In a galaxy far, far away...

quarta-feira, 3 de junho de 2015

In a galaxy far, far away...

A Premier League divulgou hoje a distribuição de receitas resultantes das transmissões televisivas referentes à época que agora terminou, revelando números astronómicos que nos devem fazer reflectir sobre as diferenças abismais que separam as diferentes ligas.

Ao todo, serão distribuídos 2.200 milhões de euros (!!) pelos 20 clubes que disputaram a competição, sendo €270M para o campeão Chelsea e uns ainda incríveis €90M para o último classificado QPR.

Mas igualmente relevante é o mecanismo de distribuição de verbas, considerado o mais equitativo da europa:
"Metade das receitas angariadas na época é distribuída em partes iguais entre os 20 clubes. Um quarto fica diretamente associado ao mérito desportivo e classificação final, enquanto o restante respeita ao número de jogos transmitidos em direto, num mínimo de dez"

Se pensarmos que o último classificado da liga inglesa recebe quase o dobro de direitos televisivos que os nossos "3 estarolas" juntos, fica mais fácil perceber a distância que os separa dos primeiros classificados, em particular daqueles que "volta-e-meia" defrontam nas competições europeias.

Daí se falar constantemente em "milagres", quando os nossos conseguem bater o pé ou simplesmente fazer a vida difícil aos grandes europeus. Claro que o futebol não se resume a dinheiro, pelo menos enquanto começarem sempre 11 homens de cada lado, mas que realça de sobremaneira as tremendas desigualdades nas condições de partida, disso certamente ninguém terá dúvidas.

São, de facto, de outra galáxia.


Então que ilações retirar para o campeonato português?

Primeiro, o modelo. Isto de ser "cada clube por si" não só beneficia quem compra os direitos (ao retirar peso ao poder negocial de 18 clubes), como promove uma maior desigualdade entre os grandes e os restantes clubes, o que acaba inevitavelmente por diminuir a competitividade e o interesse do campeonato.

Depois, o contexto. Sendo certo que não temos qualquer possibilidade de gerar receitas televisivas que se aproximem às da liga inglesa (ou espanhola, ou alemã, ou até italiana e francesa), talvez seja pelo menos possível reduzir o diferencial que nos separa dessas ligas. Temos um imenso mercado de língua portuguesa por explorar, para além das comunidades de emigrantes. E além destes, por que não ser possível gerar interesse nos outros países, em pelos menos ter acesso aos resumos semanais e uma ou outra transmissão dos jogos mais importantes? Parece-me evidente que sim.

Então o que falta? Vontade e competência.

Vontade dos clubes (grandes) em juntarem-se para defender uma causa comum, vontade dos actuais detentores dos direitos, vontade dos dirigentes dos organismos que organizam as competições, eleitos pelos clubes, que por sua vez são alimentados pelos detentores dos direitos.

Falta competência a esses mesmos dirigentes, para saberem como elaborar um plano de negócio suficientemente atractivo ao ponto de convencer os dirigentes dos clubes a assumirem a quebra com o modelo actual.

Plano esse que deveria prever a criação de um pacote de entretenimento futebolístico integrado, criando estórias à volta da competição, relacionando com a nosso rica história, cultura e geografia. E gerar interesse por todos os participantes na competição, dando-lhes o valor e destaque necessário para que a competição como um todo tenha interesse. Exactamente o oposto do que se faz hoje, onde 15 clubes só existem para que os 3 grandes possam ter com quem competir.

Entende-se que não seja simples, dado o sufoco financeiro que todos atravessam, mas se não o fizerem, a situação só pode piorar.


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