saídas antes de tempo.

É certo que "isto da formação" tem também bastante que se lhe diga, mas fica para outra altura. Por agora, aguardemos pelo clássico de Alvalade e... StayAway Covid.

Um abraço sentido de gratidão a Danilo e Telles pelos bons serviços prestados e nada mais, porque Portista sou eu e vocês.


Do Porto com Amor,

Lápis Azul e Branco