Bloody year!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Bloody year!


Como não podia deixar de ser, toda a imprensa (verdadeira e farsante) dá destaque ao grande sucesso desportivo do SLB nesta época, destacando os títulos de campeão em futebol, basket, hóquei, vólei e futsal, falhando apenas o andebol que, como sabemos, continuou em nossa casa.

Obviamente que cada uma dessas conquistas tem a sua história e sendo justo, apenas conheço a do futebol. Mesmo em relação ao futsal e a todo aquele ruído que se seguiu à atribuição do título, vindo de quem vem, pouco esclarece. Portanto, concentrando-me apenas na big picture, acho que se deve valorizar o que eles conseguiram este ano, tal como o Porto em épocas não muito distantes.

Mas mais do que olhar para o sucesso dos outros, o que realmente me interessa é descobrir o porquê do(s) nosso(s) insucesso(s).

Tal como no caso do Benfica, cada uma das nossas modalidade teve a sua "estória". Se o vólei há muito que foi extinto e o futsal nunca saiu do papel, no basket fizemos reset e iniciamos novo projecto a partir de baixo, e no hóquei parecemos estar totalmente perdidos após um longuíssimo ciclo de esmagadora dominância. Mesmo o sucesso no andebol (também ele longo e único), parece estar em causa, ou pelo menos iniciaremos nova fase com a saída de Obradovic.

E o que pergunto é o seguinte: esta conjugação de resultados nas modalidades em 2014/15 é conjuntural ou evidencia uma tendência mais duradoura?

Não sendo profundo conhecedor da situação concreta de cada uma delas, devo dizer que os sinais são quase todos preocupantes.

É de conhecimento público as dificuldades que todas as modalidades têm em se auto-sustentar desde há 20 anos, muito por culpa do futebol e das transmissões televisivas, que absorvem a quase totalidade dos investimentos publicitários, fruto das audiências que o futebol gera por comparação com as demais. É o que as pessoas querem ver e manda o mercado.

Aliás, tirando um grupo muito reduzido de fiéis seguidores de cada uma das modalidades (ou de todas - ainda mais restrito), a grande maioria dos portistas apenas se interessa quando se chega à fase das decisões dos títulos, e uma ou outra vez durante a época se for contra SLB ou SCP (menos). Portanto, "todos" somos parcialmente culpados.

No entanto, este panorama não é nosso exclusivo, mas sim de abrangência geral, pelo que os outros clubes sofrem deste mesmo problema e até aqui, estarão todos em pé de igualdade.

Depois entram em cena os patrocínios e os financiamentos. Águas mais turvas, onde nem sempre se consegue perceber de onde vêm os fundos com que os clubes constroem os seus orçamentos e, com eles, suportam cada época. E aqui, sobretudo na parte dos financiamentos/endividamento, o SLB tem muito mais para explicar. Ou teria, se vivêssemos num Estado de Direito - tantas vezes todos os portugueses foram no passado chamados a contribuir para a Instituição através dos seus impostos, que nunca será fácil descortinar os valores ou as incidências acumuladas.

Mas virando o foco para os patrocínios, coloca-se de imediato a questão: se outros conseguem, por que motivo não conseguiríamos nós? Temos menos massa crítica, é certo, mas a diferença não é assim tão grande para que não se consiga encontrar quem viabilize cada uma das modalidades.

Aproveito para fazer um aparte que muito me intriga e incomoda: de que raio está Pinto da Costa à espera para "abrir" o futsal? Já lá esteve à porta mas, por um ou outro motivo, acabou sempre por recuar. Voltando ao que dizia acima, não acredito que não se consiga trazer patrocinador(es) que viabilizem a modalidade no Porto. O futsal é a modalidade que mais cresce no país em termos de praticantes e tem a imensa vantagem de ser facilmente compreendido por todos. Um destes dias dedico um post em exclusivo ao futsal e aprofundo a questão.

(regressando ao tema principal)

E por último, o clube. Eu, enquanto sócio, não quereria que as minhas quotas sejam aplicadas no futebol profissional, aliás até defendo precisamente o oposto. O futebol é o único que tem como se desenrascar sem os sócios - não só pelos fundos que movimenta, mas pela própria dimensão dos seus orçamentos, que é muitas vezes superior ao valor total das quotizações - pelo que as quotas deveriam ser canalizadas totalmente para as "amadoras". Confesso que não sei com exactidão como são aplicadas as quotas (julgo que 25% vão directamente para a SAD e até já terão sido 75%), mas também duvido que alguém fora do clube realmente o saiba (e mesmo lá dentro não saberão todos).

Lembro-me dos argumentos utilizados para a extinção do voleibol, da necessidade de ser competitivo ou não participar, de concentrar recursos nas mais ganhadoras, etc. etc. Na altura até terei concordado sem questionar (fruto da idade, certamente). Hoje acrescentaria qualquer coisa.

Totalmente de acordo que temos que entrar em qualquer modalidade, em qualquer ano, com condições reais de vencer as competições nacionais - mas a solução não pode ser abandonar as modalidades, mas sim encontrar soluções. Se os diretores não têm tempo ou capacidade, pois que se encontre outros que o tenham, não faltarão candidatos por certo. Se o presidente vive obcecado pelo futebol (excepto nos jogos de decisão, claro), então que delegue e ajude sempre que solicitado.

Pode até ser que este tenha sido um isolado annus horribilis, espero que sim, mas por via das dúvidas seria importante dar corda aos sapatos e pôr gente competente, dedicada e com disponibilidade a comandar cada uma das modalidades e fazer regressar a competitividade (leia-se ganhar) a todas elas. Há pessoas e empresas disponíveis para participar, mas apenas se tiverem interlocutores com quem se sintam confortáveis e existindo o apoio inequívoco de PdC às modalidades.

É que eu lembro-me bem de me rir dos outros quando isto acontecia repetidamente nas suas casas e preferia que não me devolvessem agora o tanto que têm acumulado.


Nota final - o título do post reflecte a sua benigna ambiguidade: bloody tanto serve para realçar a cor predominante do ano, como para o amaldiçoar.




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